segunda-feira, outubro 26, 2009

Português de Yale critica estagnação do superior

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Miguel Poiares Maduro, ex-advogado geral no Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias e professor da Universidade de Yale diz que universidades nacionais continuam muito conservadoras e pouco dadas a valorizar o mérito.
Apesar do "investimento" dos últimos anos, as universidades portuguesas continuam muito fechadas em si mesmas, eternizando a cultura da "substituição do professor pelo seu assistente" , "conservadoras" no ensino e pouco dadas a procurar e valorizar o "mérito" no seu corpo docente. Quem o afirma é Miguel Poiares Maduro, o primeiro professor português na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Em conversa com o DN, Poiares Maduro - que terminou recentemente um mandato de seis anos como advogado geral no Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias (ver texto ao lado) confessou "alguma desilusão" com a falta de evolução das universidades portuguesas nos anos que passou no Luxemburgo.
"Portugal teve nos últimos anos um investimento em termos de recursos financeiros no ensino superior que, do meu ponto de vista, não teve os frutos que deveria ter", considerou, defendendo que, se no plano da "investigação", houve melhorias assinaláveis, no que diz respeito à qualidade da oferta educativa das universidades nada se alterou.
"Há até de certa forma quase duas culturas em Portugal", explicou. "Uma cultura científica nos projectos de investigação, muito mais europeia, muito mais internacional, muito mais meritocrática, muito mais avançada . E outra, nas universidades, de um ensino que é muito mais conservador e tradicional e que não evoluiu", lamentou.
Para Poiares Maduro, as reformas do sector nos últimos anos - do regime jurídico das instituições ao novo sistema de graus e diplomas de Bolonha - não produziram ainda efeitos ao nível da qualidade da oferta educativa.
E mesmo as parcerias internacionais no ensino e investigação promovidas pelo Governo - por exemplo com o MIT e as universidades de Austin e Carnegie Melon - foram projectos "com alguns benefícios" mas não soluções.
Segundo defendeu, as medidas do Governo deveriam ser orientadas, isso sim, para se criarem "mecanismos de incentivos correctos para se alterar a cultura" das instituições.
Entre eles propôs a obrigatoriedade de as instituições "recrutarem a maioria do seu corpo docente fora da universidade, para se fazer uma selecção com base no mérito", e de se criarem instrumentos que permitam "flexibilizar" as remunerações dos professores, "premiando os que têm paralelamente uma carreira melhor em forma de ensino e investigação".
O jurista defende que, actualmente as instituições capazes de se afirmar internacionalmente "são ilhas".
Uma categoria onde incluiu a Universidade Católica de Lisboa - na qual vai também orientar agora um projecto de pós-graduação internacional da área do Direito.

DN, 26.10.2008

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2 comentários:

Acilina disse...

Acho incrível uma pessoa que é de Direito generalizar a sua experiência muito particular a todas as universidades. Eu sei que, pelo menos, nas universidades ligadas à ciência e tecnologia, não é assim! Das ligadas às humanidades, não falo, porque estou por fora.
Ainda por cima, uma pessoa que tem estado fora do sistema e do País!
Eu quase que jurava que este sujeito concorreu a um lugar qualquer de professor numa universidade portuguesa e chumbou.
Isto é dor de cotovelo típica.
Acha-se com um currículo excelente e foi ultrapassado por alguém que tem trabalhado aqui no duro, duma universidade portuguesa. Aposto que é este o problema dele!

Anónimo disse...

O que este senhor diz são banalidades ouvidas diariamente a académicos neo~liberais que ao chegarem do estrangeiro vêm cheios de certezas. Quem assim generaliza a toda a Universidade portuguesa mostra pouco conhecimento de todas as suas areas onde as realidades são muito diferentes. E aquela da Catolica torna-o um pouco suspeita ...

Nuno