quarta-feira, junho 30, 2010

Erro de casting

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Era uma vez um puto, de uma família modesta, que revelou uma habilidade excepcional para jogar à bola. Fizeram dele uma estrela mundial.
Certo dia o puto resolveu mudar de carreira e tornar-se actor de publicidade.

Apesar de estar nos outdoors e nas televisões do mundo inteiro todos continuaram a funcionar como se ele ainda fosse jogador de futebol.
O próprio seleccionador nacional continuava a convocá-lo e até o nomearam capitão da selecção.
Este equívoco tornou-se cada vez mais penoso já que ninguém explicou ao puto que jogar futebol é uma coisa diferente de fazer habilidades com bola para a publicidade.
A sua presença em campo pela selecção nacional tornou-se cada vez mais patética. Um clamoroso erro de casting.
Não é que faltassem câmaras para ele se exibir, pois no Campeonato do Mundo as câmaras abundam. Ele tinha era dificuldade em perceber que produto estava a anunciar.

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terça-feira, junho 29, 2010

Le vénérable professeur Kuing Yamang

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O declínio da Europa, a que todos nós estamos a assistir, explicado pelo venerável professor Kuing Yamang.
Trata-se de uma paródia, construída sobre uma legendagem que nada tem a ver com as verdadeiras declarações do entrevistado.
Um bom desafio às nossas mentes, quer se trate de concordar ou de rejeitar as teses expostas.

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sábado, junho 26, 2010

Sinais de esperança



Mesmo com as crises alimentar e económica, que provocou sérios danos no emprego, o mundo está a avançar na concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Mas esse progresso é lento e para que as metas sejam alcançadas até 2015 os países devem acentuar os seus esforços, indica um relatório das Nações Unidas.
O documento, divulgado esta semana, em vésperas das cimeiras do G8 e do G20, que reúnem as principais economias do planeta este fim-de-semana em Toronto, no Canadá, indica que a pobreza extrema diminuiu, o combate a doenças como o HIV/sida e a malária tem dado frutos, o acesso a água potável aumentou e há avanços na escolarização básica, designadamente em África.
Só que noutras áreas críticas, como a saúde materna, a mortalidade infantil e o acesso a saneamento básico, é preciso percorrer um longo caminho para manter a esperança de alcançar os ODM - fixados há dez anos com a intenção de lutar contra a pobreza extrema e reduzir as suas consequências em domínios como a fome, a saúde e a educação.
"A pobreza extrema caiu de 46 por cento em 1990 para 27 por cento, e deve baixar para 15 por cento em 2015, em grande parte devido aos avanços na China, Ásia do Sul e Sudeste da Ásia", referem as Nações Unidas. Os 15 por cento desejados significariam, ainda assim, que 920 milhões de pessoas estariam nessa altura a viver abaixo do limiar de pobreza fixado em 1,25 dólares por dia (à volta de um euro). Apesar da evolução, o relatório reconhece que a fome e a má nutrição estão a crescer em regiões como a Ásia do Sul e que persiste o fosso entre ricos e pobres e comunidades urbanas e rurais que torna o mundo desigual.
 
Público, 26.06.2010
 
No meio de todas as dúvidas e perplexidades do momento presente, em especial na Europa, é bom saber que a nível global há uma evolução positiva da humanidade. Talvez não devamos estar tão centrados só em nós mesmos e nos nossos problemas.

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sexta-feira, junho 25, 2010

Trem-bala chinês avança pelo mundo




PEQUIM - O Ministério de Assuntos Ferroviários da China anunciou no início do mês o investimento de 700 bilhões de yuans (US$ 103 bilhões) na construção de novas redes ferroviárias de alta velocidade. O objetivo é dispor de 4.613 km adicionais. Ao todo, a China dispõe de 110.000 km de vias férreas, sendo que 14.813 serão de alta velocidade até 2012. Graças a esses investimentos, em dois anos, 42 linhas de trens-bala vão transportar passageiros entre grandes cidade costeiras e cidades médias das províncias que até então não eram servidas por trens modernos. E a China mira o Ocidente. Está, inclusive, de olho no projeto do trem-bala entre Rio e São Paulo.

O desenvolvimento do transporte ferroviário é um dos projetos domésticos mais ambiciosos do governo chinês. Em dezembro 2009, a agência Nova China noticiou a inauguração, com grande pompa, da linha ferroviária mais rápida do mundo, ligando a cidade de Wuhan a Cantão, distantes 1.062 km, em apenas três horas. Para orgulho dos chineses, a inauguração da linha colocou o país na frente dos maiores construtores de trens de alta velocidade - Alemanha, Japão e França. E também justificou a opção do poder público de apostar na rede ferroviária para resolver o problema complexo do transporte de passageiros e de carga num país superpovoado e de dimensões continentais.

Como de hábito, as autoridades chinesas apelaram para a tecnologia ocidental, propondo associações com os conglomerados europeus e americanos do setor. O trem-bala chinês - ou CRH (China Rail Highspeed), como é conhecido - resulta da cooperação do Ministério dos Assuntos Ferroviários com multinacionais como a alemã Siemens, a francesa Alstom, a canadense Bombardier e a japonesa Kawasaki.

Da transferência de tecnologia dos quatro países surgiu o CRH, cujos testes começaram em 2000 para terminar em 2008. Nas vésperas dos Jogos Olímpicos, o primeiro trem CRH 3 percorreu a 321 km/h o trajeto que liga a cidade costeira de Tianjin a Pequim. Na realidade, a locomotiva do CRH 3, da Siemens, é capaz de atingir a velocidade de 391 km/h mas por prudência - ou para não ferir os brios dos sócios ocidentais - os chineses decidiram limitar a velocidade máxima em 350 km/h.

A notícia que deixou as autoridades do setor mais eufóricas é a possibilidade de antecipar o lançamento da linha Pequim-Xangai, um sonho ferroviário tão antigo quanto o trem-bala ligando Rio e São Paulo. Segundo cálculo dos engenheiros chineses, a linha só ficaria pronta em 2012. Mas, em março, as declarações de Wang Zhiguo, vice-ministro de Assuntos Ferroviários, confirmaram que o trem-bala Pequim-Xangai pode estar operando no início de 2011. Assim, as duas maiores cidades da China, separadas por dez horas de trajeto em transporte ferroviário normal, ficarão a uma distância de quatro horas. E, pela primeira vez, desde o lançamento de trens rápidos, a velocidade autorizada será de 380 km/h.

O sucesso do empreendimento levou o ministério a modificar sua estratégia e a ter planos ainda mais ambiciosos. A palavra de ordem no ministério passou a ser: exportação. A China pretende se transformar, nos próximos 10 anos no maior exportador mundial da tecnologia do trem de alta velocidade. No ano passado, por exemplo, o ministério negociou com Brasil, Turquia, Venezuela, Arábia Saudita, Rússia, México, Polônia, Índia e Austrália. Alguns contratos já estão em fase de conclusão, outros ainda em negociação, entre os quais o fornecimento de 13 linhas para os Estados Unidos (Tampa-Orlando, Nova York-Buffalo, Los Angeles-São Francisco e Chicago-Detroit). Na Ásia, a China tem projetos para ligar a cidade de Kunming (no Sudoeste do país) com Cingapura ou fazer a travessia do Vietnã até a Birmânia.

Estes projetos na área doméstica e externa só são viáveis porque o setor é extremamente centralizado, dependendo diretamente de dois órgãos marcados por um nacionalismo radical: o Partido Comunista Chinês e o Exército de Libertação Nacional. Ambos conseguiram obter dos sócios europeus o volume suficiente de transferência de tecnologia para que a China se tornasse auto-suficiente e, em menos de dez anos, dona e exportadora de sua própria tecnologia.
 
O GLOBO, 19.06.2010
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quarta-feira, junho 23, 2010

Esquerda e Direita


Este quadro foi roubado do blog "Tempo Político" onde a Marina Costa Lobo publica um interessante artigo sobre a dicotomia esquerda/direita.

A julgar por este quadro as únicas coisas que parecem distinguir a esquerda da direita, hoje, são a "lei e a ordem" (tão cara ao CDS), a legalidade do aborto (bandeira muito forte do PCP e do BE) e a aversão às querelas partidárias (mais forte à direita do que à esquerda).  Não parece grande coisa.
Ao contrário do que muitos pensam, e dizem, a fortíssima presença do Estado no ensino e na saúde não é apanágio, nem ideia identitária, da esquerda. Se perguntassem sobre o envolvimento e interferência do Estado na actividade económica talvez aí tivessem encontrado alguma clivagem.

Estes dados permitem uma leitura a meu ver mais interessante do que a comparação entre a esquerda e a direita. É a comparação das respostas "de esquerda" entre si.
Metade dos inquiridos "de esquerda" consideram que não é essencial esbater as diferenças entre ricos e pobres.
Como eu já suspeitava temos portanto uma esquerda pouco revolucionária, pouco dada à transformação profunda da sociedade. O cidadão que se julga de esquerda, em linha com o discurso dos principais partidos, satisfaz-se com uma vaga ideia social-democrata baseada em serviços públicos para todos e no assistencialismo de base estatal. Temperada com uns toques fracturantes.

Foi a isto que chegámos depois do longo abandono, pelos partidos de esquerda, de qualquer referência a uma sociedade de novo tipo.

terça-feira, junho 22, 2010

24 CITY


24 City fala-nos da fulgurante "terceirização" da China. Partindo do caso de uma fábrica que é demolida para construir uma urbanização.
Desenvolve-se sobre uma série de histórias pessoais e "depoimentos mudos" em que a câmara se demora sobre personagens que nada chegam a dizer.
Os restos ainda activos de um proletariado antigo, como já não existe na Europa, convivem com os executivos do marketing no espaço de uma geração.
Imagens belíssimas para uma obra contida que, parecendo fragmentada, tem uma enorme força narrativa.
Trata-se de uma grande obra, provavelmente menosprezada neste tempo de "encher o olho". Fundamental para se sentir o enorme sofrimento e entrega de um povo cujo desmesurado sacrificio tornou possível a China de hoje.

Devia ser visto por todos os que opinam irresponsávelmente sobre a China sem perceber nada do que esteve, e está, em causa.

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segunda-feira, junho 21, 2010

O eterno VuVu Zé

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1875


2010

O Eterno VuVu Zé
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Pensões e hotéis (de reforma)

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Dados da Pordata, a base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos, criada por António Barreto, indicam que em Portugal existem 3.423.946 pensionistas inscritos na Segurança Social e na Caixa Geral de Aposentações. Os números relativos à população mostram que do total dos cidadãos residentes (10.655.842), havia 1.693.493 com mais de 65 anos. Ora, fazendo a diferença entre pensionistas e pessoas com mais de 65 anos chegamos à conclusão que existem 1.730.453 cidadãos que, não tendo idade para estar reformados, são apoiados pelo sistema de segurança social. É claro que neste número haverá casos de incapacidade e outras razões. Demos de barato que 730.453 pessoas estão nessa situação. Mesmo assim resta um milhão de cidadãos em idade activa que estão reformados. É um luxo a que, nos tempos que correm, o país não se deveria permitir.
Expresso, 19.06.2010

Depois de, recentemente, o novo líder do PSD ter começado a falar da necessidade de limitar as reformas de valor elevado e impedir a acumulação de reformas, agora passou a estar na ordem do dia o elevado número de reformas antecipadas existente em Portugal.
De modo mais ou menos velado os reformados são apresentados como culpados de malefícios vários.
Quem assim argumenta esquece que durante os anos oitenta do século passado o Estado e as empresas, em activa colaboração, tudo fizeram para pôr pela porta fora os trabalhadores que ultrapassassem a provecta idade dos cinquenta anos. O Estado e as empresas repartiam entre si os encargos da operação que implicava custear o sustento daqueles que esperavam, em casa, a chegada da idade legal da reforma.
Esta operação maciça, que qualquer pessoa mais "antiga" presenciou no seu local de trabalho, é bem reveladora da inconsciência e incapacidade de previsão de quem a promoveu.
João Duque referia-se a esta questão no Expresso de 12 de Junho desta forma:

"Durante anos, assisti atónito a um ardente desejo nacional de "passar à pré-reforma", situação deliciosa em que, numa mistura de empresa e Estado, num conluio intrageracional, se decidiu que não se trabalhava, se ia para casa mantendo o rendimento por inteiro. As deliciosas justificações eram mais do que muitas: esta gente (na casa dos 50!) já não se consegue reciclar, esta gente dá mais despesa em luz, papel, água ou renda pelo espaço que ocupa (no emprego, leia-se), do que se forem para casa, etc., etc., etc...
Da pré passava-se à dita, até porque aquela não passava de um purgatório à beira do paraíso...
Depois veio a técnica de 'comprar a reforma.' No meio de confusões monumentais e por esquemas que qualquer actuário de terceira categoria reprovaria liminarmente, assisti à escandalosa compra de reformas magníficas por pessoas importantíssimas, à mistura com a arraia-miúda que também aproveitou da confusão, até porque os eruditos esquemáticos sempre tiveram de usar a lei dos grandes números para se safarem no meio das multidões...
E é este o estado de Portugal. Temos uma geração de reformados florescentes, muitos ainda 'jovens' e, valha-nos isso, a transpirar saúde, com reformas nunca mais igualáveis - garantidas por direitos adquiridos e que nunca mais ninguém poderá adquirir -, a fazerem as delirantes delícias de uma geração de netos que vêem nos avós tudo o que os seus pais não têm: tempo, saúde, dinheiro, alegria, rejuvenescimento... Ao contrário, os pais correm atrasados para todo o lado, queixam-se de falta de dinheiro para acudir às exigências, da instabilidade do emprego, perdem a alegria, gritam com os filhos, definham, envelhecem."

Toda esta agitação acerca das pensões altas (algumas não são pensões mas verdadeiros hotéis de cinco estrelas), acumulação de pensões (em certos casos realmente escandalosas) e reformas antecipadas parece querer esbater uma injustiça primordial. Omitir que é preciso distinguir as pensões, altas ou baixas, que foram obtidas depois de longas carreiras contributivas e pesados encargos para os seus beneficiários, das pensões obtidas com poucos ou escassos descontos por parte daqueles que as auferem.

Empresas públicas e outras instituições estatais foram criando ao longo dos anos, para os seus próprios dirigentes, esquemas de reforma arbitrários e artificiosos que permitem auferir pensões significativas pelo simples facto de lá ter trabalhado "meia dúzia" de anos. Como se sabe os deputados à Assembleia da República beneficiaram também de benesses desse tipo durante muito tempo.

Ao longo de muitos anos os trabalhadores da Administração Pública tiveram o direito de se reformar com pensões idênticas ao último vencimento ou até, se a reforma fosse antecedida de uma promoção oportuna, maior do que o último vencimento.
Enquanto isso os trabalhadores "do privado" recebiam quando muito 80% da média dos 10 melhores dos últimos 15 anos de descontos. Em muitos casos, dependendo da inflacção durante os últimos anos de carreira, a pensão "no privado" rondava apenas os 60% do último vencimento.

Querer agora tratar como iguais todas estas situações, excepções e golpadas é cometer, pela segunda vez, as injustiças e discriminações que estão na sua origem.
Só há portanto uma forma séria de tratar os pensionistas; avaliando a justeza do valor das suas pensões com base nas suas reais carreiras contributivas (excluindo deste processo quem receba pensões mínimas ou mesmo inferiores a um certo valor a arbitrar).
Aqueles que ajudaram, com o sacrifício das suas contribuições para a Segurança Social, a pagar as reformas das gerações de trabalhadores que os tinham antecedido têm que merecer, por parte do Estado, a garantia de uma protecção especial.

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sábado, junho 19, 2010

Ensaio sobre a memória (para Saramago)

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De repente as pessoas começaram a perder a memória. Levantavam-se de manhã e não sabiam quem eram. A memória do eu desvanecia-se em poucos instantes, como aqueles sonhos que sonhamos e se esvaiem por entre os dedos mal nos levantamos.
O jogador de polo aquático de "Palombella rossa" perdera a memória depois de um acidente. Mas as pessoas que agora descobriam uma existência sem identidade não marchavam, imaculadas e atónitas, por entre os clubismos dos outros. Os clubismos tornam-se impossíveis quando ninguém sabe quem verdadeiramente é.
Ninguém sabia qual o seu clube, nem o seu partido, nem a sua condição social, nem a sua família. De um momento para o outro também tinham desaparecido antigas embirrações, melindres e ódios.
Ninguém ousava a violência por não saber se quem a sofreria não era afinal o seu amigo ou o seu irmão. 
Ninguém acusava ou incensava os outros por não saber que pecados próprios, ou heroísmos, carregava consigo sem saber.
Não havia remorsos nem vaidades.
Cada um tinha que conviver com a sua natureza mais profunda finalmente liberta das camadas que a etiqueta social lhe sobrepusera, numa espécie de nudismo do espírito.

Os dias eram feitos de interrogações sobre o porquê de se estar ali e todos partilhavam as deduções, pois só em comum tinham a possibilidade de inventar um significado para as suas vidas.
Durante algumas semanas ainda havia os que tentavam resistir ao sono para preservar, por mais algum tempo, as descobertas de cada dia. Acabavam sempre por adormecer e esquecer.
Até que todos se convenceram de que não restava aos homens senão redescobrir-se e redescobrir os outros, renascidos sem rótulos, todos os dias da sua vida.
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sexta-feira, junho 18, 2010

Saramago

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Lanzarote, Abril 2007


Detesto obituários e elogios fúnebres. Nunca os faço.

Conheci Saramago, em 1980, através de "Levantado do chão". Inesquecível experiência,  reveladora de um escritor que percebi genial apesar de estar ainda longe de ser famoso.
Acompanhei a sua produção até àquela que penso ser a sua obra prima, "O Evangelho segundo Jesus Cristo". O livro que, mais do que qualquer outro, ainda impressionará leitores daqui a vários séculos.
Também tenho grande afeição por "História do cerco de Lisboa" e por "O ano da morte de Ricardo Reis", para além do incontornável "Memorial do Convento", claro.

A partir de " Ensaio sobre a cegueira" comecei a não me emocionar da mesma maneira apesar de admirar o engenho. Tal como acontecera antes com "Jangada de Pedra". Não adiro facilmente a construções parabólicas com intuitos apologéticos.

Deixou uma grande obra que nenhuma gaffe do autor poderia amesquinhar.
Quando passei por Lanzarote compreendi porque escolheu viver lá, naquela beleza selvagem que não aceita compromissos.



Lanzarote, Abril 2007

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quinta-feira, junho 17, 2010

Uma Hollywood chinesa ?



O filme tem guerreiros gregos, piratas, reinos subaquáticos, um vilão chamado Demon Mage e sereias que matam os homens durante o sexo. Também há uma sensual Bond girl no papel da rainha sereia. A maioria dos atores nasceu nos Estados Unidos e as câmeras utilizam tecnologia 3D.
Mas o filme, "Empires of the Deep", não é uma fantasia inventada por Hollywood. Ele está sendo concebido e filmado no maior estúdio do mundo, em Huairou, na China, ao norte de Pequim.
Este enredo que mistura "Avatar", "Gladiador" e "Piratas do Caribe" é a visão do magnata imobiliário obcecado por cinema Jon Jiang, que diz que sua missão de vida agora é fazer filmes, videogames e parques temáticos. Também é o mais ousado esforço feito por empresários locais para estabelecer a China como uma potência cinematográfica mundial, que pode criar espetáculos de grande orçamento em inglês para concorrer com os filmes de Hollywood.
A China tem sido capaz de dominar uma indústria após a outra, mas até agora não fez avanços significativos no negócio mais glamoroso do mundo. Se Jiang, 40, conseguir o que quer, isso irá mudar em breve. "Empires of the Deep" pode vir a ser uma demonstração poderosa da crescente influência cultural da China e atrair cineastas internacionais para fazer filmes que parecem projetos de Hollywood, mas que são feitos com os menores custos de trabalho e materiais da China.
Último Segundo, 16.06.2010

A indústria do entretenimento tem sido das poucas em que os Estados Unidos continuaram sempre a dar cartas mesmo nas piores fases da sua economia.
É surpreendente esta entrada nos chineses em mais este campo concorrencial e origina uma enorme curiosidade acerca das suas hipóteses de sucesso.

quarta-feira, junho 16, 2010

Vender os anéis para tentar preservar os dedos


A crise que se vive actualmente na Grécia está a chamar a atenção dos investidores chineses. Uma delegação oficial de Pequim vai estar pela segunda vez, em quatro semanas, em terras gregas à procura de projectos na área marítima, logística e aérea. Na bagagem levam milhões e milhões de euros para investir.
Durante o dia de hoje, uma delegação liderada por Zhang Dejiang, vice primeiro-ministro chinês, vai fechar diversos acordos com empresas locais, revelou fonte oficial do governo grego, citada pelo "Financial Times".
"Estes acordos estão relacionados com a área marítima, telecomunicações e um projecto de renovação do farol do porto de Piraeus em Atenas", revelou a mesma fonte. De acordo com o "Financial Times", os dois países vão assinar acordos no valor de 500 milhões de euros no sector marítimo.
Nos últimos meses, a Grécia tem tentado atrair países com elevados fundos soberanos para ajudar a reanimar a economia do país, afectada por uma grave crise das finanças públicas.
A empresa marítima estatal chinesa Cosco já controla o terminal de contentores de Piraeus segundo um contrato de concessão de longo prazo no valor de 3,4 mil milhões de euros. O objectivo da empresa chinesa é construir, em parceria com empresa estatal de portos grega, um centro logístico perto de Atenas para distribuir bens da China para os Balcãs. Este centro está avaliado entre 150 milhões e 200 milhões de euros e o acordo deverá ser fechado no final deste ano.
Jornal de Negócios, 15.06.2010
 
Há tempos alguém disse, provocando enorme escândalo, que a Grécia podia endireitar as contas vendendo uma parte das numerosas ilhas que possui.
Ainda lá não chegámos. Por enquanto são os portos e as linhas de navegação.
 
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terça-feira, junho 15, 2010

Circuncisão

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Bruxelas pede mais cortes em 2011 (ver aqui).
Os cortes sucedem-se. Chegaremos a um ponto em que só nos restará oferecer Sócrates e Teixeira dos Santos em ritual de circuncisão.

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Fama global

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Pequim, Setembro 2009

Berlim, Junho 2010

A poucos minutos da entrada em campo da selecção deixo aqui o testemunho da fama global de Ronaldo. Esperemos que se traduza em golos.

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segunda-feira, junho 14, 2010

Fábula para 2050




Foi em 2020 que a tendência começou a ser notada.
Algumas empresas, médias e grandes, com antigas tradições europeias, transferiram as suas sedes para a China. Em certos casos encerraram as operações na Europa.
Por volta de 2030 o processo tinha-se tornado comum e alastrara aos Estados Unidos.
Só cá ficaram os pequenos comércios, fabriquetas e oficinas sem capacidade económica para partir.

Instalou-se um sentimento de perplexidade, de perda, perante esta nova emigração.
Muitas destas grandes empresas que partiam já anteriormente não pagavam impostos nos seus países de origem mas enquanto tiveram empregados nesses países os Governos tinham, ao menos, podido taxá-los para acorrer aos enormes gastos sociais.
Os sindicatos mostravam uma certa desorientação, sem saber muito bem o que fazer sem capitalistas.

Comissões nomeadas pelas autoridades concluíram que as empresas tinham deixado de achar interessantes, ou seja rentáveis, as suas operações na Europa.
Os europeus, diziam eles, já não eram atractivos nem como trabalhadores assalariados nem como consumidores. Comparativamente pouco numerosos estavam de tal forma endividados que tornavam penosa a operação de os espremer para tirar algum sumo.

Foi nesse momento, depois de perderem definitivamente o alibi de acusar quem os explorava, que os europeus inventaram a nova forma de organizar a produção social que suplantou, em produtividade e humanismo, tudo o que o mundo até então conhecera.

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A bola é um espelho

Deve-se a um único facto este comportamento quase histérico com a selecção: ela representa todo o nosso país. Cada uma das personagens que a compõem tem uma equivalência óbvia naqueles que a pátria designou para altos cargos. Vejamos, pois, essa tabela de equivalências:

Carlos Queiroz - Cavaco Silva
Há quem diga que ele é muito bom, mas tirando umas coisas na década de 90 nunca mais fez nada que se registasse. E há ainda os que o odeiam, apesar de ele não ter, precisamente, feito nada que se registasse.


Cristiano Ronaldo - José Sócrates
Parece que é muito bem visto no estrangeiro, é especialista em reviengas e em não deixar cair a bola no chão, mas por Portugal ainda fez muito pouco ou nada, ao contrário de Eusébio. Pode ser que ainda venha a fazer, mas duvida-se...


Eduardo - Teixeira dos Santos
Ninguém o conhecia, ninguém percebe bem quem é ele, mas já nos tem safado de alguns apertos. Não é muito seguro, mas se calhar é o melhor que se arranja.


Ricardo Carvalho - Pedro Passos Coelho
Joga muito à defesa e é pouco sarrafeiro (o Ricardo). Se lhe pedem para avançar fica cheio de dúvidas. Para passar do meio-campo é preciso que a bola esteja segurinha lá à frente, como num canto ou num livre. Caso contrário, volta lá para trás à espera que a bola venha ter com ele.


Duda - Francisco Louçã
Joga pela esquerda, mas parece que não faz falta nenhuma, ou então é o único que há. A verdade é que quando se pensa numa selecção a sério ninguém se lembra dele.


Daniel Fernandes - Jerónimo de Sousa
Faz parte da selecção, mas se não fosse eu pôr aqui o nome dele ninguém dizia: “Então e o Daniel Fernandes?”


Simão Sabrosa - Paulo Portas
É pequenino, tem jeito, mas já cá anda há tantos anos que toda a gente lhe conhece o jogo. O seu passado fazia-lhe augurar um futuro muito melhor.


Deco - Luís Amado
É discreto, mas funciona.


Raul Meireles - Augusto Santos Silva
Tem uma fama bastante pior do que o proveito que dela tira.


Liedson - Marcelo Rebelo de Sousa
Surge onde menos se espera, é capaz de fazer coisas geniais, mas nunca ganhou nada de jeito na vida (salvo dinheiro).


BES - BES
É o patrocinador. Fica-se sempre com a ideia de que, independentemente do resultado, fica a ganhar com a operação.


Vuvuzela - António Mendonça
Faz sempre o mesmo som, ninguém percebe para que é que serve, mas é um símbolo de que jamais nos esqueceremos.


E aqui vêem como as principais personagens do nosso país estão representadas na bola.

Comendador Marques de Correia, Expresso 12.06.2010


Neste tempo saturado de bola não resisto a publicar esta crónica engraçadíssima.
Para quem não tenha lido o Expresso.
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quinta-feira, junho 10, 2010

Um furacão que virou brisa


O inquérito da Operação Furacão relativo aos arguidos a que a investigação chamou "beneficiários" - as pessoas singulares e empresas que recorreram ao esquema apanhado pela polícia inglesa -, chegou ao fim. As Finanças de Braga, que serviram de órgão de polícia criminal neste processo, coadjuvando o Ministério Público (ver texto em baixo) já enviaram o relatório final para Lisboa.
...
Esta semana e na próxima, mais de 300 pessoas e empresas serão notificadas pelo Ministério Público para dizerem se pretendem pagar as quantias que serão expressamente individualizadas no documento, relativas às suas dívidas de IRS, IRC e/ou derramas, acrescida já do cálculo de juros. O procurador Rosário Teixeira conta que a proposta tenha um enorme nível de aceitação.
...
As cartas com as notificações da possibilidade de pagar ao Estado e de suspender provisoriamente o processo deverão começar a seguir durante a próxima semana e darão ao arguido um prazo para aceitar a proposta. Note-se que a suspensão provisória dos processos-crime, figura criada recentemente, tem duas vantagens consideráveis: por um lado, não sujeita o arguido a um processo-crime por fraude fiscal, falsificação de documentos e, em alguns casos, abuso de confiança. Por outro lado, passado o prazo da suspensão - que na Operação Furacão tem sido de dois anos, embora a lei admita até três -, o registo criminal não exibirá qualquer averbamento.
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A Operação Furacão admite pagamentos em prestações com dois requisitos inultrapassáveis: primeiro, a prestação de uma "garantia idónea"; segundo, que as prestações não excedam o período da duração da suspensão: dois anos.
...
Os crimes de que os arguidos serão acusados, caso não aceitem pagar voluntariamente e suspender os respectivos processos, são crimes graves aos quais correspondem penas à medida dessa gravidade. O rol inclui, pelo menos, a fraude fiscal e a falsificação de documentos. Relativamente a alguns dos arguidos, que fizeram seu o dinheiro das sociedades anónimas em que participavam, depois de o terem "lavado" através das contas offshores, há ainda crime de abuso de confiança.
...
O atraso que o inquérito teve - a operação Furacão iniciou-se em 2004 -, foi muito superior a todos os prazos com que o procurador-geral da República se foi publicamente comprometendo. E que, naturalmente, seriam aqueles que lhe eram prometidos pelos responsáveis pela investigação. Nos corredores da PGR comenta-se que Pinto Monteiro terá perdido a esperança de que o processo viesse a ser julgado sem prescrever.
Jornal I, 09.06.2010


A pomposa "Operação Furacão" está transformada em "Brisa Amena".
São comoventes os cuidados com que se trata os autores de tantos actos anti-sociais em contraste com a perseguição feita aos contribuintes cumpridores.
A exposição desta vergonha nacional, que não consigo engolir, é a minha  forma de comemorar o Dia de Portugal.
Para que chegue o dia em que sejamos todos cidadãos de primeira.
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E vão 6

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Pois é, é estranho mas o DoteCome Blog nasceu mesmo no dia de Portugal.
Faz hoje seis anos.
Nesta idade que mais podia fazer senão colorir um desenho ?
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quarta-feira, junho 09, 2010

A China mudou de estratégia ?

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Ou muito me engano ou a China está a iniciar uma nova manobra estratégica bastante inteligente.
Durante muito tempo usou o engodo da sua mão de obra barata para atrair investimento estrangeiro. Agora parece estar a tentar pôr as grandes multinacionais a engordar o seu mercado interno, através do aumento dos salários da sua força laboral (ver este excelente artigo com fotos).
Como a China constitui um imenso conjunto de consumidores já não precisa de usar os baixos salários como atractivo pois ninguém quer estar fora de tal mercado (Portugal embandeira em arco com um crescimento de 80% das exportações para a China). 
Essa força centrípeta aumentará cada vez mais à medida que o nível salarial fôr aumentando constituindo portanto um processo autoalimentado.
As empresas estrangeiras que exportam a partir da China e ficam com o grosso do valor acrescentado vão ter que partilhar uma porção maior com o seu hóspede.  Se o não fizerem arriscam-se a perder posição quer no mercado externo (por causa dos preços mais elevados) quer no mercado interno onde os conflitos sociais podem ser-lhes fatais.
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terça-feira, junho 08, 2010

Berlim Weekend

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A minha ida à Alemanha coincidiu com o anúncio das medidas de austeridade feito pela Merkel. De um momento para o outro a Alemanha tornou-se o centro de todas as atenções.
Aproveito para publicar estas duas imagens de fim de semana em Berlim. A de cima foi obtida na excelente Gemalde Galerie no Kultur Forum. A de baixo mostra um "parzinho", ao fim da tarde, na animadíssima Alexander Platz.


segunda-feira, junho 07, 2010

Os alemães são poupados

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Regressei de Berlim onde fiquei acomodado num colorido e modesto hotel (embora ainda não conhecesse as recomendações de Cavaco), perto de Alexander Platz, ainda com um cheirinho muito forte a RDA.



Venho convencido de que a prosperidade alemã se deve à frugalidade com que se vive naquele país.
Regressei, por saudosismo, à estação de metro de Friedrichtrasse onde em 1986 fui atentamente fiscalizado para poder passar de Berlim Ocidental para Berlim Leste.
Como se pode ver pelas imagens esta estação (e muitas outras por onde passei) não tem nada a ver com o "desparrame estético" do nosso Metro.
As estações de caminho de ferro em que estive também eram bastante sóbrias.
A sobriedade, ou a frugalidade, são o que me ocorre para descrever os trajes e comportamentos no espaço público.




Entretanto, e a propósito, li no jornal que a senhora Merkel vai travar uma série de "grandes obras" e fazer baixar a despesa do estado por forma a atingir em 2016 um défice da ordem dos 0,35% !!!
A taxa de poupança dos alemães é de 15%.
Para nós, que somos mais "lúdicos" tudo isto parece irreal.

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quinta-feira, junho 03, 2010

O fantástico Museu Pergamon




Voltei hoje a visitar o fantástico Museu Pergamon, em Berlim onde me encontro. É a terceira vez desde que o descobri em 1986, quando esta parte de Berlim ainda estava integrada na RDA.

O altar de Zeus trazido de Pergamon, uma parte das portas da Babilónia e baixos relevos dos Hititas trazidos da Anatólia tornam este museu uma preciosidade.

Aqui ficam algumas fotografias que fiz. Para abrir o apetite.



quarta-feira, junho 02, 2010

Sobre a decadência da Europa



Porque é que a Europa é uma região decadente ?

Tomemos como sinais de saúde económica e social a capacidade de:

- criar empregos estáveis e bem pagos para os seus cidadãos
- ter trocas comerciais equilibradas com o exterior
- gerar receitas do Estado em quantidade suficiente para que cumpra as suas funções sociais e de soberania.

Estes critérios mostram-se cada vez mais irrealizáveis na Europa pelas seguintes ordens de razões:

1. A revolução tecnológica faz continuamente desaparecer empregos, quer pelo aumento da produtividade quer pelo simples desaparecimento de certas profissões.
Embora este efeito se sinta em todo o planeta há regiões onde tem menor impacto (por exemplo onde a industria pode recorrer a mão de obra muito barata dispensando a automatização e onde os serviços têm menor peso).
Também há regiões onde a produção de bens tecnológicos cria muitos empregos compensando desse modo as perdas noutros sectores.

2. O aumento do peso dos serviços na economia provoca uma transformação nas relações laborais que é adversa ao assalariamento estável. As profissões têm cada vez mais um caracter intelectual e criativo e tendem cada vez mais para a descontinuidade e a subcontratação.
Há porém algumas regiões do globo onde embora predominem os serviços a proporção dos serviços exportáveis é muito importante.

3. A evolução demográfica afecta brutalmente a Europa pela redução da população activa e pelo aumento da despesa do Estado. Há outras regiões onde o envelhecimento da população também acontece mas onde as responsabilidades do Estado na saúde e no apoio social são muito menos intensas.

4. O longo processo do fim do colonialismo está agora a mostrar os seus resultados.
Os países dominados tornaram-se ciosos das suas matérias primas, os povos bárbaros e incultos acederam à educação e às tecnologias.
Os trabalhadores não sindicalizados atraem as empresas e estas arrastam consigo o know-how. Multidões gigantescas convertem-se em mercados onde as empresas autóctones obtêm crescimentos brutais.
É verdade que as empresas europeias também beneficiam destes gigantescos mercados, mas quem lá vende em geral não cria emprego na Europa e provavelmente também não paga na Europa impostos sobre os enormes lucros.
Empresas desses países outrora colonizados tornam-se credores das tradicionais superpotências e compram empresas e marcas por todo o planeta, incluindo na Europa.


É neste quadro que importa perceber a precária situação de Portugal e o que podemos esperar do futuro económico da Europa.

Se não forem tomadas decisões estratégicas, que transcendam as proverbiais declarações de superioridade moral, o nosso destino comum é a decadência lenta mas inexorável.

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