Vou já esclarecer ao que venho. Quero alertar para um “novo holocausto” que eu sinto avolumar-se e que considero quase inevitável.
O alerta vale o que vale mas, se não puder evitar as barbaridades, ao menos que nos prepare a todos para as vivermos.
Falo de Israel e dos seus “vizinhos”, claro. O holocausto que prevejo é a destruição de Israel e o massacre de muitos dos seus habitantes.
Não pretendo discutir quem tem razão mas apenas pensar para além dos constantes “braços de ferro” a que assistimos nas televisões.
Não sou, nem me sinto, judeu e também não sou daqueles que absolvem automáticamente as barbaridades terroristas embora compreenda o drama do povo palestiniano.
Aquilo que me interessa aqui compreender é se no quadro geoestratégico presente o estado de Israel tem alguma probabilidade de sobreviver e também se o “comporatmento” dos seus governantes na cena internacional aumenta ou diminui essa probabilidade.
Todos ficamos impressionados com a eficácia militar de Israel, com o enorme poderio que os seus aliados da América lhe permitiram desenvolver, mas não devemos esquecer que a prazo as guerras acabam sempre por ser ganhas em termos “logísticos”. Um contendor que seja inferior em população, recursos naturais e capacidade de produção acabará sempre por perder a guerra.
O suporte dado pelos Estados Unidos ao seu aliado no médio oriente, por enquanto possível e inquestionado pelas outras potências emergentes, tem permitido a Israel uma política de retaliação que excede largamente o famigerado “olho por olho, dente por dente” (uma das imagens mais revoltantes que já vi na televisão foi a de soldados israelitas partindo, com pedras, os braços de palestinianos capturados e indefesos durante a intifada).
Mas o mundo está a passar por uma transformação acelerada, novos polos de riqueza e de poder estão a desenvolver-se e a hegemonia dos Estados Unidos tende a resumir-se cada vez mais ao plano militar.
A situação faz lembrar a da Espanha do século XVII, em que à debilitante redução das remessas de metais preciosos da América correspondia um envolvimento militar cada vez maior em várias frentes.
Também os Estados Unidos ao mesmo tempo que vêm levantar-se formidáveis competidores económicos (China, India,..) são impelidos pelas circunstâncias internacionais a assumir o seu papel de “polícias globais” (Iraque, Afeganistão, Irão, Coreia do Norte,...).
Na feroz competição que se regista a nível internacional em busca das reservas de energia e matérias primas, na intrincada dinâmica dos equilíbrios entre civilizações e credos religiosos, no quadro das transferências de riqueza entre grupos económicos, países e regiões, o Estado de Israel pode de um momento para o outro vir a constituir uma simples “moeda de troca”.
A questão que se coloca é a seguinte: o que acontecerá se, e quando, a superpotência americana deixar de poder, ou querer, ser o guarda-costas de Israel ?
Quando Israel põe dois países a ferro e fogo em retaliação pelo rapto de três soldados coloca-se perante o mundo na situação de agressor e não de vítima que se limita a defender o seu legítimo direito a existir em paz.
Ao abdicar da sua superioridade moral dificulta qualquer iniciativa moderada da outra parte e contribui para reforçar os adeptos do terrorismo. Ao proceder deste modo Israel aliena a opinião pública moderada dos países árabes que deveria constituir a base de uma solução de equilíbrio a longo prazo.
À medida que as condições de vida se forem deteriorando no mundo ocidental (o petróleo atingiu ontem os 78 dolares por barril) ir-se-ão desenvolvendo os velhos fantasmas anti-semitas e chegará o dia em que Israel passará a ser visto com animosidade, como a causa de todas as dificuldades.
A destruição de Israel torna-se dessa forma uma questão de tempo e qualquer pessoa que viva em Israel deverá racionalmente equacionar a sua permanência nestas condições de risco sempre crescente.
A comunidade internacional tem que deixar a sua posição de indiferença e encarar enquanto é tempo soluções em larga escala, para as quais ninguém está psicológicamente preparado, se quisermos evitar um desastre humanitário de grandes proporções no século XXI.
sábado, julho 15, 2006
As sementes de um novo holocausto ?
Publicado por
F. Penim Redondo
Hora da publicação: 16:23
Etiquetas: Fernando Penim Redondo, medio oriente, politica2006, teses-textos
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