Também já tive os meus cinco minutos de glória.
Precisamente em Agosto de 1967.
Fui colega, na revista "Equador", de nomes como Alexandre O'Neal, Eduardo Prado Coelho e outros que hoje veneramos. De todos eles só conhecia, e convivia, com o musicólogo e professor Mário Vieira de Carvalho (M.V.C.), dois anos mais velho do que eu e a quem, nesses tempos de juventude, chamávamos "Vieirinha".
A revista "Equador", obra do Diamantino Ramos de Almeida (que nunca mais vi), desapareceu logo a seguir. Pertencia à numerosa família das que só publicam o primeiro número.
A minha participação na revista, a convite do Diamantino, consistiu em figurar na capa e escrever um artigo sobre a história do cineclubismo (coisa em que então, nos meus 21 anos, estava envolvido).
A fotografia da capa (sou o da direita) foi feita em casa do arquitecto Sardinha, algures no largo da Graça. O Sardinha é o da esquerda e abarbatou-se ao cachimbo privando-me assim da farda de intelectual (que eu realmente praticava).
O texto que publiquei na "Equador" acerca do cineclubismo foi uma solução de recurso já que o convite inicial visava um poema; quando o material foi sujeito ao visto prévio da censura o meu poema foi alvo do lápis azul e teve que ser substituído.
A revista tinha tido uma longa e conturbada génese. Foi uma realização fantástica se considerarmos a época em que ocorreu, com todo o tipo de dificuldades económicas e políticas.
Quando o Diamantino anunciou as suas intenções no café Chaimite, à Paiva Couceiro, onde eu o tinha conhecido, o grupo de jovens a que pertencíamos considerou o projecto improvável.
O Diamantino Ramos de Almeida, a que toda a gente se referia como "o Doutor", trajava sempre um fato cinzento e gravata escura. Sofria de uma obscura doença (constava que se tratava de coreia) que se manifestava por movimentos bruscos e pouco controlados. Falava com dificuldade o que se notava nos movimentos do pescoço e no esgar facial na emissão das palavras.
Ou nunca soube, ou então não me lembro, por que razão lhe chamavam doutor.
À medida que o tempo ia passando sem que a revista saísse o maralhal, quase tudo estudantes universitários, foi subindo de tom na ridicularização do projecto. A coisa só não era mais achicalhante por beneficiar, o "Doutor", de consideração e estima geral.
E pronto, em Agosto de 1967, a "Equador" apareceu e com isso o Diamantino deu uma enorme lição aos seus detractores.
Um mês depois eu fui para a Marinha, e depois para a guerra da Guiné, e não tornei a ver o Diamantino. Restou-me um exemplar, certamente raro, da revista "Equador".