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quarta-feira, outubro 05, 2016

Cartas da guerra (quem as não tem?)



Cartas da guerra (quem as não tem?)
Fui ver o filme de Ivo M. Ferreira que tem como base as cartas que António Lobo Antunes enviou à sua mulher, Maria José, quando estava a combater em Angola (como médico).
É preciso dizer desde já que o filme é magnífico e que a fotografia tem uma elevadíssima qualidade.
Para aqueles que também escreveram cartas durante a guerra (eu, por exemplo, guardo dezenas e dezenas) o filme é especialmente tocante.
Aquilo que importa no filme é a ilustração angustiante da incomunicabilidade nesses tempos remotos em que, por incrível que pareça aos mais jovens, não havia telemóveis, nem skype.
Escrevia-se uma carta e recebia-se o retorno um mês depois.
Como é que uma pessoa apaixonada, ou em vésperas de ser pai, pode lidar com isto, suportar isto?
As cartas de Lobo Antunes, lidas ao longo do filme em off, mostram como todas e cada uma das palavras soam curtas, insignificantes nesses momentos.
As declarações e os sentimentos são repetidos, e repetidos, da mesma ou sob diferentes formas, como se fosse necessário martelar um sentido que nunca mais se alcança.

quarta-feira, setembro 21, 2016

Milagre no Rio Hudson



Clint Eastwood pegou no insólito e inacreditável episódio, ocorrido em 2009, em que um piloto conseguiu uma aterragem de emergência no rio Hudson, logo após a descolagem, salvando os 155 ocupantes do avião.
Neste filme não há qualquer exploração abusiva dos efeitos especiais nem a utilização fácil das cenas de terror naturais em tais situações.
Clint, com a ajuda preciosa de Tom Hanks, debruça-se sobre o drama humano do piloto. Um homem que se vê subitamente herói universal e, simultâneamente, suspeito de não ter tomado as decisões mais seguras durante a emergência.
Uma situação só possível numa cultura de responsabilização onde não se hesita submeter a inquérito rigoroso mesmo alguém que é idolatrado pelas massas.
Coloca as seguintes questões muito interessantes:
1. A indústria aeronáutica dispõe de tecnologias espantosas mas, como em certas situações é inevitável o factor humano, quais são limites dos sistemas automáticos?
2. Como balancear a capacidade tecnológica para modelar e simular situações, por um lado, e a intuição humana e o saber acumulado pela experiência, por outro?
3. Em que condições é legítimo julgar à posteriori situações e decisões que tiveram lugar sob tensão em ambientes irrepetíveis?
Uma problemática em que não andamos muito longe dos "prognósticos depois do jogo" ou mesmo das soluções milagrosas para sair da bancarrota que certos políticos apresentam "depois do jogo" sabendo que os erros de tais soluções nunca poderão ser demonstrados.
A política e a economia não possuem simuladores de voo.

sexta-feira, setembro 16, 2016

AMATEUR


Fui ver o recém estreado filme da Olga Ramos, que trata da vida e obra do pioneiro da fotografia Carlos Relvas. Com especial foco na espantosa casa-estúdio que ele construiu, com toda a probabilidade uma das mais interessantes do mundo.
A oportunidade e qualidade do filme é inquestionável pese embora um certo desequilíbrio nos ritmos e a inclusão demasiado longa de assuntos laterais e menos conseguidos.
Eu, que tal como Relvas me assumo sempre como "amador" da fotografia, saí da sala esmagado pela quantidade e qualidade da sua obra (daquilo que me foi dado ver).
Depois do que andei a fazer nos últimos cinco anos penso ter uma boa noção do esforço necessário para produzir, como Relvas fez, 5.000 fotografias com a tecnologia do colódio húmido e mais uns milhares depois disso.
Para além do mais ele tocou muitas áreas diferentes, desde os instantâneos e paisagens até à fotografia encenada; desde a fotografia do rei até aos retratos das ovelhas e cães.
Em pleno século XIX ele percorreu muitos caminhos que nos deixam perplexos neste início do século XXI.

segunda-feira, agosto 22, 2016

Tarde de Verão no cinema



Tarde de Verão no cinema
o filme escolhido foi "Regresso a Ítaca" de Laurent Cantet (o excelente realizador de "O Emprego do Tempo" e "Recursos Humanos").
Um grupo de amigos reencontra-se ao fim de muitos anos num telhado de Havana.
O tema da fuga do país está sempre presente. Assim como as ilusões políticas desfeitas e a sua influência nos destinos pessoais.
Num percurso sinuoso sucedem-se as recriminações, as revelações e as perplexidades.
Pode dizer-se que uma cena parecida podia, relativizada, ter lugar num café de Lisboa entre velhos militantes.
No fim da noite a única coisa que resta é uma amizade dolorosa que não se pode perder.

sábado, julho 09, 2016

SIBERÍADA - Andrei Konchalovsky (1978)



SIBERÍADA - Andrei Konchalovsky (1978)
Há muitos anos que queria ver este filme, por causa das mútiplas referências que lhe são feitas.
Trata-se de uma bela (e longa) saga de famílias que desbravam a Sibéria ao longo do século XX, e do impacto das transformações políticas na longínqua região.
Mistura poesia e militância. A famosa "alma russa" sempre em conflito com uma realidade e natureza brutais.
Eu estive na Sibéria em 1980- Irkutsk, lago Baikal e Bratsk- apenas dois anos depois de este filme ter sido feito.
Não vi o filme quando saíu mas consigo imaginar a comoção que ele provocava quando a derrocada da URSS não era sequer pensável.

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

HAIL CAESAR!



HAIL CAESAR!
Os irmãos Coen compõem uma divertidíssima sátira, que decorre durante as rodagens de mais um filme sobre a história de Cristo.
A ficção, a fé religiosa e as utopias políticas têm uma raiz comum que se perde nas mais remotas formas da sociedade humana.
Ao cruzar estas três "ilusões" o filme mostra como todas podem ser irresistivelmente delirantes.
O filme está recheado de cenas antológicas, das quais destaco a reunião de hierarcas religiosos para discutir se o filme ofende alguma das religiões comuns nos E.U.A.

segunda-feira, janeiro 25, 2016

O Renascido


O Renascido
não compreendo o entusiasmo pelas sagas do Império, que sempre contra-ataca, com os seus robots amaricados e a sua violência de plástico.
Vão ver este filme do Inarruti, com sangue suor e lágrimas das autênticas e um planeta belíssimo e inóspito, chamado Terra.
Verão o herói morrer às garras de um urso castanho e nascer de novo no parto de um cavalo morto.
A não perder este banho de grandiosidade que vos fará perceber quão mesquinhas são as vossas vidas.


quinta-feira, janeiro 14, 2016

45



45
fui ver o filme. Conta a história de um casal, mais ou menos da minha idade, que se prepara para festejar os 45 anos do casamento e é supreendido por um facto do passado, que estivera literalmente congelado.
Não excedeu as minhas expectativas excepto num ponto: ouvir a ainda belíssima Charlotte Rampling lamentar-se por não ter fotografias que ilustrem o percurso da sua vida.
Há sempre um momento, com a idade e alguma outra crise, em que de repente as nossas memórias tremelicam e toda a nossa história nos parece inverosímil.
Devo fazer-vos uma confissão muito pessoal; eu preparei-me bem para essa eventualidade. No meu computador posso, em qualquer momento, invocar imagens de praticamente qualquer época da minha vida.
A obsessão pela fotografia que sempre me afligiu, algum sentido de organização e a maravilhosa tecnologia actual permitem-me esse luxo.
Daqui resulta um novo desafio.
É sabido que, mesmo sem querer, vamos sempre rescrevendo a nossa história de vida. No meu caso, ou em casos como o meu, a ficção em que o passado se converte acaba por ter como base não só a memória mas também umas centenas de milhares de imagens digitalizadas.