sexta-feira, outubro 31, 2008

Oito anos DOTeCOMe

.

Antes que Outubro acabe tenho que referir aqui o oitavo aniversário do nascimento do site DOTeCOMe de que este blog é descendente.

Imitando o Google, que fez uma coisa semelhante, deixo aqui o link para o DOTeCOMe tal como ele era, pouco depois de nascer, no Outono do ano 2000.

.

E hoje ? há condições para uma Revolução ?

.



(clicar para ampliar)

Domingos Lopes, no Público de hoje, mostra-se chocado com o retrocesso na abordagem da derrocada da URSS patente nas Teses do próximo Congresso do PCP.

Eu já tinha falado desta questão aqui . Continuo a achar que a crítica deste retrocesso não deve implicar a "absolvição" das Teses de 1990. Também elas, embora menos anacrónicas, falhavam o essencial: explicar o "porquê" e não o "como".

Por exemplo dizer que "o marxismo-leninismo foi frequentemente dogmatizado para justificar práticas ultrapassadas e aberrantes" é apenas descrever "como" a URSS descambou e não esclarecer "porque" é que isso foi possível e realmente aconteceu.

Em minha opinião é tudo muito mais simples: A grande Revolução de 1917 veio antes de tempo, foi prematura. Nas condições concretas em que aconteceu, no plano tecnológico e de maturação do capitalismo, o sucesso da URSS comunista era práticamente impossível.

A grande pergunta que resulta é: e hoje ? as condições já estão criadas ? É isso que muita gente anda, ou devia andar, a tentar compreender.

.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Obama sub-prime time





Os apoios a Obama continuam a surgir (ver Público).
Ele gastou milhões de dólares na maior campanha televisiva em "prime time" alguma vez realizada na história da América (ver o vídeo acima).

Obama vai ser, estou convencido, o próximo Presidente dos EUA.
Então por que é que isso não me entusiasma ? A resposta é complicada.

Digamos que eu estou convencido de que os problemas que a América enfrenta não são passíveis de solução nem através da extraordinária empatia de Obama.
Um império em declínio não pode interromper esse processo pelo carisma de um homem.
Ele promete cuidar dos americanos mas isso não resolve os desafios estratégicos que a América enfrenta.

Só nos resta esperar que a atitude equilibrada e sensível de Obama ajude os americanos a atravessar os mares agitados que os esperam com dignidade e sentido de responsabilidade, o que já não é pouco.

O principal desafio de Barak Obama, depois de empossado, será a gestão das enormes expectativas que gerou e às quais, estou convencido, até ele sabe que não pode verdadeiramente corresponder. Uma prova de fogo que ditará o seu destino.

Seja como for os americanos não têm nenhuma solução melhor no dia das eleições...

Conversões recentes

.

Todos os dias cresce o número daqueles que descobrem a vulnerabilidade do sistema capitalista, ou mesmo a iminência da sua derrocada.
É bom que assim seja, mesmo que tarde e a más horas.
Não sei se é igualmente claro para todos que não podemos proceder ao funeral antes de termos algo que funcione para ocupar o vazio.
Aí é que as declarações bombásticas hesitam e se conclui que não foram feitos os trabalhos de casa.
No Público de hoje o Professor João Caraça diz, entre outras coisas, o seguinte que é paradigmático:

"Uma imensa tristeza apoderou-se dos países do Ocidente, especialmente da nação norte-americana. A crise do sector financeiro ameaça estender-se a toda a economia e ninguém parece saber como debelá-la. "
..."Não admira que andemos tristes. Como foi possível a tantos de nós confiar numa mão-cheia de mentiras? Penso que houve duas razões principais. A primeira, por esquecermos os ensinamentos da História. A segunda, por não anteciparmos suficientemente as mudanças que se avizinham."
..."Não percebemos que com as novas tecnologias da informação, que permitem um controlo muito mais eficaz das operações a maior distância, se foram dissociando igualmente os diferentes níveis da grande empresa industrial do século passado. E que, com essa separação, foi desaparecendo igualmente a solidariedade inscrita no seio das nações industrializadas: a unidade entre a questão económica e a questão social. "
..." A crise de agora é de passagem, preparação e selecção dos vencedores da próxima grande mudança estrutural na economia mundial que virá dentro de dez a 20 anos. "
..."Por este motivo a palavra "confiança" voltou com tanta força à ribalta. As instituições americanas de gestão do risco financeiro foram abaladas. Aguentarão? Ou haverá noutras regiões do mundo instituições e redes que saibam tirar partido desta crise e se perfilem para convencer o mundo de que irão conduzir melhor os riscos e as oportunidades que surgirão na próxima grande transformação estrutural? Infelizmente não é o futuro que o dirá; é a visão estratégica e capacidade de o anteciparmos, hoje. De que estamos à espera? Não há tempo a perder. "

.

Humanidade vai precisar de dois planetas em 2030

.


"Um planeta já não chega e o nosso “cartão de crédito ecológico” está a ficar sem saldo. Em 2030 a humanidade vai depender dos recursos naturais de dois planetas, algo que será “fisicamente impossível”, segundo o relatório bianual Planeta Vivo 2008 divulgado ontem." PÚBLICO, 29.10.2008
.
OK, o próximo problema a resolver, quando as cotações nas bolsas tiverem recuperado, é quem é que mandamos para a Lua. Eu tenho algumas sugestões.
Esta gente nunca mais percebe que quanto mais exageradas são as mensagens menos credibilidade têm. Trata-se de um mau serviço à causa da preservação ambiental.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Regresso a Wallerstein

.

" Utopística é uma séria avaliação das alternativas históricas, o exercício do nosso julgamento face a uma racionalidade substantiva de uma alternativa possível de sistemas históricos. É a sóbria, racional e realística evolução dos sistemas sociais humanos, com os constrangimentos do seu contexto e as zonas abertas à criatividade humana. Não a face do perfeito (e inevitável) futuro. É antes um exercício, simultaneamente, nos campos da ciência, da política e da moral.- Immanuel Wallerstein (1998)"





.

.












Selon Wallerstein, quatre tendances font faire basculer le système :
1 - « L’expansion géographique ultime de l’économie-monde capitaliste (…) risque d’être portée à son terme dans un avenir proche. Le corollaire inévitable est une forte augmentation des coûts mondiaux de la main-d’œuvre…
2 - « Le coût mondial du maintien d’une couche moyenne immensément plus grande devient insoutenable à la fois pour les employeurs et pour les trésors publics.
3 – « L’imminence de la crise écologique » qui remet en cause « depuis environ 5 siècles l’accumulation du capital basée sur la capacité des entreprises à extérioriser les coûts (… par) sur-utilisation des ressources mondiales. »
4 – « Le béant fossé démographique qui se surimpose en sens inverse sur le fossé économique entre Nord et Sud (…) en train de créer une pression incroyable en faveur du mouvement migratoire… » p.206

.
. .

.

.
.



"We need first of all to try to understandnd clearly what is going on. We need then to make our choices about the directions in which we want the world to go. And we must finally figure out how we can act in the present so that it is likely to go in the direction we prefer. We can think of these three tasks as the intellectual, the moral, and the political tasks. They are different, but they are closely interlinked. None of us can opt out of any of these tasks. If we claim we do, we are merely making a hidden choice. The tasks before us are exceptionally difficult. But they offer us, individually and collectively, the possibility of creation, or at least of contributing to the creation of something that might fulfill better our collective possibilities."
.
..
.

.
.
.

Três citações escolhidas propositadamente para me situar realtivamente a Wallerstein, tão citado e recuperado nos últimos tempos.

Quanto a Utopística é uma ideia que me cativa e que venho sugerindo, sem usar este nome, há vários anos. Parece-me imprescidível para criar uma hegemonia ideológica que potencie a transformação do mundo no sentido que pretendemos.
A última citação, tirada do livro "World-System Analysis", de 2004, vai no mesmo sentido da primeira e reforça a ideia do contributo individual pelo recurso ao empenhamento e à criatividade.

No que toca à explicação da crise no "sistema-mundo", versão globalizada do "modo de produção" marxista, tenho as minhas reservas.
Por um lado a expansão geográfica parece-me longe do seu termo, há ainda muitas centenas de milhões de seres humanos que pouco foram tocados pelo capitalismo e constituem uma gigantesca reserva de "consumidores potenciais", um enorme "exército de reserva" de trabalhadores baratos para usar a terminologia tradicional.
Por outro lado Wallerstein parece não considerar, e não menciona, as transformações na produção e no papel do trabalho no processo produtivo.

Eu tenho defendido que assistimos hoje ao combate entre uma "versão tradicional" do capitalismo e uma "versão digital". Esta última tenta preservar elevadas taxas de lucro através de uma produção em que o trabalho deixou de ser "capital variável" e passou a ser "capital fixo".
Ou seja, em vez obter 8 horas de trabalho e pagar só 5, como costumava acontecer nos tempos de Marx, agora o "empreendedor" compra a produção de um objecto digital que é paga à cabeça e depois pode ser replicada tantas vezes quanto necessário sem incorporação de trabalho vivo adicional. Enquanto que no passado cada nova unidade de mercadoria gerava garantidamente um salário, e portanto capacidade de consumo, agora isso já não acontece.

Se esta nova produção "digital" em expansão (nos telemóveis, na música, nos filmes, no software,etc) se vai constituir como alternativa ao capitalismo "à antiga", nem que seja num período transitório antes de emergir uma "nova economia", é algo que não sabemos mas que vale a pena acompanhar. Este pode ser um tema interessante para um futuro post.
.

Não tapem Lisboa

.


Há que assinar a petição contra os contentores da Liscont.
"A ampliação da capacidade do terminal de contentores de Alcântara que o Governo inoportunamente se propõe levar por diante implicará a criação de uma muralha com cerca de 1,5 quilómetros com 12 a 15 metros de altura entre a Cidade de Lisboa e o Rio Tejo."
.

terça-feira, outubro 28, 2008

Mas o que é isto ? Uma nova Sabrina ?...

.

A ilha Sabrina foi uma pequena ilha formada em Junho e Julho de 1811 por uma erupção vulcânica submarina que ocorreu ao largo da Ponta da Ferraria, na ilha de São Miguel, Açores. A ilha foi primeiro abordada pelo capitão James Tillard, comandante do navio de guerra britânico HMS Sabrina, que lá hasteou a bandeira britânica e a reclamou como território de Sua Majestade Britânica. A ilha desapareceu no decurso daquele ano.

Ainda ninguém percebeu o que quer o PS com esta ridícula questão do "Estatuto Político-Administrativo dos Açores". Dá azo à invocação de uma questão de princípio, perfeitamente legítima, em troca de quê ?

Tem todo o ar de ser mais uma irresponsabilidade política baseada em calculismos eleitorais. Aos cidadãos que têm mais que fazer e outras preocupações aparece como uma parvoíce para que vai faltando a paciência.

.

Os apelos sucedem-se


O DN de hoje contém,não um mas sim dois, apelos ao renascimeto da esquerda.
Mário Soares em artigo intitulado "A crise global vista de Paris" avança: "Repensar a esquerda. Eis a que nos conduz o espírito do tempo, se queremos vencer a crise e substituir o sistema. Não se trata, como sugeriu o Presidente Sarkozy, de "destruir o capitalismo financeiro e especulativo e punir os responsáveis" para "refundar outro capitalismo", ou seja: a mudança necessária para que tudo fique na mesma. Trata-se de algo mais simples e concreto: manter a economia de mercado, introduzindo-lhe regras éticas e jurídicas estritas capazes de assegurar a justiça social, numa nova ordem político-económica mundial que tenha como objectivos: erradicar a pobreza, no plano internacional, reduzir drasticamente as desigualdades, encerrar os paraísos fiscais, centros principais de especulação, punindo os traficantes e os especuladores financeiros e voltando aos valores éticos."

Manuel Alegre, pelo seu lado, interroga-se: "Sabe-se que nada ficará como dantes. Mas em que sentido se fará amudança? Era aí que a esquerda deveria ter um papel. Mas onde está ela? Talvez algo de novo possa surgir de uma vitória de Obama. Pelo menos um sopro de renovação. Mas há um grande défice de esquerda na Europa. Uma nova esquerda só poderá nascer de várias rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas. Ruptura com as práticas gestionárias e cúmplices do pensamento único. Ruptura com a cultura do poder pelo podere com o seu contrário, a cultura da margem pela margem, da con-tra-sociedade e do contrapoder. Processo difícil, complicado, mas sem o qual não será possível construir novas convergências. Não para a mirífica repetição da revolução russa de 1917, nem para um modelo utópico global. Tão-pouco para segundas ou terceiras vias. Mas para uma via nova, que restitua à esquerda a sua função de força transformadora da sociedade e criadora de soluções políticas alternativas."

Pela milésima vez assistimos a este apelo que, no caso vertente e para complicar ainda mais as coisas, é feito em estereofonia deixando o cidadão sem saber a qual dos dois atender.
Bendita esquerda que tem ansiãos tão "prá frente" capazes de ressuscitar estes jovens "café com leite" que só se excitam com as coisas fracturantes. Em termos de longevidade política não ficam atrás de Santana Lopes.

Como diz João Miguel Tavares no mesmo jornal: "Em Portugal ainda estamos mais ou menos assim: há coisas com que não se brinca. E é uma pena que assim seja, porque uma sociedade que não se sabe rir de si própria é uma sociedade deprimida, infeliz e pouco inteligente. O riso é uma das características únicas da espécie humana e aquilo que nos separa dos outros primatas. Gente demasiado séria está mais próxima dos macacos do que aqueles que fazem macaquices."

Realmente neste país há certas coisas que já só podem ser levadas para a brincadeira...

.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Lição de caligrafia geoestratégica

.



De novo no centro do mundo
.

O Estado no Manifesto

.




Este momento parece adequado para ressuscitar "o papel do Estado" na vida económica. Para tanto alguns fazem tábua rasa das experiências históricas e vão ao ponto de se considerarem seguidores da ortodoxia marxista. Parece assim interessante transcrever duas passagens do "Manifesto do Partido Comunista", publicado pela Editorial "Avante!", que referem o Estado:

"Dos servos da Idade Média saíram os Pfahlbürger das primeiras cidades; desta Pfahlbürgerschaft desenvolveram-se os primeiros elementos da burguesia [Bourgeoisie].

O descobrimento da América, a circum-navegação de África, criaram um novo terreno para a burguesia ascendente. O mercado das Índias orientais e da China, a colonização da América, o intercâmbio [Austausch] com as colónias, a multiplicação dos meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à indústria, um surto nunca até então conhecido, e, com ele, um rápido desenvolvimento ao elemento revolucionário na sociedade feudal em desmoronamento.

O modo de funcionamento até aí feudal ou corporativo da indústria já não chegava para a procura que crescia com novos
mercados. Substituiu-a a manufactura. Os mestres de corporação foram desalojados pelo estado médio [Mittelstand] industrial; a divisão do trabalho entre as diversas corporações [Korporationen] desapareceu ante a divisão do trabalho na própria oficina singular.

Mas os mercados continuavam a crescer, a procura continuava a subir. Também a manufactura já não chegava mais. Então o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. Para o lugar da manufactura entrou a grande indústria moderna; para o lugar do estado médio industrial entraram os milionários industriais, os chefes de exércitos industriais inteiros, os burgueses modernos.

A grande indústria estabeleceu o mercado mundial que o descobrimento da América preparara. O mercado mundial deu ao comércio, à navegação, às comunicações por terra, um desenvolvimento imensurável. Este, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria, e na mesma medida em que a indústria, o comércio, a navegação, os caminhos-de-ferro se estenderam, desenvolveu-se a burguesia, multiplicou os seus capitais, empurrou todas as classes transmitidas da Idade Média para segundo plano.

Vemos, pois, como a burguesia moderna é ela própria o produto de um longo curso de desenvolvimento, de uma série de revolucionamentos no modo de produção e de intercâmbio [Verkehr].
Cada um destes estádios de desenvolvimento da burguesia foi acompanhado de um correspondente progresso político
. Estado [ou ordem social — Stand] oprimido sob a dominação dos senhores feudais, associação armada e auto-administrada na comuna, aqui cidade-república independente, além terceiro-estado na monarquia sujeito a impostos, depois ao tempo da manufactura contrapeso contra a nobreza na monarquia de estados [ou ordens sociais — ständisch] ou na absoluta, base principal das grandes monarquias em geral — ela conquistou por fim, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, a dominação política exclusiva no moderno Estado representativo. O moderno poder de Estado é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa."

Como se pode ver Marx nunca esperaria do "moderno poder de Estado" qualquer "regulação" passível de prejudicar os negócios de "toda a classe burguesa". Convém relembrar que é nesse Estado que nos encontramos. Mas continuemos:

"O proletariado usará a sua dominação política para arrancar a pouco e pouco todo o capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção na mão do Estado, i. é, do proletariado organizado como classe dominante, e para multiplicar o mais rapidamente possível a massa das forças de produção.

Naturalmente isto só pode primeiro acontecer por meio de intervenções despóticas no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas, através de medidas, portanto, que economicamente parecem insuficientes e insustentáveis mas que no decurso do movimento levam para além de si mesmas e são inevitáveis como meios de revolucionamento de todo o modo de produção.

Estas medidas serão naturalmente diversas consoante os diversos países.
Para os países mais avançados, contudo, poderão ser aplicadas de um modo bastante geral as seguintes:


1. Expropriação da propriedade fundiária e emprego das rendas fundiárias para despesas do Estado.
2. Pesado imposto progressivo.
3. Abolição do direito de herança.
4. Confiscação da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes.
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, através de um banco nacional com capital de Estado e monopólio exclusivo.
6. Centralização do sistema de transportes nas mãos do Estado.
7. Multiplicação das fábricas nacionais, dos instrumentos de produção, arroteamento e melhoramento dos terrenos de acordo com um plano comunitário.
8. Obrigatoriedade do trabalho para todos, instituição de exércitos industriais, em especial para a agricultura.
9. Unificação da exploração da agricultura e da indústria, actuação com vista à eliminação gradual da diferença entre cidade e campo.
10. Educação pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas fábricas na sua forma hodierna. Unificação da educação com a produção material, etc.


Desaparecidas no curso de desenvolvimento as diferenças de classes e concentrada toda a produção nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perde o carácter político. Em sentido próprio, o poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de uma outra. Se o proletariado na luta contra a burguesia necessariamente se unifica em classe, por uma revolução se faz classe dominante e como classe dominante suprime violentamente as velhas relações de produção, então suprime juntamente com estas relações de produção as condições de existência da oposição de classes, as classes em geral, e, com isto, a sua própria dominação como classe."

O Estado é tomado pelo proletariado para destruir o poder dos capitalistas e não para se constituir em novo modo de produção. O novo modo de produção, "concentrada toda a produção nas mãos dos indivíduos associados", não está muito bem definido no seu funcionamento mas não é certamente comandado pelo Estado já que, nesta fase e nas palavras de Marx "o poder público perde o carácter político".
O que nós verificámos durante o Século XX foi que revolução de 1917 originou um Estado que, durante 70 anos, não deu mostras de querer mirrar e desaparecer. Todos sabemos que estava rodeado de inimigos e que, mesmo que outras razões não houvesse, tal impediria o progressivo desaparecimento do Estado como foi previsto por Marx.
Em suma, estas questões são demasiado complexas para serem tratadas de forma ligeira por aqueles que julgam poder resultar da crise financeira actual uma nova economia tutelada pelos ministérios.
Tanto quanto sei o Estado nunca foi modo de produção e penso que nunca o será. O Estado é um produto de cada sociedade; o Estado não resume nem substitui a sociedade e as formas de organização da produção sejam elas quais forem.

P.S. Claro que este texto dá "pano para mangas" e levanta muitas e interessantes questões. Onde está hoje o proletariado ? como se nacionalizam coisas como as redes mundiais de comunicação ? será que o "desparecimento das classes" conduz automáticamente a uma sociedade de paz celestial ? etc, etc.
.

domingo, outubro 26, 2008

Quem é que falou em "Regulação do Estado" ?

.


D.N. 18.10.2008


"A Câmara de Lisboa tem uma empresa, a Gebalis, altamente deficitária, como qualquer empresa pública que se preza, encarregada de administrar os bairros sociais. Várias criaturas, que passaram pela direcção da Gebalis até 2007, foram agora acusadas pelo Ministério Público de peculato e gestão danosa. De que se trata? Alegadamente, um pequeno grupo de três "gestores" (como hoje se diz) gastou em poucos meses 64.000 euros da empresa em 620 "refeições" (calculo que em restaurantes que se recomendam) e nunca deu gorjetas de menos de 20 euros. Suponho que, a ser verdade a história, os gestores da Gebalis presumiram que a sua importância burocrática e política e mesmo, em última análise, a dignidade do Estado exigia esta despesa e esta pompa.
Mas parece que isto não bastava. A sra. dra. Clara Costa, vogal da direcção, andou, supostamente, à custa do contribuinte por Cracóvia, Belfast, Dublin, Marraquexe, Viena e Sevilha. Estas viagens, em que segundo o Ministério Público se fazia acompanhar pelo seu "namorado", custaram à Gebalis 34.000 euros. Como era de esperar, a sra. dra. Clara Costa não vê nada de impróprio neste arranjo. Nem na pequena quantia de 11.530 euros, que empregou, também ela, em "refeições", compatíveis com o seu estatuto. O Expresso declarou isto "falta de vergonha". Peço licença para não concordar. Se o Ministério Público tem razão, a dra. Clara Costa usou o Estado como milhares de outros funcionários, de que ninguém fala e com que ninguém se escandaliza.
Existem na Gebalis - cuja função, convém repetir, é administrar bairros sociais - cinco pelouros: de relações internacionais, de recursos humanos, de sistemas de informação, de comunicação e, compreensivelmente, um pelouro jurídico. Esta exuberância burocrática abre oportunidade a tudo: de "viagens de estudo" a Marraquexe a festejos na marisqueira Sete Mares. Principalmente, quando se dá a cada vogal da direcção um cartão de crédito da empresa. A Gebalis já esqueceu com certeza o fim para que foi criada. Como o resto da máquina do Estado, vive para justificar os seus pelouros, por inúteis que sejam, e anichar os "companheiros" do partido. E, quando chegam, os "companheiros do partido" querem muito humanamente tirar o ventre de misérias: ir a Marraquexe e à marisqueira - o ideal da classe média que a "democracia" lhe prometeu. Para alguma coisa "apoiaram" o sr. X ou sr. Y.

V.P.V., Público 26.10.2008

.

Contra o Tarrafal da memória

.




sábado, outubro 25, 2008

O absurdo alastra.

.



O absurdo alastra, como a crise, e instala-se. Mao Tse-tung virou os pés pela cabeça. Despacho da LUSA:

O presidente de turno da União Europeia pregou hoje em Pequim, sob o retrato de Mao Tsé-Tung, à "refundação do capitalismo" para convencer o gigante comunista a integrar-se no exercício internacional para reforma das bases do sistema financeiro mundial.
Nicolas Sarkozy, que participa em Pequim na VII Cimeira Europa-Ásia, poderá ter protagonizado assim o que os historiadores venham no futuro a classificar de "ironia histórica".
Formalmente comunista, todavia, a República Popular da China, fundada há quase 60 anos por Mao Zedong, é actualmente um sócio imprescindível na altura de garantir a estabilidade e o fluxo de dinheiro à escala mundial.
Com as suas colossais reservas de divisas estrangeiras e a sua capacidade para injectar crescimento na economia do Ocidente, o regime chinês tem nas suas mãos uma poderosa ferramenta de recuperação nos momentos de crise financeira.
A VII Cimeira Europa-Ásia, que hoje teve início, prosseguirá no sábado com a promessa de que a China, que já superou a Alemanha como terceira economia mundial, cooperará no estabelecimento de novas regras que impeçam a repetição do ocorrido com o crédito hipotecário de alto risco.
Com a veemência que já o caracteriza, Sarkozy empenhou-se hoje a fundo perante o auditório de líderes para convencer todos de que "o Mundo vai mal", devido à magnitude, rapidez e violência que esta crise bolsista e de crédito está a derribar no ocidente instituições bancárias quase centenárias.
"Mal também porque o modelo de desenvolvimento económico, com as suas emissões de gases para a atmosfera está a por em causa a sobrevivência da espécie humana", argumentou.
"E mal porque 900 milhões de pessoas no planeta não têm o que comer, apesar de toda a riqueza que se cria", concluiu.

Debaixo do retrato de Mao, no Palácio do Povo, na monumental Praça de Tianamen, as afirmações do presidente francês, que preside também à UE, podem soar como revolucionárias.
O discurso de Sarkozy de "refundar o capitalismo" tem a discordância do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que já se distanciou publicamente desta forma de qualificar as coisas.
"Compartilho plenamente os objectivos (de Sarkozy), porém não utilizaria os seus termos, porque têm ressonâncias especiais no meu país", afirmou recentemente Durão Barroso, que na sua juventude foi militante maoísta.

Necessidade a quanto obrigas...

.

Assalariamento falsificado

.


Numa página secundária do DN de 11 de Setembro esta notícia passou despercebida à maior parte dos portugueses. No entanto encerra informação extremamente relevante.
Para quem não saiba convém esclarecer que não se trata aqui dos "contratos a termo" ou "a prazo" que instabilizam os empregos de centenas de milhares de portugueses com destaque para os mais jovens.
O "trabalho temporário" é um outro tipo de precariedade que consiste na cedência de trabalhadores por empresas da especialidade a outras que deles necessitam e os alugam por determinados períodos de tempo; esses trabalhadores exercem portanto as suas funções em empresas, as que os alugam, com quem não mantêm qualquer vínculo laboral.

Para que conste. Porque quando falo da degradação do assalariamento e da crise que o atinge, o que nem sempre é compreendido, é também disto que estou a falar.
Todas as formas de precariedade constituem um abastardamento da relação de produção originária que era aquela que constava do "contrato social" tácito das sociedades de tipo capitalista. O fenómeno, repetido e multiplicado, acabará por ter consequências sistémicas.
.

sexta-feira, outubro 24, 2008

China, jornal de parede

.
.
.
.



As importações de petróleo pela China aumentaram 8,8% entre Janeiro e Setembro deste ano, para 140 milhões de toneladas métricas, segundo dados divulgados hoje pela Administração Geral Alfandegária.
-
As exportações da China cresceram 21,5% em setembro, para 136.400 milhões de dólares, em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado manteve-se estável em relação ao avanço de 21% observado no mês anterior.
Já as importações chinesas cresceram 21,3% no último mês, para 107.100 mil milhões de dólares, em comparação ao mesmo período de 2007, depois de um crescimento de 23,1% em Agosto. Com este resultado, a balança comercial da China registou um superavit de 29.300 mil milhões em Setembro.
-
O Comité Central do Partido Comunista da China anunciou uma série de reformas na área rural que visam duplicar, até 2020, a renda per capita média dos quase 800 milhões de chineses que vivem no campo.
Como parte das reformas, espera-se que passe a ser permitido aos camponeses trespassar livremente contratos de arrendamento de terras e que possam subarrendar os terrenos que estão sob seus cuidados – ação actualmente ilegal, mas praticada informalmente.

quinta-feira, outubro 23, 2008

De Ressurreição em Ressurreição...

.

O país está suspenso de uma decisão: Santana concorre ou não à Câmara de Lisboa ?

Ele pode ter muito mais defeitos do que aqueles que todos nós conhecemos no "político médio" português mas está em vias de se tornar um "imortal", acima das derrotas e das campanhas assassinas da media.

À direita há reacções várias.
Inez Dentinho no "Geração de 60" enumera as obras do edil Santana em Lisboa para mostrar que ele não tem que temer o combate com o "desmotivado" António Costa.
Ana Sá Lopes, no Público, em artigo que merece ser lido, diz coisas como:
"O dr. Santana Lopes pode ter dez ou 12 vidas, pouco importa. Em Portugal, onde a memória é curta, qualquer político tem as vidas que quiser: é uma questão de interesse ou de oportunidade. Sem sobressaltos de maior, o "fugitivo" de ontem transforma-se, de um dia para o outro, num portentoso candidato presidencial, capaz de redimir a pátria da sua apagada e vil tristeza. Basta registar o entusiasmo com que a maioria dos comentadores se refere ao promissor futuro do eng. Guterres ou do dr. Durão Barroso. "
...
"Como o país a que pertence, a classe política é pobre, fraca e limitada. Daí a rotatividade das mesmas figuras, a ressurreição de uns tantos "mortos", a desresponsabilização geral e o permanente ajuste de contas em que cai invariavelmente qualquer debate."
...
"Mas convém ter presente que a inesperada ressurreição de Santana Lopes revela mais sobre o partido que a critica do que sobre os eventuais métodos do candidato. Se a classe política é, como já disse, fraca, pobre e limitada, na oposição revela-se quase inexistente."

À esquerda está a acontecer "o do costume" quando Santana entra em cena. A gritaria oscila entre a incredulidade e a fúria como se faltassem argumentos e projectos e a "defesa do convento" tivesse que ser feita "homem a homem". Nunca gostei deste estilo que já obrigou algumas vezes a canonizar à pressa quem fora excomungado tempos atrás.

No conto da nossa infância havia um Pedro que tanto gritou "vem aí o lobo" que as pessoas deixaram de vir em seu auxílio. Agora parece que há um lobo que se farta de gritar "vem aí o Pedro" e, com excepção dos comentadores de esquerda, há cada vez menos quem se rale com isso.

Assalta-me a dúvida sobre se Santana não se teria já retirado da vida política no caso de as suas investidas terem deixado de provocar estas reacções.
Afinal a sua popularidade é alimentada pelos seus inimigos que parecem não perceber que estão a fazer dele um "estadista" cujo estatuto é imune aos resultados e que continuará a sua carreira de ressurreição em ressurreição.

Para quem é considerado uma nulidade este desfecho pode ser considerado notável.

.

Resistir à crise, para já...



O Google bateu as estimativas dos analistas há dias, ao anunciar que os seus lucros no terceiro trimestre de 2008 aumentaram 26%, atingindo os 1,35 mil milhões de dólares, ou 4,24 dólares por acção. A IBM, apesar do crescimento do lucro (5% apenas), trouxe com seus números os primeiros sinais de desaceleração pela queda da receita dos contratos de novos serviços.

Segundo o "El País", os executivos da Google acreditam que a crise económica mundial poderá ser benéfica para a gigante da web, já que a eficiência do seu sistema de venda de anúncios online poderá levar as empresas a concentrarem-se neles se tiverem que reduzir o seu orçamento publicitário. Entre Julho e Setembro, o número de utilizadores que clicaram nos anúncios publicados nas páginas do motor de busca ou distribuídos através da sua rede AdSense cresceu 4% face ao segundo trimestre e 18% relativamente ao mesmo período de 2007, informou a empresa.
Estamos perante uma questão interessante, a de saber se há modelos de negócio imunes à crise e o que explica tal imunidade. Na comparação entre Google e IBM constatamos um peso desigual da "virtualização" dos negócios.
No caso do Google quase não temos produtos e os serviços baseiam-se num quase completo self-service. Montanhas de informação são "naturalmente" acumuladas por milhões de cibernautas e "naturalmente" consultadas por outros tantos, e pelos mesmos, milhões de cibernautas.
O Google só tem que cuidar desta enorme estrutura e cobrar bilhetes a quem queira gozar de destaque especial dentro deste universo.
Ainda é cedo para dizer até que ponto este esquema resiste mas vale a pena mantermo-nos atentos. Acho estranho o desinteresse reinante sobre estas questões na nossa blogosfera.
.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Candidato a Pacheco Pereira ?

.

Nos últimos tempos emergiu uma nova estrela na constelação dos comentadores, Rui Tavares. Já aparece a torto e a direito e pedem-lhe para se pronunciar sobre tudo e mais alguma coisa.
O discurso é fluente e as ideias por vezes interessantes mas está a cair num insuportável tom de guru para o qual parecem faltar-lhe idade e experiência.
No dia 20 resolveu estender a sua inteligência até à China na última página do Público (pode ser lido aqui).
Irritou-me logo o título "A bolha da China" pois induz uma semelhança que não existe. A China tem vivido de produtos materiais e não de ficções financeiras ou, sequer, de mercadorias virtuais.
Este começo denuncia o preconceito que depois é confirmado em passagens como:

"Nos últimos anos transferimos grande parte da capacidade produtiva mundial para um regime que parece estável mas que é sobretudo opaco"
Transferimos ? Quem ? Como ? Porquê ?

"Eles ganham em crescimento económico e capacidade para anestesiar o descontentamento interno."
O “descontentamento interno” não é anestesiado mas sim resolvido quando as pessoas começam a ter meios de vida decentes.

"Dir-me-ão: a China parece sólida. E eu direi: sabem o que mais parecia sólido, aqui há uns anos?"

Este argumento é infalível: “se nos enganámos uma vez podemos voltar a enganar-nos”. Brilhante.

"Não faço ideia sobre a probabilidade de rebentar a bolha económica da China. Esperemos que seja pequena — como esperámos com todos os sucessivos cenários pessimistas que se foram confirmando nos últimos meses — e que não ocorra no curto prazo."
Pelo sim pelo não talvez valha a pena considerar que a China tem reservas suficientes para estar dois anos sem exportar nada mesmo mantendo o actual nível de importações.
A hipótese é absurda mas ajuda a perceber a proporção das coisas. (Ver AQUI)

Na candidatura a Pacheco Pereira não se deve queimar etapas...

P.S. Descobri agora mesmo uma notícia a propósito da "bolha chinesa"

WASHINGTON (AFP) — O secretário americano do Tesouro, Henry Paulson, pediu nesta terça-feira à China que não abandone as reformas econômicas, estimando que Pequim tem "uma bela oportunidade" para aprender com os erros que provocaram a crise financeira nos Estados Unidos.
"Muitos na China olham nossos recentes fracassos nos mercados financeiros e concluem que devem deter suas reformas, mas esta é, exatamente, uma bela ocasião para Pequim aprender com nossos erros e avançar com reformas capazes de trazer benefícios importantes para o país e sua população", afirmou Paulson em um discurso em Nova York para o comitê nacional de relações sino-americanas.
Paulson assinalou quatro pontos que devem ser incluídos no "programa de reformas" dos dirigentes chineses: "reequilibrar as fontes do crescimento chinês para torná-lo mais harmonioso e eficaz em matéria energética e ambiental; criar ferramentas de política macroeconômica para garantir um crescimento estável e sem inflação; manter a transição para uma economia de mercado e baseada na inovação; e enfrentar os desafios demográficos".



.

A entrevista de Wallerstein

.

Uma entrevista recente de Immanuel Wallerstein, publicada no Le Monde, teve justificada repercussão na blogosfera portuguesa. Eu encontrei referências e reproduções da entrevista no antreus, Trix-Nitrix, o tempo das cerejas e Esquerda.Net .
Consegui finalmente tempo para, também eu, me pronunciar.
A minha satisfação com a entrada súbita deste tema, "o fim do capitalismo", na ordem do dia, pelo menos nas discussões, prende-se com o facto de eu vir a insistir no tema, sem grande sucesso, desde 1990.
Nessa época escrevi e defendi publicamente que os avanços tecnológicos, com destaque para as tecnologias com base digital, constituíam um desafio para o capitalismo e não eram o "balão de oxigénio" do sistema que muitos pensavam. Quando acrescentei que tais desenvolvimentos minavam fatalmente o assalariamento, relação identitária do capitalismo, a reacção foi de incredulidade.
Ao contrário do que possa parecer não invoco a minha experiência pessoal para reclamar qualquer estatuto mas sim para insistir na necessidade de todos reflectirmos, sem receio de errar, em vez de esperar sempre que os génios ou os cientistas esclareçam o mundo para nós.
A entrevista de Wallerstein reflecte o seu longuíssimo estudo dos ciclos, inspirado em Nicolas Kondratieff e Joseph Schumpeter. A passagem que desencadeou todo o interesse recente penso que foi a seguinte:

"De facto, penso que entrámos nos últimos trinta anos na fase terminal do sistema capitalista. O que no fundamental distingue esta fase da sucessão ininterrupta dos ciclos conjunturais anteriores é que o capitalismo já não consegue “fazer sistema", no sentido do entendimento do físico e químico Ilya Prigogine (1917-2003): Quando um sistema, biológico, químico ou social se desvia muitas vezes da sua situação de estabilidade, não consegue recuperar o equilíbrio, e o resultado foi uma bifurcação. A situação torna-se caótica, incontrolável pelas forças que até então a dominavam e assistimos ao surgimento de uma luta, não entre defensores e opositores do sistema, mas entre todos os intervenientes para determinar o que irá substituí-lo."

Trata-se aqui de interpretar este ciclo como uma ruptura ao contrário do que sucedera com os muitos ciclos que o antecederam.
Eu creio que não basta o formalismo desta constatação é preciso perceber as causas dessa ruptura. Enquanto não compreendermos os mecanismos que actuaram para produzir esta ruptura, se ela existe, continuaremos a ter muita dificuldade em imaginar os desenvolvimentos futuros e afirmar como faz Wallerstein:

"Daqui a dez anos, talvez se possa ver mais claro; em trinta ou quarenta anos, terá surgido um novo sistema."


Para mim o mais importante desta entrevista é isto:

"Acho que também é possível vermos instalar-se um sistema de exploração ainda mais violento do que o capitalismo, do que, pelo contrário, se criar um modelo mais igualitário e redistributivo."
...
"Mas o facto desta fase corresponder actualmente a um sistema em crise, fez-nos entrar num período de caos político durante o qual os actores dominantes, empresários e Estados ocidentais, farão tudo o que é tecnicamente possível para reconquistar o equilíbrio, mas é muito provável que não o consigam. Os mais inteligentes, já devem ter percebido a necessidade de criar algo completamente novo. Mas muitos já estão a mexer-se, de forma desordenada e inconsciente, para fazer emergir novas soluções, sem se saber ainda que sistema vai sair destes ensaios. Estamos num período, bastante raro, onde a crise e a impotência dos poderosos deixa um espaço ao livre arbítrio de cada um: há agora um período de tempo durante o qual todos teremos a oportunidade de influenciar o futuro para a nossa acção individual. "

Considero imperioso que a esquerda assuma este desafio e deixe de considerar estas questões, como fez ao longo dos últimos decénios, como chinesices que só atrapalham a obtenção de mais dois deputados nas próximas eleições.
(os excertos da entrevista foram "roubados" da tradução portuguesa do António Abreu no antreus)
.

terça-feira, outubro 21, 2008

Música contra o atraso de vida

.

No próximo dia 14 de Novembro, 6ª feira, pelas 21:30, realiza-se na Livraria Trama, Rua S. Filipe Nery, nº25 B, ao Rato (Lisboa), a apresentação do livro: Canto de Intervenção 1960-1974, 3ª edição, Público, Lisboa, 2007, de Eduardo M. Raposo. A apresentação estará a cargo do jornalista Nuno Pacheco.
Segue-se um recital de música, sobre a obra em destaque, com o cantor Francisco Naia, acompanhado à guitarra clássica por José Carita e Ricardo Fonseca em que serão interpretados temasde José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Manuel Freire, Francisco Fanhais e José Jorge Letria.

"Canto de Intervenção 1960-1974" é uma viagem pela memória colectiva recente, que nos fala de Utopia, de Liberdade, de Poesia. Poesia que é a essência do Canto de Intervenção. Dos poetas - Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Luís de Camões, Fernando Pessoa, Manuel Alegre, José Afonso - se chegou à intervenção; porque intervenção sem Poesia é apenas um panfleto, com o seu tempo próprio e histórico, mas que cai no esquecimento. Ao contrário de “Trova do Vento que Passa”, “Canção com Lágrimas”, “Menina dos Olhos Tristes”, “Menino do Bairro Negro”, “Vampiros”, “Redondo Vocábulo”, “Pedra Filosofal”, “Que Força é Essa”, “Vemos Ouvimos e Lemos”, ou “Cantigas do Maio”. “Canto de Intervenção 1960-1974”, constitui-se assim “numa singular contribuição para uma história ainda por fazer: a da evolução da música popular portuguesa no século XX”. (Nuno Pacheco, director-adjunto do Público)
.

Congresso Internacional Karl Marx






.

.
.
Vai ter lugar entre 14 e 16 de Novembro o "Congresso Internacional Karl Marx", organizado pelo Instituto de História Contemporânea, Cooperativa Culturas do Trabalho e Socialismo.

Vou apresentar, em co-autoria com a Maria Rosa, no Domingo dia 16, uma comunicação cujo resumo reproduzo:




Propomo-nos aprofundar, na esteira do nosso livro "DO CAPITALISMO PARA O DIGITALISMO" (ed. Campo das Letras, 2003), o debate sobre a fase actual do Capitalismo baseada em "conhecimento" e nas tecnologias digitais.
Trata-se de saber se ela constitui uma ruptura suficientemente profunda para poder conter o embrião de um novo "modo de produção".

A esquerda de raiz marxista, tende a misturar a transição do "modo de produção" com a luta pelo poder do Estado, como se tal fosse suficiente para a emergência de uma "sociedade sem classes". Por isso subestima o significado das anomalias que a realidade vai apresentando em relação ao seu paradigma.
Mas é necessário avaliar permanentemente os sintomas da emergência de um novo "modo de produção". A pedra de toque deverá ser a decadência e retrocesso do assalariamento, enquanto "relação de produção" identitária do Capitalismo.

Temos vindo a assistir à emergência de uma nova "base material" digital que propicia graus inéditos de automatização do trabalho e de replicação e virtualização das mercadorias. A produtividade das tecnologias actuais provoca superabundância permanente de enorme variedade de mercadorias, tangíveis e intangíveis, que competem pelo mesmo recurso finito: a bolsa do consumidor.

O sistema tem procurado encontrar soluções para alargar os mercados, quer a nível interno quer a nível externo. Por um lado a exportação para economias emergentes, que muitas vezes obriga à deslocalização da produção, e por outro o sobre-endividamento das famílias induzido pelo sistema financeiro. A crise mundial que estamos a viver é apenas a eclosão dramático das suas consequências.


A concorrência leva as empresas a centrar-se no design e no marketing, que se baseiam crescentemente em “trabalho não repetitivo”,em detrimento das actividades produtivas tradicionais. O trabalho é cada vez menos um "capital variável" e mesmo as mercadorias tangíveis, feitas "por mil mãos em cem países", escapam cada vez mais à "teoria do valor".

A efectiva criação de valor pelo “trabalho não repetitivo” tem carácter imprevisível e independente da duração,o que torna desadequado o típico contrato de assalariamento em que o patrão compra força e tempo de trabalho e sabe com alguma probabilidade, à partida, que o que vai pagar é inferior ao que vai obter.

Por isso assistimos a uma tendência generalizada de redução e descaracterização do contrato tradicional de assalariamento substituído por relações precárias, de subcontratação, ou à tarefa nos projectos.



As perguntas a que importa dar resposta são pois:

- Será que o irremediável desequilibrio entre oferta e procura, e a prevalência do “trabalho não-repetitivo” atirarão o assalariamento, e portanto o Capitalismo, para o baú da história ?

- Uma vez que um novo Modo de Produção não trará automaticamente uma sociedade mais justa, como hão-de as forças progressistas aproveitar a janela de oportunidade apresentada pela transição para tentar influenciá-lo?


segunda-feira, outubro 20, 2008

NÉQUIM

.


"Néquim" é o nome de um projecto que estará exposto no espaço Fundação PLMJ, em Lisboa, de 7 de Outbro a 22 de Novembro de 2008.

Nuno de Campos, o autor, inspirou-se na vida de Daniel de Sousa Teixeira, conhecido como «Néquim» entre os seus familiares e amigos próximos. Segundo a versão oficial do regime, Daniel de Sousa Teixeira faleceu no Hospital de São José, vítima de um ataque de asma brônquica, na manhã de 24 de Outubro de 1968. A PIDE prendera-o dois meses antes, na sequência do seu envolvimento na malograda operação armada da organização revolucionária LUAR, que visava a tomada temporária da cidade da Covilhã. Na Prisão de Caxias, Daniel de Sousa Teixeira correspondeu-se com a família, relatando o quotidiano e reflectindo acerca da sua trajectória pessoal.
...
Nuno de Campos desenvolveu numa série de grandes desenhos executados a carvão, com carácter realista, inspirados em frases escolhidas daquelas cartas. Através de uma determinada proposição, cada imagem traduz um pensamento. Por exemplo, uma vista de Trás-os-Montes, onde a Polícia deteve Daniel de Sousa Teixeira, legenda-se com «Na LUAR, não tive tempo para sequer pensar», demonstrando, assim, as dúvidas que assolaram o seu espírito.
...
Daniel de Sousa Teixeira, filho de um raro casal inter-racial da classe média urbana, consolada com a honrada subsistência legada por Salazar, enredou-se numa malhas de promessas, pagando com a própria vida a ousadia de sonhar. Ao articular micro experiência com grande narrativa, Nuno de Campos propõe uma original leitura do Portugal de finais da década de 1960 à luz dos nossos dias.
(texto do o comissário Miguel Amado extraído do site http://www.nequim.com/index.php)
.

domingo, outubro 19, 2008

O destino do mundo entregue a três pícaros

.

"O Presidente norte-americano aceitou ser o anfitrião, “num futuro próximo”, de uma cimeira internacional para debater estratégias de resposta à crise financeira internacional, enquanto o seu homólogo francês sublinhou que o encontro será “uma grande oportunidade” para rever as políticas financeiras.“É essencial que trabalhemos em conjunto porque estamos juntos nesta crise”, afirmou George W. Bush, ao acolher Nicolas Sarkozy, presidente em exercício da UE e Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, em Camp Davis. " Público, 18.10.2008

Note-se o ar grave, obviamente forçado, destes três pícaros. Tenho a certeza de que, durante o jantar, se fartaram de contar anedotas.

Coisas do tipo: "Vocês já conhecem aquela de um português um francês e um americano, praticamente falidos, que se encontram para jantar ?"






.

sábado, outubro 18, 2008

A contradição essencial em todo o seu esplendor

.


"O Presidente da República está preocupado com a possibilidade do aumento do desemprego e com o crescimento do endividamento externo, mas considera que os portugueses podem confiar no sistema bancário, revela hoje o semanário “Expresso”."
A questão fundamental é evitar a rarefacção do crédito às empresas e famílias. Se isto não acontecer, muitas empresas enfrentarão dificuldades e poderemos ter um grande aumento do desemprego", disse Cavaco Silva, em declarações ao semanário...
"O maior problema de Portugal neste domínio é o do endividamento externo, que está a ser alimentado todos os anos pelo desequilíbrio das nossas contas externas que é muito elevado. É por isto que tenho insistido tanto na prioridade que deve ser concedida ao aumento da competitividade das nossas empresas", disse o Presidente...
A dívida externa portuguesa era de 343,9 mil milhões em Junho, mais do dobro do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Banco de Portugal, dos quais 188,6 mil milhões são dívidas da banca que incluem o financiamento do crédito a empresas e a famílias, salienta o “Expresso”."
A contradição em todo o seu esplendor. Estamos endividados "até à raiz dos cabelos", vivemos acima das nossas possibilidades, e Cavaco acha que é preciso garantir que podemos continuar a endividar-nos. Porquê ?
É simples, a economia tal como a conhecemos não consegue funcionar, por insuficiência da procura, se nós não nos arruinarmos com empréstimos que não conseguimos pagar.
Acho que isto não tem saída...
.

Ligações perigosas



"Agora, vejam bem, o Governo decidiu, já em fim de mandato, renovar o contrato de concessão do terminal de contentores de Alcântara à Liscont, uma empresa maioritariamente detida pelo grupo Mota-Engil - renovação acompanhada de uma apreciável melhoria das condições do contrato (aumenta a área disponível para a instalação de contentores). Aquilo de que qualquer lisboeta está absolutamente farto - ver a zona ribeirinha atravancada pelos contentores da actividade portuária -, não só irá continuar como irá crescer em densidade. O PSD reagiu invocando o favorecimento da empresa da Mota-Engil e tenciona pedir a apreciação parlamentar da decisão do Governo.

Eu não sei nem posso garantir se o Governo favoreceu aqui a empre- sa do "amigo" Jorge Coelho. Mas se a função do jornalismo é fazer perguntas, eu aproveito para fazer as minhas. Há uns anos, numa notícia de 2 de Maio de 2005, o Diário de Notícias dava conta de que o grupo Tertir pedia ao Governo que clarificasse a sua posição sobre a localização da actividade portuária, porque estava insatisfeita com a ideia de ter de deslocar o terminal portuário para fora de Lisboa a fim de se "devolver" a área ribeirinha à população.

Convém notar que a Tertir era então proprietária da Liscont e, para além de temer os custos inerentes à construção de uma nova central de contentores, tinha interesse natural em renovar a concessão do terminal de Alcântara. É escusado acrescentar que o Governo não clarificou nada, sempre sob o pretexto de que a área ribeirinha seria libertada para se tornar no espaço de lazer e liberdade que os lisboetas esperam há décadas. Então o que fez a Tertir? Em 2007, vendeu a sua posição na Liscont à Mota-Engil, que assim passou a controlar a empresa.

E é essencialmente isto que importa esclarecer: como é que antes a renovação do contrato de concessão desejada pela Tertir parecia uma tarefa impossível por força dos planos governamentais de abertura da área ribeirinha e, assim que a Liscont passa para as mãos da Mota-Engil, o contrato de concessão é logo celebrado, ainda por cima com condições mais favoráveis? De resto, este é só mais um exemplo de como Lisboa e os lisboetas são tratados por quem nos governa."


"O GOVERNO E JORGE COELHO", Pedro Lomba, DN 16.10.2008

Estou certo de que o PSD, se tivesse oportunidade, teria feito algo do mesmo tipo. Mas hoje não é no plano da crítica ao "bloco central de interesses" que me quero situar.

Quando se toma consciência de casos como estes somos levados a perguntar: faz algum sentido falar de "regulação do Estado" quando existem tantas promiscuidades ? faz sentido acreditar que o governo, este ou o próximo, quer e pode meter a especulação financeira na ordem ?

sexta-feira, outubro 17, 2008

Já sabemos quem vai pagar a crise

.
.
.
.
.
.
"Afinal, quem vai pagar esta crise ?", assim se titulava o Editorial do Publico no dia 16.


O meu caso, reformada da chamada classe média, pode ser uma resposta:
- não sou empresária, portanto não beneficio dos cortes no IVA nem no IRC, nem posso usar linhas de crédito bonificado.
- não pertenço ao grupo dos “mais necessitados” por isso não recebo subsídios, não me dão casa, não tenho água luz e telefone mais baratos, não sou isenta de taxas no SNS.
- sou reformada do sector privado, o que significa que a minha pensão, à partida inferior ao ordenado que tinha no activo, vai aumentar este ano de novo abaixo do valor da inflação.
- já não tenho filhos bebés, nem estudantes, por isso a descida do IVA das cadeirinhas, o desconto fiscal dos computadores e o 13º mês do abono, não me ajudam.
- também já não tenho pais velhinhos; não posso descontar os encargos.
- comprei uma casa, quando tive dinheiro para o fazer, não tenho por isso dívidas que o Estado me ajude a pagar.
- tenho algumas poupanças, aplicadas em Certificados de Aforro; foram desvalorizadas pelo Governo.
- suporto os aumentos do combustível, das portagens e dos impostos se quero deslocar-me em viatura própria. Suporto a subida de preços dos bens essenciais e também dos outros.
Quem vai pagar esta crise ? Sou eu !



Maria Rosa Redondo, uma leitora devidamente identificada.



.

Responsáveis pela crise mundial

.

Alguém acredita nesta história do subprime ter levado o mundo à falência ?...

.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Petição quer aumento das rendas das "casas de favor" em Lisboa


Público, 16.10.2008
Catarina Pinto


Signatários sugerem que autarcas que tenham participado na atribuição de casas sejam inibidos de se candidatar a cargos públicos

Está desde anteontem em subscrição na Internet uma petição de cidadãos contra a forma de atribuição de casas pela autarquia lisboeta, que chama de "casas de favor", e sob o mote "para que a culpa não morra solteira mais uma vez", os subscritores dizem querer acabar com o "atentado ao património público".
Dirigida ao presidente da Assembleia da República, a petição tem como primeiro subscritor Fernando Penim Redondo, e propõe "a criação de uma comissão independente que aumente, no prazo de três meses, as rendas das casas, cedidas pela Câmara Municipal de Lisboa a preços muito baixos, para os valores normais de mercado".
Ainda a este respeito, o autor entende que a Comissão deverá analisar e ter em atenção as situações de alguns cidadãos que possam não ter condições financeiras favoráveis ao pagamento das novas rendas.
Criticando o facto de já terem sido proferidas demasiadas palavras sobre o caso da atribuição de património camarário a preços irrisórios, mas nunca terem sido lançadas verdadeiras propostas que resolvam e evitem semelhante situação no futuro, Penim Redondo pretende que as autoridades competentes produzam legislação de modo a que os presidentes e vereadores da CML, envolvidos na "atribuição de casas de favor", não possam candidatar-se a cargos públicos durante três anos.
A elaboração, no prazo de um ano, de um relatório final dando conta dos resultados do mandato da comissão e a utilização da sua experiência em Lisboa para "desenhar e executar um plano equivalente a nível nacional" são outras das resoluções que o autor pretende ver cumpridas.

Silêncio partidário
Na petição, Penim Redondo lamenta que os principais partidos portugueses se refugiem no silêncio sobre a questão das cerca de duas mil habitações da Câmara de Lisboa cedidas por preços quase simbólicos. "Os principais partidos portugueses têm mantido um envergonhado silêncio sobre esta questão contribuindo dessa forma para a degradação da nossa vida democrática", escreve.
Classificando esta atribuição como um atentado ao "património público", o autor chama a atenção para os milhões de euros que a autarquia tem vindo a perder, numa altura em que se encontra "quase paralisada por falta de meios financeiros".
A petição está disponível on-line em http://www.gopetition.com/petitions/para-acabar-com-as-casas-de-favor-em-lisboa.html, e até ao final da tarde de ontem tinha 64 assinaturas.

Parabéns a Zelenka





No dia 16 de Outubro de 1679, há portanto 329 anos, nasceu Jan Dismas Zelenka. Nasceu 4 anos depois de Vivaldi e 6 anos antes de Bach e de Haendel na Boémia, perto de Praga, e tem vivido na sombra dos grandes mestres apesar do carácter extraordinário da sua música.

É um dos meus compositores de culto. Aqui deixo os meus parabéns ao Zelenka e a recomendação, a quem o não conheça, para que procure descobrir a sua música (veja AQUI).

O medo das (coisas) baratas






Só com os músculos e agilidade, Bruce Lee destroçava gangues inteiros a golpes de kungfu, mas, afinal, tinha medo de baratas, revela uma nova série televisiva sobre o herói dos filmes de artes marciais dos anos 60/70. Trata-se também da primeira série sobre Bruce Lee (1940-1973) produzida no continente chinês e, além das suas proezas físicas, pretende mostrar o lado humano do personagem. "A maioria das pessoas só conhece Bruce Lee como um super-herói que vencia sempre, mas ele era também um homem vulnerável", disse o actor Chan Kwok Kwan, que faz de Bruce Lee. A série, com 50 episódios, está a ser exibida no primeiro canal da CCTV (Televisão Central da China), a seguir ao principal telejornal do país.

O Governo chinês criará um comité para enfrentar as "incertezas fiscais" que a recessão económica mundial poderia produzir no país, informa hoje o diário "South China Morning Post".
O comité, que será liderado pelo vice-primeiro-ministro Wang Qishan, seguirá de perto as mudanças financeiras no exterior e responderá com ajustes nas políticas económicas nacionais se considerar necessário, acrescenta o jornal.

As reservas da China em divisas aumentam em média 41 mil milhões de dólares por mês (30,3 mil milhões de euros) e no fim do ano vão ultrapassar os 2 biliões de dólares (1,5 biliões de euros). Em Setembro passado - anunciou hoje o banco central chinês - as reservas da China em divisas externas somavam 1,905 biliões de dólares (1,4 biliões de euros), mais 377,3 mil milhões de dólares (280 mil milhões de euros) que no final de 2007. São as maiores reservas do mundo e reflectem o elevado saldo da balança comercial chinesa, nomeadamente com a União Europeia, que é o maior parceiro da China. Segundo estatísticas oficiais, nos primeiros nove meses de 2008, as exportações chinesas somaram mais 180,9 mil milhões de dólares (134 mil milhões de euros) do que as importações. Pelas contas de Bruxelas, em 2007, as exportações da União Europeia para a China somaram apenas 72 mil milhões de euros, enquanto as suas importações atingiram 231 mil milhões de euros.
"O défice da Europa em relação à China - afirma a Comissão Europeia - "aumenta 17 milhões de euros à hora".

(medley construído a partir de várias notícias da LUSA)
.

quarta-feira, outubro 15, 2008

O peso certo ?

.


CHEGA ! há que dizê-lo com frontalidade. Um país que reincide num programa como "O Preço Certo" , durante anos, será sempre deficitário no Orçamento do Bom Gosto.
A repetição, dia após dia, dos mesmos dramas desinteressantes e dos mesmos tiques faz-me temer pela sanidade mental dos milhões de portugueses que supostamente o vêem dessa forma justificando a sua existência.
E não se pode exterminá-lo ?!?!

Casas de favor, por favor

.



"As dúvidas estão dissipadas. Apesar dos executivos de João Soares terem sido os que mais casas da Câmara de Lisboa cederam, se for tido em conta o tempo em que cada um dos presidentes esteve à frente da autarquia, António Costa e Santana Lopes batem Soares aos pontos.
Tendo em conta a proporção entre o número de habitações atribuídas e os dias de governação, constata-se que tanto Santana como Costa deram uma casa a cada seis dias.
Em 440 dias de governação (desde 1 de Agosto de 2007 até hoje) o executivo de António Costa foi responsável pela atribuição de 69 fogos. Número só superado, à proporção, pela equipa de Pedro Santana Lopes, que em 920 dias forneceu 155 habitações.
"

Leia o resto no DN, 15.10.2008

Assine a Petição Online, é um acto de civismo.
.

Marx Renaissance

.

Mais uma revista internacional aborda o ressurgimento do interesse pelas ideias de Marx. Le Magazine Litteraire de Outubro dedica 28 páginas ao assunto e já inclui o tema da "crise mundial em curso" nas suas reflexões.

Textos são de Patrice Bollon, Miguel Abensour, Pascal Combemale, Christian Laval, Jacques Bidet, Alexis Lacroix, Daniel Bensaid e Gérad Duménil. Inclui ainda uma entrevista com Ernesto Laclau e Ulrich Beck em diálogo.

Entre nós, promovido pelo Instituto de História Contemporânea, terá lugar entre 14 e 16 de Novembro, o "Congresso Internacional Karl Marx".

As coisas estão sem dúvida a mexer.