terça-feira, julho 31, 2007

PSVET



Passo 1:

Trocamos a Madeira pela Galiza.

Têm que levar o Alberto João!

Passo 2:

Os galegos são boa onda, não dão chatices e ainda ficamos com
o dinheiro gerado pela Zara (é só a 3ª maior empresa de vestuário).

A indústria têxtil portuguesa é revitalizada.

Espanha fica encurralada pelos bascos e Alberto João.

Passo 3:

Desesperados, os espanhóis tentam devolver a Madeira (e Alberto João).

A malta não aceita.

Passo 4:

Oferecem também o País Basco.

A malta mantém-se firme e não aceita.

Passo 5:

A Catalunha aproveita a confusão para pedir a independência.

Cada vez mais desesperados, os espanhóis oferecem-nos a Madeira,
o País Basco e Catalunha.

A contrapartida é termos que ficar com o Alberto João e os etarras.

A malta arma-se em difícil, mas aceita.

Passo 6:

Dá-se a independência ao País Basco.

A contrapartida é eles ficarem com o Alberto João.

A malta da ETA pensa que pode bem com ele e aceita sem hesitar.

Sem o Alberto João a Madeira torna-se um paraíso.

A Catalunha não causa problemas.

Passo 7:

Afinal, a ETA não aguenta com o Alberto João, que, entretanto,
assume o poder. O País Basco pede para se tornar território português.

A malta aceita, apesar de estar lá o Alberto João (não há
problema - ver passo seguinte).

Passo 8:

No País Basco não há Carnaval.

Alberto João emigra para o Brasil...

Passo 9:

Governo brasileiro pede para Brasil voltar a ser território
português.

A malta aceita e manda o Alberto João para a Madeira.

Passo 10:

Com os jogadores brasileiros mais os portugueses (e apesar do
Alberto João), Portugal torna-se campeão do mundo de futebol!

Alberto João, enfraquecido pelos festejos do Carnaval na
Madeira e no Brasil, não aguenta a emoção e sucumbe.

Passo 11:

Todos vivem felizes para sempre.
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segunda-feira, julho 30, 2007

Petição Radares - 1000 assinaturas



A petição que lançámos em
( http://www.petitiononline.com/dotecome/petition.html )
no dia 24 de Julho, para que os limites impostos pelos radares passem de 50 para 80 km/h nos troços do tipo "via rápida", alcançou hoje as mil assinaturas.

Em pleno período de férias e ainda antes de os lisboetas multados terem começado a receber as notificações.

António Costa toma posse depois de amanhã...
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domingo, julho 29, 2007

Uma "second chance" na "second life" ?



Do Expresso de ontem:

Clamando que no mundo virtual de Second Life o número de avatares residentes já ultrapassa os oito milhões, o Estado português decidiu avançar com a criação de um centro para resolução de litígios. Somos os primeiros, afirma o Ministério da Justiça.
...
Esta afirmação oficial já causou mal-estar entre os magistrados portugueses, que reclamam que primeiro se resolvam os litígios da vida real antes de o Estado português se debruçar sobre os problemas da vida virtual. De facto, é licíto perguntar – e o cidadão comum já o começou a fazer – qual é o interesse efectivo de um “tribunal” para julgar questões do mundo virtual?
Não parece existir uma resposta efectiva para esta escolha, a não ser uma vontade de “chegar-se primeiro”...

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A parolice no seu estado mais puro, tudo menos virtual.
Integra-se de pleno direito no Portugal dos Pequenitos descrito por João Pereira Coutinho no mesmo jornal.
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sábado, julho 28, 2007

Aeroporto e saudosismos

Como já há muito tempo que não ponho nada aqui, deixo, para fazer companhia ao Marquês de Pombal sem radares, a Portela: sem + 1, sem Ota nem Alcochete.


sexta-feira, julho 27, 2007

Radares e saudosismo

clicar a imagem para ampliar


O Marquês de Pombal nos anos 30 do século XX.
Este era o tempo em que os automóveis, poucos, andavam a 50 km à hora.

Será que, com os radares, nos querem levar de volta a esses tempos ?

Na história dos caminhos de ferro também houve um senhor, muito reputado, que previu que, se as carruagens se deslocassem a mais de trinta quilómetros à hora, todos os passageiros morreriam pois deixavam de conseguir o ar para respirar.
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terça-feira, julho 24, 2007

Petição Radares 50 --> 80




Decidi lançar uma petição on-line, dirigida ao Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, para que os radares passem a limitar a velocidade não a 50 mas a 80 km/hora em todos os locais que tenham pelo menos quatro faixas de rodagem e baixa frequência de atravessamentos.

Se concorda e quer assinar esta petição vá a:

http://www.petitiononline.com/dotecome/petition.html


Texto da Petição
Lisboa - Pela conversão do limite dos 50 km/h em 80 km/h

Os radares instalados pela Câmara Municipal de Lisboa, que impõem limites de 50 quilómetros à hora em locais como, por exemplo, a Av. Infante D. Henrique, a Av. de Ceuta, a Av. Marechal Gomes da Costa e a Av. Gago Coutinho são uma verdadeira aberração.
Quem os decidiu não deve, não pode, ter a noção do que significa na prática uma tal velocidade.

Como não é possível impor a todos os automóveis um limite de zero quilómetros à hora, por forma a evitar todos os acidentes, temos que encontrar um equilíbrio razoável entre a velocidade e os riscos.
Esse equilíbrio não é, certamente, 50 km/hora. Dá sono, propicia distracções, provoca travagens bruscas e emperra visivelmente a circulação.

Em Lisboa, o limite de 50 km/h foi imposto precisamente nos locais onde, pelas características da rodovia, os lisboetas podiam, depois de muitos engarrafamentos, andar um pouco mais depressa sem correr grandes riscos.

Os jornais informaram que são mais de 2.500 as infracções detectadas pelos radares todos os dias em Lisboa; ao fim de uma semana detectaram cerca de 17.800 condutores em excesso de velocidade e produziram, desta forma, um milhão de euros de receitas dos quais 320 mil terão como destino os cofres da câmara.

Nem os lisboetas são todos irresponsáveis como os números poderiam indiciar nem as dificuldades financeiras de Lisboa justificam tal campanha de caça à multa. Há portanto que corrigir esta absurda prepotência desencadeada pela vereação recentemente substituída.

Vimos por este meio exigir ao recém eleito Presidente da Câmara de Lisboa, Doutor António Costa, que tome as medidas necessárias para converter o actual limite dos 50 km/h para os 80 km/h em todos aqueles troços que, como os indicados neste texto, sejam do tipo "via rápida", com quatro faixas de rodagem e baixa frequência de atravessamentos.

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segunda-feira, julho 23, 2007

Cidadãos auto-imobilizados


Alguém tem que quebrar o silêncio políticamente correcto. O rei vai nu.

Os radares instalados em Lisboa, que impõem limites de 50 quilómetros à hora em locais como a Av. Infante D. Henrique, Av. De Ceuta, Av. Marechal Gomes da Costa, por exemplo, são uma verdadeira aberração.

Quem decidiu uma coisa destas não deve, não pode, ter a noção do que significa na prática tal velocidade. Deve ser uma simpática velhinha que nunca conduziu e que olha para os automóveis como manifestações demoníacas.

Chegámos a este ponto pelo processo habitual:

- alguns fanáticos isolam um problema social e resolvem absolutizá-lo para tornar aceitável qualquer medida correctiva.
- avançam com algumas pseudo-soluções que não resolvem o problema, nem beliscam interesses importantes, mas que incomodam todos os cidadãos comuns.
- como as intenções são piedosas ninguém, na área política, tem coragem para as contrariar.

A partir desse ponto todas as aberrações se tornam possíveis. Veja-se os milhares de “lombas” que foram espalhadas pelo país que, numa repressão cega, escangalham milhares de automóveis tornando-os assim mais aptos para os acidentes, para além de provocar lesões na coluna e mesmo casos de aborto.

Os políticos demitem-se da sua responsabilidade de perseguir os comportamentos reprováveis e anti-sociais e fingem resolver os problemas incomodando todos os cidadãos, quer sejam prevaricadores quer não. É revelador que só tenham iniciado as multas dos radares depois das eleições em Lisboa.

Estamos à mercê dos funcionários que ninguém elegeu e dos burocratas que retiram a sua realização pessoal da perseguição dos cidadãos inocentes.
As coisas podem, no entanto, piorar ainda mais.

Li algures que Helena Roseta negoceia com António Costa a atribuição do pelouro responsável pelo trânsito em Lisboa a Manuel João Ramos, o inspirador da “Associação dos Cidadãos Auto-mobilizados”.

Trata-se de uma pessoa que tem uma visão enviesada, e fundamentalista, da circulação rodoviária em resultado de uma tragédia familiar que todos, como é óbvio, lamentamos. Só alcançou grande notoriedade por ter acesso previlegiado aos meios de comunicação.

A sua nomeação para comandar os problemas do trânsito em Lisboa é tão absurda como seria nomear o familiar de uma vítima de incêndio, só por o ser, para dirigir a cúpula dos bombeiros, ou o parente de uma vítima de cancro para dirigir o IPO.

Os acidentes de trânsito fazem parte de um conjunto de problemas sociais que estão na moda e que conseguem uma atenção superior à sua importância real.
É fácil culpabilizar o cidadão “pecador”, ainda mais pecador na sua condição de proprietário, o que parece responder às necessidades da nossa matriz judaico-cristã. Também beneficia da espectacularidade dos acidentes.

Se a todos os automóveis fosse imposto um limite de zero quilómetros à hora haveria zero acidentes de viação. Como isso é impossível temos que encontrar um equilíbrio razoável entre a velocidade e os riscos.

Esse equilíbrio não é, certamente, 50 km/hora.
Dá sono, propicia distracções, emperra visivelmente a circulção.

Se têm dúvidas consultem, em referendo, a população de Lisboa.


clique a imagem para ver a localização dos radares

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domingo, julho 22, 2007

Centro Cultural de Berardo ?

Femme dans un fauteuil, Picasso


Não há dúvida de que o Museu Colecção Berardo constitui uma contribuição importante para o rosto cultural de Lisboa. A colecção, o que conheço dela, contém obras notáveis mas também outras que vivem, como é habitual no campo artístico, da criação à sua volta de uma aura que a minha sensibilidade tem dificuldade em reconhecer. Isso não me perturba muito pois a arte é o campo da subjectividade por excelência.

O que me perturba é não ter ainda percebido o novo papel do CCB, com ou sem Mega Ferreira. Se a colecção Berardo não deixar espaço para a passagem de esposições temporárias parece-me que ficamos todos a perder.

Depois de ver a colecção Berardo uma ou duas vezes que motivos terão os visitantes comuns para lá voltar ?
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sexta-feira, julho 20, 2007

Por culpa de Fidel

Não é “um grande filme”, mas vê-se bem e faz-nos pensar. Principalmente àqueles que viveram naquele mesmo período acontecimentos daquele tipo e facilmente se recordam como protagonistas de histórias semelhantes.

Se tomarmos como ponto de focagem as duas crianças, nomeadamente a quase adolescente Anna, poderemos começar por pensar que se está perante um processo normal de crescimento, em que elas são confrontadas com modelos diferentes de comportamentos na família e nos grupos sociais onde estão inseridas, sendo apenas incidental o facto de neste caso essas diferenças terem raiz politica.

E penso que assim é, mas com uma ressalva: esse carácter politico não é indiferente, porque permite não só pôr em perspectiva as acções dos adultos através da evolução das crianças, mas também questionar um dos mais importantes “nós górdios” das ideologias ou, mais simplesmente, das tomadas de posição: a certeza.
Permite-nos também reflectir sobre os motivos que levaram cada um de nós a seguir por um caminho e não por outro (reflexão muito oportuna, agora que florescem os livros de memórias!), e sobre o real contributo que muitas acções, executadas sem duvida com entusiasmo e espírito generoso, acabaram por ter para os objectivos que se pretendia atingir.

No final do filme, em contraponto à sensação de inutilidade que aquele grupo de activistas sente perante a queda de Allende, perfila-se Anna que aprendeu, entre outras coisas, que “espírito de grupo” não é o mesmo que “carneirada”, que não há certezas absolutas e definitivas e que o mais importante é sempre decidir pelo nosso próprio juízo critico.
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"na CHina" em Torres Vedras


Inauguração, 21 de Julho às 18:30

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quinta-feira, julho 19, 2007

Zita e a queda da Utopia


Acabei de ler o “Foi Assim” de Zita Seabra. Os dois primeiros capítulos, sobre os primeiros tempos da militância, já eu tinha comentado aqui.

Não vou entrar na discussão das imprecisões factuais do livro e também não vou julgar as escolhas ou intenções de Zita Seabra. Reconheço-lhe não só o direito mas o mérito de ter tentado preservar as memórias do seu percurso político no PCP. Para mim o livro é especialmente interessante porque entrei e saí do partido praticamente ao mesmo tempo que Zita.

Aqueles que viveram aquele período em actividade militante, mesmo na base, encontram no livro muitos episódios ou pessoas que conheceram directa ou indirectamente vistos, é claro, de um ângulo diferente. Um índice dos nomes mencionados devia por isso ter sido publicado.

Pode no entanto dizer-se que grande parte do texto tem um carácter descritivo, ao nível do lugar-comum, e acaba por não acrescentar muito ao que esse tipo de pessoas já sabia ou presumia.

Zita Seabra mistura, recorrentemente, por um lado o distanciamento relativamente aos factos vividos e, por outro, um estilo próprio da sua antiga condição de controleira o que perturba o leitor que saiba quão distante a autora está hoje de tais andanças. Só faz sentido se for interpretado como formula adoptada pela autora para melhor recriar o ambiente dos episódios relatados.

Também se verifica um certo grau de conflito entre o empolamento e dramatismo do tom e as acções conspirativas vividas pela autora que não são especialmente impressionantes, quando comparadas com as experiências e percursos de outros militantes, que enfrentaram situações bem mais agudas, durante períodos mais longos e em condições mais adversas. Em certas passagens é também perceptível uma certa imaturidade.

Confesso que fui surpreendido pelo tratamento trivial de certos acontecimentos históricos que, a terem sido como Zita relata, roçam o caricato. Neste plano não posso deixar de referir a descrição da espera, por Zita e por Carlos Brito, do desencadear do 25 de Abril.
Segundo a autora teriam estado paulatinamente a ouvir pela rádio e a confirmar, um a um, os sinais combinados pelos militares para a saída das tropas.
Sendo Carlos Brito o responsável pelo controle dos militantes nas forças armadas e um alto dirigente do PCP parece estranho que nenhuma diligência estivesse em curso que preparasse os militantes civis para, em caso de necessidade, colaborarem com os militares.
Os dias que antecederam e sucederam a revolução, da forma como estão descritos, parecem demasiado impreparados e caóticos para um partido que, como a autora refere, fazia da disciplina e do rigor a sua grande força.

Não posso usar a minha experiência pessoal na validação do texto de Zita relativo ao 25 de Abril porque passei os meses que antecederam a revolução desligado da rede clandestina.Tinha descoberto, por mero acaso, que estava a ser seguido pela PIDE. A partir de 18 de Abril estive em Caxias.

Os relatos das sessões do Comité Central em que foi decidido o afastamento de Zita Seabra são bastante chocantes, sem dúvida, mas é difícil perceber o verdadeiro carácter da dissidência que os motiva. Há no livro muitas referências a questões de carreira, promoções e despromoções mas, no plano ideológico, tudo parece resumir-se às tensões entre o trabalho parlamentar e as preferências da direcção do partido pela teoria da “luta armada”.

Não me recordo de qualquer referência a conflitos ao nível dos objectivos políticos e do modelo de sociedade que enformavam, e enformam, a acção do PCP. Por isso a dissidência de Zita parece ter-se resumido, enquanto militante, às questões de método e do processo de transição.
Se bem percebi Zita considerava que os portugueses se afastavam do PCP não tanto por este partido lhes propor soluções indesejáveis ou ininteligíveis mas sim porque receavam que tais soluções lhes viessem a ser impostas pela força. Nada disto resultou muito claro para mim.

O livro termina com uma impressionante denúncia das violências cometidas na URSS e noutros países comunistas, quer contra militantes caídos em desgraça quer contra os vulgares cidadãos. A autora confessa a sua vergonha por ter estado envolvida naquilo que designa por crimes e, de certa forma, este final do livro constitui um pedido de desculpa ao mundo. Zita parece querer ignorar que essas não foram as primeiras, nem as últimas, violências que se abateram sobre a humanidade.

Dentro em breve escreverei sobre as páginas que faltam no livro de Zita Seabra e que tratariam da parte para mim mais importante.
Como se lida com a morte de uma utopia a que se esteve ligado quase toda a vida ?

A resposta que cada um de nós dá a esta pergunta acaba por ser a nossa mais autentica assinatura.
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quarta-feira, julho 18, 2007

Saramago "nuestro hermano" ?

Saramago visto por Rui Duarte


Descobri Saramago com Levantado do Chão, que me maravilhou, muito antes de ele se tornar famoso. O "Memorial...", o "Ricardo Reis..." e o "Evangelho..." deixaram em mim marcas muito fortes.

Nos últimos anos tenho cada vez mais dificuldade em ler os seus livros. Estou convencido de que, em arte, é muito mais importante mergulhar nas dúvidas, nas perguntas e na complexidade do que partir de uma base simplista de certezas.
A grandiosidade das metáforas de Saramago cada vez mais me parece inquinada por uma arrogância apologética que é, por natureza, o contrário da arte tal como a concebo.

Por alguma razão Saramago convenceu-se de que lhe competia vestir-se como um misto de juiz e de pitonisa o que costuma, tarde ou cedo, levar à produção de obras chatas.

No campo das declarações avulsas sobre os grandes problemas sociais tivemos recentemente uma entrevista onde foi antecipada "a integração de Portugal em Espanha...".

Talvez valha a pena ver como reagem "nuestros hermanos" num fórum do El Pais (ver aqui)
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terça-feira, julho 17, 2007

Encompassing the Globe

Portrait of a Black Man, Jan Mostaert


A exposição "Encompassing the Globe: Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries" é "de longe a maior, quer pelo número de peças quer pelo número de instituições e pessoas que as disponibilizaram quer pelo espaço ocupado".
Esta declaração foi feita por James Gordon, Director do Departamento de Informação da Smithsonian Institution.

A exposição inaugurada em Washington por Cavaco Silva no dia 20 de Junho estará aberta ao público até 16 de Setembro. Ocupará "todo o espaço de exibição da Sackler Gallery e uma parte do adjacente National Museum of African Art".

Em foco, estarão Portugal e o encontro de culturas proporcionado pelas viagens portuguesas dos séculos XVI e XVII.

Segundo a última relação das obras a expor divulgada pela Smithsonian, as 260 peças são provenientes de 89 instituições e 16 coleccionadores particulares, sendo o Tokyo National Museum, com 16 objectos, a instituição que mais obras fornece para a exposição.

Vêm depois o Nationalmuseet, de Copenhaga, com 13 objectos, o Museu Nacional de Arte Antiga, de Lisboa, e o British Museum, de Londres, com 12.

Há 60 instituições ou coleccionadores que disponibilizaram apenas uma obra para esta exposição.

( clique aqui para ver uma colecção de objectos presentes na exposição )
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segunda-feira, julho 16, 2007

Prontos para um demagogo ou o ocaso dos partidos


A votação em Lisboa demonstra também, numa escala nunca antes verificada, a decadência do sistema partidário em Portugal. Vejamos:

1. Os partidos tradicionais da direita são simplesmente arrasados.

2. António Costa "ganha" as eleições com os votos de 10% dos lisboetas inscritos. Tem menos 17.000 votos que o vilipendiado e derrotado Carrilho.

3. O PCP perde 13.500 votos e passa de 11,42 para 9,53 %. Nos anos oitenta chegou a ter 27,5 %.

4. O BE perde 8.900 votos e passa de 7,91 para 6,81 % mesmo depois do "brilharete" de ter conseguido provocar eleições

5. Carmona, o arguido independente, tem sozinho mais votos do que os seus algozes, PCP e BE, juntos.

6. Roseta, com meia dúzia de tretas, arranja em dois meses mais votos do que um partido com uma história gloriosa como o PCP.

7. 62 % dos cidadãos de Lisboa recusam-se a participar na votação.

A isto nos conduziu a guerra sem quartel e sem princípios que os partidos têm conduzido nos últimos anos. Uma guerra em que tem valido tudo para alcançar o poder e em que, mais do que as causas, são os interesses que pontificam.

Ou seja, parecem estar criadas as condições para o surgimento de um demagogo qualquer, um Berlusconi ou um Chavez, que nos conduza finalmente para a "República das Bananas" que julgávamos não ser.
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domingo, julho 15, 2007

86.000 votos pelo cano abaixo



O que tantos tanto receavam aconteceu.
Apesar de o tempo não ser adequado para idas à praia a abstenção disparou nas eleições para a Câmara de Lisboa.
Já tinha dito que isso se deveria às pobríssimas ideias da campanha mas, depois de ver os resultados, vou ainda mais longe: os eleitores estão a deixar de votar porque sentem que não vale a pena. Vou explicar.

Há dois anos houve 119.837 cidadãos de Lisboa que votaram em Carmona Rodrigues. Tente-se imaginar o que essas pessoas devem sentir quando vêem a sua escolha arrastada pela lama mediática como um banana corrupto.

Por um lado podem pensar que tudo não passa de suspeições que nenhum tribunal validou ainda mas isso não resolve a angústia dessas pessoas. Das duas uma:

1) ou Carmona é realmente um banana corrupto e então os seus votantes ficam desmoralizados e consideram-se indignos de votar agora noutro candidato que pode vir a revelar-se igualmente mau
2) ou Carmona afinal não é um banana corrupto e então os seus votantes devem concluir que há nesta democracia mecanismos perversos que conseguem sobrepor-se e anular, "na secretaria",uma votação democrática

Esta pode ser a explicação para o facto de as forças de direita (Carmona+PSD+CDS), no seu conjunto, terem perdido 65.713 votos para a abstenção em comparação com 2005.

Mas então como se explica que as forças de esquerda (Roseta+PS+PCP+BE) tenham também perdido, no seu conjunto, 19.676 votos ? O PCP e o BE reduzem mesmo as suas percentagens de 11,42 para 9,53 %, no primeiro caso, e de 7,91 para 6,81 % no segundo.

Talvez os cidadãos não simpatizem especialmente com uma política baseada na denúncia. Mesmo que reconheçam a pertinência das denúncias pressentem que as denúncias, quando a justiça não as confirma em tempo útil, podem transformar-se numa arma perigosíssima para a democracia.

António Costa, ou a sua lista, ainda não tinham sido eleitos e já eram acusados de "interesses nos terrenos do aeroporto", "projectos ocultos na zona ribeirinha", "pacto secreto com Carmona", etc, etc. Onde é que isto nos leva ?

Já tenho dito e repito: há comportamentos na nossa vida política que estão a arrastar a democracia para o abismo. Talvez o mais grave seja a incapacidade para aceitar os resultados das eleições quando quem ganha é o adversário.

Cada vez mais constatamos que os eleitos, mal tomam posse, são imediatamente sujeitos a tratos de polé e, se não se cuidam, destruídos mesmo ao nível da sua vida privada, escolar ou profissional.

De forma falaciosa apresenta-se a intolerância e o espírito anti-democrático como se fossem apenas as normais, e democráticas, diferenças de opinião e de proposta.

O principal problema de Lisboa está, como antes estava, nesta perversão da democracia.
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Os casos do Centro de Saúde de Vieira do Minho e das Juntas Médicas da CGA


A necessidade de dar a minha indicação de voto antes das eleições para a Câmara de Lisboa, pensando que alguém ainda lê o que escrevo, levou-me a publicar com urgência o texto O Voto por Lisboa. Contudo, e porque há muito tempo que nada escrevo sobre a actualidade política, passaram-se alguns factos anteriores às eleições que são ainda merecedores de reflexão e sobre os quais posso invocar a minha experiência pessoal.
Em primeiro lugar o caso da afixação por um médico do Centro de Saúde de Vieira do Minho de uma fotocópia com uma entrevista de Correia de Campos com um comentário jocoso da sua autoria e que levou o Ministro a demitir a responsável pelo Centro. Este fait-divers, com alguma semelhança com outro que se passou na DREN, com o processo disciplinar ao professor Charrua, levou muito comentadores, e com razão, em falar do regresso da bufaria e no clima intimidatório que se estaria a viver em relação aos funcionários públicos. No entanto, o que me preocupa nesta caso é aquilo que foi dito na Nota à Imprensa do Gabinete do Ministro onde se afirma que o cartaz exibia “comentários agressivos e desfavoráveis sobre o Ministro da Saúde, que exerce os poderes de superintendência e tutela sob todos os serviços e estabelecimentos do SNS” ou que “os Centros de Saúde não são locais de exercício de actividades políticas”, ou seja, resumindo, nos locais de trabalho não se poderia afixar qualquer cartaz contra o Governo.
Rememoremos. Logo a seguir ao 25 de Abril a propaganda política começou a ser afixada a eito nas repartições públicas. Consoante um partido tinha mais ou menos força num local de trabalho assim os seus militantes afixavam cartazes por tudo o que era sítio. Com o andar do tempo, e principalmente com o 25 de Novembro, foram criados locais explícitos para a afixação da propaganda política, que, como se deve imaginar, era na maioria dos casos bastante desfavorável aos governos da época. Não sei se chegou a haver legislação que regulamentasse esta afixaçãon nos locais de trabalho, houve pelo menos o bom-senso de a localizar em sítios só acessíveis aos seus trabalhadores e não o público em geral. Não sei como está hoje esta situação, penso é que já nenhum activista político se atreve a afixar cartazes do seu partido no seu local de trabalho. No entanto, durante as campanhas eleitorais há muitos serviços que são visitados pelos candidatos, e de certeza que a maioria não vai lá para dizer bem do Governo.
Há, no entanto, uma situação que eu sei que se mantém, são os locais para afixação dos comunicados e cartazes sindicais e esses são de certeza críticos em relação ao Governo. Sei por experiência própria que esses cartazes estão longe dos utentes que têm acesso directo às repartições públicas, mas nada impede que se localizem num corredor onde podem passar pessoas estranhas ao serviço.
Por isso o comunicado do gabinete do Ministro e alguma discussão que se travou à volta deste assunto é preocupante, porque pode levar a pensar que daqui para diante qualquer cartaz, comunicado ou graçola contra o Governo não pode ser afixada nos locais de trabalho, mesmo que em lugares para isso destinados. Ao menos preservem os placards sindicais desta censura afascistada.
O segundo caso a que me queria referir é o das Juntas Médicas da responsabilidade da Caixa Geral de Aposentações (CGA). O Primeiro-Ministro mostrou-se muito “chocado” com as notícias que tinham vindo a público de que dois professores com doença oncológica não tinham obtido a respectiva aposentação e foram obrigados a ir trabalhar, tendo morrido entretanto. Simultaneamente, anunciava uma auditoria a todas as Juntas Médicas da CGA e alterações na legislação que regulamenta a sua composição, determinando que estas sejam só formadas por médicos e não, como até aqui, por dois médicos e um representante da Caixa.
Este espanto do Primeiro-Ministro não é sério. Alguns comentadores dizem que esta atitude das Juntas Médicas resulta do estilo autoritário que este imprimiu à Administração Pública, outros que este problema já era antigo e que o Primeiro-Ministro não tem culpa nenhuma. Nada disto é verdade, pois este comportamento resulta de uma clara orientação do Governo para evitar a reforma antecipada dos funcionários públicos e, muito menos, que estes recorram à legislação especial que permite que quem sofra de doença oncológica, e mais duas outras que não interessa agora referir, possa levar a reforma por inteiro. Estes Comissários do Governo, que outro nome não têm, cumprem as orientações que lhes foram dadas, acrescentando por sua lavra um tratamento malcriado, pesporrente e sobranceiro, semelhante àquele que os médicos há uns largos anos dispensavam nos hospitais públicos àqueles que tinham a infelicidade de lá caírem, no fundo aos pobrezinhos. Fala quem já passou por isso. Estas actuações das Juntas Médicas eram há muito conhecidas dos funcionários públicos e resultavam, como já se disse, das ordens quer do Governo de Durão Barroso quer do de Sócrates quando estes se aperceberam que era necessário cortar despesas na CGA. Se juntarmos estas orientações às atitudes dos médicos temos um caldo altamente explosivo, que resulta naquilo que a comunicação social só agora relatou.
Poderia escrever longas páginas sobre as Juntas Médicas da CGA, por isso choca-me que o Primeiro-Ministro chore lágrimas do crocodilo sobre um dado que era do conhecimento de todos e que foi encorajado pelo Governo na sua ânsia de gastar menos dinheiro com a Função Pública.

sábado, julho 14, 2007

Museu no Terreiro do Paço

Hoje é dia de eleições em Lisboa. Como eu gostaria que esta proposta, que eu tantas vezes imaginei e que ontem Manuel de Matos Fernandes publicou no Expresso, tivesse sido feita por um dos candidatos à presidência da Câmara.



O leitor recordar-se-á das notáveis exposições produzidas ao longo de uma década pela Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses. Francamente, parece-me absurdo que as novas gerações tenham de esperar por nova data redonda para ver tratado e celebrado com aquela qualidade o momento maior da nossa História. Até porque tais datas e festejos afins raramente são a ocasião mais propícia para pensar o passado de forma lúcida e mobilizadora.

Lamento, enfim, que o esforço então desenvolvido não tenha levado a um projecto museológico sobre Os Descobrimentos Portugueses e a Expansão Europeia, tratando com equilíbrio e rigor as contribuições dos diversos países nela envolvidos, bem como as civilizações encontradas pelos europeus.

Num projecto com esta orientação há os temas incontornáveis, que conjugados com a mostra de objectos de grande simbolismo - astrolábios, portulanos, Tratado de Tordesilhas, carta de Pêro Vaz de Caminha, primeiras edições da ‘Peregrinação’ e de ‘Os Lusíadas’, os Painéis do Infante e a Adoração dos Magos com o índio do Brasil - com os achados da arqueologia subaquática e com o recurso às técnicas de realidade virtual (como a simulação de uma tempestade no Cabo da Boa Esperança) tornariam a visita atractiva para o grande público.

Além do que fica acima referido, outros aspectos há menos óbvios mas nem por isso menos importantes.

Nenhum outro povo europeu da Expansão exerceu e recebeu influências no campo da Arte em grau comparável aos portugueses. A inclusão de peças como marfins afro-portugueses, marfins, jóias e móveis hindo-cingalo-portugueses, sedas e porcelanas sino-portuguesas, biombos japoneses com figuras portuguesas, azulejos portugueses de inspiração oriental, conferiria ao projecto características de Museu de Arte. Que seriam reforçadas com a abordagem ao património construído, fortificações, monumentos religiosos e civis, cidades fundadas e desenhadas pelos portugueses.

Deveria ser contemplada a língua portuguesa, bem como as comunidades fora da lusofonia que se sentem ligadas a Portugal, como Goa, Malaca, Flores, Nagasáqui.

A construção do Brasil deveria ter tratamento destacado, tendo em conta a importância que terá no mundo futuro e o número de brasileiros que nos visitam.

O Museu teria programas preparados para visitas dos diversos graus de ensino. Para lá do público nacional, seria particularmente atractivo para os cidadãos dos países que participaram na expansão europeia, dos países do Novo Mundo ou daqueles que connosco mais intensamente contactaram, como a Índia, o Japão e a China. Mas com a abrangência atrás esboçada seria rapidamente considerado imperdível para estudiosos ou simples apreciadores em domínios como as artes decorativas, a arquitectura, a oceanografia, a cartografia, a arqueologia subaquática. Trata-se pois de um imenso público potencial!

Um Museu como este não existe em lado nenhum. Se há país em que ele se justifica é o nosso. Edificado em Lisboa, no Terreiro do Paço, seria a âncora que a Baixa necessita para a sua reanimação. Aí instalado, o Museu deveria contemplar a história do sítio: o Paço da Ribeira, a Casa da Índia, o Terramoto, a Reconstrução Pombalina, o Regicídio, a madrugada de 25 de Abril. Perto, deveria estar fundeada a fragata ‘D. Fernando II e Glória’ (sem destino depois da reabilitação para a Expo-98).

É sabido até que ponto certos projectos museológicos podem tornar-se poderoso trunfo na competitividade entre cidades (e entre países). Este projecto, conduzido com inteligência e ambição, pode ser O Museu de impacto planetário que nos falta.

O que ele poderia contribuir para a imagem que os portugueses têm de si próprios e para aquela que os milhões que anualmente nos visitam vão guardar é inestimável. E a influência que essa outra imagem pode ter no nosso futuro ainda mais.

Manuel de Matos Fernandes
Professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
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O voto por Lisboa


O FPR na sua saga anti-partidos avisa que “nenhum candidato apresentou propostas capazes de entusiasmar o povo” e cita dois exemplos, que, segundo ele, mereceriam resposta adequada dos candidatos e que sobre os quais ninguém se prenunciou.
O primeiro exemplo, francamente, parece-me muito mal escolhido. Se houve coisa que foi tema obrigatório da campanha foi a frente ribeirinha. Todos se pronunciaram que ela fosse entregue à cidade e que não continuasse a ser gerida pelo Porto de Lisboa.
Parece que o Fernando desconhece como, já quase no final da campanha, foi revelado que o mandatário de António Costa, José Miguel Júdice, tinha sido encarregue pelo Governo, há já pelo menos quatro meses, de gerir aquela zona, sem que ninguém até ao momento soubesse de alguma coisa, excepto o próprio António Costa e Carmona Rodrigues, que sabia mas não dizia nada.
Por outro lado, foram muito falados os projectos que o Porto de Lisboa tinha para essa frente, um hotel do Grupo Altis, que está a ser construído na doca do Bom Sucesso e que é da autoria do número dois da lista de António Costa, o Arq. Manuel Salgado; o edifício que está a ser feito na zona do Cais do Sodré, que irá albergar instituições da União Europeia, e o novo terminal de cruzeiros previsto para Santa Apolónia. Quase todos os candidatos deram passeios pelo Tejo mostrando a importância daquela frente e propondo a passagem da sua gestão para a Câmara. Só que houve alguns que tinham esqueletos no armário e não os quiseram revelar, como era o caso de António Costa e de Carmona.
Quanto à proposta concreta do António Ressano Garcia Lamas, ela implica muito dinheiro e a intervenção activa do Governo. Muito mais fácil e quase imediata é atribuir a gestão da frente ribeirinha à Câmara e impedir a construção nessa zona. Parece-me que neste caso o Fernando não tem razão.
Quanto ao número de funcionários que alguém, em tese de doutoramento, mostrou que eram excessivos e que logo pressurosamente o Público se encarregou de divulgar, penso que é um assunto bastante mais complexo, que não pode ser resolvido à Garcia Pereira, que propôs imediatamente a eliminação de não sei quantos funcionários.
Sei que o Fernando tem uma senha contra os trabalhadores da função pública, mas com certeza que nenhum candidato proporia o seu despedimento, até porque isso não é possível nos termos da actual legislação e o tema merece mais reflexão do que a simples proposta de eliminação de postos de trabalho.
Para terminar, e sem necessitar de me justificar, eu voto Sá Fernandes.

Cristo ou Ninguém


Tem-se falado muito sobre os perigos da abstenção e amanhã, depois de conhecidos os resultados, os analistas vão alongar-se sobre o tema. O Verão e a praia vão ser culpados pelos "elevados níveis de ausência nas urnas".
Ao menos desta vez, como sou votante em Loures, não serei acusado pelos meus amigos de ter um comportamento anti-social.

A abstenção tem, quanto a mim, uma causa muito mais importante: nenhum candidato apresentou propostas capazes de entusiasmar o povo.

Não vi nenhum candidato reagir, por exemplo, às propostas de António Ressano Garcia Lamas para desembaraçar Lisboa do Combóio entre Pedrouços e o Cais do Sodré, libertando a frente ribeirinha. Também nenhum pegou no estudo de João Seixas
acerca do sobredimensionamento que estrangula as finanças de Lisboa.

Duvido que os lisboetas se mobilizem em torno do projecto de António Costa de "pagar as dívidas aos fornecedores" mas até o "radical" Bloco de Esquerda adopta os princípios burgueses relativos ao pagamento das dívidas para que a Câmara possa ser "uma pessoa de bem".

António Costa, o presumível vencedor das eleições, tem um Plano de Emergência para garantir a "manutenção dos cemitérios da cidade" e promete fechar o Terreiro do Paço, aos Domingos, já a partir de Agosto.

Em suma, medidas de fundo, com consequências enormes na fruição da cidade e na qualidade de vida dos lisboetas.

sexta-feira, julho 13, 2007

SIMPLEX


Penso que a oportunidade e pertinência desta medida são incontestáveis...
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Senhas de Presença ?


Das notícias vindas a público sobre os pagamentos de uma universidade privada a um deputado, dirigente máximo do maior partido da oposição, há uma coisa indubitável, confirmada pelo próprio: Marques Mendes recebeu 12 (doze) mil contos em "senhas de presença".

Vamos esquecer todo o ruído feito à volta deste facto, certamente para o ocultar, e concentremo-nos no essencial.

Qualquer pessoa minimamente atenta à vida empresarial sabe que esta estranhíssima figura das "senhas de presença" tem vindo a ser usada para subtrair os empregadores e os empregados, por comum acordo, às obrigações fiscais ou às contribuições para os sistemas de segurança social.

O facto de a prática ser frequente e envolver até, disse um especialista na televisão, Empresas Públicas e outras entidades com responsabilidades sociais não me parece que possa ser uma atenuante.

Marques Mendes tem que deixar de tentar "tapar o Sol com uma peneira" e explicar porque é que uma verba tão elevada lhe foi paga nesta modalidade.
Se não poupou dinheiro à universidade nem a ele, com óbvio prejuízo colectivo, por que razão foi utilizado o estratagema das "senhas de presença" ?

Se o não fizer, em tempo útil, estará em causa não só uma questão moral mas também a sua capacidade, no plano político, para exigir sacrifícios aos portugueses.

Se o não fizer, em tempo útil, o melhor é ir para casa pois não tem credibilidade para se candidatar ao lugar de primeiro-ministro.
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quinta-feira, julho 12, 2007

Bem me parecia

(clique na imagem para ver os detalhes)

Não, não se trata de anunciar as próximas eleições. Nem o "Pézão" Ricardo Oliveira, nem o Xande Macaco, nem o Carlão concorrem para a presidência da CML.
Qualquer semelhança com a campanha em curso é pura coincidência...
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quarta-feira, julho 11, 2007

Os verdes anos de Zita

anjo ferido, Hugo Simberg


Acabei de ler os dois primeiros capítulos de "Foi assim" e não resisto a fazer um primeiro comentário. Tocou-me bastante a excelente descrição do mundo fechado em que também eu cresci.

Também eu entrei para o PCP em meados dos anos 60 e poderia subscrever quase tudo o que Zita diz sobre as motivações pessoais e os enquadramentos psicológicos que explicam tal decisão.
Como ela bem explica não se partia de uma aquisição puramente ideológica para o risco da militância e não se tinha a sensação de estar a iniciar uma "carreira política". Quase sempre se pensava que os resultados práticos da luta, mesmo que fosse o simples derrube do regime, se verificariam a muito longo prazo.

Há uma grande diferença entre nós no que toca ao estatuto social das nossas famílias. Ao contrário de Zita eu não precisei de aprender o que é a pobreza pois nasci numa casa muito modesta. Numa casa onde os livros se contavam pelos dedos de uma mão e em que os donos dos livros dificilmente os conseguiriam ler.

Em Maio de 1967 Zita passa à clandestinidade no PCP. Exactamente um ano depois, a 1 de Maio de 68, eu sigo uma orientação do Partido quando parto para a guerra na Guiné em vez de emigrar.

Qualquer de nós acaba, à sua maneira, por ficar longe da "vida normal" por alguns anos. Por exemplo o Maio de 68 e tudo o que se lhe seguiu foi vivido por mim numa remota Guiné, sem rádio, sem televisão e com jornais que chegavam semanas depois.

Estou convencido de que, enquanto animais sociais, continuamos a pagar o preço desse vazio.

Voltarei mais tarde a tratar deste livro quando terminar a sua leitura e tiver percebido (!?) como é que uma mulher que viveu estas coisas pode ser militante activa de um partido como o PSD.
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terça-feira, julho 10, 2007

Chamem o Marquês !



Acabo de assistir ao debate promovido pela RTP com os 12 candidatos à presidência da CML. Parece-me que este debate não deve ter sossegado os lisboetas.
A lei em vigor vai proporcionar um executivo camarário onde estarão 6 ou 7 dos 12 que hoje se digladiaram. Mesmo ignorando as alfinetadas ridículas entre os candidatos foi patente a inexistência de um processo de convergência dos discursos. Dir-se-ia que quanto mais o debate se prolongava mais longe se ia ficando de qualquer conclusão. Desta discussão parece que não nasce a luz.
Dir-me-ão que isto é próprio dos debates de campanha mas eu respondo com uma pergunta: conseguem imaginar aquelas mesmas pessoas, à volta de uma mesa de trabalho, a convergir em tempo útil para uma decisão relevante ? Eu não.

Apetece dizer: chamem o Marquês !

P.S. Ninguém sentiu a obrigação de referir o demolidor estudo de João Seixas publicado há dias no Público. É a famigerada táctica do avestruz...
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domingo, julho 08, 2007

"Ter ou não Ter" Túlia


Encontrámo-nos ontem, graças ao Geraldes Lino, na primeira reunião da "Tertúlia Lisboa de Blogues" (ver mais).
No Bar Estádio, atendidos por uns rapazes da minha idade que já tiveram portanto melhores dias, pelo meio da fumarada, fizemos o que é suposto: demos à língua.
Nestas coisas nunca devemos perguntar "para quê" pois "o futuro a Deus pertence" e só os alienados pensam que tudo na vida tem que servir para qualquer coisa.
Lá para o fim da noite a casa encheu, com a fauna que preparava o assalto ao Bairro Alto, e a Tertúlia começou a ter dificuldade em se fazer ouvir.
Ou serei eu que estou a ficar mouco ?...
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sábado, julho 07, 2007

Só ar, soar e ressonar

A despedida da temporada no S. Carlos foi feita com a "Maria de Buenos Aires" de Piazzola, uma «operita» de 1968 com música de Astor Piazzolla e textos de Horacio Ferrer que se apresenta como um dos mo(nu)mentos mais expressivos do «Nuevo Tango.

Confesso que não sou sensível ao charme do tango e, menos ainda, às inenarráveis desgraças que os seus textos repetem infatigavelmente (como acontece com o "nosso" fado). A música de Piazzolla sim, considero-a uma aventura que vale a pena.

Não sei qual terá sido a razão para apresentar este espectáculo, neste momento, neste lugar e para este público (vários velhotes ressonavam à minha volta).
Também não percebo o que poderia Mísia acrescentar. É verdade que, ao contrário de Eduardo Prado Coelho, não lhe devo nenhum jantar com a Fanny Ardant mas confesso que se trata de um artista que não me provoca qualquer arrepio.

A verdade é que não funcionou.
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quarta-feira, julho 04, 2007

Lisboa doente

O Público de hoje apresenta dados sobre a escandalosa gestão da Câmara de Lisboa nos últimos decénios. O que dizem os candidatos ? Quem assume a responsabilidade ? Como se propõem estirpar este verdadeiro cancro da cidade ?




Câmara de Lisboa é recordista no número de funcionários per capita

A média de antiguidade no cargo dos quadros dirigentes da autarquia ultrapassa os 20 anos.Há elevados índices de absentismo entre os trabalhadores da Câmara de Lisboa, que se estendem até às envelhecidas chefias da autarquia. As faltas não justificadas atingiam em 2004 uma média de 9,6 por cento. No caso dos dirigentes da autarquia, subiu até aos 8,7 por cento.

Estes dados fazem parte da tese de doutoramento em Geografia Urbana e Sociologia do Território que João Seixas apresentou em Abril na Universidade Autónoma de Barcelona. A governação de Lisboa é o tema e o investigador está especialmente habilitado para o desenvolver: foi consultor da autarquia cerca de dois anos e nesta qualidade coordenou um abrangente diagnóstico da cidade, no qual participaram nomes como o do economista Augusto Mateus.

João Seixas explica como 12 mil trabalhadores, três centenas de departamentos e divisões e 53 freguesias compõem uma estrutura autárquica praticamente ingovernável.
A câmara tem dez trabalhadores por cada mil habitantes. Em Madrid e Barcelona, esse ratio é de cerca de metade, e mesmo municípios onde os índices de satisfação dos habitantes são altos, como Oeiras, não chega a oito trabalhadores por mil habitantes. No Porto há 6,86 funcionários por cada mil habitantes. O problema é tanto mais complexo quanto esta quantidade espantosa de funcionários de Lisboa não é sinónimo de serviços bem prestados. Os espaços verdes de Lisboa estão impecáveis? Não, constata o investigador, que entrevistou dezenas de pessoas para o trabalho - vereadores, peritos das áreas em questão e chefias camarárias, entre outros. Mas são mais de 3500 os funcionários da direcção municipal que cuida dos jardins.

Quase metade dos trabalhadores da câmara tem níveis de escolaridade "baixos ou mesmo muito baixos", o que ajuda a explicar o recurso à contratação de pessoal fora da autarquia. A média de antiguidade nos quadros dirigentes ultrapassa os 20 anos - "sendo este o grupo com a estrutura etária mais envelhecida, onde a média de idades se situa nos 50 anos."

Apesar de todo o cenário apontar para uma "deficiente cultura de responsabilidade e de serviço público", isso não impediu que, em 2004, "um em cada quatro funcionários tivesse progredido na carreira ou sido promovido". A tese fala dos "pequenos poderes arbitrários" nos serviços e da repartição dos cargos de chefia negociada "entre os aparelhos partidários com expressão eleitoral." A estes não interessa a profunda reforma que o investigador pensa que se impõe, de modo a aproximar a autarquia do quotidiano da cidade. "A organização executiva da câmara demonstra deficiente capacidade de responsabilização decisória", analisa.

A mudança passa também pela alteração da divisão "completamente obsoleta" da cidade em freguesias minúsculas e sem poderes para fazer coisa alguma. A proximidade ao cidadão implicaria a substituição das freguesias pelos chamados distritos urbanos, como noutras cidades europeias. São minicâmaras que podem ajudar a administração da cidade a sair do autismo e a acompanhar no terreno os novos problemas e dinâmicas da vida urbana, sejam o auxílio aos idosos, a criação de creches onde são precisas ou o apoio ao comércio de proximidade. Muito prometida nas campanhas eleitorais, esta reorganização nunca se efectuou, até por causa das alterações que geraria nos equilíbrios partidários.

Aqueles que têm governado a cidade preferem concentrar esforços em projectos de grande envergadura, nem sempre mobilizadores da população. É a "festivalização" ou a "mobilização do espectáculo" ("e financeira de determinados sectores da economia"), patente em empreendimentos como o da reconversão do Parque Mayer.



(clique na imagem para ampliar)


Ana Henriques
in Público, 4 Julho 2007
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terça-feira, julho 03, 2007

Pensamento Profundo


De certa forma o destino tinha-me preparado para a tarde que se seguiu. Na livraria, após o almoço, dera por mim a folhear um livrinho com o título "Pergunte a Buda" de Franz Metcaff. Aqui vai a sinopse:

Pergunte a Buda foi escrito para todos aqueles que desejam atingir a iluminação espiritual – mas que em vez de partilharem o seu quotidiano com mestres zen e monges tibetanos, se vêem rodeados de empregados de café maldispostos, colegas «engraçadinhos» e outras irritações da vida fora do Nirvana. Este livro revela-lhe como pôr em prática os preceitos budistas nas situações mais difíceis do dia-a-dia. Contém indicações simples e soluções para dilemas específicos, que lhe permitem fortalecer-se espiritualmente face ao desgaste proveniente do stresse na vida diária.

Descobri que já pratico intuitivamente muitos dos conselhos dados no livro como, por exemplo, ceder aos mais absurdos devaneios enquanto estou nos engarrafamentos ou na sala de espera do dentista para não dar pelo tempo. Assim sendo resolvi poupar os 15 euros.

Iniciei então a via sacra das repartições de finanças, das conservatórias e dos departamentos de gestão urbanística. Não vou dar conta do muito que experimentei a não ser o que segue.

Colado com fita gomada, na ilharga de um armário, um pensamento profundo atingiu-me, ainda mais por se encontrar em tão áridas paragens. Rezava assim:

Os grandes espíritos discutem ideias. Os medíocres discutem factos. Os mentecaptos discutem pessoas.

Ainda tive que aguentar mais meia hora antes que resolvessem o meu problema. Gostava de perceber o porquê desse facto mas não faço a menor ideia...
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domingo, julho 01, 2007

Focar a China


vagabundeando em Pequim, 2006


Dada a importância crescente da China no panorama internacional e a curiosidade que desperta, por ser uma realidade política e económica híbrida, decidi criar uma página que dá acesso a todas as intervenções no Blog e no Fórum, que têm como tema o mais populoso país do mundo. Mostra também um conjunto vasto de imagens captadas por mim em Abril de 2006.

Aceder AQUI

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