Em 1904, aproveitando-se do estertor da dinastia Qing em Pequim, uma expedição britânica liderada por Sir Francis E. Younghusband, um aventureiro ao serviço do Império Britânico, dominou o forte de Gyantse e marchou até Lhasa, a capital do Tibete, tornando-se a primeira força ocidental a forçar a abertura do Tibete e a arrancar concessões comerciais dos seus lamas.
A expedição de Younghusband foi enviada por Lord Curzon, o vice-rei da Índia, para forçar o 13º Dalai Lama a concordar com concessões comerciais. O Tibete também havia começado a ganhar importância no que ficou conhecido como o Grande Jogo, onde os impérios britânico e russo rivalizavam por influência na Ásia Central.
Na vila de Guru, as tropas britânicas encontraram um acampamento de 1.500 tibetanos. Ocorreram hostilidades. As tropas britânicas, que incluíam sikhs e gurkas, abriram fogo. Em quatro minutos, 700 tibetanos fracamente armados caíram, mortos ou feridos.
Mais tarde, num desfiladeiro a apenas 32km de Gyantse, os britânicos assassinaram mais 200 tibetanos.
Os tibetanos montaram a sua última resistência no forte de Gyantse, chamado dzong, ou Jong, em tibetano. Depois de terem esgotado o prazo de rendição, em 5 de julho, os britânicos atacaram a partir do sudeste do forte.
"A rendição do jong teria um efeito esmagador sobre o moral tibetano", escreveu Hopkirk. "Havia uma superstição antiga de que, se o grande forte caísse nas mãos de um invasor, seria inútil uma maior resistência".
Em 1910, bem depois da partida dos britânicos, 2 mil soldados chineses ocuparam Lhasa. Mas em 1913, após a desintegração da dinastia Qing por acção das potências ocidentais e do Japão, iniciou-se um período de "independência de facto" do Tibete.
Os comunistas chineses retomaram o controle do Tibete novamente em 1951, numa demonstração de nacionalismo destinada a redimir os "cem anos de humilhação" a que a China tinha sido sujeita.
Não há nada como a história para mostrar a hipocrisia daqueles que tendo praticado o colonialismo desavergonhadamente choram agora lágrimas de crocodilo pela independência do Tibete.
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6 comentários:
Fernando,
Colocadas as coisas dessa forma, NENHUM português (nem espanhol, francês, inglês, holandês, italiano, alemão, etc...) pode defender o direito de um povo que a pretenda à sua autodeterminação. Todos praticaram o colonialismo desavergonhadamente.
Nem se pode declarar escandalizado com a lapidação de mulheres adúlteras no Irão. Todos tiveram a Inquisição, ou as suas espécies de, a perseguir desavergonhadamente as mulheres e os homens herejes.
Ora se houve causa que uniu depois do 25 de Abril TODOS os portugueses (com excepção do AJJ e do ex-maoista Durão Barroso, por motivos diferentes) foi justamente o apoio activo e determinante de Portugal, antigo colonizador, à autodeterminação do povo de Timor.
Estou convicto que na altura não pensaste nada de semelhante ao que escreveste aqui.
Porquê a mudança de ideias?
Manuel,
o importante é perceber que ontem como hoje os propósitos humanitários são um mero pretexto na diplomacia dos impérios. Ontem o Tibete foi invadido para evitar a influência do Império Russo e hoje apoia-se o Dalai Lama para minar o crescente poder chinês.
Os tibetanos e a sua cultura são um mero pretexto para quem dá as cartas mesmo que não sejam para os incautos que seguem estas agendas mediáticas.
Ao contrário do que pensas nunca apoiei a "causa timorense" que, desde o início, percebi ser uma convergência contra-natura dos saudosos do império, dos que queriam preservar um bastião católico em território islãmico e dos que anteviam as benesses do petróleo.
A história dos últimos anos, com laivos de farsa, tem mostrado infelizmente que eu tinha razão.
A atitude imperial consiste na arrogância de, mesmo após a descolonização, considerar que se tem o direito de determinar a forma dos estados colonizados.
O Tibete na China, Timor na Indonésia ou Cabinda em Angola. Mesmo que para isso seja preciso diabolizar as antigas colónias. Para melhor as desmembrar.
Não alinho nisso.
Fernando,
A descolonização não é apenas uma questão geo-estratégica de jogo entre potências.
A vontade dos povos também pode entrar na equação... ou não?
Manuel,
não sejamos ingénuos.
A vontade dos povos, colonizados ou colonizadores, é guiada por discursos.
O que eu estou a tentar dizer é que há certos discursos que não me convencem.
Se a vontade dos povos fosse guiada por discursos, e não pelo exercício livre e esclarecido da vontade de cada indivíduo, não havia vantagem nenhuma nos sistemas democráticos, que até costumam ficar bem aquém das tiranias no domínio da eloquência.
Na realidade, verifica-se que há vantagem, e esmagadora.
Não consideres ingénuo respeitar a vontade livremente expressa dos povos, como se eles fossem inteligentes. Porque são.
A democracia consiste em dar a oportunidade ao povo de escolher um dos discursos disponíveis.
Por exemplo em Setembro passado havia dois principais discursos:
1. Uma senhora de idade jurava a pés juntos que o país estava demasiado endividado
2. Um rapaz bem parecido pintava um quadro entusiasmante de desenvolvimento baseado em grandes projectos de infraestruturas
O povo escolheu maioritáriamente o segundo discurso embora ele se baseasse numa omissão grave e, por causa do seu irrealismo, tivesse sido abandonado logo após a votação.
A liberdade democrática exerce-se portanto através da escolha de discursos, narrativas que descrevem a realidade passada, presente e futura.
O povo é totalmente livre de se enganar e mesmo de se auto-flagelar.
Eu respeito os resultados eleitorais mas tal não me obriga a abandonar a opinião de que a campanha de Sócrates foi uma autêntica venda de peixe podre.
Percebes?
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