Muito se tem falado do envelhecimento da população. O prolongamento da vida proporcionado pela ciência actual está sem dúvida a produzir um número historicamente inédito de pessoas fisicamente velhas na nossa sociedade.
Esse fenómeno tem, no entanto, ocultado um outro tanto ou mais importante; na nossa sociedade não existem, ou são mediaticamente irrelevantes, os velhos enquanto detentores da sabedoria, da prudência e do cinismo salutar. Quase não há no espaço público quem transmita ponderação, quem separe o essencial do acessório, quem sirva de contraponto ao primarismo dos entusiasmos juvenis que caracteriza as campanhas fervorosas a favor disto e daquilo.
Com honrosas excepções a geração que foi jovem nos anos 60, que cometeu todos os erros a que tinha direito na sua juventude, que viveu a guerra colonial, o fascismo e o PREC recusa-se a envelhecer e, dessa forma, transmitir aos jovens actuais a sua experiência. Recusa-se a reconhecer os erros que cometeu e a aprender com eles na vã ilusão de assim perpetuar a juventude. Não apaga a memória dos tiques e clubismos de sempre. Corre atrás de qualquer moda contestatária, usurpando dessa forma a irresponsabilidade daqueles que estão na idade de ser irresponsáveis e se vêem na contingência de não ter “jarretas" a quem ultrapassar, quanto mais contrariar.
Esta geração que toma o reumático por acne juvenil, que se recusa a "entrar para o armário", devia era usar a sua longa experiência de muitos falhanços e alguns sucessos para ensinar aos jovens a arte do equilíbrio na avaliação das verdadeiras consequências das nossas paixões. Não o faz.
Apoia alegremente a causa do Dalai Lama, os casamentos homossexuais, as lâmpadas ecológicas. Em vez de ensinar o papel perene das utopias afadiga-se como a Lili Caneças das “causas” fracturantes. Demite-se da sua função geracional e dessa forma inibe os realmente jovens de o ser plenamente.
Onde estão os nossos jovens iconoclastas ? Se acaso existem ninguém dá por eles.
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segunda-feira, março 31, 2008
Este país não tem velhos
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domingo, março 30, 2008
Sem Sombras
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Pela quarta vez o festival "Terras sem Sombra" mostrou como é possível construir um programa de qualidade numa realização descentrada dos circuitos habituais.
O concerto de encerramento teve lugar ontem, na matriz de Santiago do Cacém, com a designação "A Devoção Mariana na Música Portuguesa dos Séculos XVI a XVIII". Duarte Lobo, Diogo Dias Melgás e Francisco António de Almeida foram servidos pelo Coro Gulbenkian para gáudio dos presentes.
Ainda acontecem coisas boas. Há que registar e divulgar...
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sexta-feira, março 28, 2008
Parvólicas ?
Não acontece nada em Portugal, esse é o problema.
Como se não bastasse o caso da aluna e do telemóvel, que enxameia a comunicação social, agora temos o caso das eólicas que Sá Fernandes se propunha espalhar pela cidade.
Não se sabe o que mais admirar; se o facto de António Costa perder tempo com folclores enquanto Lisboa definha, se o activismo da oposição com este momentoso assunto.
O comunista e ex-dirigente da Quercus Carlos Moura chegou mesmo a alertar para "os perigos que estes equipamentos representam para as colónias de morcegos que existem em Lisboa, por o seu funcionamento desorientar o seu sistema de orientação".
É o que se chama investir contra moinhos de vento enquanto se mantém o silêncio sobre o modo de financiamento das actividades da Câmara de Lisboa que, dizem as más línguas, está falida para os próximos 20 anos.
Hora da publicação: 09:21 1 comentários
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Anti-CNN
O site www.anti-cnn.com mostra vários exemplos da manipulação de textos e imagens com que se alimenta a campanha contra a China a propósito do Tibete.
Muitos gostariam de impor à China uma amputação do tipo Kosovo. Infelizmente para eles a China não é a Sérvia, nem do ponto de vista militar nem económico, pelo que esse projecto colonialista tem fraca viabilidade.
Se é verdade que devem ser respeitadas as particularidades culturais de cada região (o desenvolvimento económico recente da China está sem dúvida a destruir muitas tradições mesmo fora do Tibete) também é verdade que tal não pode ser resolvido pelo sistemático desmembramento dos países. Tal constituiria um processo sem fim de consequências inimagináveis.
Aqueles que se afadigam a favor do Tibete, entre os quais Sarkozy e Condoleezza Rice, esquecem-se oportunisticamente do País Basco, da Bélgica e de muitos outros casos de diferendos baseados em razões étnicas e nacionais.
As ideias de separatismo são ainda mais perigosas quando se baseiam em factores de índole religiosa e pretendem estabelecer novos estados confessionais, como é o caso do Tibete.
Hora da publicação: 08:27 2 comentários
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terça-feira, março 25, 2008
O Norte da Índia em 100 imagens
Quem estiver interessado em percorrer o Norte da Índia através das imagens que recolhi basta-lhe clicar numa destas três fotografias (das 115 que o slideshow mostra).
Hora da publicação: 18:12 0 comentários
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domingo, março 23, 2008
O Tibete como pretexto
Hora da publicação: 20:42 1 comentários
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sexta-feira, março 21, 2008
O que ficou da Índia
Cheguei da Índia afectado pelos exageros do ar condicionado, que era forçado a alternar com o calor dos locais visitados onde era comum a poeirada e os fumos de pequenas fogueiras feitas com lixo. Quase toda a gente no meu grupo foi atingido, de uma forma ou de outra, por tosses e entupimentos respiratórios vários.
Agora que está na hora de encerrar este capítulo apetece, como sempre, o brilharete de uma síntese. Só que a Índia não é país para sínteses; é ao mesmo tempo exótico e familiar, uma espécie de matriz de onde viemos mas que hoje nos surpreende.
Confesso que me surpreendeu o "atraso" da Índia; não pode ambicionar grandes voos um país onde vacas e outras alimárias se passeiam pelas vias do tráfego (realizando o sonho da nossa ACAM), onde há esquinas de lixo a céu aberto, onde a religião impregna o dia-a-dia em vez de ser uma luz orientadora do destino.
A presença do islamismo, embora minoritária, é aliás uma fonte de tensão que se sente claramente. Pareceu-me que a influência cultural dos muçulmanos é maior do que os 15% que as estatísticas lhes atribuem.
Os invasores muçulmanos vindos do Afeganistão no século XVI dominaram a Índia, e a sua cultura milenar, até à chegada dos ingleses no século XIX. Ainda recentemente eu havia referido Akbar, o maior dos imperadores, sem saber que viria agora a estar no que resta dos seus palácios. Esse domínio deixou marcas profundas.
Os monumentos desse perído, fabulosos, estão em certos casos tão mal mantidos que emboram tenham poucas centenas de anos paracem muito mais arcaicos. Os monumentos hindus, muito mais antigos têm um encanto muito especial (As colunas de Qutub Minar, e os templos de Khajurao, por exemplo).
As infraestruturas são muito deficientes e limitam as possiblidades do turismo. É penoso gastar um dia inteiro para fazer um percurso de 300 km por estrada. O aeroporto de Delhi, onde aterrei uma vez e levantei duas vezes, é um caso sério de desorganização e de confusão. No regresso a Lisboa cheguei ao aeroporto às 23 para poder embarcar às três e meia da manhã.
Eu sei que há pólos de excelência, realizações importantes no plano tecnológico mas, pelo que observei em cerca de mil quilómetros de estrada, isso constitui uma gota num enorme oceano. Grande parte da população dedica-se à agricultura e há também centenas de milhões de pequeníssimos comerciantes.
Nas ruelas, à beira das estradas, por todo o lado estes pequeníssimos comerciantes encontram "loja" nem que seja um metro quadrado de solo. Este imenso bazar, que segue o padrão que também encontramos no magrebe, distingue-se pela sua esmagadora dimensão.
Se é verdade que nas imediações das atracções turísticas esses comerciantes terão possibilidade de fazer excelentes negócios já ao longo do país remoto, em pequeníssimas vilórias, não compreendo como pode ser rentável esta extensíssima rede comercial. Deve ser a minha noção de rentabilidade que não se aplica no caso em apreço.
Em conclusão e finalmente em síntese; eu consigo imaginar a China sem miséria daqui a 20 anos. A Índia não.
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Hora da publicação: 09:47 1 comentários
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sábado, março 15, 2008
Homenagem às mulheres indianas
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Como bom turista lá fui ver o maravilhoso Taj Mahal. Na verdade vi-o ao pôr do Sol, do outro lado do rio e depois ao nascer do Sol.
Na fase das fotografias para a posteridade dei com um grupo de jovens americanos que saltavam como possessos para tentar aparecer nas fotografias por cima do Taj Mahal. Enfim uma cena pouco edificante.
O Taj é sem dúvida um maravilha de equilíbrio e imponência.
Uma outra maravilha da Índia, que não posso calar, são as mulheres.
Trabalham como "moiras" mesmo quando são hindus mas os seus esvoaçantes saris têm sempre uma infinita elegância, quer trabalhem no campo, ou nas obras, ou noutra coisa qualquer.
Numa terra em tantos aspectos caótica e degradada as mulheres são um oásis de beleza e de serena força. Todas elas mereciam também um Taj Mahal.
Hora da publicação: 17:36 2 comentários
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quinta-feira, março 13, 2008
Khajurao, a veneração do sexo
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No caminho de Varanasi para Agra fiz uma paragem em Khajurao.
Nesta pequena cidade encontra-se um conjunto de monumentos muito especiais, classificados pela UNESCO como património da humanidade, construídos entre o século IX e o século XI.
Ricamente trabalhados em calcário têm vindo a desaparecer com a passagem do tempo mas ainda lá se podem ver interessante estatuária sobre as virtualidades do sexo. Aqui fica uma das muitas imagens que recolhi no local.
Hora da publicação: 17:53 0 comentários
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quarta-feira, março 12, 2008
Varanasi, a antiquíssima
Ontem à noite em Varanasi vi o maior caos de tráfego a que já me foi dado assistir em dias da minha vida. Burros, vacas, padiolas, riquexós, lambretas, automóveis e bicicletas aos milhares.
O que me perturba é pensar que este formigueiro se estende, neste país, a outras mil milhões de pessoas (um número que continua a crescer).
De barco percorri as margens do ganges, à noite e de madrugada, e presenciei as cremações como todo o bom turista. Confesso que os rituais funerários que vi no Nepal me impressionaram mais.
Em Varanasi estes cultos são antiquíssimos e o local é habitado há mais de três mil anos. O tempo aqui pesa.
Passámos num templo lindíssimo que está paredes meias com uma mesquita, acrescento colonialista posterior, que tem dado origem a muitos conflitos com os muculmanos. Havia tropa por todo o lado.
Hoje sigo para Khajurao.
Hora da publicação: 03:35 2 comentários
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segunda-feira, março 10, 2008
Fazer política "à vista" dos Himalaias
A um mês da votação que vai ditar o futuro da monarquia no Nepal pode dizer-se que os maoistas (ex-guerrilheiros) ganham de longe a guerra das pichagens em Katmandu.
Não consigo perceber se tal se deve apenas a uma grande militância, do tipo daquela que fazia o MRPP parecer um vencedor provável de todas as eleições.
Também ainda não consegui perceber se estes maoistas têm alguma relação umbilical com a China actual.
Hoje tive oportunidade de visitar uma zona rural, a 2000 metros de altitude, onde fui deparar com três aguerridos jovens que, de megafone em punho, tentavam ganhar os camponeses para a votação.
Não sei se tiveram sucesso mas a verdade é que encontrei o seu calendário em casas modestas e em pequenas tascas à beira do caminho.
P.S. Acabo de ver na BBC Internacional que os tibetanos se estão a levantar contra a China e que terá havido disturbios e confrontos com a polícia em Katmandu. Eu não dei por nada.
Katmandu, 10.03.2008
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Hora da publicação: 16:34 1 comentários
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domingo, março 09, 2008
Katmandu, Nepal
Cheguei ontem a este simpático (e pobre) país que está há algum tempo a tentar acabar com uma monarquia bastante odiada.
Pelo que me disseram haverá uma votação de tipo constitucional dentro de um mês para decidir mandar embora o rei que, neste momento, tem um poder muito limitado.
Nas ruas já se notam e vêem as campanhas que incluem um Partido Comunista, os guerrilheiros maoistas, socialistas, e um Partido do Congresso à semelhança do indiano.
O Nepal está entalado entre a Índia e a China e sofre óbvia influência dos dois.
A pobreza é de tal ordem que têm que desligar o fornecimento de luz à população durante 8 horas diárias.
Não tenho tempo para as montanhas e por isso ficarei pelas cidades e pelos espantosos monumentos e praças "medievais".
Até depois...
Hora da publicação: 13:24 0 comentários
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sexta-feira, março 07, 2008
Delhi_catessen
Cá estou eu em Delhi. A viagem de avião foi relativamente pacífica e não foi demasiado cansativa.
A cidade tem alguns monumentos notáveis com destaque, em minha opinião, para o recinto do Qutub Minar.
Mas o que deu mais gozo foi o passeio em riquexó por dentro do bairro muçulmano da velha Delhi. Uma viagem estonteante por dentro de um labirinto.
Delhi é enorme (14 milhões) e o trânsito não dá para explicar.
Acho que devíamos usar Delhi para a "formação" de duas entidades:
ASAE - Os agentes só deviam ser lançados em Portugal depois de um estágio a controlar o comércio e os restaurantes em Delhi
ACAM - Os fundamentalistas da estrada deviam ser amarrados dentro de um taxi em Delhi até jurarem não mais importunar os condutores portugueses.
É o meu primeiro dia na Índia mas já cheguei a uma conclusão: quando se mistura a China e Índia como países emergentes está a falar-se de duas realidades muito diferentes, tanto do ponto de vista económico como do ponto de vista cultural. A explicação fica para depois.
Hora da publicação: 17:37 1 comentários
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quarta-feira, março 05, 2008
Sergei Prokofiev
terça-feira, março 04, 2008
Sem comentários
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Chavez, durante o seu interminável programa televisionado "alô presidente", ordena ao seu ministro da defesa "mueva-me diez batallones a la frontera de colombia". O ministro levanta-se e acena com a cabeça, obediente, como se o tivessem mandado comprar um maço de cigarros.
Tudo decorre num ambiente que mistura os Gato Fedorento com a Igreja Universal do Reino de Deus. A plateia, quase toda trajando de vermelho, aplaude de vez em quando seja o que for.
E fico-me por aqui por receio de perder as estribeiras.
Hora da publicação: 08:12 1 comentários
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segunda-feira, março 03, 2008
O pedido de demissão de Sócrates está na ordem do dia
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O país assiste atónito ao afundamento da primeira maioria absoluta do Partido Socialista, apesar de na campanha eleitoral em 2005 Sócrates ter pedido a maioria absoluta como uma espécie de seguro contra a incerteza.
Passados três anos o PS não tem qualquer rival partidário que o atormente mas todos temos a sensação de que a sua capacidade para governar nos moldes que tinha anunciado é cada vez mais titubeante.
O ministro da saúde já foi despedido, sob um paradoxal coro de elogios à sua competência, e a ministra da educação vai segui-lo a muito curto prazo apesar de ser outro dos membros do governo que parece saber para onde quer ir.
O governo está cada vez mais enredado e manietado por forças contrárias que desafiam o conceito de democracia tradicional, talvez porque a maioria absoluta não dá muitas hipóteses à luta partidária convencional. Sucedem-se as campanhas mediáticas, as providências cautelares, os pedidos de demissão, as manifestações e as greves com laivos de desobediência civil.
Se isto fossem expressões genuínas de grandes massas do povo talvez tivéssemos razões para nos congratular mas as sondagens aí estão para nos mostrar que o governo continua a gozar de grande popularidade e, mais importante ainda, que a população não descortina qualquer alternativa credível no panorama partidário. Se todo este ruído é apenas a expressão de particularismos, jogos de interesses corporativos e aproveitamentos demagógicos, então talvez tenhamos boas razões para temer pelo futuro da nossa democracia.
Se aqueles que moram nos arredores de um SAP que se decidiu encerrar, ou os professores que não admitem ser avaliados, desfilando nas ruas, têm o poder de correr com os ministros de um governo que tem maioria na Assembleia da República, então o cidadão votante interrogar-se-á sobre a utilidade de visitar as urnas de quatro em quatro anos. Ninguém parece saber muito bem como gerir este equilíbrio entre a "legitimidade democrática" e os descontentamentos, quantas vezes desproporcionados, de grupos sociais que têm um enorme poder funcional. Em termos de crise de funcionamento da democracia é indiferente saber se a razão está do lado do governo ou de quem protesta nas ruas.
Neste quadro é legítimo desenvolver a seguinte antevisão para o período que nos separa das próximas eleições em 2009:
- as reformas desencadeadas pelo governo encontram cada vez mais obstáculos da parte daqueles que se consideram lesados (quaisquer que sejam as medidas que se tomem haverá sempre quem legitimamente possa invocar prejuízos)
- os ministros vão sendo substituídos por versões light que, de cedência em cedência, desbaratam o próprio sucesso obtido ao nível das contas públicas
- o PSD e o CDS, que actualmente são a principal fonte do anedotário nacional, bebem novo folego nos recuos do governo e renovam-se para as eleições.
- o PCP e o BE, que podem reclamar a parte de leão nas derrotas de Sócrates, vão para as eleições de 2009 em condições de roubar uma parte importante do eleitorado da esquerda do PS.
- as forças centrífugas no interior do PS, com destaque para Manuel Alegre, são aceleradas com efeitos imprevisíveis.
Quem olhe para esta descrição não poderá estranhar que Sócrates se demita e provoque eleições antes de 2009 já que a passagem do tempo lhe é desfavorável em todos os tabuleiros referidos.
O PS tem maior probabilidade de ganhar as eleições em 2008 do que em 2009 mas, como já se percebeu, ganhar as eleições não é tudo. Tal manobra, para além de aumentar as hipóteses de vitória nas eleições, destinar-se-ia também a referendar as reformas do governo e a desbaratar a oposição das classes profissionais e dos interesses regionais que a elas resistem.
Se ainda há salvação para Sócrates ela só poderá vir de um apelo dramático ao povo que assiste pela televisão à infindável guerra de trincheiras entre o governo, o poder judicial, os sindicatos e as autarquias.
Será que Sócrates tem a necessária coragem populista ?
Por ironia do destino, ou talvez não, três anos depois do derrube de Santana (também ele apoiado numa maioria absoluta) o populismo volta a ser o fantasma de Portugal.
Hora da publicação: 08:30 12 comentários
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domingo, março 02, 2008
Divertimento
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Acho que os tipos de Chipre nos passaram a perna. E de uma forma perfeitamente genial. De repente, chamaram a atenção da Imprensa internacional e o seu Presidente, de quem ninguém sabia o nome, transformou-se numa vedeta. A «Time», a «Newsweek», a CBS, a NBC, enfim todos os potentados internacionais da informação apontaram as baterias para o homem.
Porquê? Porque o tipo que eles elegeram é comuna.
Seis ideias para bater o comuna cipriota
1) Declaras-te também comuna; é um pouco «déjà vu», mas ainda tem o seu charme. Como és economista, dizes: estudei a fundo «O Capital», agora que sou Presidente e tenho tempo para estas coisas, e decidi, depois de muito pensar (as dúvidas ficam ao teu critério), aderir às teses do comunismo.
2) Declaras-te homossexual. Também faz muito efeito e é inédito ter um Chefe de Estado «gay». É de um domínio um pouco mais íntimo do que ser comunista mas, em contrapartida, é muito mais surpreendente e tem mais adeptos.
3) Mandas calar o Rei de Espanha numa cerimónia pública. É um pouco mal educadito mas teria ampla repercussão e cobertura, sobretudo na Venezuela, Cuba e esquerda folclórica. Os americanos vinham a correr.
4) Chamas estúpido ao Sarkozy em público e aguentas-te à bronca da resposta do homem. Seria uma loucura mediática, mas nada que não se resolvesse com um assessor recrutado no mercado do Bolhão.
5) Ou, melhor ainda, começas a namorar com a Carla Bruni (é difícil, mas se precisares de ajuda neste ponto, cá estou eu).
6) Tornas-te místico, vestes uma toga branca e vais viver numa gruta. É um sacrifício pessoal, mas também para o que comes, bebes e gozas a vida deve-te ser relativamente indiferente. E a CNN, a BBC e outras não resistiam.
Comendador Marques de Correia, Expresso 01.03.2008
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sábado, março 01, 2008
Acorda Europa
Pequim inaugurou o maior terminal aeroportuário do mundo.
O novo edifício foi concebido pelo arquitecto britânico Norman Foster e custou 2,7 mil milhões de dólares (1,77 mil milhões de euros), sendo a maior estrutura coberta do mundo.
O arquitecto britânico criou a obra à semelhança de um dragão gigante, com uma longa cauda e clarabóias de formato triangular que lembram as escamas da mítica criatura e permitem aproveitar ao máximo a luz natural e conservar o calor.
Foster utilizou vidro e aço para a estrutura em forma de "I" e recorreu à alta tecnologia para unir elementos arquitectónicos tradicionais chineses, como as colunas vermelhas e o tecto curvilíneo dourado que evocam os palácios imperiais da China.
A estrutura colossal é mais uma obra de escala e números impressionantes, das várias que a China tem vindo a construir para modernizar a capital chinesa para os JO de Pequim.
O edifício estende-se por 3,25 quilómetros e ocupa 986 mil metros quadrados, o equivalente a 170 campos de futebol.
As pistas estão desenhadas para receber o A380, o gigante da construtora aeronáutica europeia Airbus, e o controlo das bagagens é realizado pelos sistemas de tecnologia mais avançada.
Nas instalações, os passageiros terão acesso a mais de 64 restaurantes chineses e ocidentais e mais de 90 lojas, e poderão chegar ao centro da cidade através de um comboio de alta velocidade.
O terminal levou quatro anos a ser construído, com 50 mil operários a trabalhar na obra.
Três pessoas morreram na construção, confirmaram as autoridades chinesas.
O mega-terminal vai permitir um trânsito de 76 milhões de passageiros por ano, ultrapassando os 53,7 milhões que circularam em 2007 pelo aeroporto de Pequim, um dos dez mais movimentados do mundo.
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