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sábado, julho 09, 2016

SIBERÍADA - Andrei Konchalovsky (1978)



SIBERÍADA - Andrei Konchalovsky (1978)
Há muitos anos que queria ver este filme, por causa das mútiplas referências que lhe são feitas.
Trata-se de uma bela (e longa) saga de famílias que desbravam a Sibéria ao longo do século XX, e do impacto das transformações políticas na longínqua região.
Mistura poesia e militância. A famosa "alma russa" sempre em conflito com uma realidade e natureza brutais.
Eu estive na Sibéria em 1980- Irkutsk, lago Baikal e Bratsk- apenas dois anos depois de este filme ter sido feito.
Não vi o filme quando saíu mas consigo imaginar a comoção que ele provocava quando a derrocada da URSS não era sequer pensável.

quarta-feira, dezembro 09, 2015

Os sete anos que mudaram quase tudo



Os sete anos que mudaram quase tudo
Cavaco está quase a passar à história mas a sua história não se resume aos dois mandatos como Presidente.
Entre 1985 e 1991 ele coincidiu com uma curva muito apertada dos tempos modernos; o fim da URSS e do sistema soviético.
Durante esse período o PCP encontrava-s entre dois fogos. 
Por um lado as denúncias e reformas pouco ortodoxas de Gorbatchev e, por outro, a dinâmica vitoriosa de Cavaco e do que ele representava. Internamente as dissidências eram causa e consequência.
Os acontecimentos na URSS dificultavam uma lógica revolucionária e, ao mesmo tempo, a prática eleitoral em Portugal revelava cada vez mais as suas próprias limitações.
Nos oito anos que medeiam entre 1983 e 1991 o PCP passou de 18,07 % e 44 deputados para 8,8 % e 17 deputados.
E as coisas nunca mais voltaram a ser como eram antes.

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Bárbara

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BÁRBARA (Christian Petzold, 2012)
é um filme interessante, quase intimista, sobre uma vida insubmissa na Alemanha de Leste antes da queda do muro.
Nada que se compare com a força de "Adeus Lenine" (Wolfgang Becker, 2003) ou de "As vidas dos outros" (Florian Henckel von Donnersmarck, 2006).


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segunda-feira, setembro 24, 2012

Outras Crises (mais duras)



 
Nas repúbicas bálticas, por onde passei recentemente, ainda há muita gente a morar nos edfícios construídos durante o período soviético e que agora, dada a sua falta de qualidade, se encontram num estado deplorável.
Em países como a Lituânia, Letónia e Estónia, onde podem fazer trinta graus negativos, e onde o inverno é longo, parece-me inevitável ficar deprimido. Especialmente se for preciso gastar grande parte do salário no aquecimento da casa com o gás que os russos, segundo me disseram, fornecem agora a preços capitalistas.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

O fim da URSS há vinte anos

Em Setembro de 1980, 11 anos antes, em plena era Brejnev, visitei a URSS. As fotografias que pode ver AQUI foram recolhidas em Moscovo, Sibéria (Bratsk, Irkutsk e Lago Baikal) e na capital do Cazaquistão, Alma-Ata.
Mas não foi esse o meu primeiro contacto com os “países de leste”.
A minha estreia ocorrera em 1979 na Hungria. 
Meses depois da ascensão de Gorbatchov, em 1985, percorri de automóvel durante um mês, e em campismo com os meus filhos, a RDA, a Checoslováquia e a Hungria.
No ano seguinte, 1986, aproveitando uma viagem profissional a Berlim, usei a estação de metro em Friedrichstrasse como porta de passagem para Berlim Leste e, em 1987, fiz parte de uma delegação sindical numa visita de estudo do desenvolvimento informático da Bulgária.
Finalmente, mas não menos importante, visitei a parte ocidental da URSS (Leninegrado, Kiev e Moscovo) no Verão de 1988, em plena abertura política lançada por Gorbatchev e com as ruas cheias de discussões e manifestações.

No princípio de 1990, já em plena preparação do XIII Congresso do PCP, elaborei um texto intitulado “Do Socialismo Prematuro para o Socialismo do Futuro” que desenvolvia as ideias apresentadas em S. Francisco. A minha principal preocupação era conceber um conjunto de argumentos e raciocínios que permitissem a qualquer militante lidar racionalmente com o descalabro do sistema político do leste europeu. Essa preocupação resultava de me sentir politicamente responsável por tantos militantes que recrutara, ou dirigira, no decurso da minha actividade política.O texto referido foi discutido na célula de empresa mas não foi encontrada uma fórmula para o usar no quadro dos “contributos” para as Teses do Congresso, tal era a distância que o separava do texto “oficial” proposto.
18 anos depois, ainda se escrevia desta forma acerca do desabamento da URSS:

A “traição de altos responsáveis do partido e do Estado” é um dos motivos apontados para a “derrota” do socialismo na União Soviética de acordo com as Teses ao XVIII Congresso do PCP que hoje são divulgadas com o jornal partidário “Avante!”.
...
O socialismo, alternativa necessária e possível pode ler-se, na página 15: “Perante os complexos problemas que se manifestaram na construção do socialismo na URSS, assim como noutros países do Leste da Europa, o PCP expressou compreensão e solidariedade para com os esforços e orientações que proclamavam visar a sua superação, alertando simultaneamente para o desenvolvimento de forças anti-socialistas e para a escalada de ingerências imperialistas, confiando em que existiam forças capazes de defender o poder e as conquistas dos trabalhadores e promover a necessária renovação socialista da sociedade.
Mas certas medidas tomadas agravaram os problemas ao ponto de provocar uma crise geral. O abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os trabalhadores, a claudicação diante das pressões e chantagens do imperialismo, a penetração em profundidade da ideologia social-democrata, a rejeição do heróico património histórico dos comunistas, a traição de altos responsáveis do partido e do Estado, desorientaram e desarmaram os comunistas e as massas para a defesa do socialismo, possibilitando o rápido desenvolvimento e triunfo da contra-revolução com a reconstituição do capitalismo”.
PÚBLICO, 25.09.2008



Quando em 1990 me insurgi, no XIII Congresso do PCP, contra a pobreza das explicações encontradas pelas Teses para explicar a "derrota do socialismo no Leste da Europa" nunca me passou pela cabeça que, passados tantos anos, a mesma fórmula continuasse a ser repetida.
Em 2003 publiquei o livro “Do Capitalismo para o Digitalismo” para defender que a queda do “socialismo real” não tornou o capitalismo insuperável. É esse o pântano ideológico em que a esquerda se tem atolado nos últimos anos.
Não se trata de inventar, à pressa, novos “amanhãs que cantam”. Os amanhãs cantarão inevitavelmente façamos nós o que fizermos; trata-se de saber se ainda queremos participar na escolha da melodia e do poema.
Sem compreender profundamente o que aconteceu e que afectou ideológicamente muitos milhões de pessoas em todo o mundo,  nunca mais se fará o luto por uma experiência que devemos superar.




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segunda-feira, janeiro 03, 2011

Estratégias energéticas

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Entrou hoje em funcionamento o primeiro oleoduto que liga a Rússia, o maior produtor mundial de petróleo, com a China, o segundo maior consumidor de energia do planeta.


Os especialistas notam que a instalação, que vai da Sibéria à cidade chinesa de Daquing, irá permitir um rápido aumento das exportações de crude entre os dois países, já que até agora o petróleo russo era transportado para a China por comboio.


Moscovo espera que o novo oleoduto deverá permitir a exportação para o Extremo Oriente de cerca de 300 mil barris de crude por dia, reduzindo de modo dramático a dependência do país nos seus clientes europeus, já que até agora a Rússia só tinha oleodutos que corriam para a Europa.


Na cerimónia de abertura do oleoduto, cuja construção custou 16 mil milhões de euros, financiados em parte por créditos concedidos por bancos chineses, o administrador-geral da PetroChina, Yao Wei, afirmou que este marca "o início de uma nova fase na cooperação energética sino-russa". Até 2014 será ainda construída uma nova secção do oleoduto, que cobrirá então uma distância de 4.700 km.


Económico 02.01.2011

quarta-feira, maio 19, 2010

Histórias da Idade de Oiro

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Fui ver o filme "Histórias da Idade de Oiro" ou, em romeno, "Amintiri din epoca de aur".

Os últimos 15 anos do regime de Ceausescu devem ter sido os piores na história da Roménia. No entanto, a máquina de propaganda referiu-se a essa época como os anos de oiro… Mitos urbanos surpreendentes, cómicos, bizarros abundavam, mitos que derivavam de acontecimentos por vezes surreais do quotidiano.

Cinco histórias anedóticas, da autoria de Cristian Mungiu, tratadas por cinco diferentes realizadores, compõem este filme divertidamente amargo.
Nós, os mais velhos, sabemos que a Roménia destes tempos era um regime repressivo, em que imperava o culto da personalidade do "grande líder".
Mas o quadro só fica completo se acrescentarmos a penúria geral, e a geral interiorização da repressão. Um regime baseado no faz de conta.
Os cidadão faziam de conta que amavam o "grande líder", as aldeias faziam de conta que estavam alfabetizadas a 99%, os jornais faziam de conta que Ceausescu era mais alto do que Giscard d'Estaing e todos fingiam ir a caminho do Comunismo.
O problema é que, num regime destes, mesmo um ingénuo estratagema de sobrevivência fácilmente se transforma num enorme crime.

A penúria, a auto-repressão, o incensar do líder, e o fazer de conta continuam infelizmente, em dosagens variáveis, a surgir nas mais insuspeitas situações, mesmo quando o verniz democrático ainda não estalou.
Vendo bem só passaram vinte anos sobre a execução de Ceausescu.
Moral da história: há que estar atento aos fundamentos de qualquer engenharia social que nos proponham. Os nossos projectos de futuro já se terão libertado completamente do  Ceausescu que existe por trás de cada esquina, senão mesmo dentro de cada um de nós ?


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quinta-feira, novembro 19, 2009

URSS 1980

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Em Setembro de 1980, há 29 anos, em plena era Brejnev, visitei a URSS. As fotografias que pode ver AQUI foram recolhidas em Moscovo, Sibéria (Bratsk, Irkutsk e Lago Baikal) e na capital do Casaquistão, Alma-Ata.
O recente vigésimo aniversário da queda do muro de Berlim, e as discussões acerca do Bloco Soviético que se seguiram, motivaram-me para a recuperação destas memórias.


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segunda-feira, novembro 09, 2009

O meu próprio muro

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Nesta época de comemoração da Queda do Muro, em Berlim, resolvi fazer também a minha "reflexão". Dá-me muito gozo ver a forma como certas pessoas comemoram a queda do muro pois sei que, se algum dia houvessem tido o engenho de tomar o poder, teriam construído um ainda mais alto e mais grosso.

Em geral creio que a queda do muro não ensinou tanto quanto seria de esperar. Continuamos a ver o vanguardismo florescerer e o espírito crítico e auto-crítico constitui uma raridade. O doseamento e a moderação nas convicções por parte de quem, como nós, tantas vezes errou é muito mal compreendido. O voluntarismo e o queimar das etapas, o desprezo pelos processos de fundo em favor das modas e do efémero, marcam aliás a nossa época. Novas élites auto-nomeadas mostram-se prontas para qualquer engenharia de ocasião.

Quando o muro físico caíu já eu levava vinte e três anos de militância sincera no PCP com base em ideais que, na sua essência, continuo a perfilhar: a construção colectiva de um novo patamar social em moldes mais justos e não o sindicalismo assistencial que hoje parece estar na moda, à mistura com umas provocações de índole sexual para épater le bourgeois.

Quando visitei Berlim pela primeira vez já não era um neófito do "socialismo real" nem da RDA. A minha estreia ocorrera em 1979 na Hungria e depois em 1980, quando as nuvens ainda não toldavam o horizonte, em Moscovo, no Cazaquistão e na Sibéria. Meses depois da ascensão de Gorbatchev, em 1985, percorri de automóvel durante um mês, e em campismo com os meus filhos, o Sul da RDA, a Checoslováquia e a Hungria (uma viagem cujas peripécias ainda um dia contarei).

Em Fevereiro de 1986, aproveitando uma viagem profissional a Berlim, usei a estação de metro em Friedrichstrasse como porta de passagem para Berlim Leste e percorri essa parte da cidade, a pé, debaixo de uns inclementes dez graus negativos durante o fim de semana.


No sábado almocei com um grupo de polacos e polacas no restaurante giratório do alto da torre da TV na Alexander Platz. Um almoço grastronómicamente sem história mas muito interessante nas conversas. Depois fui descobrir o fantástico museu Pergamon, assim nomeado por conter o Templo de Zeus roubado na cidade do mesmo nome (onde estive em 1995) na costa turca do mar Egeu.

No domingo tornei a passar para Berlim Leste e depois das demoradas formalidades da fronteira era já hora de almoçar. Entrei num restaurante que funcionava num primeiro andar e o empregado, como as mesas estavam todas cheias, não hesitou em sentar-me na companhia de três belas jovens.


Foi mais uma oportunidade para perceber o que pensavam os alemães do "outro lado". As jovens estavam de visita a Berlim por pertencerem a um grupo folclórico de uma região que não fixei.

Passámos o almoço a discutir acerca da diferença entre não viajar por estar impedido legalmente e não viajar por não ter dinheiro para o fazer. Tornou-se claro para mim que, fosse qual fosse o sucesso económico e social do regime comunista, o simples facto de não se poderem deslocar livremente constituía para os alemães do leste um problema obsessivo.


Só voltei a Berlim dez anos mais tarde, em 1996, quando já me tinha afastado da militância no PCP. Neste momento estou a planear ir de novo a Berlim para ver a nova arquitectura na Alexander Platz e voltar à extraordinária ilha dos museus.


quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Discografia do essencial (4)

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Em 1986, aos 82 anos, depois de uma ausência de 60 anos, Horowitz toca de novo na sua Rússia natal.
Na grande sala do Conservatório de Moscovo consegue-se ouvir a electricidade das emoções.
(Depois de 45 anos a ouvir musica resolvi começar a publicar a minha "Discografia do Essencial").

segunda-feira, janeiro 26, 2009

O mata moscas russo

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Hoje, no noticiário das 20 horas da RTP1, tive uma revelação: o mata moscas russo.
Orlando Lopes da Cunha, presidente da ANIVEC – Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção, falava sobre os graves problemas que afectam o sector e sobre as medidas urgentes que importa tomar para o salvar.
A propósito dos rigores do fisco, para ilustrar os exageros com que procede, comparou-o ao mata moscas russo que, segundo ele, teria sido adoptado após a última guerra mundial.
E explicou como era: "o mata moscas russo descia do tecto e matava realmente a mosca mas, continuado a sua marcha, arrebentava com a mesa e desfazia todos os que nela se sentavam".
Temos que reconhecer que era assustador, além de pouco prático. Como é que depois de tantos anos de militância política eu nunca tinha ouvido falar do mata moscas russo ?
As coisas que se aprendem quando se vê o Telejornal...
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sexta-feira, novembro 07, 2008

7 de Novembro

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fotografia, tirada em S. Tomé, por Carlos Morais
"Porém, a sondagem mostra que 57 pc dos russos não tencionam festejar o dia 07 de Novembro, 14 pc não decidiram como o fazer, 12 pc planeiam assinalá-la em casa e 07 pc, na casa de amigos. Apenas 2 pc dos entrevistados tencionam participar em manifestações e comícios, organizados pelos vários partidos comunistas para comemorar essa data na Rússia."
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"Não obstante o dia 07 de Novembro ter deixado de ser feriado, mais de 2,5 mil manifestantes, segundo as autoridades policiais, mais de 10 mil, segundo os organizadores, reuniram-se no centro da capital russa ao som de palavras de ordem como “A Rússia é Lénine! A Rússia é Estaline!”, “O capitalismo faliu, queremos o socialismo!”, “Liberais no poder, crise na economia!”."
Blog "Da Rússia", 07.11.2008 aqui e aqui
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Estes posts do José Milhazes sobre a forma como os russos encaram a Revolução de 1917, apesar de não serem surpresa, provocam em mim o desconforto habitual. Aquilo que eu considero incontornável nestas estatísticas é a evidência do carácter anormal da experiência soviética.
Não me refiro às violências revolucionários ou sectárias nem sequer às privações e frugalidade forçada a que os russos estiveram sujeitos. O que eu acho extraordinário é o facto de uma experiência que se pretendia revolucionária não ter deixado um resquício, uma semente de novas relações de produção que as pessoas pudessem recordar e manter em custódia nem que fosse para um futuro longínquo.
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Tudo se passa como no perturbante filme "Goodbye Lenine". As pessoas passam à frente e esquecem mas, supostamente, estão a andar para trás.
Tem que haver outra explicação para o fenómeno. Não podem estar tantos, há tanto tempo, tão completamente errados.





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sexta-feira, outubro 31, 2008

E hoje ? há condições para uma Revolução ?

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(clicar para ampliar)

Domingos Lopes, no Público de hoje, mostra-se chocado com o retrocesso na abordagem da derrocada da URSS patente nas Teses do próximo Congresso do PCP.

Eu já tinha falado desta questão aqui . Continuo a achar que a crítica deste retrocesso não deve implicar a "absolvição" das Teses de 1990. Também elas, embora menos anacrónicas, falhavam o essencial: explicar o "porquê" e não o "como".

Por exemplo dizer que "o marxismo-leninismo foi frequentemente dogmatizado para justificar práticas ultrapassadas e aberrantes" é apenas descrever "como" a URSS descambou e não esclarecer "porque" é que isso foi possível e realmente aconteceu.

Em minha opinião é tudo muito mais simples: A grande Revolução de 1917 veio antes de tempo, foi prematura. Nas condições concretas em que aconteceu, no plano tecnológico e de maturação do capitalismo, o sucesso da URSS comunista era práticamente impossível.

A grande pergunta que resulta é: e hoje ? as condições já estão criadas ? É isso que muita gente anda, ou devia andar, a tentar compreender.

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quinta-feira, setembro 25, 2008

A traição do tempo







A “traição de altos responsáveis do partido e do Estado” é um dos motivos apontados para a “derrota” do socialismo na União Soviética de acordo com as Teses ao XVIII Congresso do PCP que hoje são divulgadas com o jornal partidário “Avante!”.
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O socialismo, alternativa necessária e possível pode ler-se, na página 15: “Perante os complexos problemas que se manifestaram na construção do socialismo na URSS, assim como noutros países do Leste da Europa, o PCP expressou compreensão e solidariedade para com os esforços e orientações que proclamavam visar a sua superação, alertando simultaneamente para o desenvolvimento de forças anti-socialistas e para a escalada de ingerências imperialistas, confiando em que existiam forças capazes de defender o poder e as conquistas dos trabalhadores e promover a necessária renovação socialista da sociedade.
Mas certas medidas tomadas agravaram os problemas ao ponto de provocar uma crise geral. O abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os trabalhadores, a claudicação diante das pressões e chantagens do imperialismo, a penetração em profundidade da ideologia social-democrata, a rejeição do heróico património histórico dos comunistas, a traição de altos responsáveis do partido e do Estado, desorientaram e desarmaram os comunistas e as massas para a defesa do socialismo, possibilitando o rápido desenvolvimento e triunfo da contra-revolução com a reconstituição do capitalismo”.
PÚBLICO, 25.09.2008

Quando em 1990 me insurgi, no XIII Congresso do PCP, contra a pobreza das explicações encontradas pelas Teses para explicar a "derrota do socialismo no Leste da Europa" nunca me passou pela cabeça que, passados 18 anos, a mesma fórmula continuasse a ser repetida.
Assim, sem compreender profundamente o que aconteceu e porque aconteceu, nunca mais se fará o luto por uma experiência que devemos superar.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Georgia W. Bush

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O meu amigo António Vilarigues do Castendo, no Público de hoje, entrou pela ficção para melhor explicar a armadilha da Geórgia:

"Em reunião realizada no passado dia 3 de Setembro, na cidade de Montreal, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, manifestou o seu apoio a um Quebeque livre. O primeiro-ministro desta província independentista do Canadá, o liberal Jean Charest, agradeceu as palavras do seu homólogo da Rússia. Ambos recordaram, perante centenas de jornalistas de todo o mundo, a célebre frase pronunciada nessa mesma cidade a 24 de Julho de 1967 pelo então Presidente da República da França, Charles de Gaulle: "Vive le Québec libre!".No decorrer das negociações entre as duas delegações ficou acordado que a Rússia instalaria no Quebeque um sistema antimísseis de longo alcance. O objectivo é proteger os aliados da Rússia na América do Norte e na América Latina contra os mísseis de longo alcance quer do Irão, quer da República Democrática Popular da Coreia (Norte)".
Público, 05.09.2008 (ver o texto completo aqui)
Já no dia 1 de Setembro, no mesmo jornal, o insuspeito Eduardo Lourenço, num artigo luminoso denominado "Europa paralisada e mutilada" explicava:
"O Ocidente europeu temeu a Rússia durante sete décadas, mas nem por isso a longa e capital história comum deixou de nos importar. Os relentos de cruzadismo que, em tempos, essa ameaça suscitou não têm agora nem a mesma urgência nem o mesmo sentido. É vital para nós que a nova Rússia seja o mais democrática possível, mas não esqueçamos que o nosso ideal democrático ainda tem muito de ideal kantiano - como o de todas as democracias do mundo. Porque nos mobilizamos (em teoria...) tão facilmente contra a nova Rússia, como se fosse uma anti-Europa ou anti-Ocidente, quando há muito a cercámos de Estados ainda menos democráticos que ela e que nunca foram europeus? Não apenas por prudência um caso tão complexo como o do Cáucaso, em que, no mínimo, as culpas são partilhadas, escolher um dos litigantes num conflito em que um terceiro é o actor principal é uma aberração. Só por um passado de má reputação, como numa famosa canção de George Brassens? Certos países europeus supõem ter o monopólio perpétuo das indignações virtuosas. Nos seus melhores momentos o tiveram ou nós supusemos que o tinham. Mas já não é o caso. No novo contexto planetário a exemplaridade é muito relativa. Bem sabemos o que os custou essa pretensão de sermos, como europeus, "a luz do mundo". Chegou o tempo da modésti, o que não é incompatível com a dignidade. Uma certa imprensa europeia, belicista a título póstumo, lamenta que a Europa não enfrente com determinação a crise actual, chamando à pedra o suposto responsável por ela. Evoca-se o espectro de Munique, a eterna cobardia das democracias. Gostariam que se repetisse o cenário da Jugoslávia ou do Kosovo, fonte próxima desta crise. Em suma, que se pusesse a Rússia na ordem. Só os Estados Unidos conhecem o preço dessa hipotética lição ao seu antigo adversário, e no papel a deixam. Não sejamos mais papistas que o Papa. Os Estados Unidos podem brincar com o fogo e disso não se têm coibido. Não vale a pena ajudá-los numa missa que podem celebrar sozinhos. E não sem risco.»"
Público, 01.09.2008 (ver o texto completo aqui)
Ou eu me engano ou algo de equivalente se passa nas relações da Europa com a China, num outro plano e com a devida translacção, através da subordinação da sua política externa e da estratégia económica aos Estados Unidos.
A propósito, onde estão os "tibetanos" que existiam no Alasca quando os Estados Unidos compraram o território ?
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quarta-feira, setembro 03, 2008

O Circo GEORGIA

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(publicado no Courrier Internacional)

terça-feira, setembro 02, 2008

Com a Rússia não se brinca e com os cidadãos também não


"Com a Rússia não se brinca nem se ameaça: negoceia-se. Eis uma regra que os dirigentes europeus deveriam ter sempre presente e, nomeadamente, nos tempos que correm. Para não se deixarem levar pela onda de propaganda, soprada pela Administração Bush, nem pelas provocações do perigoso Presidente da Geórgia, Saakashvili.Tem toda a razão o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, quando, numa entrevista concedida ao Expresso, teve a coragem de criticar o modo como os Estados Unidos e a União Europeia têm tratado a Rússia, nos últimos anos. Durante a presidência portuguesa, Portugal bateu-se - e bem - para normalizar as relações entre a União e a Rússia, nomeadamente na Cimeira que promoveram. Mas, depois, a instalação dos mísseis na Polónia e na República Checa, o imprudente relacionamento criado pela NATO com os países limítrofes da Rússia, da Ucrânia, do Cáucaso e do Mar Cáspio, a independência do Kosovo, aplaudida pelos Estados Unidos e por boa parte dos países europeus, foram demasiadas provocações. Bernard Kouchner ameaçou aplicar sanções contra a Rússia. Quais e como?... A Rússia reagiu com brutalidade. Medvedev avisou: "Se a Europa quiser uma deterioração das relações, vai tê-la naturalmente." Numa escalada preocupante, o Ministério da Defesa russo confirmou o êxito dos testes de um míssil balístico intercontinental, capaz de suplantar as tecnologias de defesa "inimigas". Entretanto, a Rússia reconheceu a independência da Abcásia e da Ossétia do Sul. Como sempre, Putin, mais directo, acusou os Estados Unidos de terem empurrado a Geórgia para o conflito para beneficiar McCain, nas próximas eleições presidenciais, visto McCain ter apelado à expulsão da Rússia do G8. Que insensatez... Espero que o Conselho Europeu que está reunido, quando escrevo estas linhas, saiba moderar uma situação que pode tornar-se desastrosa..."
(Mário Soares, DN 02.09.2008)
Nesta matéria sou surpreendido por uma rara concordância com Mário Soares (e Chavez, vejam lá). Gostava de saber como reagiria o "Ocidente" se os russos desatassem a incitar o Irão a atacar Israel ou se instalassem mísseis "defensivos" no México ou no Canadá.
Com a Rússia não se brinca e com os cidadãos também não.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Notícias misturadas

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UE analisa hoje as suas relações com a Rússia sem sanções na agenda.
Alemanha e Reino Unido propõem condicionar presença russa no G8 a cumprimento do cessar-fogo e a França defende "diálogo firme" com Moscovo.

O pugilista russo Nikolay Valuev, de 35 anos, come três quilos de carne por dia, mede 2,13 metros e a última pesagem apontava para os 144 quilos, números que justificam as alcunhas "The Beast from the East" e "Montanha-Russa". Ontem, Valuev voltou às manchetes dos jornais russos por ter recuperado o título da Associação Mundial de Boxe de pesos-pesados num combate com uma forte dose de déjà vu.

Tudo isto no Público de hoje.

terça-feira, agosto 26, 2008

Ascensão e Queda dos Impérios

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Diego Velázquez, La rendición de Breda (1635)
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Quando leio as reacções ocidentais ao que Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, disse:
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“O Ocidente deve compreender as razões que levaram Moscovo a reconhecer a independência da Abkházia e Ossétia do Sul”, acrescentou.“Nesta situação, tudo depende da posição dos nossos parceiros no campo internacional. Se eles quiserem conservar boas relações com a Rússia, eles compreenderão a nossa decisão e a situação será calma”, “Se eles optarem pelo cenário do confronto, então que fazer? Já vivemos em condições diversas, viveremos também nessa” .
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não posso deixar de comparar a actual situação do "Império Americano" com o Império dos Habsburgo no Século XVII.
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Os espanhóis, como potência hegemónica da época, foram espalhando as suas forças por mútiplas guerras "religiosas" enquanto a sua base económica, as remessas de metais preciosos da América, não cessava de se reduzir. Os americanos têm tropas espalhadas pelo mundo, em vários conflitos "regionais", ao mesmo tempo que a sua economia é desafiada globalmente e o seu défice externo atinge níveis gigantescos. São as poupanças do mundo que estão a financiar os consumidores norte-americanos .
O Império dos Habsburgo foi perdendo posições ao longo do século XVII (nomeadamente: Portugal em 1640, Holanda em 1648, Rossilhão e Artois para a França em 1659, etc) . A paz de Utrech, em 1713, significou o fim do Império Espanhol na Europa. A Espanha só no Século XX voltou a ser uma potência.
Os americanos são desafiados na América do Sul, no Médio Oriente, no Norte do sub-continente indiano, nos Balcãs e agora também no Cáucaso. Amanhã será a Ucrânia ?
Começo a duvidar da capacidade económica e militar dos Estados Unidos, e dos seus aliados, para assegurar tantas frentes.
O que aconteceria se um dia, a juntar a tudo isto, o laborioso e mercantil "Império Chinês" resolvesse obter, militarmente, o exclusivo das principais matérias primas ?
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Pergunto-me se os EUA vão ser a Espanha do Século XXI. Essa era,de alguma forma, a tese de Paul Kennedy no seu famoso "The Rise and Fall of the Great Powers".

segunda-feira, agosto 25, 2008

A outra discussão: os “sacrilégios” da China

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Os Jogos de Pequim terminaram e, apesar dos maus augúrios, não houve nenhuma hecatombe a não ser a do bom-senso de uma certa blogoesfera e de certos jornalistas.

Comparou-se os Jogos de Pequim aos de Berlim, com Hitler em fundo, e publicou-se imagens propagandisticas contra a China tão desadequadas e tão violentas que a própria Amnistia Internacional teve que as desautorizar.
Nem a óbvia evolução positiva que qualquer pessoa detecta na complexa sociedade chinesa nem o facto de a generalidade dos chineses se mostrarem orgulhosos com a realização dos Jogos conseguiu demover os novos cruzados de os tentar salvar da opressão mesmo utilizando os pretextos mais– literalmente- infantis.

Sou levado a interrogar-me sobre as razões por que um número considerável de pessoas, que noutras circunstâncias procedem com equilibrio e racionalidade, consideram a realidade chinesa tão insuportável que rejeitam ou apoucam aquilo que se mete pelos olhos dentro, que os JO foram uma realização notável.

Sem subestimar a questão dos “direitos humanos” na China parece-me que concentrar as atenções nisso, quando a nova realidade social e económica da China é tão anormal e tem consequências potenciais tão grandes a nível planetário, não pode deixar de me soar a escapismo. Foi por este caminho, por pensar que deve haver uma explicação para este absurdo, que cheguei aos “sacrilégios” cometidos pela China.

Como se sabe a morte de Mao em 1976 abriu caminho, sob a influência de Deng Xiaoping, a uma série de transformações gigantescas cujos resultados estão hoje patentes ao mundo:

1. O Partido Comunista da China abandonou uma das mais marcantes bandeiras da esquerda, a comparação entre pobres e ricos e a rejeição das desigualdades económicas como um mal em si mesmo, com o qual não é possível conviver pacificamente. O PCC assumiu sem rebuço que não se importava com o enriquecimento de alguns desde que muitos melhorassem a sua condição económica e qualidade de vida.
Resolveu tornar a China um verdadeiro e apetecível mercado, começando com o engodo de vender mão-de-obra barata quer embutida em produtos exportáveis quer através da exploração no próprio país por empresários estrangeiros.
À medida que milhões e milhões de chineses iam acedendo a salários, ainda que muito baixos, o apetite das empresas estrangeiras por esse novo mercado foi crescendo e levando à implantação de mais e mais produção no país que se converteu na “fábrica do mundo”.
Qualquer pessoa percebe hoje, e pode constatar por notícias constantes, que esse mecanismo a partir de certo ponto se autoalimenta e está em vias de criar uma “classe consumidora” que não tem paralelo no mundo.

2. É absolutamente extraordinário que o PCC, um partido tão marcado pela sua ideologia e pela sua história revolucionária, tenha conseguido esta proeza do pragmatismo. Podemos tentar imaginar as discussões no círculo íntimo de Deng Xiaoping acerca das experiências anteriores do regime que sempre se tinham mostrado incapazes de tirar o povo chinês da extrema penúria.

Um dia esses dirigentes do PCC concluiram, com uma coragem notável, que não sabiam como liderar mais de mil milhões de pessoas no caminho do progresso, usando o quadro ideológico que sempre os norteara. Este momento dramático é insuportável para a esquerda porque representa o reconhecimento da sua incapacidade, ainda não ultrapassada, de conceber um novo modo de produção praticável.

É ainda mais dramático pelo facto de a China ter sido, provavelmente, o cenário onde uma “nova economia” teria mais “condições subjectivas” para se realizar: um país imenso, com centenas de milhões que não tinham nada para perder, com hábitos de disciplina e frugalidade, com tradições de poder central forte, com fraca probabilidade de interferências ideológicas externas dadas as diferenças culturais e de idioma, etc, etc.

3. A China, irritantemente, não se projecta no mundo através de qualquer proselitismo ou, sequer, da força militar. Ao propagar o seu poder meramente no plano económico e dos negócios neutraliza qualquer abordagem contestatária no plano tradicional da ideologia.

A política internacional chinesa parece obedecer ao mesmo infatigável pragmatismo declarando-se incompetente para classificar os comportamentos dos seus parceiros comerciais quaisquer que eles sejam.

Há por isso uma enorme confusão acerca do carácter de esquerda ou de direita do regime chinês o que é sobremaneira desconfortável para a esquerda que cultiva melhor do que ninguém esse tipo de clivagens.


4. Aquilo que os dirigentes chineses propõem ao seu povo não é uma qualquer forma de privação actual em nome de um futuro radioso como acontecia nas experiências históricas do “socialismo real”. Pelo contrário, o PCC obtem o seu crescente apoio popular demostrando que está a tentar viabilizar, agora, padrões de consumo e de qualidade de vida elevados para o maior número possível de chineses. Os apelos de sereia que as televisões da Alemanha, com os seus BMW, exerciam sobre os cidadãos da RDA e os seus Trabant não funcionam na China.

É como se os chineses tivessem feito da maior arma dos seus adversários a sua principal alavanca para o progresso e a sustentação do regime.

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Tudo isto é bastante perturbante e de resultados imprevisíveis mas é a esta luz que a questão das liberdades políticas na China tem que ser analisada. Se o exercício político tem por objectivo supremo alcançar um “bom governo”, que leve à prática o “interesse público”, talvez muitos chineses, pela experiência vivida, pensem que esse objectivo já foi alcançado.
Claro que a nós, ocidentais, nos sensibiliza também o lado do respeito pelo indivíduo mas ainda estou para saber se os chineses têm um conceito de indivíduo similar ao nosso.

Em democracia as eleições parecem-se cada vez mais com os mercados e, inversamente, as escolhas do consumo perante a variedade dos produtos nos mercados parecem-se cada vez mais com as votações políticas.

Para já a centenas de milhões de chineses está a ser dada, pelo Partido Comunista, a liberdade de escolha das mercadorias que as suas necessidades, ou fantasias, lhes pedem.
Pode parecer pouca liberdade a quem sempre a teve mas aos chineses, que nunca a tiveram, pode bastar-lhes ainda durante algum tempo.

Depois veremos...

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