Congresso em Hamburgo fortaleceu veia esquerdista de sociais-democratas, que partilham poder com Merkel.
O Partido Social-Democrata alemão (SPD) aproveitou o último congresso, realizado anteontem em Hamburgo, para renovar a sua imagem: elegeu como meta a luta por um "socialismo democrático", adoptando um discurso com ingredientes tanto de esquerda como ecológicos, refere a Deutsche Welle. Tendo em vista as eleições de 2009 - e o escoamento de eleitores desiludidos para A Esquerda -, os congressistas ratificaram um programa político para substituir o antigo documento do SPD, aprovado há 18 anos, pouco antes da queda do Muro de Berlim.
Houve ainda outro sinal de mudança nas directrizes do mais antigo partido alemã: os sociais-democratas fizeram, de acordo com o Deutsche Welle, uma série de "ataques disparatados" à União Democrata Cristã (CDU), cujos membros partilham o poder em Berlim com os sociais-democratas em regime de coligação. O líder social-democrata Kurt Beck chegou mesmo a acusar o partido de Angela Merkel de esconder uma essência de "radicalismo de mercado" por detrás de "uma máscara social-democrata".
Angela Merkel recebeu com alguma irritação a nova meta do SPD. "Não precisamos de um retorno ao socialismo, como querem os sociais-democratas, já tivemos socialismo que chegue na Alemanha Oriental", afirmou a chanceler, citada pela Deutsche Welle.
A expressão "socialismo democrático" é usada "várias vezes" ao longo do novo programa partidário, um texto de 28 páginas que vem atirar o antigo para as prateleiras da antiga RDA, uma vez que o referido documento foi ultimado e aprovado pouco antes da reunificação germânica. A nova expressão no léxico social-democrata é vista como uma viragem à esquerda, mudança que analistas políticos vêem como uma estratégia para reconquistar os eleitores que migraram para A Esquerda, o novo partido no cenário político alemão.
Em entrevista à Deutsche Welle, o politólogo social-democrata Thomas Meyer não vê a fuga de militantes para novos partidos como uma ameaça democrática. "Fica só um pouco mais difícil criar um governo, mas o Estado em si não fica mais fraco", observa o cientista político da Universidade de Dortmund.
Além do desafio de formar governos viáveis através de coligações, os grandes partidos têm agora o ónus de redesenhar a sua própria identidade política à medida que vêem as suas bases esvaziarem-se. Encabeçado por Kurt Beck - um líder que não consegue sair da sombra da chanceler alemã -, o SPD parece estar a ser vítima do efeito da tosta mista: encontra-se prensado entre a CDU de Merkel (que adoptou posturas de esquerda e, ao mesmo tempo, chamou para si posturas neoliberais próprias do SPD) e A Esquerda (fundado pelo dissidente Oskar Lafontaine, ex-presidente do SPD, que repescou antigas ideias sociais-democratas).
"Espremido entre os dois, o SPD não conseguia mais afirmar as próprias posições", diagnosticou o politólogo Thomas Meyer.
Os sociais-democratas tentam agora ser eles próprios sem parecer que estão a copiar os vizinhos e, ao mesmo tempo, procuram transparecer um cariz ecológico (propostas para a redução de emissão de gases) e social (em caso de privatização da companhia ferroviária Deutsche Bahn, por exemplo, defendem que 25,1 por cento das acções sejam "do povo").
Partido liderado por Kurt Beck está entalado entre a CDU e A Esquerda, a formação fundada por Oskar Lafontaine
Público 30.10.2007, Andréia Azevedo Soares
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Contra todas as espectativas a Alemanha parece querer competir com a Itália no que toca à comicidade política. Depois da "esquerda caviar" só nos faltava agora a "esquerda tosta mista"...
quarta-feira, outubro 31, 2007
SPD alemão adopta socialismo democrático para vencer o efeito da tosta mista
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terça-feira, outubro 30, 2007
Contra a verdadeira pobreza
Sou pouco dado a "peditórios" mas fui tocado por estes cartazes da PEOPLE IN NEED contra a pobreza enviados por mão amiga.
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segunda-feira, outubro 29, 2007
A Outra Margem
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A melhor da semana passada - 11
QUENTES E BOAS, MAS AGORA TODAS HIGIÉNICAS
DN, 27 de Outubro 2007
É o Outono que traz os vendedores de castanhas, ou são os vendedores de castanhas que chamam o Outono? Este Verão tardio está a custar a acabar e não convive bem com os primeiros alfinetes de frio outonais. Nem com as castanhas assadas. Quem é que já ouviu falar em comer castanhas assadas quando o termómetro ainda insiste em trepar até aos 25 graus, e o sol força a despir o blazer, o casaquinho de malha, o blusão de marca, a mudar o passo do lado luminoso da rua para o lado da sombra, a começar a dar ouvidos aos matracas do aquecimento global?
Castanhas assadas pedem friagem a apetecer abafo grosso, céu cinzento a pensar em pôr luto, vento daquele que nos pega à traição nas esquinas, aguaceiros de guerrilha, ora chove a potes ora deixa de chover, conversa fiada de transporte público sobre tirar os pulôveres da gaveta, limpar o pó aos radiadores, experimentar o edredão de penas novo, o escuro que já faz quando se sai do emprego, a vontade de chegar depressa a casa em vez de ficar a flanar nas esplanadas.
Tudo a fazer rima com as castanhinhas saídas do assador de barro do carro escalavrado do vendedor e embrulhadas num molho de folhas das Páginas Amarelas, mesmo assim ainda a aquecer-nos as mãos através do papel, até nos faz esquecer do preço que sobre de um Outono para o outro. Tanto poeta que fez versos com tanta gente e a tanta coisa em Lisboa, das varinas aos vendedores ambulantes, dos donos de tabacarias aos estivadores, e não houve nenhum que se lembrasse do assador, do carro, das castanhas e das páginas das listas telefónicas? É que agora já é tarde de mais.
Este Outono, Lisboa perdeu os carros com a chapa a pelar, os assadores fumarentos, o cartucho denso de nomes e números de telefones de lisboetas a acomodar as castanhas. Porque assim o decidiu a Câmara Municipal, e porque parece que é mais higiénico, mais moderno, mais vistoso e mais europeu, os carros das castanhas passaram a ser todos artilhados de inox e até faíscam quando o sol lhes bate em cheio; e as listas de telefone tão amigas das castanhas foram substituídas por uns sacos de papel com dois compartimentos, um para as castanhas que ainda não se comeram, outro para as cascas das que já foram comidas.
Dizem que assim as mãos já não ficam tão sujas e as ruas vão ficar mais limpas, francamente não sei. No saco lê-se: "Castanhas: mantenha a tradição" (eu preferia ler como dantes: Casa de Pasto Adega dos Lombinhos, R. Dourad, 218 864 887, ou A Reparadora Vidreira, Ger. R Grilo, 218 610 190, foi assim que descobri quem me emoldurou os quadros cá para casa durante bastante tempo, é verdade), mas tradição, agora, parece que só mesmo as castanhas em si, "quentes e boas" como dizia o fado, porque já mais ninguém o diz. É o Outono que traz os vendedores de castanhas, ou são os vendedores de castanhas que chamam o Outono? Este ano, um veio com calor ainda agarrado, e os outros a empurrar carros frios de inox.
Eurico de Barros
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sábado, outubro 27, 2007
O falso problema que está na moda
Já não posso ouvir perguntar ao Sócrates se vai ou não fazer um referendo sobre o "Tratado de Lisboa" e depois ouvir a lenga-lenga do Sócrates que diz sempre que só depois da aprovação, em Dezembro, tomará posição.
Acho inacreditável que isto se tenha tornado o centro da discussão política nacional. Não há cão nem gato que não se pronuncie sobre a matéria.
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quarta-feira, outubro 24, 2007
O Lobo e o Cordeiro motorizados no país de Kafka
“Pois se não foste tu, foi o teu pai!”, concluía o Lobo para o Cordeiro, junto ao riacho. E assim dizendo, comeu-o.
Era assim que pensava o Lobo na fábula de La Fontaine. E pelos vistos é assim também o entendimento da DGCI e da DGV em relação aos antigos donos dos automóveis cujos novos proprietários não fizeram o registo em seu nome.
A partir de Janeiro de 2008, com o novo imposto de circulação (UIC) substituto do “selo do carro”, a DGCI prepara-se para exigir o pagamento ao cidadão cujo nome esteja no registo.
Mais ainda, a DGCI prepara-se para não aceitar a liquidação do imposto do actual veículo de qualquer cidadão se ele não pagar também o(s) do(s) outro(s).
O cidadão poderia cancelar o registo, mas para isso a DGV exige-lhe os documentos do carro... que ele já não tem!
O cidadão pode requerer a apreensão do veículo por circulação ilegal. Mas parece que a DGCI não aceita o comprovante desse pedido...
Resta ao cidadão rezar muito para que o veículo seja parado numa operação stop e que o policia se lembre de validar a identidade do condutor com a do proprietário e verificar se há um pedido de apreensão sobre o veículo. Ou então jogar todas as semanas no Euromilhões; tem mais probabilidades de ganhar e sempre dá para ir pagando os impostos aos outros.
O mais curioso é que a responsabilidade legal pela transferência de propriedade de um veículo sempre foi do comprador e não do vendedor!
Sou uma normal cidadã sem especial preparação jurídica. Mas parece-me que chega o bom senso para ver que não pode um cidadão ser responsabilizado pelo facto de outro (de quem não é fiador, nem tutor, nem representante) não ter cumprido a sua obrigação legal!
E também que não deve ser legal a DGCI não aceitar o pagamento do imposto de um veículo só porque ainda há um “fantasma” em nome do mesmo proprietário!
Li no ultimo numero da revista do ACP um artigo sobre isto que me deixou chocada!
Limitava-se a carpir sobre o problema e só faltava aconselhar os automobilistas a fazer promessas ao St. António para que os veículos fossem apanhados!
Não é isto que se espera de um clube com a tradição e a estrutura do ACP!
O que se espera é que com o peso dos seus milhares de associados, que lhe dá alguma capacidade de representação dos automobilistas do país, inicie todas as movimentações necessárias a obter do Governo e das autoridades em geral, a correcção das injustiças e ilegalidades, criadas pela nova situação legislativa e que ponha o seu gabinete jurídico ao serviço da defesa dos sócios que pretendam defender-se dessas prepotências.
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segunda-feira, outubro 22, 2007
Fátima ao serviço do anticomunismo militante
Foi transmitido no dia 12 de Outubro pela RTP1 um documentário denominado Fátima na Rússia, da autoria de uma jornalista da Rádio Renascença, Aura Miguel. Este documentário inseria-se nas comemorações dos 90 anos das denominadas aparições de Fátima. Só agora tive oportunidade de o ver. Mas a indignação que me provocou foi tão grande que não resisti a escrever sobre ele.
Fátima, para os oposicionistas a Salazar, fazia parte dos três F que caracterizavam a sua política cultural e ideológica, ou seja, fazia parte do conjunto de actividades privilegiadas pelo Regímen para anestesiarem a intervenção cívica das massas. Os outros dois eram o futebol e o fado. Hoje muita gente considera que os três F estão de volta, pois o futebol, mais do que no tempo do fascismo, invade diariamente o nosso quotidiano, dominando os media e as nossas conversas diárias. Quanto ao fado, a situação melhorou, tornou-se até o exemplo de canção portuguesa que resiste contra a maré da música anglo-saxónica, cantada muitas vezes por gente de esquerda e que actualmente passa por uma louvável renovação. Fátima, apesar das diferenças de época, continua, igualmente a merecer grande atenção quer dos media quer dos poderes públicos e, pela amostra do documentário referido, continua a desempenhar o papel que foi sempre o seu durante o fascismo, ou seja, o de estar ao serviço do anticomunismo militante.
Mas comecemos pelo mais espantoso. Já era do conhecimento de todos que o chamado segundo segredo de Fátima falava da conversão da Rússia e que se isso não sucedesse esta espalharia os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Ora como se sabe, e isso é dito expressamente no documentário, as chamadas aparições tiveram lugar entre Maio e Outubro de 1917, sendo a última a 13 daquele mês, com o referido milagre do Sol, e a Revolução Socialista de Outubro, contra quem aquele segredo é de facto dirigido, teve também lugar em 1917, simplesmente em 25 de Outubro, que, no calendário seguido no Ocidente, corresponde a 7 de Novembro. Apesar destas datas não baterem certas, para os católicos russos que são entrevistados no documentário isso não tem qualquer importância. O ano 1917 é que é verdadeiramente a chave dos acontecimentos. A nossa Senhora de Fátima já conhecia antecipadamente, e parece que os segredos foram todos revelados na aparição que teve lugar a 13 de Julho, os diversos passos que Lenine e os seus companheiros bolcheviques iriam dar para, segundo a expressão de um dos russos entrevistados, se atingir a fatídica noite de 25 de Outubro. Presciente conhecimento que, a 13 de Julho, antes dos próprios autores terem uma ideia clara como os acontecimentos se iriam desenrolar, já previa o que iria acontecer. É a história na sua visão mais mecanicista.
É evidente que se aquela coincidência de anos serve de explicação para russos beatos, qualquer historiador minimamente probo sabe que isso não é assim. Fátima inseriu-se inicialmente na luta do Portugal arcaico e camponês, dominado pela Igreja, contra o Portugal Republicano e de facto anti-clerical, que nesse mesmo ano tinha começado a enviar os seus filhos para a Guerra da Europa. Só muito mais tarde, e aqui as datas do documentário e alguma informação que recolhi na net não coincidem completamente, é que o segredo referente à Rússia foi revelado. Segundo o documentário ele teria sido escrito por volta de 1927, quando Lúcia, a única sobrevivente dos três jovens pastores da aparição, estava recolhida num convento em Tuy, Galiza. Foi depois revelado por Pio XII, em Outubro de 1942, ainda de acordo com o documentário, em plena batalha de Estalinegrado, mas de uma forma velada para não ofender as partes em confronto. Tudo isto mereceria um aprofundamento histórico, mas não me admiraria nada que, na mesma altura em que o mundo era de facto ameaçado pela besta nazi, que punha todo o seu empenho na derrota e destruição da União Soviética, se viesse clamar pela conversão da Rússia e mais, se pedisse a sua consagração ao Meu Imaculado Coração. Mas mesmo que presentemente se queira retirar este carácter agressivo e fascista ao segredo de Fátima, ele não poderá deixar de se inserir na Guerra Fria e servir às mil maravilhas para Salazar ter na mão um instrumento ideológico poderoso contra o comunismo e o Partido Comunista Português.
O cardeal Cerejeira, em 1953, numa daquelas manifestações guerreiras e belicistas que caracterizavam as cerimónias oficiais do salazarismo (vê-se no documentário o Exército a desfilar em Fátima), fala de Nossa Senhora de Fátima como a miraculosa anti-Rússia. É preciso ter descaramento para se vir reproduzir estas imagens que deviam envergonhar qualquer cristão, pois elas são um apoio explícito ao regímen que prendia, torturava e matava comunistas com a cumplicidade e conivência da Igreja oficial.
Mas o que é ainda mais espantoso são as bicadas que se dão ao 25 de Abril, mostrando imagens do Largo do Carmo, quando se diz que o Exército Azul levou novamente para os Estados Unidos o ícone de Kazan, uma relíquia da Igreja Ortodoxa russa, que ele tinha oferecido a Fátima, pois receava pela sua segurança. Só o tendo devolvido em 1982. O Exército Azul era uma organização reaccionária e anticomunista americana criada em 1947, nascida da Guerra Fria com a missão de converter a Rússia tal como era profetizado pelo segundo segredo e que tinha a sua sede em Fátima.
Nesta ausência de valores e de seriedade, há um católico russo que afirma, com grande candura, que leu clandestinamente na Rússia um livro onde se dizia que algures em Portugal há alguém que se interessava pela Rússia e a imagem a preto e branco, em tom contrastado forte, com música a condizer, mostra uma série de pobres peregrinos portugueses a dirigirem-se para Fátima, ficando nós com a sensação de que aquela gente iria rezar a Fátima pela conversão da Rússia. Esquece esse católico russo que em Portugal era, também, em nome de Fátima que se prendiam e torturavam comunistas.
É evidente que acompanhando estes panegíricos à contribuição de Fátima para a conversão da Rússia vem a descrição, com imagens, do que foi a política anti-clerical de Estaline, com a destruição de Igrejas, e as referências à morte de vários milhões de crentes. Mas, faz-se igualmente referências pouco abonatórias ao clero ortodoxo que colaborou com o regímen, ignorando que Estaline, para poder contar com o apoio da Igreja Ortodoxa na guerra contra os alemães, lhe concedeu certas liberdades, a que a Igreja correspondeu, contribuindo de facto para a derrota do invasor. É igualmente espantoso que faça referência à destruição de uma Igreja perto da Praça Vermelha e se diga de seguida que era para haver mais espaço para as paradas militares e a única que se mostre seja a da vitória da URSS contra os nazis, que é aquela que mais significado terá para os soviéticos. É evidente que a perseguição religiosa é desenquadrada de quaisquer perspectivas históricas, quase igualando a foi produzida nos tempos de Estaline com a que se verificou posteriormente. Esquecendo igualmente que a par de crentes, o maior massacre foi o de vários povos por razões que nada tinham ver com problemas religiosos e acima de tudo de comunistas, companheiros de Partido de Estaline, que esses provavelmente, para as almas caridosas que fazem o documentário, deveriam ser todos mortos.
O documentário termina com as afirmações de um dos entrevistados de que o caminho de Fátima não está terminado, que os que estavam antes ocupam presentemente postos de responsabilidade e que as pessoas continuam a viver sem Deus na Rússia e esperam mais de Fátima, mostrando a câmara símbolos comunistas que sobrevivem na Rússia de hoje. Está-se talvez preparar os telespectadores para a nova vaga de russofobia que a América está novamente a desencadear.
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A melhor da semana passada - 10
A justiça criminosa
Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.
Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia que se sabe que nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado. Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve. Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços do enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde as coisas importantes são «abafadas», como se vivêssemos ainda em ditadura. E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogues, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade. Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa e Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Bragaparques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muito alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos? Vale e Azevedo pagou por todos. Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo «normal» e encolhem os ombros. Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência com o vírus da sida? Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático? Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico? Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana? Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?
Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma. No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não substancia. E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou? E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente «importante» estava envolvida, o que aconteceu? Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu. E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente «importante», jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê? E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha. E aquele médico do Hospital de Santa Maria suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina? E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.
Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade. Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os «senhores importantes» que abusaram, abusavam, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra. Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade. Este é o maior fracasso da democracia portuguesa e contra isto o PS e o PSD que fizeram? Assinaram um iníquo pacto de justiça.
Clara Ferreira Alves, Expresso, 20 de Outubro 2007
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domingo, outubro 21, 2007
A informação como ficção e a ficção como informação
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sábado, outubro 20, 2007
A história da PIDE
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sexta-feira, outubro 19, 2007
Agostinho Neto – A Queda de um Anjo
Descreve o que foi a tentativa, pouco clara, de um golpe de estado contra o poder de Agostinho Neto e de alguns dos seus apaniguados na Direcção do MPLA, encabeçada pelos nomes referidos no título do livro. Os autores põem mesmo em causa que tenha havido qualquer tentativa golpista e consideram que aqueles foram vítimas de uma provocação organizada pelo grupo dirigente vitorioso.
Mas o que é mais impressionante é o saldo de morto provocado pela repressão desencadeada pela fracção vencedora, que, numa estimativa prudente, chega atingir 30.000 mortos, todos eles executados sem nenhum julgamento e depois da grande maioria ter sido torturada e mantida na prisão em condições deploráveis. Foi verdadeiramente uma purga que se abateu sobre companheiros de armas e de partido e que consistiu numa violação extremamente grave dos mais elementares direitos humanos.
Agostinho Neto aparece à luz destes relatos como uma personagem centralizadora, ávida de poder e de tudo controlar, pouco recomendável como chefe de Estado consensual e defensor do seu povo. É, pode-se afirmar, a desmontagem de um mito para aqueles, como eu, que nunca se debruçaram com grande rigor sobre a história recente de Angola, e consideravam a personagem como um herói da independência, apesar daqui e dali virem alguns avisos sobre o seu comportamento pouco recomendável.
O que é mais interessante é que o livro é escrito de uma perspectiva de esquerda, fazendo uma apreciação favorável dos derrotados e assassinados do 27 de Maio, apontados com gente próxima dos comunistas, em alguns casos como Sita Valles, como ex-militante da UEC e por esse motivo expulsa do MPLA, ou como simpatizantes da União Soviética, como o próprio Nito Alves. Chega-se a insinuar que, para além da afirmação de poder por parte de Agostinho Neto e da sua clique, este massacre visava abrir as portas ao reconhecimento ocidental, principalmente dos americanos. Verifica-se uma certa cumplicidade das tropas cubanas no esmagamento inicial do golpe, mas não participando nos massacres posteriores, e uma neutralidade da União Soviética que parece não interferir nos acontecimentos. O PCP, que foi acusado, há boca pequena, pela fracção vitoriosa, de estar por trás dos acontecimentos e pretender controlar a situação em Angola, segundo os autores, nada teve a ver com o assunto e no rescaldo dos acontecimentos, na sua táctica tradicional de não fazer ondas no campo socialista, aceitou passivamente que alguns dos seus militantes, que foram acusados em Angola de pertencer à fracção nitista, fossem suspensos das suas células para não agastar a direcção vitoriosa do MPLA.
Em Portugal não se deu grande importância aos acontecimentos, tendo o Presidente da República, Ramalho Enes, o PS, a imprensa da época e nossa intelectualidade, excepto Natália Correia, aceitado passivamente o que se passava em Angola.
Lembro-me que há época, um jornal esquerdista, ter lançado a atoarda de que o golpe tinha sido apoiado pela União Soviética com a cumplicidade do PCP e, segundo me lembro, nem uma palavra diziam sobre a repressão que se lhe seguiu. Este assunto, visto não ser citado no livro, mereceria agora ser recordado.
Estamos pois perante um documento impressionante, parecendo-me com grande rigor histórico e documental, que merece ser lido por todos aqueles que sobro passado não querem pôr uma pedra.
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Cimeiras Bizantinas
Parece que vamos ter um tratado sobre o sexo dos anjos.
Os dirigentes máximos dos países da UE encontram-se em Lisboa para mais umas guerrinhas de cacarácá. Vem o arrogante Gordon Brown, o ridículo Prodi que já não manda em nada e, talvez, os sempre irrequietos e boçais irmãos polacos. Vêm todos e vão puxar cada um para seu lado mesmo com risco de o pano se romper.
Entretanto a Europa afunda-se em decadência. O seu orgulhoso Estado Social está a caminho da insolvência. As suas empresas correm o risco de ser compradas ou perder os mercados para concorrentes que fazem metade do preço. O seu estatuto económico, criado e mantido à custa dos recursos do planeta, parece tremer perante as ameaças formidáveis da Rússia da Índia e da China.
Nos meus pesadelos vejo chegar um tempo de desespero e de guerra. A história mostra que a guerra surge quase sempre quando novos poderes ameaçam as potências instaladas.
"A guerra que virá não é a primeira" mas, pela sua incomensuravel brutalidade, só parece possível no quadro de um qualquer novo tipo de nazismo.
Entretanto os nossos dirigentes entretêm-se com bizantinices...
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A bem da cultura geral:
Discutir o sexo dos anjos - a origem desta expressão situa-se no ano de 1453 durante a tomada de Constantinopla pelos turcos. O último soberano do império Romano do Oriente, Constantino XI, comandava a resistência aos maometanos enquanto as autoridades cristãs mantinham acaloradas discussões teológicas num concílio, uma das quais era se os anjos tinham ou não sexo. Não puderam chegar a nenhuma conclusão. O imperador foi morto juntamente com milhares de cristãos e os novos conquistadores ali se estabeleceram sob as ordens de Maomé I.
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quinta-feira, outubro 18, 2007
"Pato Bravo" à Lisboa
"O Guggenheim foi a prova de que era possível gerar turismo com base na arquitectura. A nova Bilbau descobriu aí a sua vocação. Porque não disponilizar-se como laboratório da melhor - e, sobretudo, mais prestigiada - arquitectura? "Enquanto experiência urbana, não vi isto em mais lado nenhum", diz Carlos Irijalba. Bilbau assume: quer ser "a cidade dos Prémios Pritzker". E está a contá-los, cinco no total: Frank Gehry, Norman Foster, Santiago Calatrava, Zaha Hadid e o português Álvaro Siza, que tem um projecto para o futuro salão nobre da Universidade do País Basco."
Público, 14 de Outubro 2007
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Em Lisboa, pelo contrário, os grandes arquitectos são proscritos; qual Siza ?.. qual Ghery ?...Já que não temos o "Pato à Pequim" especializamo-nos no "Pato Bravo à Lisboa".
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quarta-feira, outubro 17, 2007
Arma de arremesso de Bush ?
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Dar a mão à palmatória ou o braço a torcer
Quando, depois do Congresso, o senhor começou a falar viu-se o caminho que iria traçar e esse é já bem perigoso, porque junta a fome (da direita) com a vontade de comer (do PS-Sócrates). Ou seja, apesar de continuar a falar da insensibilidade social do PS, o que propõe é uma nova Constituição, o projecto reaccionário que a direita sempre acalentou. Penso que não vai contar com a aquiescência do PS, seria muito escandaloso, mas uma revisãozinha que facilite os despedimentos contará com certeza com a sua colaboração e por aí fora até que a Constituição seja completamente desvirtuada.
As privatizações propostas e o reforça da componente neoliberal será também do agrado do PS-Sócrates. Portanto, temo bem que estejamos numa nova arrancada direitista, em que o PS, para não deixar nas mãos do PSD todas as propostas de direita, irá ceder, como é seu costume, naquilo que verdadeiramente interessa ao patronato.
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Os nossos rapazes em Alma-Ata
Hoje os nossos rapazes enfrentam os cazaques na sua saga por uma presença, honrosa, no próximo europeu de futebol. Não costumo perorar sobre o desporto rei mas, desta vez, abro uma excepção dado o local do jogo.
É que Alma-Ata, ou como se diz agora Almati (significa "pai das maçãs"), foi uma cidade que visitei da primeira vez que pisei solo soviético nos idos de 1980. As maçãs eram realmente gigantescas, chegavam a pesar 800 gr.
Recordo claramente as enormes pilhas de melões e de muitas outras frutas que nos são familiares. Era Setembro e Alma-Ata era uma enorme aldeola com camponesas de lenço pela cabeça, como as nossas, mas de olhos em bico.
Também recordo o estádio olímpico, das olimpíadas de inverno. Os portugas como eu acabaram as suas aventuras de patinagem sobre lâminas saindo, de gatas, para fora da enorme pista onde deslizavam centenas de domingueiros (também de olhos em bico).
Agora, consta-me, já não são soviéticos e têm milhões de barris de petróleo para vender.Deve estar tudo muito diferente.
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segunda-feira, outubro 15, 2007
Menezes e os Gatos
Menezes fez, no XXX Congresso do PSD, se não um grande discurso pelo menos um discurso grande. Para além de outras miudezas já se percebeu ao que vem: convencer o bom povo português de que sabe, e quer, e pode e manda baixar a despesa pública para poder poupar o bom povo português às consabidas dores de parto do progresso. Exactamente o que o engenheiro Sócrates não sabe, e não quer, e não pode e não manda fazer.
Por mero acaso o Sr. Menezes omite que ao baixar a despesa acabará inevitavelmente por atingir aqueles que finge querer poupar. Um mero detalhe...
O que ele, Menezes, também não sabia era que horas depois os Gatos Fedorentos iriam, involuntáriamente, dar-lhe uma ajuda massacrando o seu adversário de forma mil vezes mais eficaz. Há horas de sorte. Se não viu veja aqui:
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A melhor da semana passada - 9
Peregrinos perderam a paciência com a espera para entrar na nova igreja.
A vaia foi monumental à porta da nova Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Os peregrinos perderam a paciência com as autoridades eclesiásticas, que mantinham as portas do templo fechadas, ontem, já passava das 13.30, quase 24 horas passadas após a inauguração.
Gritos, assobios e gente a reivindicar que "isto foi construído com o nosso dinheiro", ensombraram o brilho da cerimónia oficial da véspera. Porque a nova "Basílica", como lhe chamou o cardeal Bertone em conferência de imprensa ontem à tarde, foi um dos motivos que levou muitos fiéis a ir ao Santuário nesta peregrinação.
Ainda não eram 09.00, Alfredo Ribeiro, 40 anos, já tinha contornado a Igreja da Santíssima Trindade (IST). A viagem de Marco de Canavezes a Fátima havia sido longa e queria ver o monumento antes das celebrações habituais, no Santuário, às 10.00. Não conseguiu. "Já sei que não a vou ver, porque à tarde poucos vão conseguir entrar e nós voltamos hoje para casa".
A hora prevista para a abertura das portas apontava, de manhã, para as 13.00. Três guardas impediam a aproximação do pórtico principal, uma entrada esplendorosa, em bronze, com 64 metros quadrados. Alguns peregrinos lá conseguiam tocar-lhe e tirar a fotografia desejada.
Diário de Notícias, 14.10.2007
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Foi uma espécie de "inti-fátima"...
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sábado, outubro 13, 2007
Um convite desdobrável lançado dos aviões
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sexta-feira, outubro 12, 2007
Não há prova científica
Lemos isto e abrimos a boca de espanto, que no Século XXI ainda se acredite em milagres e estes sejam tratados nos media como uma coisa banal, que pode acontecer ao mais desprevenido, só porque um dia “rezou” com muita força e, mais grave ainda, que haja médicos que atestem, com toda a seriedade científica, que o que aconteceu foi ou não um milagre, não lembra ao Diabo, que neste caso deve ser tratado com todas as deferências, pois só por obra do Demo é que esta Igreja pode ser levada a sério. E ainda falam dos fundamentalistas muçulmanos.
Que Deus lhes perdoe, que não sabem o fazem.
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quinta-feira, outubro 11, 2007
Não se atormente mais, a solução "tá aí"...
O grau de optimismo desempenhou um papel importante no meu percurso, assim como a confiança que fui adquirindo em mim mesmo.
Joaquim Piteira
A mesma oportunidade aguarda por si, basta apenas agarrá-la!
Vigília das Conquistas Financeiras ! Segunda-feira, às 19h30m e também às 22h!
Templo Maior
Assista aos programas: AQUI
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quarta-feira, outubro 10, 2007
MMS - Nota de leitura
O “Manifesto Mérito e Sociedade” (MMS) é o documento em cuja base Eduardo Correia pretende formar um partido politico e concorrer às eleições de 2009. (Pode ser consultado em http://www.mudarportugal.org/).
Apresenta um formato híbrido, entre o programa eleitoral e a declaração de princípios, o que o torna algo desequilibrado: uns pontos com grandes detalhes de implementação (caso do e-government) e outros muito genéricos e superficiais (caso da educação).
Não questiona as bases económicas nem politicas do sistema e da organização da sociedade.
Eduardo Correia situa-se num sistema capitalista com um governo do tipo democracia representativa; orienta-se pelo princípio liberal do Estado como agente regulador e não promotor ou interventor; e principalmente considera que a administração do País devia seguir as regras de gestão eficaz e as boas práticas que regem o mundo empresarial.
O que, se pensarmos bem, tem uma certa lógica, uma vez que adequa a gestão do Estado ao modo de produção sobre o qual está organizada a sociedade.
Deste ponto de vista, os regimes políticos da área da Social-Democracia sofrem de uma contradição de base que ajuda aliás a explicar as suas progressivas dificuldades.
Fica pois assente que Eduardo Correia não pretende fazer mudanças radicais, apenas acha que isto pode funcionar melhor.
Uma linha comum ao longo dos capítulos que tratam as várias áreas da governação e da sociedade é a procura de uma alteração de valores: emparelhar direitos com responsabilidades, estabelecer uma cultura do mérito.
Logo no 1º Capítulo, e à laia de apresentação dos princípios orientadores, se diz:
“È necessária uma profunda mudança nos seguintes aspectos:
- Comportamentos individuais
- Comportamentos colectivos
- Organização da sociedade
- Papel do Estado
- Sistema social, económico e politico”
Há que referir que a grande parte do conteúdo do documento é sobre comportamentos; alguma coisa é sobre o papel e a organização do Estado e da Administração; e nada sobre o Sistema.
Quem pretende uma mudança de atitude tão grande, direi mesmo uma mudança de paradigma cultural, tem obviamente que dar grande importância à Educação. E ele diz que dá! Mas parece ficar-se apenas por dois ou três chavões e alguns slogans na moda, desligados da realidade.
Por exemplo, a preocupação com o “abandono escolar” e a “necessidade de prolongar o ensino obrigatório até ao 12º ano”.
Dizer isto em abstracto, ignorando que há em Portugal uma grande separação entre a escola e a vida económica e social e que a escola é mantida a funcionar em circuito fechado por uma gestão centralizada e desligada das realidades, não é de bom augúrio...
Entre as propostas concretas, Eduardo Correia apresenta algumas ideias que me apetece salientar como interessantes e criativas:
a) a “Loja do Cidadão” para a Justiça, a que o autor chama Tribunal do Cidadão, para que qualquer pessoa pudesse, no mesmo espaço, obter aconselhamento jurídico e pedir apoio judiciário (se aplicável) para qualquer tipo de questão, dirigindo-se especìficamente aos “balcões” aplicáveis ao seu caso (trabalho, família, etc) Os funcionários desses “balcões” seriam advogados da Ordem ou juristas nomeados oficiosamente.
b) os “processos on-line” na área da Saúde, com um portal onde existiriam entre outros, os seguintes conteúdos informativos:
- contactos úteis
- mapas e descrição do percurso a fazer para encontrar unidades de
saúde, organizações de apoio à saúde e associações de doentes
- enciclopédia médica com informações sobre doenças, exames,
medicamentos
- tempos e listas de espera para cirurgias e tratamentos mais comuns
- exposição dos direitos dos doentes: garantia de cuidados, taxas
moderadoras, liberdade de escolha, reclamações, etc
- marcação e desmarcação de consultas
Em conclusão, no MMS fala-se sobre todos aqueles aspectos que a generalidade dos cidadãos que reflectem sobre a nossa sociedade pensa que estão mal: justiça, educação, saúde; peso do funcionalismo publico e da burocracia; promiscuidade entre administração e Partidos, etc. E avançam-se ”soluções”.
Não se pense que eu acho isto mal. Ser “politico de bancada” é provavelmente um bom treino de cidadania. Eu pessoalmente farto-me de praticar!
Mas isto é capaz de ser pouco para justificar a criação de outro partido. Principalmente porque os seus princípios não diferem em quase nada do que outros têm proclamado e as medidas apontadas são em grande parte as que os últimos Governos anunciaram. O “busílis” não está no enunciado mas sim no levar à prática. E quanto a isso Eduardo Correia não nos diz nada.
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A besta está novamente às portas da cidade
Entretive-me nos últimos tempos a falar dos OGM, quando toda a gente já os esqueceu – Miguel Portas já está noutra, manifestando-se a favor dos simpáticos monges budistas da Birmânia – ou a passar por um aleivoso reaccionário ao defender o LFM. Os donos deste blog ou falam das Artes, com A maiúsculo, ou então afixam os comentários sempre “engraçadotes”, mas muito pouco produtivos, dos VPV ou dos MST.
E no entanto às portas da cidade vão-se acumulando os sinais de um tempo de intolerância e de exaltação reaccionária. Hoje, passados 40 anos sobre o assassinato, às ordens da CIA e do Império, de um dos mais lídimos representantes da pureza revolucionária da segunda metade do século passado e com aquela preocupação mesquinha de destruir o herói, eis que uma revista portuguesa, cujos responsáveis desconheço, pespega na capa a célebre fotografia de Che com o bigode de Hitler. No fundo a tentativa de transformar o verdadeiro “cavaleiro da esperança” da América Latina no mais ignóbil dos ditadores ou seja na personificação do mal absoluto.
Estes canalhas, que assim descem à cidade, são os filhos ou os netos dos fascistas que na Itália de Mussolini obrigavam, para lá de outras barbaridades, os seus opositores a beber óleo de rícino, ou nas ruas de Berlim partiam as montras aos comerciantes judeus ou que em Portugal obrigavam o seus opositores a gritar “quem manda?” Salazar, Salazar, Salazar! Recuperam com a capa de novos liberais e de democratas, as velhas provocações fascistas. E nós os liberais, de velha cepa, e democratas assistimos impávidos e serenos ao crescer deste velho-novo fascismo que presentemente, com a cumplicidade de alguma esquerda bem comportada, se prepara para tomar de assalto órgãos de informação, impondo em todo o lado escriturários prontos a pôr a sua pena ao serviço das opiniões mais reaccionárias. E é vê-los no Público, mas proliferando noutros meios de comunicação e enxameando a blogosfera.
Hoje por muito que andemos entretidos com as nossas pequenas discussões, não podemos deixar que esta nova besta nos entre pela porta principal, e que retome sob diversas formas e disfarces a mesma preocupação de sempre, destruir em nós qualquer esperança na possibilidade de transformar o mundo para melhor.
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terça-feira, outubro 09, 2007
Sweeney Todd - Tim Burton e o Teatro Aberto
As primeiras imagens do novo filme de Tim Burton, com estreia mundial marcada para 21 de Dezembro, já foram reveladas. Eis Johnny Depp como o barbeiro britânico que monta loja em Londres e que, com a ajuda macabra da sua vizinha, Mrs. Lovett, corta muito mais do que cabelo. "Sweeney Todd" é a adaptação de Burton do musical "Sweeney Todd - O Terrível Barbeiro de Fleet Street", de Stephen Sondheim, que recupera a história do homem que desde meados do século XIX povoou a literatura britânica.
Mito ou lenda, chegou a especular-se que Todd teria existido e que a sua história inspirara as várias personagens que habitam peças e romances sobre o barbeiro que acumula as suas funções com as de um assassino em série, que escolhe lâminas para cortar as gargantas das suas vítimas e depois as entregava à sua comparsa para que ela fizesse tartes com recheio ao gosto dos mais refinados canibais.
O musical de Sondheim, que também sobe ao palco do Teatro D. Maria II a 10 de Outubro, envolve Sweeney Todd numa trama mais complexa: ele é um barbeiro injustamente condenado ao degredo na Austrália, Benjamin Barker, e que regressa a Londres 15 anos depois, com nome falso, onde descobre que o juiz que o considerou culpado de um crime que não cometeu violou e assassinou a sua jovem mulher e filha. Vingança e sangue são os ingredientes que alimentam a sua vida a partir da terrível descoberta e vão temperar as tartes de Mrs. Lovett, recheadas com os restos dos clientes de Todd, com música à mistura.
É a sexta vez que Depp colabora com Tim Burton e a quarta que Helena Bonham Carter (Mrs. Lovett e, na vida real, também Mrs. Burton), participa em filmes com a marca Burton. Além dos protagonistas-fétiche de Burton, há também Alan Rickman e Sacha Baron Cohen (também conhecido como Borat ou Ali G) no rol de actores. A produção (uma colaboração DreamWorks-Warner) arrancou em Fevereiro e foi interrompida pouco depois devido à doença da filha de Depp, Lily Rose. As alterações de horários provocadas pelo imprevisto obrigaram a mais cortes do que os sofridos pelas vítimas do barbeiro vitoriano: Christopher Lee e outros actores tinham papéis garantidos na diáfana pele de narradores-fantasma, mas os papéis foram eliminados do guião.
Se a versão Burton de "Sweeney Todd" obriga a esperar pelo Natal, a experiência teatral do musical de Sondheim está mais perto em geografia e tempo. O Teatro Aberto e o D. Maria II apresentam, na Sala Azul do Teatro Aberto, em Lisboa, a sua versão, com encenação de João Lourenço e direcção musical do maestro João Paulo Santos. O "thriller" musical vai estar em cena de quarta a sábado às 21h30 e aos domingos às 16h, com Mário Redondo, Marco Alves dos Santos, Sílvia Filipe e Ana Ester Neves, José Corvelo, Carlos Guilherme, Carla Simões, Henrique Feist e Tiago Sepúlveda. Além dos actores, estarão em palco 12 bailarinos, um coro de 16 elementos e uma orquestra de dez elementos.
Público, Ípsilon, 5 de Outubro 2007
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segunda-feira, outubro 08, 2007
A melhor da semana passada - 8
Há dias, José Roberto Arruda, governador de Brasília, decretou (decretou mesmo, não foi decretando), o seguinte: "Decreto n.º 28314. Art. 1º - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal."
Medida acertada. O gerúndio é a modos que um tempo verbal que não faz, vai fazendo. "- Você está pronta, meu bem? - Estou indo..." O gerúndio apanha uma carroça ronceira de cada vez que vai a algum lado. Aliás, já vimos, não vai. Vai indo.
Daí o movimento "Chega de Gerundismo" que se criou no Brasil e de que o cortante decreto foi expressão. Que um governante rape da caneta para acabar com as modorras é de aplaudir. Sou a favor do combate a todas as muletas que arrastam a palavra (reparem, não abri esta crónica com "Há dias atrás...").
E não venham com "a língua não vai lá com decretos", eu e o governador sabemo-lo. O facto é que uma provocação - que vai direito ao assunto - muda. Não vai mudando.
Ferreira Fernandes
Diário de Notícias, 4 de Outubro 2007
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domingo, outubro 07, 2007
Objectivo: Burma
Em 1945 Raoul Walsh realizava "Objectivo: Burma", com Errol Flynn no papel de comandante de uma companhia de pára-quedistas isolada em Burma.
É disso que me lembro sempre que oiço o nome do país que nós chamávamos Birmania e que, a partir de 1989, tem um nome que o meu cérebro se recusa a aprender.
Vem isto a propósito da surpresa com que vi, de repente, toda a gente a falar da ditadura dos militares birmaneses. Do Bush ao Miguel Portas, de um pé para a mão, desatou tudo a falar de uma coisa que, durante anos estivera no seu sossego.
Eu desconfio imenso deste tipo de "coincidências" e erupções subitas de consciências indignadas. Receio ter entretanto compreendido de onde é que o fenómeno nasceu ao ler o Expresso de 6 de Outubro. Aqui ficam duas singelas citações:
"Em 2006, foi descoberta uma reserva de gás natural com 3,5 milhões de milhões de metros cúbicos, o equivalente a 600 milhões de barris de crude."
"Mas a verdade é que as sanções, já impostas pela UE e pelos Estados Unidos desde há 20 anos, não têm tido grande efeito e abriram, por outro lado, frutuosas alternativas de investimento à China e à Índia, países que competem no território por influência diplomática, militar e económica."
Claro que a ditadura birmanesa é odiosa e que o seu povo merece toda a solidariedade, não é isso que está em questão, embora eu suspeite da falta de eficácia destas campanhas.
Temo que quem as lançou tenha outro objectivo; Burma, por exemplo...
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"O Estado a que isto chegou", de novo ?
É famosa a frase de Salgueiro Maia, na noite da revolução, sobre o "Estado a que isto chegou". 33 anos depois já se dizem coisas destas nos jornais ? Sem consequências ?...
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sábado, outubro 06, 2007
Beja foi invadida pela China
Amanhã, Domingo, encerrará a exposição dedicada à China pela Câmara Municipal de Beja. A Casa da Cultura acolheu, desde a inauguração no dia 29, com a presença do senhor embaixador da RPC, centenas de fotografias da China contemporânea.
Por lá passaram muitos portugueses que se interessam por esse gigante asiático e também muitos membros da comunidade chinesa que, em certos casos, nunca visitaram os locais mostrados nas fotografias. Para mim uma experiência interessantíssima que eu agradeço a todos os que a tornaram possível.
Não resisto a deixar aqui reproduções do jornal da comunidade chinesa (5 mil exemplares) onde a exposição foi noticiada. (clicar na imagem para ampliar).
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