A crise dos bancos americanos relançou um debate muito em voga nos últimos tempos: o estado contra o mercado ou, noutra formulação, o socialismo contra o liberalismo.
Esta falsa dicotomia, como tentaremos demonstrar em próximos posts, nasceu provavelmente como sequela do “socialismo real”, ele próprio um estatismo que, embora falhado, marcou indelevelmente várias gerações de militantes de esquerda mais ou menos ortodoxos.
Outra causa provável de se ter instalado esta dicotomia passa pela existência nas sociedades ocidentais de um número enorme de “funcionários públicos” que são, aliás, dos estratos mais aguerridos no plano sindical. É possível que se vejam, até para autodefesa, como uma espécie de novo proletariado que liderará a passagem a uma nova “sociedade sem exploradores nem explorados”.
Em qualquer dos casos esta falsa dicotomia entre o estado e o mercado mascara a verdadeira questão, o anseio legítimo por um novo modo de produção e a inexistência de propostas concretas para o conseguir. Toda a energia da esquerda tem sido canalizada para a “tomada do poder” como se o controle do aparelho do Estado garantisse o sucesso da “transformação socialista”.
É esse equívoco “socialismo”, que o Estado por si nunca produzirá, que se oculta em toda a vozearia que se reacendeu com pretexto nas falências dos bancos americanos. Pelo caminho que as coisas estão a seguir ainda teríamos que concluir, se aceitássemos as teses em voga sobre as “nacionalizações” na América, que Bush se transformara numa espécie de Chavéz.
Em vez de perseguir pistas falsas, à esquerda compete forjar novas formas de produzir e distribuir em sociedade. Ganhar e organizar as “forças populares” para essa transformação em vez de ficar à espera que o mítico Estado a imponha (mesmo contra a vontade do povo ?) de cima para baixo.
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