segunda-feira, julho 03, 2006

"O nariz" no São Carlos (estreia hoje)


João Lourenço, actor e encenador e um dos fundadores do Novo Grupo, companhia sediada no Teatro Aberto, em Lisboa, foi convidado pelo Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) para encenar a nova produção lírica "O nariz", de Dimitri Chostakovitch.

Esta ópera, que estreia hoje pelas 20 horas, e que terá mais quatro récitas, marca o final da temporada lírica 2005-2006 e constitui uma estreia em Portugal.

Com a produção de "O Nariz", uma das primeiras peças líricas de Chostakovitch que a escreveu com pouco mais de 20 anos, o TNSC assinala o centenário do nascimento do compositor russo,evocado um pouco por toda a Europa.

Quando foi apresentada na programação da temporada a ópera que hoje estreia foi descrita por aquele que é desde há alguns anos o director artístico do TNSC, Paolo Pinamonti,como sendo "uma obra de arquitectura satírica, fundamentada numa colagem de estilos, que convoca a paródia, o absurdo, o apontamento circense, o episódio sério, a alegoria burlesca, num virtuoso contraponto de momentos solidamente díspares".




Chostakovitch empreendeu em 1927 a adaptação de "O nariz", de Nikolai Gógol , uma sátira à época de repressão exercida sob o domínio do czar de Nikolai I. Esta rara comédia lírica, que requer uma exigente produção (reúne mais de 70 personagens), foi estreada em 1930, em Leninegrado. O argumento conta-nos como Ivan Iakolevitch, descobre um dia, num pedaço de pão do seu pequeno-almoço, um nariz. Ivan procura desfazer-se rapidamente deste apêndice. Na mesma manhã, o major Kovaljov, ao acordar, apercebe-se que lhe falta o nariz e apresenta queixa na polícia, dirigindo-se posteriormente à redacção de um jornal para editar um anúncio. O nariz surge então na catedral de Kazan sob um uniforme de conselheiro de estado reaparecendo a partir desse momento em diversos locais da região, desafiando a competência policial, que encontra muitas dificuldades no contexto deste difícil processo.

No TNSC esta nova produção conta com a direcção musical de Donato Renzetti nas quatro primeiras récitas e de João Paulo Santos, na última. A equipa artística reúne também o cenógrafo Jochen Finke e da figurinista Renée Hendrix para além de Vera San Payo de Lemos, na dramaturgia, Carlos Prado, na coreografia e de Pedro Martins nas luzes.

Do elenco convidado para a produção do TNSC destaca-se a presença do barítono norte-americano Andrew Schroeder no papel do Major Kovaliov, o homem que se vê, de repente, sem nariz. Reunindo também jovens cantores de nacionalidade portuguesa, arménia, russa, italiana e francesa, num total de 25 cantores e alguns actores que se desdobram pelos vários papéis.

De destacar também a participação da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro de Teatro Nacional de São Carlos.

Ana Vitória, Jornal de Notícias

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