Pequim, 07 out (Lusa) - Os visitantes do Mosteiro de Shaolin, na província de Henan, centro da China, têm agora de deixar o automóvel a mais de um quilómetro de distância, num parque de estacionamento com milhares de lugares.
"Há nove anos ainda se ia de automóvel até à porta do mosteiro", recorda uma jovem da região.
Berço de uma famosa escola de artes marciais, fundado no século V por monges budistas, o Mosteiro de Shaolin já era então uma atração turística, mas a China, entretanto, tornou-se o maior mercado automóvel do mundo, ultrapassando os Estados Unidos.
No domingo passado, o primeiro de oito dias sem portagens, 85 milhões de chineses inundaram as auto-estradas, rumo aos monumentos e paisagens históricas do país, disse o ministério chinês dos Transportes.
A abolição das portagens foi a grande novidade desta "huang jin zhou" ("semana dourada", em chinês), que juntou os feriados do "meio do outono", efeméride do calendário lunar ocorrida este ano a 30 de setembro, e do aniversário da República Popular (01 de outubro).
Shaolin fica a cerca de 650 quilómetros de Pequim, envolvido por uma das "cinco montanhas sagradas" da China, Song Shan, descrita como "centro do céu e da terra". Num dia normal, só em portagens, a viagem custaria 300 yuan (36 euros).
"As portagens, na China, são das mais caras do mundo", salientou a agência noticiosa oficial Xinhua.
Desde 2010, o mosteiro e a "floresta de pagodes" adjacente fazem parte da lista do Património Cultural da Humanidade, aprovada pela UNESCO. A entrada custa 100 yuan (12 euros) - o equivalente a dois dias do salário mínimo em Pequim.
A maioria dos visitantes era de Henan, a segunda província mais populosa do país, com 95 milhões de habitantes, mas viam-se também viaturas de Liaoning, nordeste da China, de Sichuan, no sudoeste, e de outras províncias distantes.
Lembrando os recentes protestos contra a decisão de Tóquio de "nacionalizar" as ilhas Diaoyu, no Mar da China Oriental, alguns automóveis de fabrico japonês ainda tinham o nome e o símbolo das respetivas marcas tapadas com a bandeira vermelha da China.
A atmosfera, no entanto, era de romaria e a principal fonte de desconforto era de natureza demográfica.
Mais do que os raros estrangeiros que nesta altura viajam pelo interior da China, os chineses são os primeiros a queixar-se: "Ren tai duo!" (demasiada gente!).
Nas estradas e nos templos, a tirar fotografias ou a queimar incenso, à procura de mesa num restaurante ou a descansar debaixo de uma árvore - por toda a parte, "ren tai duo!".
A China sempre foi o país mais populoso e os seus cerca de 1.340 milhões de habitantes constituem quase um quinto da Humanidade: o que é novo é a possibilidade de tantos chineses viajarem por conta própria, ao volante do seu automóvel.
Apesar das limitações impostas pelo município de Pequim e outros governos locais, todos os meses há mais de um milhão de novos veículos a circular nas estradas chinesas.
É um movimento de massas individualista, outra novidade, e não parece ir parar tão cedo.
Pelas contas do Banco Mundial, o número de veículos per capita na China é ainda cerca de vinte vezes inferior à média dos países europeus.