sábado, dezembro 31, 2011

Na despedida de 2011

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Vermelho Rumor




Nos últimos dias do ano tive oportunidade de assistir a dois espectáculos teatrais. Primeiro "Rumor", de Mário de Carvalho, na Barraca e depois "Vermelho", de John Logan, no Teatro Aberto.

Embora não seja óbvia existe uma coincidência no que respeita ao tema; a dificuldade em lidar coerentemente com o establishment (político num caso e artístico no outro).

Os textos são ambos excelentes mas a concepção geral dos espectáculos serve muito melhor o texto de Logan do que o de Carvalho. Fica-se a pensar que talvez o texto de "Rumor" nos desse mais prazer se fosse lido.

Em "Vermelho", porque se trata da história de um artista plástico, a experiência física das cores, e do cozinhar das cores, desempenha um papel determinante.
Uma actuação notável dos actores, que deixam a pele em palco, conduz-nos pelos meandros e perplexidades da criação artística e do seu papel na sociedade humana.

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PAX SÍNICA

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Muitos questionam-se como é que uma Pax Sinica [paz chinesa] mundial pode parecer: como é que a influência mundial da China se manifestaria? Como é que a hegemonia chinesa diferiria da variedade americana?
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Enquanto os americanos levam a sua bandeira bem alto, os chineses trabalham arduamente para serem invisíveis. As comunidades chinesas, no mundo inteiro, conseguiram tornar-se influentes nos seus países de acolhimento, sem serem ameaçadas; conseguiram ser fechadas e não transparentes, sem provocarem a ira; conseguiram ser uma ponte de ligação com a China, sem parecerem ser uma “quinta coluna”.
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A América, pelo menos em teoria, prefere que os outros países partilhem os seus valores e ajam como americanos. A China só pode recear um mundo onde toda a gente aja como os chineses. Deste modo, num futuro dominado pela China, os chineses não definirão as regras, mas procurarão tirar o maior proveito possível das regras que já existem.


Leia este interessante artigo de Ivan Krastev no Público




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terça-feira, dezembro 27, 2011

O paradoxo de maldizer

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Pedro Lomba no DN de hoje


Quem disser mal deste texto confirma a tese do autor mas quem disser bem, como eu, nega-a. 

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segunda-feira, dezembro 26, 2011

O fim da URSS há vinte anos

Em Setembro de 1980, 11 anos antes, em plena era Brejnev, visitei a URSS. As fotografias que pode ver AQUI foram recolhidas em Moscovo, Sibéria (Bratsk, Irkutsk e Lago Baikal) e na capital do Cazaquistão, Alma-Ata.
Mas não foi esse o meu primeiro contacto com os “países de leste”.
A minha estreia ocorrera em 1979 na Hungria. 
Meses depois da ascensão de Gorbatchov, em 1985, percorri de automóvel durante um mês, e em campismo com os meus filhos, a RDA, a Checoslováquia e a Hungria.
No ano seguinte, 1986, aproveitando uma viagem profissional a Berlim, usei a estação de metro em Friedrichstrasse como porta de passagem para Berlim Leste e, em 1987, fiz parte de uma delegação sindical numa visita de estudo do desenvolvimento informático da Bulgária.
Finalmente, mas não menos importante, visitei a parte ocidental da URSS (Leninegrado, Kiev e Moscovo) no Verão de 1988, em plena abertura política lançada por Gorbatchev e com as ruas cheias de discussões e manifestações.

No princípio de 1990, já em plena preparação do XIII Congresso do PCP, elaborei um texto intitulado “Do Socialismo Prematuro para o Socialismo do Futuro” que desenvolvia as ideias apresentadas em S. Francisco. A minha principal preocupação era conceber um conjunto de argumentos e raciocínios que permitissem a qualquer militante lidar racionalmente com o descalabro do sistema político do leste europeu. Essa preocupação resultava de me sentir politicamente responsável por tantos militantes que recrutara, ou dirigira, no decurso da minha actividade política.O texto referido foi discutido na célula de empresa mas não foi encontrada uma fórmula para o usar no quadro dos “contributos” para as Teses do Congresso, tal era a distância que o separava do texto “oficial” proposto.
18 anos depois, ainda se escrevia desta forma acerca do desabamento da URSS:

A “traição de altos responsáveis do partido e do Estado” é um dos motivos apontados para a “derrota” do socialismo na União Soviética de acordo com as Teses ao XVIII Congresso do PCP que hoje são divulgadas com o jornal partidário “Avante!”.
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O socialismo, alternativa necessária e possível pode ler-se, na página 15: “Perante os complexos problemas que se manifestaram na construção do socialismo na URSS, assim como noutros países do Leste da Europa, o PCP expressou compreensão e solidariedade para com os esforços e orientações que proclamavam visar a sua superação, alertando simultaneamente para o desenvolvimento de forças anti-socialistas e para a escalada de ingerências imperialistas, confiando em que existiam forças capazes de defender o poder e as conquistas dos trabalhadores e promover a necessária renovação socialista da sociedade.
Mas certas medidas tomadas agravaram os problemas ao ponto de provocar uma crise geral. O abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os trabalhadores, a claudicação diante das pressões e chantagens do imperialismo, a penetração em profundidade da ideologia social-democrata, a rejeição do heróico património histórico dos comunistas, a traição de altos responsáveis do partido e do Estado, desorientaram e desarmaram os comunistas e as massas para a defesa do socialismo, possibilitando o rápido desenvolvimento e triunfo da contra-revolução com a reconstituição do capitalismo”.
PÚBLICO, 25.09.2008



Quando em 1990 me insurgi, no XIII Congresso do PCP, contra a pobreza das explicações encontradas pelas Teses para explicar a "derrota do socialismo no Leste da Europa" nunca me passou pela cabeça que, passados tantos anos, a mesma fórmula continuasse a ser repetida.
Em 2003 publiquei o livro “Do Capitalismo para o Digitalismo” para defender que a queda do “socialismo real” não tornou o capitalismo insuperável. É esse o pântano ideológico em que a esquerda se tem atolado nos últimos anos.
Não se trata de inventar, à pressa, novos “amanhãs que cantam”. Os amanhãs cantarão inevitavelmente façamos nós o que fizermos; trata-se de saber se ainda queremos participar na escolha da melodia e do poema.
Sem compreender profundamente o que aconteceu e que afectou ideológicamente muitos milhões de pessoas em todo o mundo,  nunca mais se fará o luto por uma experiência que devemos superar.




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A indústria da caridade é imparável


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IPSS do Porto usa 'utentes-fantasma' e lesa Estado


Instituição é acusada de forjar listas com falsos utentes, para ter dinheiro do Estado. Ex-responsáveis dizem ainda que crianças do centro infantil almoçavam ao lado de doentes mentais instáveis.
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O Estado retirou este ano o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) a 34 entidades, alegando "motivos de inactividade ou desvio dos fins da solidariedade social".


A indústria da caridade é imparável. 
Usando os bons sentimentos dos cidadãos e, como pretexto, os "mais necessitados".
Em muitos casos o que pretende é sacar subsídios ao Estado, que todos pagamos, isentar-se de impostos e proporcionar empregos aos amigos e familiares.
Dado o carácter repugnante deste negócio espero que o Estado fiscalize adequadamente e tenha a mão pesada para os infractores..


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sábado, dezembro 24, 2011

Natal

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BOAS FESTAS para todos, mesmo para os meus inimigos 
(que eu felizmente não sei quem são)
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sexta-feira, dezembro 23, 2011

Quem é que nos fecha a torneira?



Muitas discussões sobre a vinda dos capitais chineses para empresas portuguesas, nomeadamente quando se trata de fornecedores de serviços básicos, são claramente alarmistas.
Falam como se passámos a estar à mercê de uma arbitrariedade qualquer e devêssemos temer que secassem as torneiras e deixassem de funcionar as tomadas eléctricas. É um exagero alarmista.
Trata-se de sectores regulados pelo estado que, para impôr as suas regras, não necessita de ser accionista das empresas; basta-lhe fazer as leis adequadas.
Mas há quem fale de algo ainda mais grave, a utilização do corte dos serviços como arma quase militar contra o nosso país. 
Convém lembrar que, estando em causa a segurança nacional, não é um qualquer título de propriedade de uma empresa que impedirá o exército português de a ocupar e controlar. Nas últimas décadas houve em Portugal muitas confiscações e nacionalizações.
Por tudo isto acho que se deve evitar a histeria (muitas vezes hipócrita).




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"Estados de direitos" e "Estados de deveres"



Grande parte dos mal-entendidos nas relações com a China resultam de não se assumir que o estado chinês é um estado de outro tipo.
Digamos que há os "estados de direitos", que se ocupam de garantir o exercício de direitos, e os "estados de deveres".


Os "estados de deveres" consideram que a sua missão essencial é a prossecução estratégica daquilo que definem como interesse da sua nação. 
Os interesses particulares, mesmo que económicamente poderosos, são calibrados pelo estado à luz do objectivo primordial. Esse objectivo é tão relevante que faz qualquer dissenção aparecer como indesejável, quando não criminosa. 
Por isso os "estados de deveres" assumem formas ditatoriais mais ou menos violentas.
O "estado de deveres" existe para proibir ou condicionar e não para garantir a sustentabilidade dos modos de vida ou a subsistência das famílias. 


Os "estados de direitos" correspondem normalmente a nações que, por razões históricas, consideram estar ultrapassada a questão da sobrevivência ou independência da nação. Ou nunca foram colonizados ou as experiências de subordinação nacional já se perderam na memória colectiva.
Os "estados de direitos" converteram-se em meros gestores das poupanças nacionais, ou do endividamento nacional, e declaram como sua principal missão a promoção da "justiça social". 
Funcionam normalmente como democracias. A concessão de direitos e garantias constitui o mecanismo básico das mensagens eleitorais em que geralmente é omitida a questão da sustentabilidade das propostas. 
Restrições ou limitações impostas pelo estado são, em geral, mal vistas.
Concedem enorme liberdade aos agentes empresariais poderosos na modelação da estratégia económica, sejam quais forem as consequências sociais, mas depois montam um esquema complexo de redes de "solidariedade" para socorrer as vítimas.


Qualquer pessoa pode fácilmente imaginar as diferenças entre os comportamento dos cidadãos que vivem nos "estados de deveres" e os que vivem nos "estados de direitos"; tais diferenças são notórias no que toca ao trabalho, às poupanças, às reivindicações, às expectativas, à organização das suas vidas etc.


Temos razões para nos vangloriar da nossa qualidade de vida ocidental e do conforto de que disfrutamos (que só foi possível através da pilhagem de outros continentes) mas só um tolo pensa que tais vantagens estão garantidas independentemente da riqueza dos nossos "estados de direitos". 


Na conjuntura actual o "estado de deveres" chinês surge como protagonista de um enorme sucesso económico que, para além do mais, por comparação, serve para tomarmos consciência da precariedade do nosso modo de vida.


Num mundo instável e perigoso levanta-se a questão de saber se o método chinês é exportável, nomeadamente para outros países "emergentes".
Mas a verdade é que a China não é um país qualquer. Embora subalternizada no fim do século XIX e na primeira metade do século XX pelas "potências ocidentais", a China é um colosso populacional e detentora de uma cultura complexa e antiquíssima que sobreviveu a todos os acidentes da sua história milenar.


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Shèng Dàn Jié Kuài Lè

Shèng Dàn Jié Kuài Lè ou, por outras palavras, BOM NATAL

segunda-feira, dezembro 19, 2011

O novo mergulho do Tio Patinhas


Vias cicláveis e não cicladas

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O Expresso noticiou que, entre Janeiro e Outubro, foram vendidos em Portugal apenas 138 veículos eléctricos. Um dos piores resultados de vendas da Europa. 
Que peso terá isto tido na decisão da NISSAN de não avançar com a prometida fábrica em Portugal? Mais uma quimera.
Entretanto, até ao final de 2011, estarão instalados 1028 postos de abastecimento. Para abastecer quem? 
Deve ser mais um investimento do tipo "vias cicláveis", onde passa um ciclista de hora a hora.

Por isso se chamam cicláveis e não cicladas.

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sábado, dezembro 17, 2011

A Ilusão da Vontade Política



Viver normalmente é viver como já se viveu, como sempre se viveu. Sem riscos, sem incertezas. Porque é que não podemos viver assim? Donde vem esta nossa vulnerabilidade aos acontecimentos? Para muitos, trata-se de uma insuficiência de decisão politica. O poder teria sido exercido indevidamente ou ainda não teria sido exercido como devia. Nos EUA, queixam-se de Obama; em Portugal e na restante Europa, de Merkel. Temos aqui o indicio comovente de uma religião: a daqueles que acreditam que a politica é uma atividade demiurgica e que a "realidade" é apenas uma questão de poder. Bastaria "vontade politica" - um tratado, um acordo, uma lei, um decreto - para tudo se resolver. Será assim? O Ocidente é a unica zona do mundo para a qual a OCDE nao prevê crescimento no próximo ano. E a mais endividada. E a mais envelhecida. Portugal, a esse respeito, nao é exceção. A questão é: pode tudo isso ser resolvido pela decisão de um governo ou de um conjunto de governos? Será possível ao poder político ocidental recriar, por sua simples decisão, seja ela qual for (mais austeridade ou mais estímulos), a confiança que os credores do resto do mundo perderam no Ocidente - e que o próprio Ocidente perdeu em si próprio?
Nesse caso, nao estaríamos antes a viver um simples caso de acesso de lucidez? Nao seria a nossa "crise" o momento em que aquilo a que poderíamos chamar "realidade" - no sentido de algo que nos escapa, que está para alem das nossas construções e desconstruções - se impõe nos limita? No fundo, vivemos sempre incertamente. Mas umas vezes, temos consciência disso, e outras, como a pobre ceifeira de Fernando Pessoa, não. O tempo da ceifeira passou. Teremos de nos habituar a viver com mais lucidez. ■
Rui Ramos em "O Mundo em 2012"

sexta-feira, dezembro 16, 2011

O Portugal comunista

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Por muito que me esforce tenho dificuldade em imaginar um caminho que nos tire da decadência anunciada, no quadro político actual em que os partidos, os grupos de interesses, e em geral todo o bicho careto, se obstinam em perseguir os seus próprios desígnios egoístas.
Mesmo arrepiando as consciências mais sensíveis só uma solução me ocorre; um Portugal comunista, à chinesa, com todos a remar como um só homem na mesma direcção. Só um partido comunista estaria em condições de levar tal tarefa a cabo.
A China é uma demonstração viva de que os slogans que opõem a austeridade ao crescimento estão errados; austeridade, a um nível que nós nem sequer imaginamos, redundou ali num crescimento prolongado de 10% ao ano.
Significa isto que a ascensão ao poder de esquerdas mais radicais, se tal viesse a tornar-se realidade, se assumida consequentemente, levaria a sacrifícios muito mais intensos do que aqueles hoje rejeitados por muitos dos que militam em tais movimentos (claro que nessas circunstâncias, para sossegar as consciências, nos diriam que os sacrifícios pedidos já não se encontravam manchados pela sombra das injustiças de classe).
Eu, por mim, acho que pode chegar o dia em que, por desespero, não enjeitaremos essa forma de patriotismo.
Nessa altura, muitos dos radicais anticapitalistas de hoje saltarão pela borda fora.

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quinta-feira, dezembro 15, 2011

Melancolia

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Melancolia, de Lars Von Trier é antes de mais uma enorme provocação. Põe-nos perante a catástrofe eminente num tempo, como é o nosso, repleto de ameaças e inseguranças. 
Mas a catástrofe mostrada neste filme não é uma catástrofe qualquer, é a irremediável e radical aniquilação da humanidade, de todas as formas de vida e da própria Terra, provocada pelo choque com outro planeta. A grande originalidade do filme, e a força do seu impacto, estão no tratamento intimista que adopta contra todas as expectativas e clichés.
A riqueza, o marketing e a ciência, os grandes ídolos pagãos do nosso tempo, são reduzidos a uma escala ridícula. A dimensão da hecatombe e a inevitabilidade do seu desfecho transformam tanto o medo como a tristeza em coisas totalmente deslocadas e quase absurdas.
As imagens iniciais, uma espécie de prólogo que permite diferentes interpretações, são de uma beleza extrema e pungente, o que é também acentuado pela música de Tristão e Isolda, de Wagner.

A experiência de ver este filme é sem dúvida marcante e, no limite, uma catarse de todos os medos e inseguranças. Num plano quase religioso do tipo panteísta. 
Pela sua ambição e intemporalidade constitui uma obra prima. 





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Sócrates contra Sócrates

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Pedro Nuno Santos, um dos vice-presidentes do grupo parlamentar do PS, afirmou que se estava a “marimbar para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal nas condições em que emprestou”, sugerindo que o país deve suspender o pagamento da sua dívida para deixar “as pernas dos banqueiros alemães a tremer”. Público 16.12.2011


Sócrates, o de Paris, deixou escola. O outro, o da Grécia clássica, também tinha legiões de admiradores mas não cobrava pelos seus ensinamentos. E preferiu não fugir da cicuta embora digam que, mesmo depois da condenação, poderia ter escapado com a ajuda de amigos. A razão para sua cooperação com a justiça da pólis e com seus próprios valores, não destruindo quaisquer escutas comprometedoras, mostra uma valiosa faceta de sua filosofia.





quarta-feira, dezembro 14, 2011

O teatro e a política

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Há dias eu chamava a atenção para a teatralidade das lágrimas, em plena conferência de imprensa, de uma ministra italiana "forçada" a impor austeridade ao povo.
Agora são os manifestantes que, em vez de pessoas desesperadas e enraivecidas, surgem mais como performers de um teatro social que encanta os media.


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terça-feira, dezembro 13, 2011

FIAMOS




FIAMOS
há muito que se fazia sentir a necessidade de uma Federação como a nossa, que pusesse alguma ordem na multidão de petições, manifestos e abaixo-assinados com que o cidadão se vê confrontado.
Ele é as SCUTs, ele é as taxas moderadoras, ele é a demolição de um mamarracho qualquer, ele é o chuto no futebolista, ele é o transplante, ele é o IVA da tasca, ele é a enxurrada do Jardim, ele é a cultura sem cheta, ele é um perseguido no Conchinchina, ele é o atentado ambiental, ele é os fogos florestais e também o nemátodo do pinheiro, ele é o combóio que escavacaram antes de fazer o novo, ele é a abertura ou o fecho de qualquer coisa, etc, etc.
O cidadão, se quizesse e pudesse, não faria mais nada senão assinar coisas.
Como tal é inviável, a bem da nossa sanidade mental, vamos começar a publicar um guia trimestral com o rating de cada iniciativa para facilitar.
Também daremos o TOP 10 do trimestre anterior.
No sentido de garantir uma ampla divulgação em todos os meios de comunicação vamos pedir a vossa ajuda pelo que lançaremos um abaixo-assinado em apoio desta nossa importante iniciativa.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Diga adeus à sua reforma

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A transferência para o Estado da responsabilidade pelo pagamento das pensões de reforma aos empregados bancários, bem como dos montantes de reserva acumulados pelos bancos para satisfazer essas obrigações, significa o quê?



1. Funciona como se fosse um empréstimo que disponibiliza hoje 6.000 milhões de euros em troca de pagamentos futuros. 
2. Como a obrigação de pagar as pensões cabe à Segurança Social esta operação consiste numa espécie de empréstimo desta ao Ministério das Finanças.
3. Estes 6.000 milhões, que em condições normais deveriam dar entrada nos cofres da Segurança Social, vão ser gastos como? Como é que uma operação destas pode ser aceite para efeito da redução do défice quando se trata claramente de um artifício?
4. Passos Coelho propõe-se gastar 2.000 milhões em pagamentos a credores, o que será menos mau admitindo que tais pagamentos teriam sempre que ser feitos e que talvez promovam alguma dinamização da economia. Já outro tanto não se pode dizer da aplicação proposta por Seguro que consistia em "aliviar os sacrifícios dos portugueses neste Natal". Ou seja, comprar prendas a crédito, mais uma vez.

Paulo Baldaia escreveu recentemente no DN considerações extremamente pertinentes sobre esta matéria (ver mais abaixo) mas os partidos, mesmo os da oposição, pouco se referiram ao assunto. 

Diga adeus à sua reforma (II) 
Paulo Baldaia 
DN, 11.12.2011 


O que me incomoda é que os seis mil milhões de euros que a banca entregou ao Estado, e que deveriam servir para pagar as reformas de milhares de bancários, desapareceram num abrir e fechar de olhos. A maioria para tapar buracos e pagar dívidas. Perante este assalto, estranho que nem o ministro da Segurança Social se incomode, nem o líder da oposição tenha uma palavra a dizer. E os senhores de Bruxelas, que tanto rigor exigem nas cimeiras, pactuam afinal com uma aldrabice em que aceitam uma receita extraordinária sem terem em conta os encargos futuros.
Retomo o que escrevi há dois meses: "Mais cedo que tarde, vão dizer- -nos que o nosso sistema de Segurança Social já não é sustentável e explicar-nos que, por mais descontos que tenhamos feito, o Estado não poderá dar-nos mais do que um rendimento mínimo." Nessa altura, vão tentar convencer-nos de que o sistema de Segurança Social que construímos era irrealista, que fazíamos vida de ricos, sendo pobres. Os governantes que nas últimas décadas desbarataram fundos de pensões, nacionalizados para pagar erros de governação, estarão a assobiar para o lado.
No meio desta desgraça que se abate sobre as futuras gerações de pensionistas, temos o primeiro-ministro a falar de um excedente de dois mil milhões de euros e o líder da oposição a encher-se de razão porque, afinal, havia uma almofada. Nem um nem outro se dão conta de que nos estão a empobrecer para todo o sempre. Ficar mais pobre agora para pagar erros do passado e preparar o futuro é aceitável, mas não podemos aceitar que estejam a utilizar o dinheiro que lhes confiámos, para nos devolverem na velhice, sem sequer nos darem uma explicação.



Óbvio

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Há quem ache que Sócrates se limitou a dizer o óbvio.
Mas não, Sócrates não disse o óbvio quando afirmou que "as dívidas não se pagam, gerem-se". Não disse aquilo que se esperaria de um primeiro-ministro que precisamente não soube gerir a dívida.
Gerir a dívida é um eufemismo que significa pedir empréstimos novos para ir pagando os empréstimos velhos.
Ora no ponto aonde Sócrates levou Portugal já não havia novos empréstimos e, portanto, qualquer gestão da dívida tornara-se impossível.

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sábado, dezembro 10, 2011

Sonhos ideológicos que acabam mal

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Na minha curta vida de 66 anos a UE é já a segunda grande narrativa a cujo fim eu assisto.
Na juventude prometeram-me "amanhãs que cantam" e na velhice prometeram-me uma reforma sossegada, mas nenhuma delas se cumpriu. 
A URSS, durante décadas, prometia um mundo novo mas acabou por se desmoronar inglóriamente em 1991.
A União Europeia não prometia um "homem novo" mas sim um "país novo", os resultados estão à vista de todos. Os egoísmos nacionais, tal como os individuais, levaram ao tapete mais uma construção baseada em optimismos ideológicos sem fundamento.
Decididamente nem os homens, nem os países, são como os pintamos nos nossos sonhos.


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sexta-feira, dezembro 09, 2011

O fim da UE é uma questão de tempo.

O fim da UE é uma questão de tempo.
Hoje convenci-me, penso que definitivamente, de que a União Europeia é uma quimera que não tem futuro. Os "pais fundadores", com o seu whishfull thinking, sonharam unir este autêntico saco de gatos através de uma operação chocantemente irrealista.
A diversidade das culturas, e das histórias nacionais, o jogo dos interesses, legítimos e ilegítimos, a premência dos sistemas eleitorais de cada país e o choque das personalidades e das idiosincrasias, transformam quaisquer escolhas e decisões operativas perante os desafios globais quase impossíveis.
A minha conclusão, talvez tardia, emana da actual incapacidade para fugir ao desastre anunciado. Se nem nesta emergência conseguem reagir, então não há qualquer futuro para a UE.
Vou orientar a minha vida pessoal com base nesta expectativa.



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quinta-feira, dezembro 08, 2011

De cimeira em cimeira









Nestes dias que antecedem a Cimeira europeia de 8 e 9 de Dezembro as análises sucedem-se (ver por exemplo o novo blogue "No reino da Dinamarca")
Em muitos casos padecem de um pecado muito comum no pensamento de esquerda actual; pensar que tudo se explica e se resume à luta de classes, neste caso representada pela luta entre os países ricos e os pobres.
A raiz dos problemas da Europa, não é o excessivo e generalizado endividamento dos países da UE. Isso são os sintomas, as consequências.
Por trás dessas dificuldades, a gerá-las, está o desfasamento entre o modelo social e económico da Europa e o curso da globalização que as grandes multinacionais promoveram.
Há muito que o esse modelo está a degenerar pois não consegue reproduzir-se organicamente, como costumava fazer através da propagação do assalariamento e da geração das mais valias que lhe estão inerentes.
Onde essa propagação ainda é possível (nos países emergentes) as grandes multinacionais conseguiram um balão de oxigénio mas, ao mesmo tempo, ao fazê-lo, socavaram o domínio global do Ocidente.
A saída, durante algum tempo, foi a especulação financeira que acabou por explodir. 
Nada de consistente se fará como alternativa sem perceber este processo. E sem perceber que não se pode meter no mesmo saco do capitalismo coisas contraditórias como por exemplo: crise dos países ocidentais em contraposição ao desenvolvimento dos países emergentes – crise do estado nação em contraposição à mobilidade global das corporações – a perversidade dos mercados financeiros em contraposição à necessidade absoluta dos mercados reais.


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quarta-feira, dezembro 07, 2011

Dr. Jekyll ou Mr. Hyde ?




Um certo discurso de esquerda, muito em voga, resulta contraditório e causa de desorientação sempre que se refere ao Estado. Umas vezes como médico e outras vezes como monstro.

Quando subtrai salários ou subsídios o Estado é um mau patrão que os sindicatos da função pública denunciam ásperamente. Mas também pode ser ladrão quando sobe impostos ou taxas. Neste caso Estado é sinónimo de Governo. É o monstro.

Mas quando se trata de evitar privatizações ou preservar a escola pública e o sistema público de pensões, então o Estado somos todos nós, o Estado é a mais pura expressão do interesse popular. É o médico.

No romance, como na vida real, foi o Dr. Jekyll que fabricou Mr. Hyde.
Mas para todos os efeitos são uma e a mesma pessoa.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

O Teatro de Estado







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Em "Habemus Papam", o mais recente filme de Nanni Moretti, um sumo pontífice recém-eleito, ele próprio um apaixonado do teatro, faz das varandas de S. Pedro uma declaração melodramática sobre a sua incapacidade para suportar o fardo do cargo. 


Agora é uma ministra italiana, nada ficcional, que chora perante as câmaras a sua fragilidade emocional para decidir um simples adiamento da idade de reforma em Itália dos 60 para os 62 anos.


Esta tendência, assustadora para o cidadão comum, está a converter as instituições do nosso edifício social em grupos de arte dramática. 
É verdade que o poder sempre viveu de uma certa teatralidade mas não era hábito o recurso ao melodrama. 


Algum dia chegará a fase da Opera Buffa. 




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domingo, dezembro 04, 2011

O EFEITO "TITANIC"




Miguel Sousa Tavares no Expresso de hoje


A Itália está na iminência de pedir tam­bém resgate financeiro e a Espanha e a Bélgica estão apenas em fila de espera. A Inglaterra vai proceder a novo corte brutal da despesa publica para controlar o défice, ao mesmo tempo que tenta evitar a entrada em recessão, tal como a Franca e... a Alemanha. Os Estados Unidos, sem as limitacoes impostas ao Banco Central Europeu, fazem moeda sem querer saber da inflação mas apostados em evitar a todo o custo que o défice seja controlado á custa da economia. 


Neste mundo em desagregação, onde o poder politi­co se transferiu dos Estados pa­ra os mercados e a crise das dividas soberanas e o único factor económico que conta, os lideres politicos estão paralisados — uns por incompetência, outros por falta de coragem, outros por teimosia irracional. Sarkozy é um palhaço nas mãos de Angela Merkel e a chanceler alemã, com o navio a meter água por todos os lados, só se interessa em discutir as regras de navegação e castigar quem deixou entrar água a bordo. Vamos ao fundo, parece inevitável. O euro, segundo o "Financial Times", tem apenas mais umas semanas de vida; depois dele, vai a União Europeia e, depois dela, vai todo o sistema económico globalizado em que vivíamos como no melhor dos mundos.

Não e preciso ser particularmente inteligente para perceber que Portugal, no meio deste naufrágio geral, é menos do que um camarote de terceira classe a bor­do do "Titanic". Se o naufrágio se consumar, vamos perder tudo o que conquistámos nos ultimos vinte anos: euro, Europa, ajuda externa, crédito barato, bem-estar, reformas garantidas. Vamos retroceder vinte anos, mas nao te-mos, obrigatoriamente, de retro­ceder quarenta: não é preciso também sacrificar a democracia. 

A ultima coisa de que precisamos é de entrar em guerras fratricidas, do tipo "se me tiram o 13º mês tambêm têm de tirar o do meu vizinho". Esta estupida guerra antipatriótica (inaugurada por quem tinha a responsabilidade de dar o exemplo oposto, o Presidente da Republica) não vai conduzir a nenhuma repartição equitativa de sacrificios, mas apenas a uma luta feia e suicidária por um lugar a bordo dos salva-vidas do "Titanic". Já foi explicado, mas, pelos vistos, há quem faça questão de fingir que não entende: a razão pela qual o Governo vai retirar os subsidios de Na­tal e de férias à função publica e não aos trabalhadores privados, é porque os funcionários públicos são despesa do Estado e os outros não. E do que agora se trata é de diminuir a despesa públi­ca e não de sobrecarregar ainda com mais impostos uma econo­mia moribunda. Podia-se, de fac­to, acrescentar a receita do Esta­do com um imposto extraordinário que retirasse os subsidios a to­do o sector privado, mas isso ape­nas serviria para conduzir a me­nos poupança, menos consumo, mais falências no comércio e serviços, mais desemprego e mais recessão.

Na esteira das reflexões intempestivas do Presidente e abrigados por elas, logo tivemos ou­tros sectores, como as Forgas Ar­madas e a magistratura, a confundirem o corte dos seus subsi­dios com a questão central do momento e até com uma ofensa à Constituição e uma ameaça à democracia. Eles e o professor de Finanças Públicas que nos preside ignoram, por certo, o que seja a vida fora da protecção de um emprego público garantido para sempre, porque nunca a experimentaram. De certo não sabem que, antes mesmo de os funcionários públicos serem atacados pelo orçamento, já muitos trabalhadores do sector privado tinham visto os seus salários diminuídos e 300.000 deles viram o seu emprego acabar. Nao sabem que, "lá fora", e ao contrário do que acontece nas empresas públicas, a regra do jogo é simples: se uma empresa não consegue receitas que cubram as despesas, fecha.

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Aliás, no turbilhão planetário em que estamos envolvidos, imaginar que a reposigao dos subsídios da função pública ou a mera invocação do boi sagrado que é a nossa Constituição, ajudaria a re-solver o que quer que fosse é menos do que ingenuidade. 
A Inglaterra vai despedir 700.000 fun-cionários públicos nos próximos três anos. Despedir: não é apenas cortar-lhes o vencimento ou os subsídios, o que já foi feito, também. E, apesar disso, que ninguém tenha dúvidas de que a Constituição inglesa, nao escrita, e a democracia inglesa vao resistir a isso, como resistiram a coisas bem piores. E seguramente que os tribunais ingleses não vão avocar um direito especial de serem oposição a um governo eleito. Porque, na hora em que o país está ameaçado, a nação une-se, para defender o essen­tial. 


A última vez que, a pretexto da crise financeira, nos esquecemos de que o essential é a demo­cracia e a liberdade, aconteceu o 28 de maio de 1926 e cinquenta anos de ditadura. É facil matar o mensageiro, quando não gostamos da mensagem: já o fizeram os gregos, os irlandeses, nós, os espanhóis e os italianos. Nenhum governo resiste a esta cri­se, mas, ao menos, caem por meios democráticos ou semelhantes. Mas, se forem os magistrados, os militares ou a rua a derrubar os governos legítimos, entregamos o poder a quem — ao Otelo? Aos meninos indignados? Ou a um novo Salazar?

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sábado, dezembro 03, 2011

HABEMUS PAPAM

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Hoje fui ver o último filme de Nanni Moretti que, ao contrário do que consta, não é um filme sobre a igreja ou sobre o papa.
O filme deve ser visto em contraponto a "Palombella Rossa", de 1989, que ao contrário do que parecia não era sobre o Partido Comunista italiano. "Palombella Rossa" tratava do que fica de nós, como indivíduos, quando desaparecem os laços que nos ligam aos clubes, igrejas e partidos.Perguntava se é possível intervir socialmente sem ceder ao clubismo e ao fanatismo.
"Habemus Papam", pelo contrário, trata da fragilidade das nossas instituições quando falha o factor humano que devia suportá-las. A cena da eleição "democrática" do papa, que ninguém quer vencer, dá a chave para todo o filme.
Quando o papa, recém eleito, anuncia a sua renuncia e nos volta as costas, Nanni Moretti devolve-nos ao nosso mundo de crise e decadência, sem uma liderança que se assuma para nos sossegar.


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sexta-feira, dezembro 02, 2011

Uma folha que sobreviveu 50 anos

  


   Para mim a vida é sempre Outono
                    Há sempre um sol que não chega a despontar
  A minha alma dorme e o seu sono
Reflecte a solidão e o abandono
Das folhas que o vento traz no ar



Era assim que, a 2 de Dezembro de 1961, há precisamente meio século, um jovem de dezasseis anos como eu expressava a sua melancolia. 


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quarta-feira, novembro 30, 2011

A doença infantil da inflação

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1970 - 4.5 %
1980 - 16.6 %
1990 - 13.4 %
2000 - 2.9 %
1971 - 7.5 %
1981 - 20.0%
1991 - 11.4 %
2001 - 4.4 %
1972 - 9.0 %
1982 - 22.4 %
1992 - 8.9 %
2002 - 3.6 %
1973 - 10.4 %
1983 - 25.5 %
1993 - 6.5 %
2003 - 3.3 %
1974 - 27.8 %
1984 - 29.3 %
1994 - 5.2 %
2004 - 2.4 %
1975 - 20.7 %
1985 - 19.3 %
1995 - 4.1 %
2005 - 2.3 %
1976 - 18.3 %
1986 - 11.7 %
1996 - 3.1 %
2006 - 3.1 %
1977 - 27.3 %
1987 - 9.4 %
1997 - 2.2 %
2007 - 2.5 %
1978 - 22.1 %
1988 - 9.7 %
1998 - 2.8 %
2008 - 2.6 %
1979 - 24.2 5
1989 - 12.6 %
1999 - 2.3 %
2009 - 0.8- %



Está na moda pedir a emissão de EuroBonds ou exigir que o BCE ligue as impressoras para fabricar o dinheiro com que se poderia pagar as dívidas da Europa. Ao mesmo tempo ridiculariza-se os receios dos alemães que alertam para os perigos da inflacção.

Os mais jovens não terão provavelmente consciência dos graves níveis de inflacção por que passou o nosso país nas últimas décadas.
Quem os viveu sabe que as altas inflacções são um momento previlegiado para fazer empobrecer quem trabalha. Se os aumentos salariais, ou das pensões, não forem iguais ou maiores do que a taxa de inflacção é isso que acontece.

Por isso têm razão os que dizem que tais "soluções" não são verdadeiras soluções.
São apenas outra forma, disfarçada, de realizar o empobrecimento que finge evitar.

Só seriam defensáveis como medidas de curto prazo para dar tempo a soluções reais.

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