Eu sei que vivemos num país sujeito a intensa "infantilização". É comum ver chamar criança, na TV, a adolescentes bem desenvolvidos. Nós todos, como os filhos se tornam independentes cada vez mais tarde, tratamo-los como crianças pelo menos até aos trinta anos. Talvez por isso campeia a retórica sobre as crianças e sobre a sua proverbial ingenuidade e inocência.
A morte de um jovem de 13 anos em recente perseguição policial, que foi tão comentada na blogosesfera, levanta uma outra ordem de questões. Quando uma "criança" nos aponta uma caçadeira de canos serrados mantém o seu estatuto ? Devemos reagir dizendo "baixa lá isso senão levas tau-tau" ?
O exemplo não é académico. No DN de hoje, entre muitas outras descrições de actividades criminosas, que ocupam cada vez mais espaço nos noticiários, figurava uma notícia sobre o assalto a um supermercado em Vagos:
"Os jovens de 14, 17 e 18 anos invadiram o estabelecimento comercial encapuzados e roubaram cerca de 5OO euros que estavam na caixa registadora do estabelecimento comercial, cuja abertura forçaram a tiro de caçadeira de canos serrados. Apesar da violência demonstrada no assalto, não se registaram feridos."
No caso do jovem baleado pela GNR durante uma fuga em Loures não sabemos se estava a participar no roubo ou se se limitava a fazer companhia aos familiares mas, à luz da notícia referida, não devemos excluir qualquer das hipóteses.
Outra notícia do mesmo jornal, no mesmo dia, ajuda a situar melhor todo o episódio.
O "pai do jovem que foi alvejado", é assim que o DN o identifica, quem era afinal ?
"Sandro Lourenço cumpria uma pena de cinco anos em Alcoentre por roubo em residências. O irmão, José Júlio Lourenço, nunca cumpriu pena, mas tem antecedentes criminais. Sandro já não compareceu na PJ, na manhã de quarta-feira, para prestar declarações nem tão pouco ao velório nem ao funeral do filho, Paulo Salazar, de 13 anos".
Neste ponto apetece transcrever parte do comentário de João Miguel Tavares, no mesmo DN:
"Parece que o assalto ao BES é o novo compêndio político para a distinção entre esquerda e direita em Portugal. Se o leitor está indeciso quanto às suas convicções ideológicas, basta-lhe responder à seguinte pergunta: o que deve ser feito quando um imigrante aponta uma pistola à cabeça de um inocente? A) Um sniper deve imediatamente despachá-lo comum tiro nos miolos. B) Ele deve ser alvo, não de uma espingarda, mas da nossa compreensão, acarinhado pela polícia e pacientemente aconselhado a mudar de vida. Se respondeu A), você é uma pessoa de direita, fria e justiceira. Se respondeu B), então você é uma pessoa de esquerda, sem dúvida amigável, mas um pouco branda. Após passarmos tantas horas com dois brasileiros barricados, as posições ficaram assim, extremadas, e cada um de nós é convidado a escolher o buraco em que se quer enfiar."
Espero que a esquerda não cometa o erro de seguir por este caminho. Se tal vier a acontecer espera-nos mais uma estrondosa derrota.
ADENDA: o Público anunciou que, às 13:30, "Pai do menor morto pela GNR em Loures volta à prisão para ajudar a esclarecer morte do filho"
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