sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Portugal - 0, Grécia - 0

.


Hoje fui surpreendido por uma intervenção de Cavaco em que ele se permitiu invocar a sua condição de professor de economia para dar conselhos aos analistas internacionais. Dizia ele para observarem com mais cuidado pois acabariam por concluir que Portugal é muito diferente da Grécia.

Cavaco, tal como Sócrates, deviam perceber que este tipo de intervenções, que se vêm sucedendo, resultam bastante ridículas e de todo ineficazes.

Quanto a estarmos melhor ou pior do que a Grécia transcrevo um trecho do Público de hoje que me parece bastante deprimente.

A análise dos principais indicadores económicos dos dois países mostra duas realidades diferentes, mas com fragilidades preocupantes em ambas as economias. Quando se olha exclusivamente para a situação actual das finanças públicas, os números mostram, sem margem para dúvida, resultados melhores para Portugal do que para a Grécia. Os défices registados em 2009 até nem são muito diferentes, mas o valor dadívida pública acumulada é muito maior na Grécia onde já supera os 120 por cento do PIB. Em Portugal, esse indicador, mesmo com a forte subida dos últimos anos, ainda está próximo dos três quartos do PIB.
No entanto, as coisas ficam menos claras quando se analisam os indicadores que permitem antecipar o ritmo de crescimento futuro da economia, o que, por sua vez, pode influenciar decisivamente a evolução das contas públicas. Em primeiro lugar, Portugal como um todo, isto é, incluindo além do Estado, também as empresas e os particulares, está mais endividado do que a Grécia face ao estrangeiro.
Isto significa que, num cenário em que o custo do financiamento internacional se agrava, a economia portuguesa pode sofrer mais do que a grega. O economista Daniel Gros, num artigo publicado recentemente no Financial Times, alertava para esta questão e assinalava que, especialmente em comparação com a Espanha, Portugal e a Grécia se encontravam especialmente vulneráveis neste capítulo.

.

2 comentários:

Vitor M. Trigo disse...

Há artigos cujos objectivos não consigo entender.

Eu acho que quando se escreve, escreve-se para alguém. É o contributo do autor para a inteligência colectiva.

Li este artigo várias vezes para ver se conseguia alcançar a sua mensagem para quem o viesse a ler. Sem êxito.

Que importância tem o PR ter invocado a sua condição de Doutor na área? Deveria calar-se? Deveria omitir que sabe (tecnicamente) do que está a falar e não só na qualidade de PR?

Não concordar com algo, chamando a atenção para pontos concretos com que não se concorda, interpretando os dados de outra forma, é "dar conselhos aos analistas internacionais"? Será que por serem "internacionais" são incontestáveis? Caramba, eu não consigo ser tão servil. Na realidade, acho que essa posição é bacoca.

Sabendo-se que as ditas agências de rating são de isenção não comprovada, todas sitiadas no mesmo país, e, porventura, servindo os altos interesses do grande capital internacional, deverão os países ficar calados quando se acham vítimas das suas decisões (arbitrárias ainda por cima)?

Porque raio não perceberão Cavaco (pessoa com quem não simpatizo) e Sócrates (idem) que as suas intervenções são "bastante ridículas e de todo ineficazes"?

Porque Fernando Redondo dixit? Por que o insuspeito Correio da Manhã ( o novo arauto da liberdade) o proclamou como dogma?

Por favor.

Vitor Bento ao Público disse...

Numa altura em que os mercados internacionais mostram cada vez menos confiança nas obrigações do Estado português, Vítor Bento, actual presidente da SIBS, explica o que é preciso fazer. E volta a defender que uma política de austeridade orçamental é inevitável.

Não é um exagero dos mercados o que tem estado a acontecer com a dívida pública portuguesa? De repente parece que todos começaram a acreditar que um default da República Portuguesa é um cenário provável?

É normal que o ajustamento dos mercados, em períodos de turbulência e incerteza, envolva fenómenos de sobre-reacção face ao que acabará por se revelar a tendência desse processo de ajustamento. E, depois, o que os mercados estão a incorporar não é a possibilidade de default; é um aumento, por enquanto marginal, da probabilidade desse evento. Ora, quando uma probabilidade passa de 5 para 10 por cento, ela duplica, mas não deixa de continuar relativamente baixa. Estes valores são apenas um exemplo teórico, mas julgo que é isso, basicamente, o que se tem estado a passar.

Mas teme que esta sobre-reacção dos mercados possa tornar um problema que é grave numa situação mais difícil ainda, com um verdadeiro risco de default?

Um risco destas situações é que, por vezes, os mercados podem resolver testar a determinação dos Governos em lidar com ela e agravar, por via da especulação, os custos com que estes têm que se confrontar. Por isso é que é importante agir rapidamente para sair do foco das atenções mais imediatas. Foi o que fez, por exemplo e com sucesso até agora, a Irlanda.

Já foi presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público. No curto prazo, o que é que Portugal precisa de fazer para acalmar os mercados?

A minha experiência relevante para este caso é, mais do que a que tive à frente da gestão da dívida pública, a que tive na gestão das crises cambiais do Sistema Monetério Europeu, no Banco de Portugal, e na vivência de outras crises semelhantes, noutras posições. E o que essa experiência me ensinou é que a única forma de acalmar os mercados é apresentando-lhes factos. As reacções discursivas só tendem a ser eficazes se forem suportadas em factos que as validem e credibilizem. De outro modo, podem tornar-se contraproducentes, porque podem ser vistas como sinais de fraqueza.