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Ouvi hoje na televisão, mas não consegui encontrar o registo vídeo destas declarações, por isso reproduzo-as como vêm noticiadas pela Lusa:
“Lisboa, 31 Maio (Lusa) - O presidente demissionário do PSD, Luís Filipe Menezes, criticou hoje a "canalha" que lhe fez "a vida negra" e que "não tem carácter", lançando um duro ataque a Pacheco Pereira, apoiante de Manuel Ferreira Leite.
"Vou mostrar logo à noite [quando forem conhecidos os resultados] como sou diferente dessa canalha que me fez a vida negra, que não tem carácter", disse, adiantando que o grupo a que se referia inclui "pessoas como aquele senhor de barbas que participa na Quadratura do Círculo", numa alusão a Pacheco Pereira, apoiante de Manuela Ferreira Leite e um dos mais ferozes críticos da presidência do autarca de Gaia.
Questionado pelos jornalistas hoje de manhã em Gaia após votar nas directas do PSD, Menezes afirmou que respeitará "os resultados [das directas] sejam eles quais forem".
A propósito, criticou os "tristes, infelizes e barbaramente obcecados" que quando foi ele eleito para a presidência do partido não tiveram a mesma atitude.
"Não pertenço a essa laia", salientou.”
Que eu, um simples mortal, chame canalha a alguém, e há uns que bem merecem, vá que não vá. Mesmo assim, que eu me recorde, não utilizei ainda esta “bonita expressão” na net. Que o Sr. Filipe Menezes chame canalha ao Pacheco Pereira, com todas as letras e em canal aberto, é um espanto. Assim vai este PSD, que em tempos pretendeu ser comandado por dois miríficos políticos nacionais, os Srs. Sá Carneiro e Cavaco Silva.
sábado, maio 31, 2008
Vai bonito o insulto no PSD
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We are the world
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Ontem um amigo enviou-me este video da célebre gravação que eu não ouvia há anos e que, no fim dos anos oitenta, pela constante repetição quase se tornou insuportavel. Agora achei empolgante.
Hora da publicação: 00:34 0 comentários
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sexta-feira, maio 30, 2008
O sexo dos anjos
Hora da publicação: 15:19 0 comentários
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EU NÃO VOU
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Julgo que os protestos deviam também ser contra os impostos elevadíssimos e o que eles representam. Ainda assim penso que este movimento colectivo, independentemente dos resultados, é um bom exercício.
Hora da publicação: 08:47 1 comentários
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Sessão festa no Teatro da Trindade promovida pela esquerda plural
Hora da publicação: 02:24 1 comentários
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quinta-feira, maio 29, 2008
Foi você que pediu um Berlusconi ?
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Tem vindo a ser anunciada uma "festa/sessão", com base num "Apelo" rubricado por um vasto conjunto de personalidades que incluem Manuel Alegre, Francisco Louçã e ex-PCPs. Terá lugar no Teatro da Trindade no dia 3 de Junho.
Depois da decadência dos partidos do centro - PSD e PS - estamos agora perante um típico fogacho do esquerdismo oportunista que, como de outras vezes na história, pode vir a ser antecâmara de ditaduras da direita. Quando o povo tiver perdido totalmente a confiança nos partidos “moderados”, sujeito a grandes dificuldades diárias, os pretextos proporcionados por tiradas extremistas farão surgir, do nada, um Berlusconi português ou, quem sabe, um Salazar da era digital.
O problema desta gente, que as sondagens animam, é que não faz os trabalhos de casa; não tem qualquer ideia prática sobre a forma de realizar a justiça que reclama. Nesse aspecto vale mais o Jerónimo, e a sua União Soviética “que ainda há-de vir”, pois ao menos sabe-se do que estamos a falar.
Eles pensam que basta cavalgar as últimas estatísticas sobre a pobreza, mas disso até o Santana Lopes já se tinha lembrado. Não vamos lá com descrições inflamadas da miséria que não são mais do que um disfarce da miséria das alternativas.
O que importa é inventar e preparar um novo mundo que funcione, que convença a maioria, em vez de organizar "AGORA AQUI" festas e sessões à babugem das eleições que se aproximam.
Hora da publicação: 16:47 16 comentários
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O PSD a passos de coelho
O PSD, e as eleições dentro do PSD, são também o lado lúdico da política. Dão a possibilidade aos portugueses de se divertirem a apostar num possível vencedor quando, em boa verdade, não sabem muito bem o que pensar daquela trapalhada.
Eu aproveito esta oportunidade para "jogos de azar" e aposto em Passos Coelho. Porquê ? Porque acho que o PSD tem uma necessidade absoluta de fingir que vai começar tudo de novo.
Além do mais é um candidato fotogénico que as senhoras gostarão de ver em despique, civilizado, com o nosso engenheiro Sócrates.
Foi também o único que fez uma proposta diferente e em que toda a gente reparou: a redução dos impostos. Mais vale parecer irresponsável do que parecer irrelevante.
Hora da publicação: 08:55 3 comentários
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quarta-feira, maio 28, 2008
Duas novas revistas on-line
A primeira é a edição portuguesa da célebre revista marxista norte-americana Monthly Review, fundada em 1949, por Paul M. Sweezy (ver fotografia aqui ao lado), em colaboração com Leo Huberman. O primeiro foi um dos mais reputados estudiosos, do ponto de vista marxista, do desenvolvimento do capitalismo e do imperialismo. Qualquer deles já falecido.
O sumário do primeiro número é o seguinte:
Estados Unidos da insegurança, entrevista com Noam Chomsky
A crise alimentar mundial, Fred Magdoff
O colapso do subprime, Karl Beitel
Sweezy em perspectiva, John Bellamy Foster
Este último o seu actual director.
Quanto à segunda revista, que será editada simultaneamente com a anterior, é uma revista portuguesa, que se chama Shift – revista do pensamento crítico radical. É dirigida por Fernando Ramalho e com um conselho redactorial formado Bernardino Aranda, Fernando Ramalho, Paulo Fidalgo, Ricardo Noronha e Rui Duarte. O primeiro número tem como título geral O fim do neoliberalismo ou a segunda morte de Milton Friedman.
O sumário deste número é composto pelos seguintes artigos:
Editorial: Das últimas ilusões à vida imprevisível, Fernando Ramalho
O financeiro contra o económico, Carlos Pimenta
Mecanismos de formação das crises económicas, Guilherme da Fonseca-Statter
Poder mundial e dinheiro mundial, Robert Kurz
Recensão: Socialismo sem dogma, Ricardo Noronha
Pelo exposto parece-me pois que valerá a pena a consulta ao site da editora, sendo possível a partir daí, desde que nos registemos, obter gratuitamente o primeiro exemplar de cada uma delas.
Desejo pois às duas grande sucesso .
Hora da publicação: 17:07 0 comentários
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Combustíveis e luta de classes
Nicolau Santos produziu no Expresso uma síntese excelente:
Ou seja, acabou a comida barata, a energia barata, os combustíveis baratos ou a água barata. Por outras palavras: bens democráticos, a que a generalidade dos cidadãos tinha acesso, como a água, pão, electricidade, gasolina ou gasóleo estão a tornar-se bens de luxo ou quase, a que cada vez terão mais dificuldade de acesso as classes médias e de menores rendimentos.
As consequências também serão várias - e todas elas potencialmente explosivas, porque a fome, a sede e a miséria não são boas conselheiras. A primeira é que a possibilidade de violentas convulsões sociais, com impactos fortíssimos a nível político e mesmo riscos para os sistemas democráticos é fortíssima. A segunda é que, à luz da História, situações destas acabam por resolver-se através de conflitos bélicos mundiais, que dizimam milhões de pessoas e reequilibram as condições de vida no planeta.
Como é possível que o governo português ainda recentemente tratasse a questão dos combustíveis como uma birra dos condutores mal habituados, subordinada em termos de importância ao equilíbrio orçamental ? Onde estão as previsões e as medidas preventivas que seriam de esperar de um governo responsável ?
Como se explica a resignação e passividade da Europa perante o encarecimento acelerado de produtos de que dependem os seus mais básicos padrões de vida, ao ponto de ter que ser acordada por um Manuel Pinho ansioso por encontrar bodes expiatórios ?
São todos incompetentes e irresponsáveis ou há outras explicações para este fenómeno ?
Convém talvez compreender que, mesmo dentro de um país como o nosso, nem todos são afectados da mesma forma e alguns até podem sair beneficiados destas crises. Quem exporta para Angola e é pago pelos rendimentos do petróleo talvez não tenha razões de queixa, ou quem é accionista da Galp, ou quem exporta para a Venezuela às cavalitas do governo de Sócrates, ou quem tem sempre os combustíveis, e não só, pagos pela empresa ou pelo Estado.
Esta questão dos preços do petróleo, do crédito e dos produtos alimentares pode afinal ser, no essencial, mais uma forma de certas classes expoliarem outras.
Também ao nível internacional, nomeadamente na Europa e EUA, conviria perceber quem ganha e quem perde com este terramoto. Para sabermos se estamos perante aprendizes de feiticeiro que jogam um perigoso xadrez contra as potências emergentes, em que as peças são poços de petróleo e mísseis nucleares.
Hora da publicação: 12:40 1 comentários
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O exagero militante
O Daniel Oliveira, no seu blogue Arrastão, usou este boneco para promover uma campanha de boicote à GALP e outras gasolineiras.
O que o pobre do homem não podia prever, ele que tem sempre posições tão politicamente correctas, é que iria ficar sob a alçada da ASAE "anti-homofóbica".
A sugestão do sexo anal como uma coisa dolorosa, que a imagem aparentemente contém, foi detectada pelos sempre vigilantes fiscais.
Os comentários ao post no Arrastão têm vindo a transitar da questão dos combustíveis para a obsessão "anti-homofóbica", numa ilustração do exagero militante em que hoje vivemos.
De que lado está afinal a intolerância ?
Hora da publicação: 09:32 1 comentários
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terça-feira, maio 27, 2008
Assaltar ou possuir uma gasolineira ?
No Água Lisa pode ler-se um texto de João Tunes que explica:
Para segurança energética nacional, prevenindo uma calamidade em que o petróleo momentaneamente “desapareça” do mercado, há muitas décadas que o Estado português, como a maioria dos Estados, impõe à aprovisionadora e refinadora nacional (Galp) um stock de segurança que permita haver refinação e abastecimento do mercado nacional mesmo que durante alguns meses o país se veja privado da capacidade de se abastecer de petróleo bruto. São quantidades enormes que a Galp é obrigada a aprovisionar em permanência (o que nada tem a ver com uma gestão de stocks caso a companhia não tivesse o constrangimento imposto) e cujo custo de imobilização é enorme. Como a reposição de stocks é automaticamente obrigatória para manter o stock de segurança, se saem 100 toneladas para refinar, têm de entrar 100 toneladas para armazenar. Assim, em conta corrente, a companhia refinadora está sempre a comprar a preços do momento pelo menos a quantidade de produto que está a ser comercializada. E, em termos práticos, podendo estar a refinar produtos a “preços anteriores” (e inferiores), em custo de matéria-prima nas contas globais, é como se cada partida que sai para os postos de abastecimento tivesse sido refinado com o petróleo do “último preço” (pois o que se escoa do stock em refinados é compensado imediatamente no stock de matéria-prima com crude ao preço do momento).
Ou eu estou completamente baralhado ou isto é uma falcatrua. Como os preços estão sempre a subir cada lote é sempre vendido como se tivesse custado muito mais caro do que custou na realidade.
Porque não vendem cada lote de acordo com o custo que teve ou, na pior das hipoteses, ao preço médio do stock em cada momento ?
Parafraseando Brecht: qual é a diferença entre assaltar uma gasolineira e possuir uma gasolineira ?
Hora da publicação: 18:28 0 comentários
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As alternativas de André Freire
André Freire publicou ontem um texto com título prometedor, " Crise do capitalismo neoliberal: alternativas". Respigo do Público:
Vivemos de novo a "estagflação", agora sob a hegemonia do neoliberalismo. Estaremos de novo em fase de mudança de paradigma? No artigo citado, expressei algum cepticismo e preocupação: "O nosso (do Ocidente, da Europa, do mundo) maior problema é a dificuldade em se afirmarem alternativas ao capitalismo neoliberal." Exemplifiquei com um editorial de Manuel Carvalho (PÚBLICO, 6/04/08), no qual este reconhecia os males do capitalismo desregulado, mas, simultaneamente, não perspectivava quaisquer alternativas. Prometi, por isso, reflectir sobre as alternativas: é o que venho fazer, de uma forma necessariamente esquemática e nada exaustiva.
Mostra duas coisas:
(1) condescendência para com o capitalismo tout court que parece só incomodar quando se constipa com alguma "selvajaria"
(2) falta de trabalho para compreender os mecanismos próprios do capitalismo na sua forma actual já que o concebe como uma aberração
Por isso André Freire termina a sua "reflexão" no mesmo ponto onde a começou:
Perante os sucessivos problemas do capitalismo desregulado, é urgente pensar nas alternativas. O jornalismo de referência tem aqui um papel fundamental, caso contrário estará a funcionar, voluntária ou involuntariamente, como um mero reprodutor das ideias dominantes. Mas os cientistas sociais que não se revêem no mainstream neoliberal têm também uma certa responsabilidade na fraca divulgação destas alternativas: mais empenhamento cívico precisa-se! As alternativas podem ser de difícil exequibilidade, sobretudo no curto e médio prazo, pois implicam uma alteração nas orientações políticas das grandes potências e das instituições internacionais (UE incluída), mas existem. Mais, ou reflectimos sobre elas e pensamos nas vias mais curtas e pragmáticas para a sua implementação, ou corremos o risco de, perante uma recessão mais cavada ao nível mundial, se entrar numa profunda deriva proteccionista e, quiçá, num novo conflito bélico mundial.
segunda-feira, maio 26, 2008
O valor da mobilidade
Continua na ordem do dia a discussão a propósito do abaixamento do imposto sobre os combustíveis (ISP) que agora até já divide os candidatos à presidência do PSD.
Aqui ficam alguns contributos para quem queira formar opinião:
1. A utilização da gasolina e do gasóleo não são exclusivo dos "irresponsáveis ecológicos" que se entretêm a dar umas voltas com a namorada, como o governo dá a entender.
Milhões de trabalhadores, de todos os níveis salariais, dependem todos os dias dos seus automóveis ou dos autocarros e outros transportes públicos que funcionam com combustíveis derivados do petróleo.
Há também um gigantesca cadeia logística que chega a milhares de vilas e aldeias, ao longo do território, que leva os jornais, o correio, os medicamentos e as mercadorias e trás de lá tudo o que os seus habitantes pretendam enviar para o mundo.
2. Ao contrário do que irresponsávelmente se pretende fazer crer a situação descrita anteriormente não é passível, a curto ou médio prazo,de ser substituída por outra muito mais favorável do ponto de vista energético (o que não significa que os esforços para tal não devam fazer-se desde já).
Se todos os utentes de carro próprio decidissem de um dia para o outro passar a usar os transportes públicos nas grandes cidades o caos resultante demonstraria como tais teses são descabeladas.
O mesmo se passa com a rede logística pois a esmagadora maioria das povoações não é servida por qualquer transporte alternativo.
Ao contrário do que insinua o governo, o cidadão comum não tem realmente o poder de decidir, num acto de abnegação, salvar o país através da mudança dos seus "reprovaveis" hábitos.
3. Perante a escalada dos preços do crude os países que continuam a depender do petróleo em larga escala são obrigados a transferir uma parte crescente da sua riqueza para quem o comercializa. É uma inevitabilidade.
Se para além disso o Estado, nesses países, sobrecarregar o preço já de si elevado dos combustíveis com alcavalas e impostos então, para além do empobrecimento acima referido, haverá um outro resultante da perda de competitividade internacional e do definhamento da economia respectiva.
Em termos comparativos os produtos de cada país irão reflectir o peso dos derivados do petróleo na sua estrutura produtora e distribuidora. Das fábricas sairão produtos mais caros e o transporte desses produtos até aos clientes, nacionais ou internacionais, aumentará ainda mais a diferença para os seus concorrentes.
Ou seja, pode haver países que não sendo produtores de petróleo apesar disso beneficiem do agravamento dos preços. O exemplo da Espanha e de Portugal, com níveis de impostos bastantes diferentes, ajuda a perceber esta ideia.
4. A mobilidade é a circulação sanguínea da economia mas também da vida em sociedade e condição das liberdades individuais. Não é admissível o cenário das populações acantonadas nas suas vilas e cidades, num retorno à idade média, com trocas esporádicas e voltando cada um a viver do que produz. Mas também não se podem tornar inviáveis as viagens com o intuito de ver espectáculos, receber formação ou conhecer novas experiências.
Ao pôr em causa a mobilidade piora-se também as condições, económicas e outras, que deveriam propiciar o desenvolvimento de energias alternativas.
5. A mobilidade é um bem que tem que ser absolutamente preservado, mesmo que o Estado tenha que sacrificar algumas outras das suas funções menos importantes.
Quando a mobilidade estiver em causa pelo facto de o Estado precisar dos impostos que cobra na venda dos combustíveis então isso significa, provavelmente, que o Estado está a gastar demais ou a gastar mal; que o Estado está a viver acima das suas possibilidades.
Quadro publicado no blogue "Fumaças" em 26.05.2008
Hora da publicação: 16:35 2 comentários
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sexta-feira, maio 23, 2008
Nightwatching
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O novo filme de Peter Greenaway é uma longuíssima dissertação sobre as relações entre a arte e o poder. Mostra o famoso quadro de Rembrandt "A Ronda da Noite" não como o desfile prazenteiro de uma confraria mas como a denúncia, pelo pintor, de lutas intestinas sustentadas por crimes. Denúncia pela qual paga um elevado preço.
A arte e o poder - e o poder da arte- num filme esteticamente impressionante.
O filme assume uma actualidade insuspeitada quando a sociedade holandesa do Século XVII nos é mostrada na sua faceta marcadamente mercantilista; uma sociedade onde tudo parece ter um preço e onde tudo se paga.
A demagogia nos combustíveis
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"Utilizar o dinheiro de todos os portugueses para financiar a gasolina já se fez no passado, mas com consequências horríveis para a economia portuguesa. Isso é transferir (o peso do custo da gasolina) do consumidor para o contribuinte", afirmou o chefe do Executivo, invertendo papéis para perguntar aos jornalistas: "Acham bem que quem não tem carro financie a gasolina?".
Sócrates está a "ver o filme ao contrário" e a ser demagógico. Não se trata de pôr quem não tem carro a financiar a gasolina. Quantos portugueses que não têm carro pagam realmente impostos ? Os cidadãos que usam automóveis é que são tratados e taxados como nababos ou delinquentes. A verdade é que quem compra gasolina está a pagar um imposto especial, enorme, para alimentar a celulite do Estado.
Sócrates já devia ter percebido que hoje a gasolina é um artigo de primeira necessidade, que ter carro não é nenhum acto sumptuário. Os mais abastados até têm muitas vezes a gasolina paga pelas empresas (ou pelo ministério no caso de Sócrates), que depois "reflectem" os custos sobre os consumidores (o famoso mexilhão).
Os combustíveis são aliás um produto que, ao aumentar de preço, acaba por se repercutir no nível geral de preços ao consumidor, incluindo nos transportes públicos. Por isso afecta toda a gente mesmo os tais "que não têm carro". Mas os que têm carro e não têm a gasolina "à borla" sofrem duplamente; quando enchem o depósito e também pelo aumento do preço de todos os outros produtos.
Por isso o governo devia estabelecer um limite para o preço da gasolina no retalho e garanti-lo durante pelo menos um ano através das reduções que fossem necessárias do Imposto sobre Produtos Petrolíferos. Mais tarde ou mais cedo será obrigado a fazê-lo sob pena de rupturas sociais e de insuportáveis limitações à mobilidade de consequências inimagináveis. Os cidadãos já apertaram o cinto suficientemente, agora é a vez do Governo reduzir as despesas para evitar a progressiva paralização do país.
Em paralelo é necessário garantir condições práticas para reduzir aceleradamente a "dependência do crude". Isso é que devia estar a ser discutido, e feito, neste momento.
Hora da publicação: 00:05 1 comentários
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quinta-feira, maio 22, 2008
Os monstros que vivem dentro de nós
Hora da publicação: 12:49 0 comentários
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quarta-feira, maio 21, 2008
Quem é Ricardo?
Curta-metragem de José Barahona, com argumento e diálogos de Mário de Carvalho, sobre um interrogatório na PIDE
Hora da publicação: 12:06 0 comentários
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terça-feira, maio 20, 2008
50º Aniversário da Candidatura de Humberto Delgado a Presidente da República
Hora da publicação: 22:50 1 comentários
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Reflexões em aberto sobre o Maio de 68
Hora da publicação: 01:05 4 comentários
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segunda-feira, maio 19, 2008
Barco com água abastece Barcelona
A seca na cidade de Barcelona é tão forte que já obrigou ao recurso a um barco com água para abastecer a população. As barragens estão vazias, apesar de alguma chuva que caiu em Abril.
As chuvas da Primavera permitiram que as barragens estejam agora com cerca de 25% da sua capacidade preenchida, mas estão muito longe de poder fazer face às necessidades da cidade. O Verão deverá ser bastante quente e seco, segundo as previsões meteorológicas, pelo que medidas de emergência começam já a ser tomadas. As autoridades têm feito campanhas apelando ao uso racional da água por parte dos consumidores, mas o carregamento de 19 toneladas trazidas por barco de Tarragona acabou por ser uma medida inevitável para fazer face à uma das piores crises de abastecimento desde 1953.
"Se não chover e se não forem encontradas soluções, Barcelona vai sofrer com cortes de fornecimento de água. Mas por agora, parece que as medidas que estão a ser tomadas vão ser eficazes", disse Jordi Campillo, vereador para o ambiente.
Os 5,5 milhões de habitantes da cidade deverão poder contar até ao Verão com mais dez carregamentos de água, que custarão cerca de 40 milhões de euros. O governo está a construir uma fábrica de dessalinização de água do mar, que será a maior da União Europeia e que deverá estar operacional em Maio de 2009. Estima-se que possa fornecer 20% da água necessária a Barcelona e será a primeira de várias a construir por toda a Espanha.
Esta notícia sobre uma das cidades mais bem geridas da Europa, ou com fama disso, leva-me às seguintes questões:
- Se isto se passasse em Portugal estaríamos certamente a ouvir um coro de vozes clamando contra a nossa impreviência e falta de planeamento.
- Por falar em Portugal, qual é a probabilidade de se verificar uma situação equivalente ? Será que devíamos começar já a planear centrais de dessalinização ?
- Estaremos a fazer tudo para proteger e potenciar as nossas reservas (pelos vistos estratégicas) de água ? Onde se meteram os adversários do Alqueva ?
Hora da publicação: 13:31 4 comentários
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domingo, maio 18, 2008
Uma escala inimaginável
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Temos dificuldade em imaginar a escala do desastre ocorrido na China. Dezenas de milhares de mortos confirmados e outros tantos ainda soterrados, quatrocentas barragens afectadas, um milhão de pessoas em fuga para escapar às enxurradas, cinco milhões de pessoas desalojadas.
A sorte dos que sobreviveram foi terem nascido num país como a China. De outro modo o número de vítimas ainda continuaria a aumentar durante muito tempo.
Hora da publicação: 13:25 1 comentários
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sábado, maio 17, 2008
O gigante tem pés de barro ?
As imagens televisivas do terramoto na China têm-me comovido. Não só pelos dramas pessoais mostrados mas, essencialmente, pela admirável mobilização de meios para o salvamento.
Talvez só a teimosia disciplinada dos chineses permita uma tal dimensão. O regime político chinês, goste-se ou não, também garante uma enorme rapidez, sem controvérsias, na mobilização dos meios que em termos humanos são avassaladores.
A aparente facilidade com que o terramoto destruiu cidades inteiras é um claro sintoma da "pressa" com que a modernização da China tem sido feita. O gigante tem pés de barro ?
Hora da publicação: 08:40 1 comentários
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sexta-feira, maio 16, 2008
Os novos cruzados
Fernanda Câncio publicou hoje no DN um texto intitulado "O que há num nome" em que empunha garbosamente a bandeira dos direitos dos homossexuais.
A verdade é que, pelo exagero e pela argumentação descuidada, acaba por prestar um mau serviço à causa que julga defender.
Confunde, com evidente prejuizo, (1) a reivindicação dos homossexuais serem tratados como qualquer outro cidadão, sem discriminações, com (2) a questão do que pensam os portugueses sobre o fenómeno da homossexualidade.
Qualquer pessoa bem formada aceitará sem dificuldade a reivindicação (1) mas quanto ao resto haverá certamente uma grande dispersão e muitas opiniões "negativas".
Haverá quem considere a homossexualidade uma espécie de doença, ou uma moda chic, ou um vício; haverá quem pense que se nasce gay e quem pense que trata de uma escolha livre, condicionada ou não por misteriosas "predisposições"; haverá quem a julgue prejudicial à sociedade e quem pense que é uma opção do foro íntimo que como tal deve ser respeitada.
Na falta de uma explicação "científica" para o fenómeno da homossexualidade fica aberto um extenso campo para a especulação, situado no plano da liberdade de pensamento que, tal como a liberdade dos homossexuais, tem que ser respeitada. O que pode e deve ser exigido, independentemente do que cada um pense acerca da homossexualidade, é que respeite sem excepções os direitos dos seus concidadãos.
Portanto não é sequer inteligente exigir que, para além de respeitar os direitos de cidadania dos homossexuais, se tenha também que considerar a homossexualidade "correcta" (seja lá isso o que for), ou aprová-la de alguma forma. Essa fasquia tão alta invade a liberdade de pensamento e reduz a base de apoio das medidas necessárias para protecção dos direitos dos homossexuais.
Quer a Fernanda Câncio queira quer não há muitos milhares de cidadãos que, embora não "aprovando" as práticas homossexuais, respeitam sem reservas os que as adoptam. E não são nenhuns energúmenos.
O mais grave do artigo de Fernanda Câncio é o que ele revela de intolerância perante opiniões diferentes, o espírito de cruzada de quem está na posse de uma verdade inquestionável, que é o primeiro sinal do fanatismo. Quem é que ungiu a Fernanda, que ciência lhe foi revelada para se permitir tratar como idiotas os que não pensam como ela. Episódios recentes, de contornos inadmissíveis, em que Fernanda Câncio surgia no papel de vítima deviam talvez ter-lhe ensinado a prezar o respeito pelos outros.
Infelizmente hoje qualquer neófito na luta pelas liberdades, quando o faz com exagero e espavento, pensa que isso lhe dá o direito de classificar, a torto e a direito, a sinceridade democrática, a pureza de esquerda e a coerência revolucionária dos outros.
Hora da publicação: 19:59 4 comentários
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Coisas de que nem sempre nos lembramos
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"O nosso mundo duplicou com a abertura da Índia e da China. Desde há anos que este processo se iniciou, mas o seu impacto tem sido especialmente sentido nos últimos dez anos.
A abertura dos países asiáticos duplicou, sensivelmente, a população do nosso "mundo económico". São países com uma mão-de-obra abundante, embora pouco sofisticada, e escassez de capital, incluindo capital humano (ou trabalhadores especializados). Ou seja, a nível mundial, duplicou a oferta de mão-de-obra e aumentou a procura de capital e de pessoas muito qualificadas (nomeadamente, dos executivos). Se a oferta global do factor trabalho aumentou drasticamente, então a pressão sobre a baixa dos salários será também muito grande nas economias mais desenvolvidas. Simetricamente, a forte escassez de capital e investimentos e, acima de tudo, de pessoas altamente qualificadas faz subir a sua remuneração pela pressão no mercado.
A primeira implicação da "duplicação do mundo" é uma forte redistribuição do rendimento dentro de cada país. No mundo ocidental, há uma clara estagnação salarial e as remunerações do capital (incluindo o capital humano) têm subido significativamente. Em certo sentido, deste lado do mundo, os mais educados e mais ricos ficaram ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres.
No entanto, do outro lado do mundo, na China e na Índia, os salários têm aumentado e a pobreza tem diminuído, de forma sustentada e significativa. Os efeitos são, assim, exactamente simétricos no Ocidente e no Oriente.
Há também alterações nos preços dos bens: os bens industriais pouco sofisticados, intensivos em mão-de-obra menos qualificada, têm baixado de preço de forma muito clara. Da torradeira à televisão, os preços de hoje seriam impensáveis há dez anos. E, dentro em pouco, o preço de um carro utilitário e estandardizado irá pelo mesmo caminho. Tudo isto é positivo para todos os consumidores. Como os asiáticos têm melhorado a sua situação económica, deixando de passar fome, os preços dos bens alimentares têm subido (também por isso) de forma muito acentuada. Com a economia mundial a crescer a taxas nunca observadas, devido aos países asiáticos, o preço da energia tem igualmente aumentado. Estes efeitos podem ser desagradáveis mas acontecem por boas razões. "
Estas frases extraídas do artigo de Luís Campos e Cunha "O mundo duplicou", publicado no Público de 16.05.2008, mostram que estamos numa época em que, pela primeira vez na história, é obrigatório olhar para o mundo como um todo.
Infelizmente quer a política quer a cultura ainda não se abriram ao universalismo e continuamos todos a funcionar com base em particularismos e capelinhas.
Por outro lado, em termos médios, este novo mundo económicamente integrado "regrediu" para um tipo de sociedade industrial que a Europa, por exemplo, tinha ultrapassado há décadas. Voltou a formar-se um gigantesco proletariado industrial e uma aparentemente inesgotável reserva de mão de obra barata. Mas esta "sub-revolução industrial", que ocorre em plena era digital, não será uma simples cópia das anteriores.
Mais depressa do que julgamos centenas de milhões de seres humanos, culturalmente muito diversos, deixarão de ser apenas "comedores de arroz" e entrarão nos mercados da arte, do turismo e do entertenimento. As consequências são incalculáveis.
Hora da publicação: 08:51 0 comentários
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Então o que é que fica ?
Hora da publicação: 00:36 0 comentários
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quinta-feira, maio 15, 2008
Chavez, sempre inspirador
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O novo avião de Sócrates
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quarta-feira, maio 14, 2008
A cor do horto gráfico
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Esta coisa do Acordo Ortográfico parece-me ser mais um não-problema.
Como quase tudo no nosso país está a ser tratado como uma disputa entre claques.
Depois de ouvir e ler muito sobre o tema cheguei à conclusão de que não virá ao mundo nem grande bem, nem grande mal, por causa deste acordo.
Ele é fundamentalmente um sinal diplomático, um gesto simbólico com o qual eu estou totalmente de acordo. É preciso pensar largo, universalmente, tendo sempre em mente a comunidade mundial dos falantes.
Depois há um outro nível de irrelevância da ortografia. Trata-se de uma “lei” sem sanções. Passada a fase dos ditados escolares cada um escreve como calha e não sofre qualquer sanção por isso. Até nos meios de comunicação e nos documentos oficiais podem encontrar-se "variações" ortográficas que não invalidam as notícias nem os contratos.
No plano da comunicação pode argumentar-se que algumas regras têm que ser respeitadas sob risco da incomunicabilidade. Mas também é verdade que certas manipulações da ortografia enriquecem a comunicação, em vez de empobrecer, pela sugestão de novas semânticas.
O mesmo se passa aliás com a sintaxe que, a ser sempre respeitada, limitaria gravemente a linguagem poética.
Num mundo ideal cada pessoa deveria, em cada momento, ter liberdade para gerir a sua comunicação através do equilíbrio entre a inteligibilidade, a ortografia criativa e a linguagem poética. A “ortografia oficial” seria usada nos documentos formais ou de carácter científico.
Estas dissertações foram desencadeadas pelo texto de Rui Tavares no Público de 14 de Maio (ver aqui), que recomendo, intitulado "Uma boa decisão". Diz ele a abrir:
“Vasco Graça Moura escreveu um poema celebrando o sexto aniversário do blogue de Pacheco Pereira, cujo título é Abrupto, e aproveitou a ocasião para lhe lamentar a queda do "p" pelo novo acordo ortográfico, jurando que havia de pôr luto se o abrupto ficasse abruto. É bonito, sim senhor. Mas não é verdade: o "p" em abrupto não é uma consoante muda e, pronunciando-se, continuará na palavra escrita.
Aproxima-se um dia decisivo para a questão ortográfica e a confusão, voluntária ou involuntária, é geral. A confusão, acima de tudo, dá jeito. No meio disto, até há quem pense que o que está em discussão é Portugal ratificar ou não o Acordo Ortográfico. Mas não é.
Portugal já ratificou o Acordo Ortográfico. Há mais de 15 anos. Aquilo que na sexta-feira se votará no Parlamento português é uma modificação que se introduziu, entretanto, para permitir a entrada de Timor-Leste e aceitar que o acordo entre em vigor depois de ratificado por três países.”
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Um dia de salário para a Nação
Há dias, nos comentários ao post "E se houvesse um novo 25 de Abril ?", afirmei que também eu contribuí com "Um dia de salário para a Nação". Como entretanto encontrei um documento interessante volto ao assunto.
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terça-feira, maio 13, 2008
A hegemonia cultural e política da esquerda nas vésperas do 25 de Abril
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O socialismo morreu ? Viva o pós-capitalismo !
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Inspirado pelo filme "Adeus Lenine", João Cardoso Rosas escreveu no Diário Económico um artigo intitulado "Adeus Socialismo" que conclui desta maneira:
"Mais cedo ou mais tarde, os socialistas terão de reconhecer, em nome da honestidade intelectual, que o projecto de uma sociedade socialista caducou. No tempo que passa, o ataque às liberdades económicas e ao mercado e a defesa da socialização dos meios de produção – e o que é o socialismo, senão isso? – apenas conduziriam ao isolamento, ao empobrecimento e à entropia social. Por isso seria bastante melhor para todos, incluindo para os próprios, que os socialistas permitissem que a sua matriz ideológica se confrontasse com a realidade, sem terceiras vias nem outros subterfúgios. Essa confrontação deixaria claro que, ao contrário do que dizem alguns dos seus adversários, não é verdade que os socialistas tenham traído a sua causa. A causa é que acabou. Ou seja, ela deixou de fazer sentido face à evolução do mundo."
Vital Moreira, em respostas no Causa Nossa e no Público de hoje, discorda nestes termos:
"Segundo, apesar desse abandono da "economia socialista", não é ilegítimo que os partidos socialistas conservem a antiga denominação, dado que continuam a lutar pelas suas principais bandeiras na esfera social, designadamente direitos sociais, inclusão social, coesão social, Estado social, enfim, justiça social. Em suma, os partidos socialistas há muito disseram adeus ao "socialismo económico", mas os ideiais socialistas nunca se limitaram a isso. Por isso, dizer "adeus ao socialismo", como quer JCR, é por um lado redundante e por outro lado indevido."
Apetece-me responder aos dois de uma só vez.
Concordo que a situação é de esquizofrenia, no sentido em que se fala muito em socialismo sem se saber o que tal possa hoje significar, mas não está demonstrado que tenha necessariamente que ser assim.
Quanto a mim "sociedade de mercado", aquela que para existir depende das trocas económicas entre os seus membros, é onde vivemos há milhares de anos e onde vamos provavelmente continuar a viver. Coisa distinta é a "sociedade capitalista", ou seja aquela em que a relação de produção predominante é o assalariamento, o trabalho medido por tempo e retribuído com salário. Esta só existe há umas centenas de anos e, pela ordem natural das coisas, terá certamente um fim. Os dois autores em análise parecem argumentar como se ambas fossem não só a mesma coisa mas também realidades eternas. Vital e Rosas confundem mercado com capitalismo para poderem vender a perenidade do segundo com base na necessidade óbvia do primeiro.
Onde Cardoso Rosas e Vital Moreira divergem é na definição de Socialismo: para o primeiro ele pode resumir-se à "socialização dos meios de produção" enquanto que para o segundo basta manter de pé umas quantas "bandeiras na esfera social" para ter direito ao franchising.
Aquilo que virá depois da "sociedade capitalista", na acepção indicada mais acima, podemos chamar-lhe várias coisas. Se calhar, em homenagem aos percursores, vamos chamar-lhe socialismo. Porém essa sociedade pouco terá a ver com as experiências prematuras ocorridas na URSS e seus anexos em que, por manifesta incipiência tecnológica e científica, era impossível aceder a um novo patamar na organização social da produção. Será certamente uma "sociedade de mercado", no sentido que lhe dei mais acima, mas não será uma sociedade baseada no assalariamento mesmo que "adocicado" com umas quantas "bandeiras na esfera social".
Seja como fôr a ideia socialista esteve sempre ligada à criação de uma sociedade de novo tipo, com relações económicas que se desenrolam em bases qualitativamente novas e mais justas. A "socialização dos meios de produção" é uma expressão ambígua onde cabe quase tudo. As tecnologias actuais, só por si, parecem estar a produzir esse tipo de resultado.
O que os socialistas, ou que se reclamam como tal, deviam era tentar perceber como o "novo trabalho", criativo, descontínuo e de duração irrelevante, está a tornar o assalariamento inviável pois esse é o processo que, paulatinamente, obrigará a sociedade a inventar o pós-capitalismo, seja ele qual for.
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O perigo das promessas
Fabio Biondi apresentou ontem um maravilhoso Idomeneo, em versão de concerto, no Grande Auditório da Gulbenkian. Mozart compôs em 1781 esta ópera sobre a história do rei de Creta que, durante uma tempestade, promete a Neptuno sacrificar a primeira pessoa que encontrar no caso de se salvar do naufrágio. Acontece que encontra o seu próprio filho que deixara ainda criança quando partira para a guerra de Tróia.
Moral da história: nunca se deve fazer negócios com as divindades.
No fim da ópera Neptuno mostra clemência e tudo se salda pela renuncia de Idomeneu, substituído no trono por seu filho Idamante.
Os músicos da Europa Galante tocaram divinalmente e os cantores (Ian Bostridge, Emma Bell, Kate Royal, Benjamin Hulett e Christine Rice) bastante equilibrados e com belíssimas vozes, arrancaram uma enorme ovação.
Finalmente, o horário do espectáculo foi excelente para dietas de emagrecimento; começou às 19 e acabou depois das 22, substituindo-se assim a um potencial jantar.
Mas valeu a pena.
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segunda-feira, maio 12, 2008
Sectarismo no Avante!
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domingo, maio 11, 2008
Hugo Chávez apoia China contra 'planos separatistas' do Tibete
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deu o seu apoio na noite de sexta-feira ao governo da China contra "os planos separatistas" do Tibete e criticou as "pretensões" daqueles que condenam os próximos Jogos Olímpicos.
"Ratificamos nosso apoio à China em sua batalha contra os planos separatistas", disse Chávez por ocasião da visita a Caracas do vice-primeiro-ministro do Conselho de Estado da China, Hui Liangyu, transmitido em cadeia nacional de rádio e TV.
"Condenamos a agressão contra a China manipulada com sentimento religioso, agora sobretudo no Tibete", declarou o venezuelano.
"Tudo isso é culpa do império (Estados Unidos)", acrescentou Chávez, que nesta semana afirmou que a oposição venezuelana tem um plano para impulsionar iniciativas separatistas no Estado venezuelano produtor de petróleo de Zulia (noroeste).
"Condenamos a pretensão imperialista de sabotar os Jogos Olímpicos", afirmou o presidente sobre o uso político que tem sido feito da Olimpíada para promover a causa tibetana.
sexta-feira, maio 09, 2008
Made in China
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E se houvesse um novo 25 de Abril ?
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Nas andanças recentes à volta das recordações de Maio fui dar com uma brochura, publicada em Maio de 1975 pelo Ministério da Comunicação Social, contendo o discurso de Vasco Gonçalves no 1º de Maio. É o famoso "Discurso da Batalha da Produção".
"O desencadeamento da batalha da produção é, portanto, uma necessidade imediata e imperiosa nas actuais condições.
O papel principal nesta batalha da produção pertence a vós, trabalhadores que, hoje, dadas as medidas já tomadas contra o capital monopolista e latifundiário, no sentido do domínio pelo Estado de sectores básicos da produção e do arranque da reforma agrária, têm a garantia que o seu trabalho e a sua opção reverterão em benefício da colectividade e não em benefício das classes privilegiadas.
Que pede, então, o MFA aos trabalhadores?"
E mais à frente:
"A batalha da produção exige, de todos nós, mais trabalho, mais imaginação criadora, procura de soluções mais económicas para os problemas e mobilização revolucionária no trabalho. O povo deve procurar em si toda a capacidade criativa que possui. O MFA e o Governo Provisório estimularão a criatividade popular, certos de que ela é indispensável na construção do novo Portugal. Neste campo continuarão a desempenhar papel fundamental as Campanhas de Dinamização Cultural e Cívica, desenvolvidas pelas Forças Armadas. É necessário promover uma autêntica revolução cultural no seio do nosso povo, abrir o nosso povo a ideias novas.
É necessário que as empresas de ponta dêem exemplos revolucionários de trabalho. Estas empresas devem constituir a vanguarda da batalha da produção. Os trabalhadores das empresas nacionalizadas e das empresas públicas devem fazer delas modelos de rentabilidade. ".
A leitura do discurso deixou-me a sensação de que, esgotado o receituário da época (nacionalizações, reforma agrária, etc) Vasco Gonçalves passava formalmente a "bola ao povo". Ao mesmo povo que votara a 25 de Abril maioritáriamente no PS ( 37,87 %) e PSD ( 26,39%), no "centrão" portanto, para a Assembleia Constituinte. O resultado já todos sabemos qual foi.
Quando hoje oiço dizer que "o 25 de Abril não se cumpriu integralmente" e até que "isto precisava era de um novo 25 de Abril" eu interrogo-me.
Suponhamos então que, por absurdo, um grupo de capitães decidia em 2008 fazer um "novo 25 de Abril", e que entregava o poder ao Bloco de Esquerda e ao PCP, verdadeiros depositários das memórias revolucionárias.
A pergunta é: o que é que eles faziam ? nacionalizavam tudo outra vez ? ressuscitavam a Reforma Agrária ?
No plano da transformação do modelo económico e das relações de produção, da propriedade e das classes, o que é que um poder revolucionário de esquerda faria ?
Tenho a sensação de que estamos exactamente como há 33 anos, de que em todo este tempo não houve qualquer desenvolvimento teórico à esquerda e que, portanto, só lhes restava tornar a "passar a bola ao povo".
Como sou chato tenho a mania das perguntas difíceis...
Hora da publicação: 12:35 4 comentários
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