terça-feira, maio 06, 2008

1962


O ano da «crise cubana», da independência da Argélia, do início das comunicações via satélite, do concílio Vaticano II, da Thalidomida - e dos Beatles.
E dos Beatles, sim senhor! É em Novembro que sai o primeiro single do quarteto de Liverpool, «Love Me Do». Não passa do 17.° lugar no top inglês mas ninguém imaginava o que iria passar-se a partir do ano seguinte...

Andy Warhol mostra a sua pop art, em Nova York, povoada de latas Campbell, garrafas Coca Cola e sabão Brillo.

Inicia-se a modernização da Igreja pelo Concílio Vaticano II.

A 10 de Julho é inaugurada a era das comunicações via satélite: a Europa chega a casa dos norte-americanos, o contrário também se verifica, o nome do satélite é Telstar.

Um mês depois, operários franceses e Italianos cumprimentam-se nos Alpes, sob o Monte Branco. Em menos de um ano o túnel é oficialmente inaugurado. A força do Homem remove montanhas...

A 18 de Agosto é descoberta a causa de deformações gravíssimas em crianças recém-nascidas: um medicamento de nome Thalidomida.

A 10 de Setembro inicia-se a mais sangrenta «temporada» de conflitos raciais nos Estados Unidos. Um negro James Meredith é admitido como aluno da Universidade do Mississipi e este é o rastilho que faz eclodir o conjunto dos mais sangrentos incidentes raciais na América de Kennedy. Kennedy que ainda vai ter de enfrentar a «crise cubana» um mês depois. Kruschev recua a manda retirar os mísseis soviéticos estacionados na ilha. Como alguém disse na altura, «o mundo respirou fundo».

A Argélia torna-se independente.

Em Portugal o regime desmantela a revolta de Beja e Humberto Delgado volta ao exílio. Estala a crise académica com greve aos exames. A prostituição é proibida por decreto-lei.

É criada a Frelimo e a FPLN (Frente Patriótica de Libertação Nacional). Início das emissões da Rádio Portugal Livre a partir de Argel.

Manoel de Oliveira filma «Acto de Primavera» e Ernesto de Sousa «Dom Roberto». O Benfica ganha de novo a Taça dos Campeões Europeus.

Marylin Monroe morre no dia 2 de Agosto. O cinema destrói as suas próprias vedetas, mas continua a ser uma indústria próspera: «Lawrence da Arábia», «O Dia Mais Longo», «Revolta na Bownty» são alguns dos filmes do ano.

A lista dos «dez mais», em Inglaterra, volta a ser dominada pelos norte-americanos. Elvis Presley repete até a proeza do ano anterior «metendo» quatro singles nas tabelas do «lado de cá»; «Rock A Hula Baby», «Good Luck Charm», «She's Not You» e «Return To Sen-der». Curiosamente, nos Estados Unidos, apenas um destes singles entra para os «dez mais» durante 1962: «Good Luck Charm». «Do lado de lá» do Atlântico Chubby Cheker, Connie Francis, Shirelles e Ray Charles (com «I Can't Stop Loving You») continuam a ser os mais assíduos frequentadores do top. Em Inglaterra também Cliff Richard («The Young Ones») e os Shadows («Wonderful Land») voltam a distinguir-se.

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O impacto dos satélites, do Concílio e dos Beatles iria perdurar, de forma intensa, durante a década de 60 produzindo profundas transformações culturais. Seis anos antes do Maio de 68.

As razões desta cronologia estão explicadas aqui.

6 comentários:

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Caro Fernando

Não sei onde foste buscar esta cronologia. Há aqui alguns erros factuais. Começo por esta. Mas depois posso pegar nas outras. Em qualquer dos casos vou exclusivamente recorrer à memória.
Depois, se quiseres, podes verificar se tenho razão ou não.
Quanto ao cinema deves ter recorrido a alguma enciclopédia de cinema americano. Pois omites muito cinema europeu que, nessa época, tinhas obras mais significativas do que as americanas. Por outro lado, os filmes americanos que citas penso que não resultam do teu gosto pessoal, mas sim do seu box-office.
Pode-se dizer que a Revolta de Beja se deu na noite de 31 de Dezembro de 1961 para 1 de Janeiro de 1962.
Humberto Delgado já nessa altura estava exilado. Ele tinha pedido asilo na embaixada do Brasil ainda em 1958. E uns meses depois foi autorizado a sua partida para o Brasil.
Regressa clandestino ao país, a quando da Revolta de Beja, não se tendo encontrado com os revoltosos e tirando umas fotografias que ridicularizaram o regime, pois demonstravam que ele tinha estado cá e a PIDE não lhe tinha posto a mão em cima.

F. Penim Redondo disse...

Esta cronologia é uma amálgama de três diferentes fontes.
Realmente podia ter enriquecido a parte relativa ao cinema.
Penso que na sequência do episódio de Beja Delgado voltou ao exílio.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Não se pode dizer de alguém que regressa clandestino ao país para chefiar uma revolução, que não acontece, e depois foge outra vez, que parte para o exílio. O verdadeiro exílio para Delgado começou de facto quando em 58 ou já 59 pôde abandonar a Embaixada do Brasil e partir para aquele país.

F. Penim Redondo disse...

Caríssimo Jorge, vejo que gastas muitas energias a burilar os detalhes em vez de te pronunciares sobre a substância.

O Maio de 68 está ou não a ser inflaccionado ? as transformações culturais e de costumes são ou não são anteriores ao Maio de 68 ? etc, etc.

Disso é que eu gostava de te ouvir falar em vez de estares a embirrar como se a minha modesta cronologia tivesse que ser absolutamente correcta.

F. Penim Redondo disse...

Jorge, já substituí "exila-se" por "volta ao exílio", só para não ter que te aturar de novo.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Sabes que eu sou um bocado picuinhas. Então sobre coisas de história, não sendo eu um historiador profissional, puxa-me sempre a mão para a correcção.
Já te respondi, no ano de 1968 da tua cronologia, a esta pergunta. È possível, se tiver paciência, que faça um novo texto sobre todos estes artigos publicados nos jornais e nas revistas sobre o Maio de 68. Mas se leste os dois textos que eu já “postei” aqui e no Trix-Nitrix tens a resposta antecipada aquilo que perguntas.