terça-feira, maio 28, 2019

O resto é conversa


Em 2014 o PS ganhou com 3,5 pontos percentuais 
sobre PSD+CDS, era poucochinho. 
Em 2019 o PS ganhou com 3,5 pontos percentuais 
sobre PSD+CDS+Aliança, agora é uma grande vitória.
O resto é conversa.

sábado, maio 18, 2019

CONFISSÕES DE UM COLECCIONADOR



CONFISSÕES DE UM COLECCIONADOR

A colecção de câmaras fotográficas antigas é uma espécie de lar da terceira idade, uma Babel de olhares desmemoriados.
As máquinas foram chegando dos quatro cantos do mundo, com seus achaques, deixando para trás, sabe-se lá onde, as suas memórias de celulóide.
Umas têm as lentes toldadas pelas cataratas do vidro, outras disparam devagar na dolorosa artrite dos seus obturadores e outras ainda sofrem da incontinência luminosa causada pelos orifícios nos foles.

Mas todos aqueles olhos que tanto viram ao longo do século XX, nos mais desvairados locais e situações, parecem agora pasmados pelo vazio dos seus interiores negros de onde os homens, invejosos e cansados das imagens fátuas do cérebro, arrancaram as películas em que o tempo se suspendera.
Este Alzheimer fotográfico do já visto só pode ser revertido fotografando outra vez.

A cada nova velha máquina que desperto do seu sono, qual bela adormecida, sinto-me um príncipe encantado.
Excita-me imaginar o que elas sentem quando abrem os seus olhos há tanto tempo cerrados. Quase tudo o que eu lhes possa mostrar, quando as disparo, deve ser para elas uma espantosa novidade.
Umas, posso imaginá-las na Chicago elegante dos anos vinte e tento perceber o seu choque quando abrem a lente para a arquitectura vanguardista da Expo.
Outras, podem muito bem ter servido para um fazendeiro boer fotografar as suas orgulhosas plantações, ou para um nababo do Pundjab eternizar o palácio e os seus adornos femininos; mas agora piscam o seu obturador em remotas aldeias transmontanas.
Elas viajaram no tempo e no espaço para, nos meus braços, sair da sua prolongada letargia.

É ao fotógrafo que cabe levar as máquinas a olhar e registar de novo, num reviver de mecanismos e gestos. Reter as suas memórias num enrolar de filme e depois pô-las frente a frente com as suas próprias obras.
Ao fazer isso, o fotógrafo reinventa a sua própria biografia. Repetindo os modos que há muito esquecera ou descobrindo os gestos que nunca tinha feito.

O visor à altura do olho ou da cintura, o avanço da película com alavanca ou com rotação da lente, a focagem por estimativa ou por sobreposição, a medição da luz pelo selénio ou pelo cádmio, o empunhar da câmara com dois dedos ou com as duas mãos, o disparo espontâneo ou encenado, um olho que pisca ou então um olho que arregala, são determinantes do que se pode fotografar e de como se fotografa.

Os desenvolvimentos tecnológicos e ergonómicos que percorreram o século XX não constituem apenas uma parada de tentativas e de abandonos, de sucessos e de fracassos; cada nova realização da técnica e do design transformou o gesto de fotografar de forma irremediável.
Ao reconstituir essa caminhada desvendamos as razões que tornaram incontornável o acto de fotografar.

segunda-feira, maio 13, 2019

Berardo, explicado aos ingénuos


Boneco do Rui Rocha