Parábola da árvore chamada "Estado"
(fotografia de Louis Dallara)
Era uma vez um campo abandonado.
Como acontece em casos que tais as ervas proliferavam numa alegre sinfonia de verdes.
E viviam muito felizes ao sabor das estações; na Primavera deitavam as suas flores, quando as tinham; no Verão amadureciam e mirravam com a canícula, o que no Outono dava ao campo um ar despido e raso; no Inverno suportavam as geadas e as inundações pluviais.
Eram todas quase do mesmo tamanho, raramente excediam dois palmos de altura.
Até que um dia houve uma, mais introspectiva, que lhes disse:
"Amigas, a nossa vida seria muito mais agradável se pudéssemos evitar os abusos do sol e do vento.
Precisávamos de ter um obstáculo que impedisse esses dois flagelos."
Toda a assembleia, que por natureza estava sempre reunida, concordou com o reparo.
E houve alguém que lançou uma ideia:
"Se tivéssemos uma árvore entre nós ficaríamos protegidos. Vamos escolher uma das ervas e ajudá-la a crescer muito para além da nossa altura"
Assim fizeram, durante anos a erva escolhida foi alvo de todas as protecções e substâncias favoráveis.
Deu de crescer que era uma lindeza. Ramo após ramo ergueu-se sobre as suas amigas.
Baptizaram-na "Árvore do Estado".
Anos a fio protegeu a comunidade vegetal com a sua sombra no pino do estio, e com a sua copa quando se armava vendaval e desabava o céu em dilúvio.
Viveram tempos de prosperidade e harmonia.
Mas, como sempre na vida, as coisas lentamente começaram a mudar.
A árvore nunca mais parou de crescer.
Eram pernadas e mais pernadas, folhagem e mais folhagem, até que começou a ajoujar com o peso da estrutura.
Por baixo deixou de ser ver o sol, quer de Verão quer de Inverno.
As raízes estendiam-se num enorme raio e drenavam a humidade e os alimentos de que as pobres ervas necessitavam para subsistir.
Como se tal não bastasse no Outono as folhas caídas da Árvore Estado aterravam sobre as ervas criando uma camada, cada vez mais espessa, que as subterrava.
A pouco e pouco as ervas foram desaparecendo.
A Árvore do Estado ficou só, no meio do campo
Já ninguém percebia o sentido da sua existência.