sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Um ano de cheio de exposições

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Acho que é chegada a altura de recordar as exposições "naCHIna 2006" realizadas ao longo de 2007 e agradecer a todos quantos as tornaram possíveis. Simplesmente obrigado.
Veja AQUI a página alusiva.
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quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A Esquerda Moderna

Vital Moreira dedicou-se recentemente (Público, 26.02.2008) a um exercício teórico ambicioso: sanar a contradição entre os “valores da esquerda” e a “visão tecnocrática” no seio da política de “modernização” empreendida pelo governo de José Sócrates.

A definição da “modernização” é, já de si, complicada. VM coloca a questão nestes termos:

“Para os portugueses, um país moderno é desde sempre um país tão desenvolvido, tão próspero, tão culto, em suma, tão civilizado como os países europeus de referência.”

Parece legítimo concluir que os portugueses, ou VM por eles, consideram a Europa uma coisa moderna. Mas há quem pense, com alguma razoabilidade, que esse adjectivo não será o que melhor assenta à Europa. É o caso de Paulo Varela Gomes (Público, 27.02.2008):

“A Europa é o sítio mais civil do mundo, mas já saiu fora do tempo e está completamente virada para o seu património histórico e o seu azedume quotidiano. Na Europa não acontece nada de verdadeiramente significativo para o futuro da humanidade. Na Ásia, pelo contrário, numa atmosfera agitada e sangrenta, sente-se em quase tudo o prenúncio daquilo que pode vir a acontecer. Na Ásia, quase não se ouvem as lamentações sobre o mal-estar presente. São abafadas pelo ensurdecedor barulho dos amanhãs que cantam, choram e gemem”.

Deixemo-nos então de definições, terreno sempre traiçoeiro, e guiemo-nos pelos resultados da modernização. VM adianta:

“Ainda que a modernização seja em geral positiva em si mesma, a modernização não é necessariamente de esquerda, nem sequer política ou ideologicamente neutra”.

Aqui a questão complica-se muito. Temos dificuldade em seguir o seu raciocínio; o que é a “modernização em si mesma” senão algo “ideologicamente neutro” ? Se a modernização não é necessariamente de esquerda e não é ideológicamente neutra resulta então que também pode ser de direita ? Poderá a modernização, “em geral positiva”, ser positiva e de direita ao mesmo tempo ? Ou a modernização é “em geral positiva” porque é em geral de esquerda ? E se a modernização for positiva e de direita devemos ou não aceitá-la ?

Segundo Vital Moreira: “Ao adoptar um discurso e um programa modernizador, que também implica uma modernização de si mesma, a esquerda corre o risco de autodescaracterização e de ser acusada de "deriva de direita".

Esta é uma asserção pouco esclarecedora já que o risco de autodescaracterização parece poder ser facilmente evitado; se como vimos mais acima as medidas de modernização tanto podem ser de esquerda como de direita então, para não correr os tais riscos de deriva, bastaria aplicar só aquelas que são de esquerda.

E Vital continua: “Acresce que a emergência do movimento neoliberal de desintervenção do Estado na economia e de desmontagem do Estado social colocou a esquerda na defensiva, que é o ambiente menos propício para qualquer discurso modernizador”.

Apetece perguntar em que país vive Vital Moreira. Como pode falar de “desintervenção do Estado na Economia” num país em que quase todos os dias há notícias da interpenetração entre o governo, os partidos e as maiores empresas da banca, das telecomunicações, da construção. Falar de neoliberalismo num país em que os sectores chave apresentam situações de quase monopólio apadrinhado pelo Estado e vivem de encomendas públicas constitui pelo menos uma originalidade.

VM diz depois: “A modernização da economia não pode visar somente aumentar a produtividade e competitividade internacional, não podendo deixar de ser caracterizada pela luta pelo emprego e pela sua qualidade, pela justiça nas relações laborais, pela garantia das "obrigações de serviços público" nos "serviços de interesse económico geral".

Desta afirmação depreende-se que a modernização proposta na área das relações de produção é muito reduzida. Lutar pelo emprego e pela justiça, num quadro que se presume de continuação do assalariamento actual, é moderno há pelo menos duzentos anos.

Finalmente desembocamos no tema que constitui quase sempre a "piéce de resistance". Uma esquerda, mesmo moderna, quando não sabe o que fazer ao futuro agarra-se ao “Estado Social”.

“Mas onde não é possível perder uma perspectiva de esquerda é na modernização do Estado social. Em nenhuma outra área é tão necessário manter viva a identidade de esquerda e demarcar a diferença com a perspectiva da direita”.

Sejamos justos e admitamos que VM não está só neste pecadilho, muito boa gente que se julga radical embarca na mesma nave da retórica do “Estado Social”. Partem todos de uma abordagem abstracta em que o estado tem sempre dinheiro para pagar; dinheiro recolhido no bolso dos mais ricos e entregue aos realmente mais pobres sem desperdícios ou perversões.

Esta imagem idílica já todos sabemos que não corresponde à realidade. Quem paga o “Estado Social” são os trabalhadores de rendimentos médios que não têm acesso a off-shores. Só uma parte dos recursos do Estado, que muitos consideram pequena demais, chega aos realmente necessitados pois o resto serve para alimentar as burocracias, as empreitadas dos amigos e as corporações mais aguerridas.

A tentativa do governo Sócrates de aumentar a “sustentabilidade” do sistema significa apenas uma coisa: as classes médias que têm pago a factura estão a ficar de tal forma depauperadas que será cada vez mais difícil extrair-lhes recursos.

Não tenhamos ilusões; a única verdadeira solução para o “Estado Social” passa pela modernização, não do sistema económico vigente, mas das propostas da esquerda para uma nova organização social da produção.
Se assim não for, se tentarmos lutar de igual para igual no processo de globalização, iremos decaindo inexoravelmente para níveis convergentes com os praticados nos países asiáticos que estão em vias de se tornar económicamente preponderantes.

Este é que é o verdadeiro desafio de modernização para a esquerda.

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quarta-feira, fevereiro 27, 2008

O meu leitor insuspeitado



Belmiro de Azevedo criticou hoje os bancos, "que, para garantirem lucros, aumentam os preços prejudicando o cliente, que é o mesmo que o Estado faz quando não tem dinheiro quando aumenta os impostos".
"É preocupante a atitude dos bancos: se os custos sobem os lucros têm que subir, é um raciocínio perigoso, estatal", sublinhou o responsável à margem do primeiro encontro da PME Inovação, organizado pela Cotec.

Nota-se que Belmiro foi influenciado pelo que escrevi AQUI e AQUI.

Belmiro é um verdadeiro neo-liberal e por isso não lhe dão muitas abébias em Portugal. Ao contrário do que pensa a maior parte dos comentadores o que vigora no nosso país é uma espécie de economia de casta, um capitalismo feudal, e não o liberalismo económico.

A realidade tem a mania de estragar as análises mais na moda.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Voltando ao tema dos bancos

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Banco nas Canárias, FR 2007


Os cinco maiores bancos a operar em Portugal - CGD, BCP, BES, Santander e BPI- lucraram no ano passado 2892 milhões de euros, qualquer coisa como 7,9 milhões de euros por dia. Isto apesar da crise dos empréstimos sub-prime que não foram pagos pelos clientes americanos mas que, entretanto, já tinham sido vendidos sob a forma de títulos de alto rendimento a bancos de todo o mundo.

O cidadão comum interroga-se e não pode deixar de admirar os gestores que conseguem tais resultados (provávelmente obtidos à sua custa). A explicação está na qualidade do pessoal contratado. Aqui vai uma lista que, apesar de um pouco desactualizada, é auto-explicativa:

Fernando Nogueira, ex-Ministro da Presidência, Justiça e Defesa
- Presidente do BCP Angola

José de Oliveira e Costa, ex-Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
- Presidente do Banco Português de Negócios (BPN)

Rui Machete, ex-Ministro dos Assuntos Sociais
- Presidente do Conselho Superior do BPN

Armando Vara, ex-Ministro adjunto do Primeiro Ministro
- Vice-Presidente do BCP

Paulo Teixeira Pinto, ex-Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
- Presidente do BCP (saíu recentemente mas ainda se sente a sua acção)

António Vitorino, ex-Ministro da Presidência e da Defesa
- Presidente da Assembleia Geral do Santander Totta

Celeste Cardona, ex-Ministra da Justiça
- Vogal do CA da CGD

José Silveira Godinho, ex-Secretário de Estado das Finanças
- Administrador do BES

João de Deus Pinheiro, ex-Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros
- Vogal do CA do Banco Privado Português.

Elias da Costa, ex-Secretário de Estado da Construção e Habitação
- Vogal do CA do BES

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

A reforma é uma miragem ?

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DN, 22.02.2008 - clicar para ampliar


Este quadro de síntese do que aconteceu na Reforma da Administração Pública permite concluir que, apesar de todo o ruído, para o bem e para o mal, "são mais as vozes do que as nozes".

domingo, fevereiro 24, 2008

Um SAP na Torre ?

"Em trinta anos que já levo a olhar para a coisa, já vi muitos ministros do Ambiente: bons, maus, sofríveis, corajosos ou acomodados. Nunca conheci nenhum cuja inutilidade fosse tão absoluta. O problema é que, quando se é ministro do Ambiente e, para mais, de um governo que apostou em transformar todo o património natural que resta em ‘território PIN’, ser-se inútil não é ser-se inócuo: pelo contrário, é ser-se deliberadamente útil ao crime projectado. Os investidores projectam, Nunes Correia assina e a obra nasce. Nasce em qualquer lado, mas sempre e de preferência onde era suposto não poder nascer: na Rede Natura, em áreas da Reserva Agrícola ou Ecológica, nas rias, nos sapais, no montado ou até em cima de grutas ou promontórios (!), como sucede no Algarve. Para enganar os tolos, dizem o mesmo de sempre: que isto não é turismo de massas, mas sim de qualidade. Mas basta olhar para a lista dos investidores com projectos já aprovados para Alqueva, e onde se incluem alguns dos piores patos-bravos do país, para perceber o que eles entendem por qualidade. Para acabar de vez com a sua linda obra só falta a este Governo e a este ministro darem a machadada final que têm em estudo: transferir para as autarquias a faculdade de decidir a delimitação das Áreas de Reserva Agrícola e Ecológica. Seria como confiar a um assaltante de bancos a guarda das reservas de ouro do Banco de Portugal."

Concordo absolutamente com este desabafo de Miguel Sousa Tavares no Expresso de ontem.
O património natural ou edificado não pode ser visto como um recurso próprio dos habitantes locais, passível de alienação ao sabor das guerras de caciques autárquicos que prometem mundos e fundos para ganhar as eleições.
As paisagens, as praias e os monumentos são de todo o povo. Não podemos deixar que se destruam verdadeiros tesouros, com acções irreversíveis, em troca de uns hipotéticos "postos de trabalho" (para jardineiros, empregados de mesa e mulheres a dias ?).
Que diríamos se a junta de freguesia de Santa Maria propusesse a instalação de um SAP na Torre de Belém ?

sábado, fevereiro 23, 2008

Li Zhensheng e a "Revolução Cultural"


No decorrer das minhas pesquisas sobre a China descobri o site de um importante fotógrafo, Li Zhensheng, que testemunhou e fotografou o período da "Revolução Cultural". Tive informações que sugerem uma exposição deste fotógrafo no Porto, na Cadeia da Relação, com começo em Novembro de 2008. Para ver mais clique na imagem.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Bluff, a bater ao lado

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O caso do edifício do Casino de Lisboa, que tem recentemente feito as delícias dos comentadores políticos, vem sendo abordado em termos falaciosos que impedem o público de compreender a verdadeira natureza do problema.
Antes de mais é necessário perceber o que significa a concessão dos casinos. Trata-se no fundo de uma situação equivalente à dos antigos cobradores de impostos: os casinos engodam os cidadãos com luzes e canções e, depois de lhes terem sacado uma espécie de imposto voluntário, entregam uma parte substancial do saque ao Estado.
Vultuosíssimas verbas entram por este meio no erário público.
A discussão interessante deveria ser acerca da aceitação desta parceria que se destina a depenar os incautos ou então, num plano mais venal, sobre se a parte que os casinos entregam ao Estado está bem proporcionada.
Neste quadro o valor do edifício do Casino de Lisboa é quase irrelevante. A questão de ele reverter, ou não, para o Estado não faz sentido quando desligada da avaliação global das trocas que caracterizam a negociação das concessões do jogo.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

E nós a vê-los passar...

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ervas daninhas ?


Como se não bastassem os malefícios causados ao país pelos burocratas de todos os matizes que se acoitam, inamovíveis, nas incontáveis gavetas do gigantesco aparelho do Estado ainda temos que sofrer para promover o sucesso do sistema bancário.

Dizem que é moderníssimo e que deve permanecer em mãos nacionais mas a verdade é que:

- não paga os impostos como devia, tendo nós que suprir as faltas que se esfumaram num off-shore qualquer.
- entrega a uns quantos gestores, que falharam, dezenas de milhões de euros como indemnização não se percebe bem de quê.
- gasta fortunas em publicidade para nos repetir na televisão, até à náusea, que somos donos do banco A, ou que o banco B afinal é outro, ou que o aforro do banco C é que lava mais branco, ou que nos converteremos em autênticas cavalgaduras se tivermos a força de acreditar no banco D.
- depois disto tudo chega ao fim do ano e apresenta lucros de centenas de milhões de euros só possíveis com as taxas e com os juros que impõe à economia real.

Já é altura de alguém dizer que também esta "iniciativa privada", quantas vezes entrelaçada na coisa pública, constitui afinal um empecilho para o desenvolvimento do país.








quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Também há boas notícias




Islamistas sofrem enorme derrota nas urnas
Público, 20.02.2008

Os resultados das eleições de segunda-feira no Paquistão não mostram apenas um voto contra o Presidente Pervez Musharraf. Mostram também uma rejeição dos partidos islamistas, mesmo nas regiões onde estes são mais influentes. Os atentados suicidas espalharam sangue no país; e dificultaram a participação dos extremistas na vida política.A televisão estatal noticiou ontem que dos 272 lugares da Assembleia Nacional, só três foram parar às mãos da Muttahida Majlis-e-Amal (MMA), uma aliança de vários grupos islamistas, incluindo alguns que defendem abertamente os taliban e a Al-Qaeda. Revés eleitoral é um termo demasiado fraco para descrever o que aconteceu: a MMA tinha eleito 50 deputados nas legislativas de 2002 e era a terceira força do parlamento. Também governava a Província da Fronteira do Noroeste, uma das quatro do país, junto às regiões tribais que fazem fronteira com o Afeganistão. No entanto, em Peshawar, a capital da província, celebrava-se a queda dos fundamentalistas, segundo constatou um repórter da agência francesa. Arbad Alamgir Khan, candidato do Partido do Povo do Paquistão (PPP), prometeu "livrar o país" dos extremistas. Conseguiu para já ser eleito no que parecia ser um dos seus bastiões.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Mais uma vez

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

A Guiné pelos olhos de um soldado

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Em 1968, há 40 anos, a minha vida mudou muito. Casei-me e fui à guerra. É portanto natural que durante o ano em curso eu seja dado a algumas lamechices indesculpáveis noutras circunstâncias.
Completei recentemente a recuperação das fotografias que fiz, enquanto jovem soldado da marinha, ao contactar com o multifacetado povo da Guiné e com os seus trabalhos e festanças. Devem ser entendidas como um tributo ao povo cuja independência fui forçado a combater ao arrepio das minhas convicções. Penso que isso transparece das imagens que pode ver AQUI.


sábado, fevereiro 16, 2008

A Esquerda e o Centauro

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Segundo o DN de hoje Manuel Alegre quer:

"Refundar a esquerda com o PS e fora do PS "até onde isto for possível". O homem que no passado fim-de-semana lançou, sem piedade, um desafio à nomenklatura socrática ("Se me desafiam para congressos irei às urnas no país") vai convidar os dirigentes socialistas para uma espécie de "congresso da esquerda" que decidiu organizar extra-muros do partido. Além do PS, também o PCP e o Bloco de Esquerda serão desafiados a aparecer na grande convenção sobre o estado da esquerda. E, claro, serão convidados cidadãos independentes".

Nutro enorme desconfiança por estes rasgos de voluntarismo. Em vez de se partir de uma ideia nova, de um projecto, avança-se directamente para a federação de descontentamentos, vaidades, birras e desilusões. É a nossa sina. Uma esquerda que não trabalha, que não inova e que se esgota no protesto.

Quando em 2005 houve a corrida para apear Santana eu bem avisei que esse derrube devia ser feito com base num projecto; três anos depois grande parte da esquerda está farta da vitória que festejou. Quando em 2006 se saudou a vitória sobre Berlusconi eu também disse que não percebia como se podia festejar já que a resultante não passava de um "saco de gatos" que só convergia no que não queria.

Já é tempo de nos convencermos de que o problema da esquerda não é ganhar as eleições e ocupar as cadeiras do poder mas sim o que fazer quando tal acontece. Ter uma política alternativa que funcione.

Ou muito me engano ou esta experiência acabará na dissidência de Alegre que, ao abandonar o PS, se tornará o mentor de uma qualquer "Renovação Socialista".

Veremos o que acontece...

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

S. Valentim (é hoje !!!)

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Valentim Loureiro diz que vai terminar todos os processos no âmbito do “Apito Dourado” com uma vitória por 15-0, ao ser ilibado em todos os casos em que foi indiciado ou acusado.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Crise pimba



Ontem fui ao CCB para um concerto em que actuavam 16 dos melhores cantores líricos portugueses. A sala estava longe de esgotada.

Também ontem tomei conhecimento dos dois concertos de Tony Carreira no Pavilhão Atlântico.



Fiquei um bocado abalado, ao tomar consciência da minha anormalidade e de como estou desfasado do "bom povo português". A minha própria noção de democracia está a passar por um mau bocado. Com que direito é que eu e tantos outros bloguistas falamos em nome dos interesses de um povo que temos dificuldade em perceber nas suas idiossincrasias ?

Dê um salto ao site oficial do Tony

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terça-feira, fevereiro 12, 2008

Excelentes Variações








Tenho, ao longo do tempo, dado pouca atenção neste blog à musica gravada apesar de ser um devorador de música compulsivo. Pois aqui fica uma sugestão.
As Variações Goldberg por um trio de cordas constituído por Julian Rachlin (violino), Mischa Maisky (violoncelo), Nobuko Imai (viola).
Trata-se de uma transcrição fabulosa que permite, dada a multiplicidade dos instrumentos, realçar deliciosamente as linhas do contraponto.
Descobri este disco enquanto conduzia o automóvel e ouvia a Antena 2.
Para quem não confiar na minha opinião aqui fica uma lista de referências críticas ao disco.
Ao escrever este post fiz alguma investigação e concluí que há bastantes transcrições das Variações Goldberg em disco: para trio de cordas , para orquestra de cordas , para saxofone , para acordeon , para conjunto de metais , para octeto , etc, etc...

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

O Ministério da Esquerda



A segunda remodelação do governo de Sócrates está em marcha. Repondendo ao inesquecível apelo de Mário Soares "... eu gostaria que o PS agora se voltasse um bocadinho mais para a esquerda", feito em Novembro passado, Sócrates já contactou com Manuel Alegre para encabeçar o Super-Ministério da Esquerda. Diz-se que funcionará na Torre de Belém e terá como lema "Os velhos do Restelo não passarão".

Prosseguem as negociações quanto ao programa; abandonados que foram os projectos "Homem Novo" e "Por uma Sociedade sem Classes" trabalha-se incansávelmente nos planos da re-instalação das urgências, da proibição dos transgénicos, do casamento de animais de espécies diferentes e do arrefecimento global.

Ninguém poderá portanto voltar a acusar o Governo de ser de direita e as eleições de 2009 estão no papo.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

É viciante...

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quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Ils sont fous ces romans! ...




A Assembléia Nacional (Parlamento) autorizou nesta quinta-feira a França a ratificar o Tratado europeu de Lisboa, penúltima etapa antes da aprovação definitiva desse texto pelo país que havia rejeitado o projeto de Constituição européia durante um referendo em maio de 2005.
O projeto de lei foi aprovado por 336 votos contra 52. O partido de direita no poder UMP votou a favor, assim como seus aliados do Novo Centro (NC). A maioria dos deputados socialistas presentes também votaram a favor, depois de ter pedido, em vão, um referendo.

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Apesar de serem maioritariamente favoráveis à adopção do oficialmente designado Tratado Reformador da União Europeia, assinado a 13 de Dezembro em Lisboa, os deputados da oposição checa recusaram pela terceira vez participar na votação, que foi adiada 'sine die'.
Para votar o Tratado, a oposição exige uma versão «mais democrática» do projecto de uma nova lei de imprensa, o que é rejeitado pelo partido maioritário, o Partido SMER (social-democrata), do primeiro-ministro Robert Fico.



Foi você que pediu um referendo ?...


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quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Sweeney Todd, uma comparação

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Passou pouco mais do que um mês sobre o fim da carreira do Sweeney Todd no Teatro Aberto (que analisei AQUI) e já temos em exibição nos cinemas a versão Tim Burton/Johnny Depp.
Torna-se inevitável uma comparação mesmo que, para o efeito, eu me considere suspeito. Esclareço desde já, para ganhar alguma condescendência dos leitores, que se por um lado tenho ligações afectivas com alguns dos intervenientes na versão do João Lourenço, por outro sou um admirador de longa data tanto de Tim Burton como de Johnny Depp.

O filme é uma obra admirável, digo-o sem reservas, com uma cenografia e uma fotografia portentosas e servido por excelentes actores, com destaque para Depp. A questão que se coloca é, no entanto, como comparar enquanto espectador a fruição do filme com a da versão teatral.

O filme, com os enormes meios de que dispôs, conseguiu uma fabulosa recriação de ambientes e de espaços. Pela sua própria natureza pode mostrar-nos grandes planos dos actores e dos objectos. Usou recursos orquestrais muito potentes e teve a possibilidade de equilibrar as várias fontes sonoras em cada momento.
Em contrapartida, a riqueza dos meios visuais e a sofisticação sonora do filme entram por vezes em contradição com o tom intimista da trama e com o carácter da música.

Os actores são excelentes na representação mas não têm capacidade vocal para dar senão uma pálida imagem dos fabulosos temas musicais escritos por Stephen Sondheim.
A quem só viu o filme recomendo que procure, por outra via, aceder às belíssimas "árias" do Sweeney Todd.

A perturbante dialética entre a comicidade (irresistível no teatro) e o horror perde-se de alguma forma no filme já que opta permanentemente por um registo sombrio.

O casting não terá sido o ideal; a Mrs. Lovett criada por Helena Bonham Carter está físicamente longe da decadência matreira que o personagem exige.
O empregado Toby resulta melhor na versão teatral pois no cinema, que usa uma criança, perde-se grande parte do dramatismo das cenas finais.
Algumas cenas irresistíveis cantadas por Carlos Guilherme foram cortadas no filme, talvez por não estarem vocalmente ao alcance dos interpretes.

Como espectador, resumo a comparação desta forma: a versão teatral de João Lourenço impressionou-me mais, resultou mais divertida e musicalmente muito mais rica.

Mas não tirem conclusões precipitadas: eu acho imprescindível ver o filme.

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segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Carnaval em Lazarim (2007)
















Em 2007 visitei Lazarim durante o Carnaval e falei disso neste post. Trata-se de uma festa popular famosa em todo o país por causa das suas belas máscaras de madeira.
Pode ver uma selecção das fotografias que então fiz clicando AQUI


sábado, fevereiro 02, 2008

O futuro das previsões

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Jacques Attali, que foi conselheiro de Estado de Miterrand durante dez anos, publicou em 2006 "Une Brève Histoire de l'Avenir", traduzido pela Dom Quixote e publicado em 2007 como "Breve História do Futuro".

Sou sempre seduzido por esta ambição de divisar o amanhã em especial, como é o caso de Attali, quando tem o desplante de afirmar que o estudo do passado permite predizer o futuro.

Como diz Soros (e outros), sendo nós simultaneamente sujeito e objecto das previsões, ao prevermos estamos já a modificar o que pensávamos ter previsto; então é legítimo encarar as previsões como manobras para produzir o futuro.
Do meu ponto de vista as previsões não devem ser avaliadas pelo grau da sua concretização futura, que quando se constata não passa de uma curiosidade, mas sim pela influência que exerceram na sociedade enquanto o futuro estava a ser forjado.

A recente leitura de Attali vem curiosamente retomar o curso dos pensamentos que eu tinha iniciado com os artigos "A Utopia e as malas Vuitton" e "Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe". Em qualquer dos casos a mesma preocupação: o défice do pensamento de esquerda relativamente ao futuro ou, se quisermos, do pensamento utópico. Pelo meio ficou uma outra leitura, "A Pobreza do Historicismo" de Karl Popper, que ainda não comentei mas que, avanço desde já, não me convenceu por razões que este texto ajudará a perceber.

Attali dedica os primeiros capítulos à revisão e interpretação do percurso histórico. Primeiro em termos bastante vagos:

"... podemos considerar a história da Humanidade como a sucessão de três grandes ordens políticas: a Ordem Ritual, em que a autoridade é essencialmente religiosa; a Ordem Imperial em que o poder é sobretudo militar; e a Ordem Mercantil, em que o grupo dominante é aquele que controla a economia."

Depois Attali analisa com algum detalhe as nove formas que a Ordem Mercantil assumiu ao longo da história e que ele associa a cada uma das cidades-coração que se sucederam: Bruges, Veneza, Antuérpia, Génova, Amesterdão, Londres, Boston, Nova Iorque e Los Angeles.
Segundo Attali, em cada caso houve sucessivamente:

"...um serviço que foi progressivamente transformado em produto de consumo de massa (os alimentos, o vestuário, os livros, as finanças, os meios de transporte, o equipamento doméstico, os instrumentos de comunicação e de distracção), pela tecnologia que permite alargar o alcance do produto (o leme de cadaste, a caravela, a imprensa, a contabilidade, a charrua, a máquina a vapor, o motor de explosão, o motor eléctrico, o microprocessador)..."

Esta fase do texto é dominada pela busca das regularidades da história o que, mesmo quando não é convincente, acaba por ser uma fonte de divertimento estimulante pela multiplicidade dos factos e pela teia dos relacionamentos mais ou menos originais.

"Uma forma comercial dura enquanto o «coração» consegue reunir riqueza suficiente para dominar o «meio» e a «periferia»; entra em declínio quando o «coração» tem de investir demasiados recursos na manutenção da paz interna ou na defesa face a um ou mais inimigos externos".

Ao chegar a este ponto acabaram-se as "revisões da matéria dada" e o autor tem que iniciar o melindroso processo das previsões.
A "Breve História do Futuro" faz duas coisas que são de certa forma habituais nestas andanças;
(1) a regularidade histórica tão engenhosamente concebida quebra-se a partir de agora (no caso vertente a Ordem Mercantil deixa de ter um coração)
(2) num dado momento futuro o homem, que sempre foi joguete das forças naturais ou económicas, através de uma nova consciência, assume pleno controle do seu destino (tal como em Marx).

O que Attali faz quando tenta imaginar o mundo após a decadência da nona forma da Ordem Mercantil, com o coração em Los Angeles, é uma longa extrapolação linear de todos os fenómenos já hoje observáveis por qualquer leitor atento dos jornais.
Essa projecção por exagero conduz, ao longo do século XXI, com larga cópia de detalhes, sucessivamente a um Hiperimpério e a um Hiperconflito dignos das mais espectaculares super-produções catastrofistas de Hollywwood.

É então, quando o leitor já está aterrorizado, que Attali apresenta uma evolução alternativa ao Hiperimpério e ao Hiperconflito, a Hiperdemocracia.

"...algumas catástrofes´anunciadas demonstrarão aos mais cépticos, da forma mais crua, que o nosso modo de vida actual não pode perdurar: as alterações climáticas, o fosso cada vez mais profundo entre os mais ricos e os mais pobres, o aumento da obesidade e do consumo de drogas, a crescente violência da vida quotidiana, os actos terroristas cada vez mais assustadores, a impossível defesa dos ricos, a mediocridade do espectáculo, a ditadura das seguradoras, a invasão do tempo pelos bens de consumo, a falta de ar e de petróleo, o aumento da delinquência urbana, as crises financeiras cada vez mais frequentes, as vagas de imigração a chegarem às nossas praias, primeiro de mãos estendidas, depois de punhos erguidos, as tecnologias cada vez mais mortíferas e selectivas, as guerras cada vez mais loucas, a miséria moral dos mais ricos, a vertigem da autovigilância e da clonagem virão um dia despertar aqueles que dormem profundamente. Os desastres serão, cada vez mais, os melhores advogados da mudança."

De repente o historicismo é lançado às urtigas e regressamos a uma espécie de redenção pela tomada de consciência por parte de um "homem novo". Nem sequer falta, para completar a sensação do déjà vu, uma vanguarda esclarecida:

"No futuro, uma parte desta classe, composta por indivíduos particularmente sensíveis a esta história do futuro, compreenderá que a sua felicidade depende da felicidade dos outros, que a espécie humana apenas poderá sobreviver unida e pacífica. Estes indivíduos deixarão de pertencer à classe criativa mercantil e recusar-se-ão a estar ao serviço dos piratas. Tornar-se-ão aquilo que aqui designo por transumanos"

Para chegar a estas conclusões/desejos não era preciso ter discorrido sobre os mecanismos do processo histórico. O sonho de um acordar redentor da espécie humana sempre deve ter existido.
A questão que se coloca é: sempre que se trata do futuro tem que se descambar para previsões que não passam de desejos mesmo que legítimos ?

À partida só sabemos uma coisa segura sobre o futuro; ele será diferente do passado. A discussão passa então por tentar determinar o grau dessa diferença vencendo a dificuldade de distinguir o que pode ser considerado uma mudança radical, qualitativa.

Nos capítulos de análise histórica Attali associa as causas da transição às tecnologias e às rentabilidades mas pouco refere as relações de produção. Já no capítulo em que descreve o advento da Hiperdemocracia parece atribuir a tomada de consciência redentora às injustiças e atropelos.

Seria talvez mais avisado admitir que os anseios de liberdade e de justiça têm históricamente vingado se e quando surgem associados a saltos tecnológicos e de produtividade.
A Hiperdemocracia de Attali é demasiado voluntarista para ser convincente pois não se baseia num novo paradigma produtivo.