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Portugueses, temos que resolver de uma vez por todas se jogamos para ganhar ou se jogamos para encantar.
Ontem, contra o futebol "tecnológico" da Alemanha, só por milagre a nossa arte podia vencer. A eles bastou-lhes especializar-se numa única jogada para terem a vitória quase certa: meter meia dúzia de matulões de um metro e noventa dentro da nossa área e despejar bolas sobre a mesma.
Esta brutal eficácia tem apenas um problema, não dá gozo aos espectadores.
Por que razão devemos nós, que com as nossa habilidades encantamos o público, tentar competir com os alemães no "terreno deles"?
Ser Campeão da Europa significa pouco, até a Grécia o conseguiu. Para isso basta meter bolas na baliza como até os alemães sabem fazer, num futebol previsível do tipo Game Box.
O futebol tem vivido dos clubismos e dos nacionalismos mas, com a globalização mediática, esse já não é o melhor negócio. Das centenas de milhões de espectadores do jogo de ontem só umas escassas dezenas de milhões estavam directamente interessados no resultado do jogo. Os restantes ligaram a televisão para ver jogadas bonitas (os cavalheiros) e jogadores bonitos (as damas).
Ora nós, com a nossa proverbial distracção, não temos sabido tirar partido disso. Basta comparar as corridas coleantes do Deco ou do Nani com as correrias dos "bulldozers" alemães para perceber do que estou a falar. Nunca como ontem tive a sensação de ver a elegância e a subtileza contra o pernil e o presunto, gazelas contra rinocerontes.
Lembram-se dos globetrotters, os basquetebolistas americanos que eram pagos para mostrar a beleza do seu jogo ? É para aí que devemos caminhar. There's no business like show business.
A nossa selecção deve passear-se pelo mundo, a peso de ouro, para dar prazer ao público e proporcionar às outras equipas a oportunidade, e a honra, de a vencer. As coberturas televisivas e o merchandising podem valer fortunas.
Os nossos estádios, que muitos consideraram em número excessivo, devem ser a base de uma nova indústria do espectáculo; tal como hoje vêm a Portugal para jogar golfe hão-de vir a Portugal, no futuro, para ver e jogar futebol. As "academias" de formação de jogadores devem, com base nos alunos ilustres que formaram, converter-se em "universidades" de reputação mundial e tirar disso os adequados proveitos.
O prazer de uma bela jogada, uma finta à Ronaldo, as mudanças subtis de velocidade do Deco, os passes magistrais do Quaresma ou do Nani pertencem mais ao circo do que ao primarismo anglo-saxónico dos campeonatos.
No circo ganha-se alguma coisa ? Não ! é o puro prazer.