terça-feira, junho 30, 2009

Pepinos curvos e cenouras nodosas - uma nova era

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Eu não podia deixar em claro que amanhã, transcorrido menos de um mês sobre as eleições europeias, teremos o "início de uma nova era para os pepinos curvos e as cenouras nodosas".

A alteração da legislação que entre amanhã em vigor é mais uma prova da utilidade e clarividência das regras comunitárias.

"... está previsto o grande regresso: pepinos curvos, alhos pequenos, cenouras nodosas vão voltar a conquistar o seu lugar nas bancas. Entram em vigor as novas regras que permitem a venda de frutos e produtos hortícolas “deformados”.As regras comuns de calibragem na União Europeia foram impostas há várias décadas pelos Estados-membros. Mas no final do ano foi anunciado que as normas de comercialização específicas para 26 produtos iam ser revistas. Os couves-repolho já não têm que ser perfeitas. Os damascos, alcachofras, espargos, abacates, também não... beringelas tortas também têm direito a ser compradas. Mariann Fischer-Boel, comissária europeia responsável pela agricultura e pelo desenvolvimento rural, não poupou nas palavras quando, no dia 12 de Novembro, foram revistas as imposições que arredavam dos mercados estes produtos: “Esta decisão marca o início de uma nova era para os pepinos curvos e as cenouras nodosas. Trata-se de um exemplo concreto dos nossos esforços para eliminar burocracia desnecessária”Boel justifica a mudança com a actual conjuntura económica de “preços elevados dos produtos alimentares e de dificuldade económicas generalizadas” – “Não tem qualquer sentido eliminar produtos de perfeita qualidade apenas porque têm uma foma ‘errada’.”

Público 26.06.2009

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segunda-feira, junho 29, 2009

Duas exposições na Baixa

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No depuradíssimo espaço Chiado 8, da Companhia de Seguros Fidelidade, está a exposição "Pinóquio", de Jorge Molder. As obras, que versam o tema da máscara que esconde mas revela, estabelecem com o espaço um belíssimo diálogo.


Um pouco mais abaixo, até 30 de Junho, é na Galeria do Governo Civil de Lisboa que expõe José Manuel Simões. Uma série dedicada à manipulação cromática das geometrias urbanas.



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domingo, junho 28, 2009

Futilidades

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António Barreto (Retrato da Semana no Público, 28.06.2009)

Um conjunto de argumentos põe em relevo as vantagens partidárias. Se os votos forem separados, ganham uns partidos, se forem no mesmo dia, ganham outros. A mesma coisa, ou parecida, se as legislativas se realizarem antes ou depois das autárquicas. Quer isto dizer que ninguém tem legitimidade para preferir uma data ou uma ordem: imediatamente lhe saltam em cima com acusações de interesses ilegítimos e de oportunismo. Quem assim faz esquece-se de que os argumentos são totalmente reversíveis.

Outro argumento é o dos custos. Nem sempre se percebe se estamos a falar de custos directos para os votantes, despesas para os partidos ou encargos públicos. De qualquer modo, quem alude aos custos está em geral a pensar nos interesses dos partidos. Com efeito, quem quer as eleições separadas garante que a democracia bem merece um punhado de euros, enquanto os que desejam actos conjuntos referem a poupança assim obtida. É, no entanto, certo que a despesa ou a poupança não parecem um argumento muito forte.

O aparentemente mais sério argumento é o da abstenção ou da participação. Também neste domínio, a consistência não é visível. Juntar eleições, para uns, significa mais participação; separá-las, para outros, teria o mesmo efeito.

Não consta que haja solidez nas razões apontadas. Nem sequer estudos concludentes. A única dúvida razoável é a que alude ao cansaço: maçados com duas deslocações seguidas à distância de uma ou duas semanas, os eleitores poderiam optar por apenas uma. Mas são meras suposições. Além de que não se sabe muito bem se seria a primeira ou a segunda a sofrer dessa terrível fadiga. Como não se sabe se o cansaço é argumento mais importante do que a natureza das eleições e o que está em causa. Apesar de anónimas e limitadas aos emblemas dos partidos, as legislativas chamam mais eleitores. Mas as "grandes figuras" municipais também têm algum efeito. Reflexão tortuosa é a que se apoia na previsão das intenções dos eleitores. Nas autárquicas, diz-se, os cidadãos querem escolher um presidente de câmara e bater no Governo. É estranho, mas é o que consta. Nas parlamentares, os mesmos eleitores esquecem tão vis desejos e designam racionalmente o Governo que preferem. As estatísticas eleitorais sugerem alguma coisa, nomeadamente o facto de poder haver diferenças na orientação de voto entre as duas eleições, assim como uma maior presença do PSD nas autarquias (o que não é uma regra absoluta). Mas não são constantes que permitam certezas.

O último dos argumentos é o mais brutal. Juntar eleições teria como efeito criar a confusão nos eleitores. Já desorientados com a existência de três boletins de voto (freguesia, assembleia municipal e vereação camarária ou presidente da câmara), ficariam completamente perdidos com a eventualidade de terem de lidar com quatro. Muitos votos ficariam assim perdidos. Brancos e nulos, possivelmente. No partido errado, com certeza.

É comovedor este desvelo dos partidos e de alguns comentadores encartados. O esforço que fazem para cuidar dos pobres cidadãos, tão vítimas de manobras, tão deficientes mentais e tão incapazes de decidir por si! A minuciosa atenção que prestam aos eleitores, tão frágeis e vulneráveis, que perdem literalmente a cabeça perante quatro boletins de voto! Se repararmos bem, quase todos os argumentos conduzem ao mesmo: a incapacidade dos eleitores, a sua falta de discernimento, o seu cansaço fácil e a rapidez com que se confundem. Na verdade, esta discussão ridícula tem um só objectivo, o de começar a arranjar explicações para os fenómenos que os incomodam: derrotas eleitorais e elevadas taxas de abstenção. Na noite (ou nas noites) das eleições de Outubro, já sabemos qual a justificação que mais vezes se vai ouvir: a data das eleições é a culpada.

A propósito das datas e seguramente em consequência da abstenção nas europeias, já começou a ladainha piedosa dos que querem o bem dos cidadãos e a nobreza da democracia. Já se ouvem propostas para "melhorar o sistema" e dar novo "tónus" à democracia. Em vez de se inquietarem com a fictícia democracia europeia e a inutilidade do Parlamento Europeu, propõem que o voto seja obrigatório! Em vez de pensarem na reformulação de alguns processos, designadamente no voto pessoal, sugerem punições para quem escolhe abster-se! Preparemo-nos, pois, para a próxima revisão da Constituição. Lá veremos dispositivos para reforçar a democracia. Sempre com um denominador comum: a cegueira perante as deficiências do nosso sistema e a vontade de resolver os problemas com normas legais e punitivas. Já agora, uma modesta contribuição: as eleições deveriam ser obrigatoriamente em dia de chuviscos. Mas não de mais, que levam as pessoas a ficar em casa, nem de menos, que deixam os eleitores ir à praia.

sábado, junho 27, 2009

A desforra das corporações


Como diz a publicidade de um novo jornal "I de repente tudo muda": Sócrates passa de virtual vencedor das legislativas, sem adversário à altura, para bombo da festa. À medida que o Governo sente aumentar o perigo da derrota eleitoral multiplicam-se os sinais de submissão às corporações.
Por exemplo o "Governo dá por terminada a redução de funcionários do Estado", ou propõe "Menos tempo para chegar ao topo da carreira docente", ou admite que as "Quotas para classificações de mérito afinal são transitórias". Mas também o principal partido da oposição declara que dará prioridade à Justiça e à Educação e percebe-se que conta com os votos dessas classes profissionais, a quem tudo prometerá, para vencer o partido do governo.
Por comodismo, ou oportunismo eleitoral, demasiados políticos esquecem os interesses mais gerais do país e, na véspera das eleições, cedem a todas as chantagens dos grupos de pressão. Foi assim com Cavaco, quando liderou o PSD, e com Guterres quando teve responsabilidades de governação. Ainda hoje estamos a pagar esses erros.
Mas não são esses políticos que pagam as benesses concedidas ou sofrem o descontentamento dos cidadãos que efectivamente as pagam. Os sacrifícios resultantes só se sentem nas legislaturas seguintes e "quem vier atrás que feche a porta".

É esta a triste sina de uma democracia que se deixou cair sob a tutela das corporações. Em que certas corporações têm uma espécie de "golden share" eleitoral, uma espécie de "voto de quantidade".
Um dia, outros usarão este pretexto para destruir o regime.
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sexta-feira, junho 26, 2009

Blue met green in black

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Uma exposição de Laurindo Almeida e João Paulo Almeida para descobrir AQUI









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quarta-feira, junho 24, 2009

AFARI

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Há exactamente 50 anos, durante o Verão de 1959, fui caixeiro e moço de recados na AFARI. A AFARI ainda lá está, na Rua Augusta, e ainda é uma loja de fotografia. Eu é que já não sou caixeiro.
A minha carreira escolar sofreu no ano lectivo 1958/1959 um grande sobressalto que terminou num estrondoso chumbo de quase todos os compinchas da rambóia (entre os quais o meu amigo Luís Maia que reencontrei na blogoesfera).
O meu pai (tirano) decretou que eu trabalharia durante as férias "para aprender", já que durante o ano escolar eu pouco aprendera pelo menos daquilo que ensinavam então no equivalente do 8º ano.
No Diário de Notícias, se não falho, encontrei um anunciozinho que me apressei a responder e que me rendeu, naquelas férias, a astronómica quantia de trezentos escudos (a que hoje se chama um euro e meio).


Ocorreu-me tudo isto recentemente quando bebia uma limonada na Rua Nova do Almada, exactamente como há 50 anos, num cafézito junto à Boa-Hora que, dizem os jornais, está em perigo de vida. A limonada, excelente, lembrou-me aquelas que eu bebia quando era mandado entregar uns pacotes mais acima, na Instanta do Chiado (suponho que eram negativos para revelar ou coisa quejanda).
Na loja eu, apesar da cabulice, falava o melhor francês e inglês o que fazia de mim alguém quando entrava algum estrangeiro, trazido pelo esparso turismo de então. Nesses momentos eu justificava o meu salário e percebia finalmente o alcance da escola.
De toda aquela experiência ficou-me a descoberta da fotografia e um embrião da consciência de classe. E os trezentos paus, bem entendido.
Talvez também uma certa ligação à Baixa que me fez chorar de raiva quando ouvi, algures no Minho, que o Chiado estava a arder.

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segunda-feira, junho 22, 2009

A loucura dos 'OUTDOORS'

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Numa rua perto de si, em Lisboa tal como por todo o país, mais e mais 'outdoors' erguem-se sobre as suas patas para nos convencer.
Quando ainda está bem acesa a polémica sobre a data das eleições, e se ouve falar tanto sobre a necessidade de as campanhas serem esclarecedoras, a proliferação dos 'outdoors' é um tema inescapável. Será que para além de poluirem cada vez mais o nosso espaço público eles contribuem realmente para o nosso esclarecimento? Duvido.
As mensagens comerciais ou políticas que veículam, se é que a diferença ainda existe, não passam de slogans simplistas, toleráveis quando se aplicam aos sabonetes mas inadequados para nos revelar planos sérios de governação.
Os 'outdoors' acabam por funcionar como instrumentos de ostentação, e diferenciação, dos partidos que têm mais dinheiro. Aparecer, aparecer mais do que os adversários pelas ruas do país parece ser, à falta de melhores argumentos, a panaceia da democracia.
Ninguém está preocupado com esta poluição visual (e espiritual) para a qual a política, convenhamos, só contribui de vez em quando ao sabor dos calendários eleitorais.
Mas por este pecado alguém, algum político, devia ser castigado.
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Primeiro Airbus A320 fabricado na China

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A construtora aeronáutica Airbus vai entregar o seu primeiro avião A320 fabricado na China a 23 de Junho, indicou hoje a agência France Presse (AFP), sem indicar a fonte da informação.
A companhia de aviação Sichuan Airlines vai receber o primeiro avião produzido na fábrica de Tianjin, a única fábrica da Airbus fora da Europa, precisa a agência noticiosa, acrescentado que uma cerimónia marcará esta entrega.
Dez aviões de médio porte A219/320 serão entregues até ao final do ano e a fábrica vai começar a produzir quatro aparelhos por mês antes do final de 2011, indica ainda a AFP.
Expresso, 21.06.2009
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domingo, junho 21, 2009

Super Oba(Man)

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sábado, junho 20, 2009

Galileu na China pela mão dos portugueses (2)

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Já há algum tempo tínhamos aqui falado neste tema. Regressamos para divulgar a publicação de um novo texto sobre a matéria, que recomendamos:
Chama-se Sumário de Questões sobre os Céus. É um documento de 100 páginas, com prefácio. E a estrutura do texto vem no formato de perguntas - colocadas por um chinês - e de respostas - dadas por um ocidental com conhecimento de astronomia.
O ocidental era um padre jesuíta português, chamado Manuel Dias. E foi ele quem apresentou Galileu e as suas descobertas à China, em 1614, apenas três anos depois de o trabalho de Galileu ter sido publicado.
Há dez anos que Henrique Leitão, investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, andava atrás deste documento e do contributo de Manuel Dias para o conhecimento da astronomia e dos achados de Galileu na China. Sabia da existência do documento, onde o jesuíta Manuel Dias contava como funcionava o telescópio de Galileu e o que o mestre italiano teria descoberto sobre as maravilhas do Universo.
"É um texto que está em todas as bibliotecas imperiais chinesas, o original é de 1615. Mas foi reeditado até ao século XIX, o que significa que teve imenso impacto na cultura chinesa. Notícias de que havia este texto existem desde o princípio do século XX. Mas nenhum português pensou: vamos lá ler o que vem aqui escrito."
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Ler o resto do texto no Público 19.06.2009)

quinta-feira, junho 18, 2009

Nova esquerda

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Chama-se Nova Esquerda. Vai organizar-se e funcionar como movimento, mas legalmente ficará inscrito como partido no Tribunal Constitucional. É apresentado quarta-feira em Lisboa. Junta os alegristas que ficaram descontentes com a decisão de Manuel Alegre de não sair do PS.

Parece estar em curso o esquartejamento do PS. A derrota eleitoral para o Parlamento Europeu deixou o partido como um animal ferido, que os predadores farejam ao longe.
Corremos o risco de deslizar para uma esquerda constelação de pequenos partidos, seitas puristas que se hão-de digladiar até ao descrédito total.
É esse tipo de esquerda que explica os inexplicáveis Berlusconi.

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quarta-feira, junho 17, 2009

Uma espécie de conceito de cidade

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Referindo ao presidente do ACP, o autarca de Lisboa acusou Carlos Barbosa de ser o presidente do 'partido dos automóveis', enquanto 'nós estamos aqui para representar pessoas'.
(afirmações de António Costa a propósito do diferendo com o ACP relativamente às obras no Terreiro do Paço) CM, 16.06.2009
Mesmo admitindo que possam ser fruto de um acesso de irritação estas afirmações são extremamente preocupantes pelo que revelam sobre a atitude do Presidente da Câmara de Lisboa relativamente aos cidadãos que se deslocam em automóvel. Para ele parece que os ocupantes dos veículos não chegam sequer a ser pessoas.
Se ele contrapõe o "partido dos automóveis", que presumo devem ter usurpado o poder dos seus proprietários e condutores, à "representação das pessoas", pode concluir-se que as verdadeiras pessoas são as que estão fora dos automóveis.
Este tipo de slogans, de um primarismo indigente, é mais próprio de fanáticos e catastrofistas que de responsáveis políticos. Mas no melhor pano cai a nódoa.
A Baixa de Lisboa, entretanto, está realmente um caos. Ontem calhei passar por lá e estava a ver que não conseguia sair. Só depois de consultar um polícia de trânsito consegui perceber como sair na direcção de Santa Apolónia, mas isso só foi possível desrespeitando uma proibição de virar à direita.
Estamos entregues a "teóricos" cuja principal especialização é odiar os automobilistas.
O seu ideal de cidade é "uma espécie de campo" mas, inconscientes da contradição, no campo constroem urbanizações para o campo ser "uma espécie de cidade".
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terça-feira, junho 16, 2009

O PS (e a esquerda) em maus lençóis

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Podemos definir o "voto solto", nas Europeias de 2009, como os novos votos ou os votos que mudaram a sua escolha relativamente às Europeias de 2004. Chegamos assim a 725.157 votantes (os 155.599 votantes adicionais em relação às europeias anteriores, mais os 569.558 perdidos pelo PS comparativamente com 2004).
É interessante notar que esses 725.157 votos se distribuiram em partes identicas pelos partidos à esquerda e pelos partidos à direita do PS cabendo a cada uma das alas cerca de 40% dos "votos soltos". Os 20% restantes foram parar aos partidos que previsívelmente não obteriam qualquer representação no Parlamento Europeu indiciando uma atitude imune às lógicas da utilidade, por parte de 145 mil desses eleitores.

Esta aparente simetria entre a esquerda e a direita, feita à custa do partido maioritário, tem no entanto consequências pouco simétricas. Os votos ganhos à direita esboçam uma maioria alternativa enquanto que tal não sucede à esquerda. Mesmo a improvável aliança de um dos partidos de esquerda (BE ou PCP) com o PS resulta mais fraca do que a aliança de direita (PSD+CDS). Tudo isto tomando como base as percentagens obtidas pelos partidos nas Europeias de 2009.

A verdade é que tudo isto não passa de uma miragem. Nas próximas legislativas irão às urnas mais dois milhões e trezentos mil votantes do que nas europeias, se se repetir a relação entre as europeias de 2004 e as legislativas seguintes de 2005.
Esse enorme número de votantes adicionais pode, em teoria pelo menos, dar a maioria absoluta a qualquer um dos principais partidos portugueses.
Apesar de ser esta a "realidade" quase todas as opiniões omitem esta questão. O PSD compreende-se que o faça, o Bloco também pois está a disfrutar da ascensão ao terceiro lugar na hierarquia dos partidos (apesar de ter tido menos de metade dos votos habituais do PCP nas legislativas de há 20 anos).
No caso do PS é mais estranho que tal aconteça.

Está portanto tudo em aberto e cabe aos partidos tentar ganhar o maior número de votos de quem se absteve, ou votou nulo, ou votou em branco ou votou em partidos sem representação parlamentar.
Mas essa luta vai fazer-se em condições adversas para o PS já que deixou criar esta sensação de que a maioria absoluta, sozinho, lhe está vedada. Tal sensação é reforçada pelo tipo de relações que o PS mantém com os partidos à sua esquerda e que torna uma aliança com eles pouco provável aos olhos da opinião pública.

É estranho que o PS não tenha percebido o beco em que se estava a meter. Já terá ficado claro, entretanto, que não é adoptando avulsamente "propostas fracturantes" que impedirá o Bloco de crescer. O BE está neste momento como uma criança que tendo ido à caixa das bolachas não consegue evitar voltar lá repetidamente. Neste "momento de glória" (que os números desaconselhariam) o céu parece o limite e já sonha certamente substituir-se ao PS na liderança de toda a esquerda.

Por outro lado o PS parece ter subestimado o poder do binário PSD/Cavaco na questão das "obras faraónicas". Logo na noite das eleições Rangel introduziu a necessidade do adiamento não tanto para limitar as decisões do governo actual mas para insinuar a ideia de que após as eleições os decisores serão outros. Hoje mesmo o PS cedeu e deixou cair o TGV.

Temos portanto um PS, acossado à esquerda e à direita, lambendo as feridas que não soube evitar.
Os seus inimigos de direita exigirão cada vez mais alto que defina as suas alianças para lhe reduzirem o trunfo da governabilidade (se as não esclarecer) ou lhe roubarem mais eleitores ao centro (se as esclarecer).
Os seus inimigos de esquerda aumentarão a parada sempre que ele tentar aproximar-se pois, à falta de um programa executável, só lhes resta alimentar-se dos despojos da velha nave socialista enquanto esperam pelo momento revolucionário.

Não me peçam para prever o nosso futuro imediato mas, para já, não parece brilhante.
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segunda-feira, junho 15, 2009

Vacas e ovelhas desaconselhadas

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Andamos há muito tempo a ser educados na ideia de que os automóveis são uma temível fonte de poluição e que o campo, com os seus animais, um paradigma de respeito pela natureza.
Pois bem, esta, como muitas outras das nossas convicções, está agora posta em causa por mais um inesperado estudo científico. O nosso mundo parece estar a ser virado de pernas para o ar.
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Vacas e ovelhas poluem mais do que os carros
Apesar do ar inofensivo, vacas, búfalos ou camelos são das maiores ameaças para o ambiente. A produção de carne e as emissões de gases destes animais contribuem em 18% para o aumento do aquecimento global. Mais do que o sector dos transportes (13,5%). A solução passa por mudar a alimentação do gado, mas também a nossa, reduzindo o consumo de carne.
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As vacas têm no estômago uma bactéria que faz com que arrotem metano, e alguns estudos indicam que cada animal expele uma média de 500 litros deste gás para a atmosfera por ano.

domingo, junho 14, 2009

Orgulho Gay em Xangai

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Xangai (China), 13 jun (EFE).- A primeira festa do Orgulho Gay da China aconteceu hoje na cidade de Xangai, em um ambiente alegre e descontraído e com a esperança de que tenha sido "o primeiro passo em direção a algo maior" e a vontade de "fazer as coisas melhor no ano que vem", afirmaram os organizadores à Agência Efe.
Não houve carros alegóricos, como ocorre na maioria das cidades ocidentais, mas as duas mil pessoas que foram hoje a Xangai para celebrar o Orgulho Gay encontraram música, dança, jogos, desfiles de moda e uma cerimônia de casamento, em uma festa que invadiu a noite.
O desfile de hoje foi o fechamento de uma semana de atividades que só teve como incidente a intervenção, na quarta-feira, das autoridades locais, que obrigaram os organizadores a cancelar duas exibições de filmes e uma peça de teatro.
"Honestamente, não sabíamos o que esperar hoje das autoridades, mas não houve nenhum problema e estamos agradecidos por que tudo tenha dado certo", afirmou à Efe Kenneth Tong, membro da associação de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais de Xangai.
Hoje, a metade dos presentes à festa era estrangeiros, mas os chineses que compareceram se mostraram "esperançosos" com que o evento possa significar "algo importante" para o futuro. EFE

quinta-feira, junho 11, 2009

Dois portugueses "à Cavaco"

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Referindo-se às dificuldades que o país hoje enfrenta, Cavaco Silva defendeu ontem que é necessário ter uma "visão alheia a calendários imediatos, que poderiam comprometer o futuro e tornar inúteis os sacrifícios que a hora exige". É preciso agir "com determinação, sentido estratégico e capacidade de mobilizar esforços e vontades" e apostar no que é "essencial para o aumento da nossa capacidade competitiva".

Passadas menos de 24 horas estes dois portugueses responderam cabalmente ao apelo presidencial. Bem hajam.

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quarta-feira, junho 10, 2009

Há cinco anos

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Começámos há cinco anos
.Hoje é portanto "Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e do blog DOTeCOMe".
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terça-feira, junho 09, 2009

Por pau de canela e Marzagão

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Porta do Mar, em Marzagão. Fotografada por mim em 1983

Considero excepcional o conjunto de construções e de palavras que os portugueses deixaram pelo mundo desde o Século XV.

Não me parece que o concurso para escolher as "sete maiores maravilhas" tenha grande interesse a não ser como forma de trazer este património para primeiro plano. Também acho deplorável, se não mesmo ridícula, uma petição que tenta misturar com o dito concurso uma espécie de "disclaimer" de arrependimento colectivo, sem perceber que esse tipo de questões se situa num nível diferente.

Quando vejo um forte construído a milhares de quilómetros da costa brasileira em plena amazónia, ou uma velha angolana numa igreja barroca de Luanda, ou um senhor Silva em Baçaim que já nem fala português, ou as ruínas de S. Paulo resistindo aos casinos de Macau, ou umas telhas portuguesas no Uruguai, ou a rua da Carreira em Marzagão, ou os dois fortes empoleirados em Mascate, sinto uma grande emoção. E podem crer que não sou dado ao patrioteirismo.

É preciso ser tosco para não entrever uma gigantesca epopeia em tudo isto, para não ouvir os gritos de alegria e de dor que ecoram por todos os continentes como os grandes poetas (e músicos como Fausto e Vitorino) tão bem explicaram, para não perceber o elevadíssimo sentido humano e humanista dessa enorme aventura de cuja memória nunca cuidámos suficientemente e de que, alguns, parecem preferir envergonhar-se.

A esta escala não há, tanto quanto sei, nada que se compare. .

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Um motor pouco ortodoxo

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O forte crescimento da China vai tirar a economia mundial da recessão, afirmou segunda-feira o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, elogiando Pequim por se esforçar em fazer do yuan uma divisa internacional.

O crescimento económico da China no primeiro trimestre de 2009 ultrapassou as previsões dos economistas e "vai surpreender positivamente" este ano, afirmou Zoellick, salvaguardando, no entanto, que é "perigoso" fazer conjecturas no contexto actual.

"Em geral, (o crescimento da China) não tem agido apenas como uma força de estabilização, é uma força que vai fazer o sistema sair da recessão", afirmou o presidente do Banco Mundial, numa conferência em Montreal, no Canadá.


Depois de Soros é agora a vez do presidente do Banco Mundial anunciar uma salvação vinda da China. Não deixa de ser curioso ver o sistema capitalista à espera de ser salvo por um país "comunista".
O que vale ao capitalismo é a China não ser liderada por Francisco Louçã. Se assim fosse arriscava-se a morrer à míngua.
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segunda-feira, junho 08, 2009

O culpado é o povo ?


Não é possível continuar a ignorar os níveis de abstenção (55% na Europa e 63% em Portugal). Só votaram 44% dos europeus e vamos continuar a funcionar como se não tivesse acontecido nada ? Lamentamos e culpamos o povo de ter ido para a praia ?
Hoje todos os discursos se centram na recomposição do panorama político nacional propiciada pelos resultados, tratando assim as eleições de ontem como uma megasondagem para as legislativas.
Este comportamento irresponsável só acentua a sensação de inutilidade da participação e agravará a abstenção da próxima consulta europeia.
Os 63% que não votaram mandaram uma mensagem muito forte sobre a irrelevância da Europa ou sobre a sua própria impotência para a influenciar através do voto. Os 63% que não votaram são uma base enorme de recrutamento para eventuais aventuras populistas.
Entretanto o PSD celebra uma vitória que alcançou com os votos de apenas 11,8% dos recenseados e o PS lambe as feridas com menos de um milhão de votos.
Esta gente avança para os seus lugares no Parlamento Europeu sem uma hesitação ?
Qualquer político responsável deveria pelo menos prometer que, no Parlamento Europeu, será desencadeado um processo tendente a compreender as causas e encontrar remédios.
Omitir esta questão, ou lamentá-la apenas, é comprometer o futuro do projecto europeu.
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domingo, junho 07, 2009

Vote para fora cá dentro

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Vote para fora cá dentro

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Se vai votar não beba

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Se vai votar não beba

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Há mar e mar, há ir e votar

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sábado, junho 06, 2009

Dom Giovanotto

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O São Carlos apresenta, até 14 de junho, uma nova encenação da autoria de Maria Emília Correia para o D. Giovanni de Mozart. O facto de a encenadora ser mulher, tão seduzida pelo herói como as cantoras em palco, constitui um óbvio motivo de interesse.

Maria Emília trata Don Giovanni com a mesma galante condescencência com que tratara, no Trindade, o Conde de "As Bodas de Fígaro". Para desespero de uma parte dos frequentadores de São Carlos a cenografia repete também aqui, embora menos adequadamente, uma estética colorida e que invoca a actual sociedade das compras por catálogo.

O Don Giovanni podia muito bem ser um galã de shopping e as meninas em topless as caixeirinhas por ele desencaminhadas. Não se venha portanto dizer que o tratamento do tema não é actual embora se possa dizer que há uma desvalorização do lado filosófico e mítico da história.

O elenco tem um ponto fraco em D. Elvira (Katharina von Bülow) e uma boa surpresa em D. Ana (Carla Caramujo). Don Giovanni (Nicola Ulivieri) e Leporello (Kevin Short) estão bem mas não conseguem entusiasmar.

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sexta-feira, junho 05, 2009

Quatro Coreógrafos

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ISOLDA Olga Roriz
À FLOR DA PELE Rui Lopes Graça
FAUNO Vasco Wellenkamp
STROKES THROUGH THE TAIL Marguerite Donlon
um belo espectáculo, recomendo
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quinta-feira, junho 04, 2009

A 20 anos de Tiananmen

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Qual foi a maior surpresa vinda do regime chinês nestes últimos vinte anos?

Se olharmos para trás e recuarmos a Tiananmen, acho que conseguiríamos imaginar este crescimento económico. Isso era concebível. Mas não se esperava que o sistema político fosse tão resistente como tem sido. Fizeram um trabalho impressionante de adaptação do seu autoritarismo. Saíram-se tristemente bem! E ao contrário do que poderíamos esperar também, tornaram-se numa grande potência sem criar uma tensão grande na região, ou nas grandes potências. Há tensões inevitáveis, mas a sua estratégia de apaziguamento tem sido muito bem sucedida. Seria de esperar o aparecimento de coligações de países asiáticos [contra a China], ou tensões mais sistemáticas com os EUA, mas na verdade, as relações melhoraram muito nos dois casos, fortaleceram-se. E este processo será agora muito mais difícil de interromper.

Consegue imaginar um regime democrático na China nos próximos 10 ou 20 anos?

Vinte sim, dez não! Será interessante ver a questão das transições políticas. Hu Jintao é o último líder a ser nomeado por Deng Xiaoping e depois teremos líderes que não receberam o aval dos fundadores da República Popular. Serão seleccionados por um processo que ainda é relativamente novo para um estado autoritário. A transição de Jiang Zemin para Hu Jintao foi um alto momento de transferência de poder. Se conseguirão ou não manter esta transição com sucesso é ainda uma questão. Acho que conseguirão, mas haverá uma diminuição de poder a cada ronda de novos líderes.

Como serão escolhidos?

Suponho que o processo venha a ser uma geração escolher a outra, pessoas que estão preparadas para receber a confiança do Partido e receber poder. Será como uma empresa que dá poder a um novo CEO, com os sucessores a serem escolhidos. É um processo difícil. Se olharmos para o grupo de potenciais líderes, qualquer um deles poderá perder a sua posição muito depressa, não tem uma posição de força nem a bênção de Hu Jintao. Provavelmente, haverá um enfraquecimento progressivo da próxima liderança. Mesmo Hu Jintao ainda tem de pesar as suas relações com Jiang Zemin. Haverá facções, necessidade de construir bases de poder, estarão numa posição mais fraca.

Será mais fácil assim ver as lutas internas do Partido?

Eles fazem um bom trabalho a manter isso à porta fechada, por enquanto. Mas a tensão virá se houver uma grande crise de política externa, uma séria crise económica. Quem deverá ter o poder numa situação destas? Quem conseguirá tomar decisões concertadas? De repente estas questões de autoridade e tomada de decisão vêm ao de cima com uma grande crise.A outra questão é: há neste momento uma classe média que é ainda de primeira geração. Saiu da pobreza e de um período em que as suas famílias eram pobres e eles também. Há de certa forma um sentimento de gratidão pelo que o Governo fez por eles, dando-lhes uma nova riqueza e um conjunto de liberdades. A segunda geração será um teste: será uma geração que apenas conheceu isto e que não estará grata, e terá mais expectativas em relação aos seus direitos e liberdades. Poderá pressionar mais o sistema político, e é possível que a nova classe média lute mais pelos seus direitos do que a actual. Isso será outro teste ao sistema.O Partido protege os interesses da classe média em detrimento da maior massa populacional; há uma “conspiração” de elite para proteger os interesses da classe média face aos mais pobres. Isso também já é uma tensão.

O que prevê para os próximos 20 anos?

Em dez anos ainda teremos uma coisa parecida com o sistema actual; em 20 haverá transições de liderança com a segunda geração da classe média a ser mais prevalecente... Em alguns aspectos, a China ainda é tratada como pertencendo a uma classe diferente por causa do seu sistema político. Não é tratada como as democracias mundiais. Para ser uma potência mundial de pleno direito, o seu sistema político terá de mudar. Quando a memória de Tiananmen desaparecer – que ainda está muito viva –, afastando as inseguranças que criou, e a velha guarda do Partido também, haverá mais possibilidades de vermos mudanças.

Extractos da entrevista feita pelo Público a Andrew Small, especialista em questões chinesas do German Marshall Fund dos EUA. (ver texto completo)
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terça-feira, junho 02, 2009

Socialismo precário

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"BE defende suspensão temporária das regras do mercado" noticia o IONLINE.
Em vez da "mão invisível" quer uma mão bem visível, por exemplo a de Francisco Louçã.
Finalmente uma proposta revolucionária nesta campanha eleitoral. Só é pena que tenha sido admitida com contrato a prazo.
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segunda-feira, junho 01, 2009

A legitimidade do amor


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Nunca pensei assistir a uma luta "progressista" para conseguir a sujeição das relações amorosas e dos sentimentos a um formalismo burguês como o casamento.
Se a questão é a igualdade entre hetero e homossexuais, então defenda-se o fim do casamento, o gay e o outro. Elimina-se o mal pela raiz.
Quando Ana Zanatti, este fim de semana, numa sessão do Movimento pela Igualdade, disse: "A plena legitimidade do amor está ainda por conquistar" é caso para perguntar se a "legitimidade do amor" é o casamento, mesmo admitindo o absurdo de o amor precisar de ser legitimado.
Essa concepção de cariz retrógrado é mais ao estilo de Bento XVI.
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