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Comecei a trabalhar para uma empresa americana, líder mundial no seu ramo, no ano de 1970. Já nessa época, há 38 anos portanto, a referida empresa praticava um sistema de avaliação anual dos seus empregados em todo o mundo, que a certo ponto eram mais de trezentos mil.
Enquanto empregado avaliado, e enquanto membro da Comissão de Trabalhadores muitas vezes chamado a aconselhar e a defender outros trabalhadores, convivi durante muitos anos com o complexo sistema de avaliação cujas vantagens e defeitos conhecia profundamente.
As regras do sistema eram basicamente estas:
- Todos os empregados eram avaliados pelo respectivo chefe que, no início de cada ano, lhes propunha, discutia e atribuía objectivos a cumprir, quantitativos e qualitativos.
- O chefe tinha obrigação de fazer reuniões de aconselhamento se e quando verificasse que o desempenho do subordinado era insatisfatório.
- No fim de cada ano fazia-se uma reunião em que o chefe explicava ao subordinado a classificação atribuída em cada um dos objectivos estabelecidos.
- O empregado avaliado podia, em caso de discordância, apresentar recurso da classificação para o chefe do chefe e, se isso o não satisfizesse, para toda a hierarquia até ao quartel-general da empresa nos Estados Unidos. Estes recursos produziram a reversão das classificações em número apreciável de casos.
- A classificação, de 1 a 5, era um dos parâmetros principais na determinação do aumento do vencimento e de eventual promoção.
- A classificação de 5, a pior de todas, quando reiterada era considerada suficiente para desencadear os mecanismos tendentes ao despedimento.
- O sistema era regido por um extenso “código” publicado.
Este sistema de avaliação, que durante muitos anos produziu bons resultados apesar dos erros e injustiças pontuais, claudicou quando cessou uma condição básica de funcionamento; a empresa deixou de ter recursos para poder premiar os bons desempenhos através dos aumentos anuais e das promoções por mérito.
Perante toda a agitação actual à volta da “avaliação dos professores” fico perplexo com vários aspectos:
1. Alguém acredita que é possível implantar um sistema de avaliação condicionado à “autorização” de quem vai ser avaliado ?
2. Alguém acredita que é possível desenhar um sistema de avaliação que contemple as opiniões de vários milhares de sujeitos passivos da avaliação ?
3. Alguém acredita que funcione uma avaliação em que o avaliador não seja, simultâneamente, quem supervisiona o trabalho e quem propõe os aumentos da remuneração ?
4. Alguém acredita que é possível obter resultados de um sistema de avaliação em que as pessoas não saibam à partida, claramente, quais são os prémios e os castigos ?
5. Alguém acredita que é possível implantar um sistema de avaliação sem um grande esforço administrativo e de formação ?
6. Alguém acredita que um sistema de avaliação pode ser imune à subjectividade de quem avalia ?
7. Alguém acredita que um sistema deste tipo é menos exigente para quem avalia do que para quem é avaliado ?
Aquilo a que estamos a assistir é um gravíssimo atentado ao regime democrático.
Um governo legítimo embora pusilânime, fazendo uso das suas competências, estabelece regras que são espezinhadas impunemente por parte de uma classe profissional que usa a escola pública como refém.
O sistema de ensino, que devia estar ao serviço de toda a população, que devia ser determinado pelo bem comum, é abusivamente condicionado no seu funcionamente por meros interesses corporativos que se entrelaçam com manobras de oposição política.
Infelizmente este é apenas mais um caso ilustrativo da lógica e da força das “classes corporativas” no nosso país.
P.S. (15:45) Têm-se sucedido os lamentáveis episódios em que os alunos se divertem a arremessar ovos à ministra. Os sindicatos tentam demarcar-se dessas acções mas penso que terão muita dificuldade em o conseguir.
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