segunda-feira, janeiro 31, 2005

Para Mudar a sério ?






Entrevista do Jerónimo de Sousa ao Expresso em 29 de Janeiro 2005.

Como estou farto de dizer as coisas não são nada claras...

- agora luta-se por uma "democracia avançada", mas não se sabe quando estará pronta...
Na "democracia avançada" as "eleições e a democracia são intrísecas" (como não podia deixar de ser).
Na "democracia avançada", tal como hoje, há a "coexistência do sector público, privado e cooperativo".
Não se pode dizer que seja grande definição.

- depois da "democracia avançada" vem o socialismo.
A definição de socialismo é: "um sistema que vem depois da democracia avançada" ou, se quisermos, um "horizonte"

- como se isto não bastasse o comunismo só vem depois do socialismo.
No dia de São Nunca ?

Acho tudo isto confrangedor.

Mas não pensem que o digo contra o Jerónimo de Sousa ou o PCP.
Não há ninguém nos partidos de esquerda que esteja a dizer mais ou melhor do que isto.

domingo, janeiro 23, 2005

Em Estado de Choque






CHOQUE FISCAL (psd)...

CHOQUE TECNOLÓGICO (ps)...

CHOQUE DE GESTÃO (psd)...

CHOQUE DE VALORES (cds)...

...

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Um turista chapado (Paris para amigos)

Sem vergonha na cara fizemos as fotografias da praxe em frente à Torre Eiffel (só para repetir um gesto de há 30 anos).
Cliquem nesta foto da igreja de S. Eustáquio se querem ver o resto da colecção...





segunda-feira, janeiro 17, 2005

O Inverno em Paris

Acabo de regressar.
Deixem-me ser cabotino, ao menos uma vez, e sugerir um subsídio especial a todos os portugueses para poderem visitar Paris no Inverno.

Quer se trate da "Vie Parisienne" na "Opéra Comique"






ou do Barbeiro de Sevilha na Ópera da Bastilha





ou da exposição "30 chefs-d'œuvre des Arts de l'Islam du Metropolitan Museum of Art de New York" mostradas no Louvre





ou do fabuloso "Musée National du Moyen Age"





ou do "Véronèse Profane" no "Musée du Luxembourg"





tudo contribui para percebermos:

1. a relatividade dos nossos dramas (tragicomédias ?)políticos
2. a omissão que nos eclipsa num panorama europeu
3. a diferença entre provincianismo e cosmopolitismo

Depois desta "desinfecção" podemos regressar, mais equilibrados, ao aconchego delicioso do nosso "bacalhau com batatas".


(clique nas imagens para ver mais informação sobre os eventos)

terça-feira, janeiro 11, 2005

Digitalismo – novas formas de dominação económica ?

“Sem comunicação não existem relações humanas nem vida propriamente humana....

Por conseguinte, as improbabilidades do processo de comunicação e a forma em que as mesmas se superam e se transformam em probabilidades regulam a formação dos sistemas sociais. Assim deve entender-se o processo de evolução sociocultural como a transformação e ampliação das possibilidades de estabelecer uma comunicação com probabilidades de êxito, graças à qual a sociedade cria as suas estruturas sociais...”

(in A improbabilidade da comunicação, Niklas Luhmann, Vega 2001)






A terceira improbabilidade da comunicação indicada por Luhmann é a de se “obter o resultado desejado”, ou seja, levar o destinatário a “actuar em virtude das directrizes correspondentes, bem como experimentar, pensar e assimilar novos conhecimentos, supondo que uma determinada informação seja correcta.”

Na sociedade actual, que cada vez mais se estrutura em torno do tratamento e transmissão da informação, a imensa maioria das actividades humanas consiste na tentativa de influenciar o conhecimento de outrem, de modo a levá-lo a agir de uma determinada maneira.

O político, o professor, o designer, o artista e o publicitário são apenas casos paradigmáticos das actividades influenciadoras do conhecimento; o cinema e a televisão, as comunicações móveis, a edição discográfica, a imprensa e os sistemas computacionais são exemplos de industrias da informação que ocupam cada vez mais os lugares cimeiros entre os sectores económicos globais.

A comunicação efectua-se através da informação, ou seja, dos sinais passíveis de captação pelos sentidos e encaminhamento para o cérebro humano.


Ver o texto completo


sexta-feira, janeiro 07, 2005

A depressão como álibi


A depressão como álibi

por Eduardo Lourenço, in DN, 2/1/2005


O que um país como o nosso, que não está no centro da tragédia que neste momento suscita o horror e a compaixão universais, pode ou não pensar da sua caseira situação, mesmo se fosse «depressiva», como alguns a sentem ou sobre ela escrevem, é de escasso interesse. Tem mesmo qualquer coisa de escabroso. Não tendo o sentimento de que o nosso país esteja a braços com qualquer coisa que, de longe ou de perto, se possa considerar uma «depressão» (crise económica grave, crise política séria, crise moral dolorosa), a questão de a ultrapassar não tem verdadeiro sentido. Não somos o Haiti nem o Darfur. Somos uma nação que faz parte do continente mais privilegiado da terra, e ocupamos nele o lugar que a nossa História ou as nossas capacidades merecem ou justificam.





Estamos em democracia, podemos resolver na ordem política, e em paz, os conflitos que nessa ordem são naturais, o que nem todos os povos da mesma Europa estão em condições de fazer.

Se alguma coisa é preocupante, é a displicência, para não lhe chamar inconsciência, com que gozamos e abusamos duma «situação» que devemos mais ao dinamismo geral da Europa do que ao nosso próprio. Mas nem isso é razão para nos inventar «depressões» de cada vez que o excesso dos nossos sonhos nos confronta com a realidade, ao fim e ao cabo, bem aceitável, que é a do Portugal de hoje quando o comparamos ao das carências gritantes de há apenas 20 anos. Não acrescentemos aos nossos handicaps, bem reais ainda em matéria de saúde, de educação, de investimento científico, as crises de decepção periódicas, puramente imaginárias, de cada vez que nos apercebemos de que não somos exactamente a nação eleita com que a justo título sonhamos e toda a gente, aliás, deve sonhar. Se queremos estar sempre a escrever Os Lusíadas, para ter a sensação de imitar os homens dessa época, e nem sequer o ler, devemos pagar o preço confrontarmo-nos com os desafios da realidade, tentando estar à sua altura.

Houve momentos em que a litania da «depressão nacional» se pôde justificar. O nosso atraso era visível a olho nu. Assim éramos ou estávamos apenas há meio século. Esse atraso não foi inteiramente recuperado, como o imaginamos, naquilo que interessa ao futuro duma nação moderna europeia, mas sabemos agora melhor medir esse atraso e como proceder para o atenuar. Não é um esquizofrénico recurso ao álibi da «depressão» que nos curará dele. Isso é apenas complacência de gente que desejaria que o futuro lhe caísse do céu dos outros como um disco DVD, sem esforço nenhum. Teremos o que merecemos, não mais. De qualquer modo, não iremos para o céu da História global em wagon lit, como em tempos os personagens privilegiados de Eça. Iremos a pé, devagar, democraticamente.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Como responder à erosão da política e dos políticos ?

A política tem vivido, em Portugal, uma sequência de ciclos desgostantes e desgastantes.
Não vale de nada insinuar, com ar superior, que as massas ao desinteressar-se da política estão apenas a revelar a sua debilidade cultural e cívica que os trinta anos passados sobre a Revolução já não disfarçam.





Não, os responsáveis por esse “alheamento cívico” são principalmente os “agentes políticos”, o establishment cultural e jornalístico e, de modo geral, os que gravitam à volta das cadeiras (e orçamento) do poder.

As festividades dos 80 anos do Dr. Mário Soares juntaram num banquete a quase totalidade desse establishment e mostrataram como, apesar das guerras violentas em que se envolvem regularmente, os seus membros sabem reconhecer o essencial das suas solidariedades. O povo assistiu atónito ao desfile de figuras que julgava serem incompatíveis (aqueles 2000 notáveis que ocupam 90% do tempo opinativo das televisões e que estão sempre a ser nomeados para qualquer coisa).

O Dr. Mário Soares é o exemplo mais acabado de uma forma de fazer política que já se começa a tornar intolerável: o partidarismo como um clubismo, o “ser amigo do seu amigo”, a “leadalde” acima da verdade e do interesse público, uma lógica impiedosa de poder de grupo em que os princípios já não parecem ser o cimento aglutinador.

O Dr. Mário Soares não é o único a praticar estas artes mas é notável que os seus 80 anos não lhe tenham ensinado a moderar-se e a ver a relatividade e precaridade das “glórias bélicas” a que não consegue resistir.

E é por causa dessa lógica que os partidos principais se vêm alternando no poder, ciclicamente. Sempre que um alcança o voto maioritário do povo assume as rédeas da governação para ser de imediato sujeito aos tratos de polé da oposição.

Numa primeira fase, quando ainda subsistem algumas ideias mais arrojadas do programa eleitoral, a oposição trata de arregimentar todos os interesses e corporações que se sentem ameaçados por qualquer das propostas do governo.
Iniciam uma táctica que inclui barragens de artilharia na imprensa a cargo do batalhão dos comentadores de serviço, algumas chantagens económicas, a divulgação de meia dúzia de escândalos fiscais ou processuais da autoria dos ministros, tudo com o objectivo de paralisar o adversário.

Quando o efeito paralisante foi conseguido e o governo fica com o ar de já não se poder mexer em qualquer direcção inicia-se a segunda fase que consiste em glosar a inoperância dos ministros, as contradições detectadas nas suas declarações, e em geral trata-se da preparação do funeral político.

Uma vez feitas as eleições, sempre apresentadas como grandes viragens decisivas para o futuro do país, os partidos que foram imolados no governo do ciclo anterior passam ao papel de oposição e, dada a violência e irracionalidade com que foram tratados, sentem-se no direito de ser ainda mais demagógicos do que os seus adversários.

Como os adversários são sistematicamente diabolizados e as suas tentativas de realizar algo sempre apresentadas como absolutamente injustificadas e prejudiciais segue-se que cada novo governo começa, em regra, por destruir ou ignorar as obras do anterior. A intenção de destruir as decisões dos governos em funções inicia-se aliás ainda durante a fase de oposição e é prometida para o ciclo seguinte da “alternância” assegurando-se assim que os cidadãos não possam considerar “estável” qualquer legislação mesmo que regularmente aprovada e publicada.

Não é claro quando, nem como, a esquerda se deixou resvalar para esta desgraçada situação mas a “superioridade moral dos comunistas” ou a seriedade “laica e republicana” tendem a converter-se em fórmulas de que só os mais velhos se recordam ainda.

Hoje, mesmo à esquerda, impera o fulanismo, os “fait-divers”, os golpes de teatro mediáticos, os trocadilhos, a dramatização ou exagero das situações numa verdadeira versão tablóide da política.
A reacção de Ana Gomes à decisão de Sampaio de empossar Santana, a maior parte das declarações de Louçã sobre o caso Marcelo, o estilo de Bernardino Soares ao comentar as questões orçamentais, são apenas alguns exemplos em que a demagogia, a falta de sentido de Estado, e mesmo as graçolas de baixo estofo tornam a esquerda irreconhecível para aqueles que, como eu, sempre acreditaram que ela se distinguia pela nobreza e elevação quer dos propósitos quer dos comportamentos.

A história mostra que os comportamentos descritos levam à destruição da democracia. Tem que tocar algures um sino a rebate para que se verifique uma mudança radical de atitude por parte daqueles que querem preservar a liberdade.

É preciso acreditar que a dignidade dos comportamentos também acabará por fazer a diferença e “render” politicamente. Quando um jornalista rasteiro vem com uma pergunta rasteira, verdadeiramente tentadora para entalar o adversário mas irrelevante do ponto de vista do interesse público, é preciso recusar o engodo, reduzir a intriga às suas diminutas proporções, falar de outra coisa.

Só quando se mostrar coragem para rejeitar a chicana política, para perder as eleições se for esse o preço das verdades incómodas, para tirar o chapéu ao adversário quando as suas acções são positivas é que poderá começar um novo ciclo na política portuguesa.

Para isso faltará talvez encontrar uma alternativa para os partidos como base em que assenta a democracia. Os partidos, pela sua própria natureza, geram clubismo, cegueira sectária e distribuição de favores.

Não seria muito mais natural as pessoas associarem-se a causas e projectos, de acordo com as suas inclinações, do que filiarem-se em instituições com as quais nunca se identificam completamente. Quem, por exemplo, seja simultaneamente contra a liberalização do aborto e contra o pacote laboral não encontra nenhum partido com que se identificar.

Virá o dia, estamos certos, em que as pessoa serão militantes de causas e projectos e não de partidos. Em que os boletins de voto pedirão a cruzinha não em bandeiras partidárias mas sim em causas e projectos.