Clique na imagem para ver uma entrevista dada por Chavez em 1998.
4 comentários:
Anónimo
disse...
"Tem sido criticado por se encontrar com Hugo Chavez, o homem que ainda há pouco tempo encerrou um canal de televisão..."
Mário Soares: "Chavez não fechou um canal de televisão. Apenas, no final da concessão, não lhe renovou a licença. Era um canal de uma imensa agressividade e impertinência para com o Presidente da República eleito. Vi em Caracas algumas emissões e sei o que era."
terça-feira, 4 de dezembro de 2007 Democracia confirmada
1. A proposta de reforma constitucional de Chávez perdeu de 50,7% a 49,3% dos votos válidos, segundo os últimos números a que tive acesso. Os dois blocos receberam pouco mais de 4 milhões de votos, a oposição quase 4,5 milhões, Na última eleição presidencial, a oposição teve quase o mesmo, 4,3 milhões, enquanto Chávez bamburrava com 7 milhões. Votaram, portanto, desta vez, cerca de 3 milhões a menos, fazendo a abstenção saltar de 25% para 44%. A abstenção verificou-se principalmente entre os mais pobres, onde Chávez alcança sempre seus melhores percentuais.
Ninguém pode afirmar com certeza como votariam esses 3 milhões, antes que um boa e honesta pesquisa o investigue, mas a hipótese de que o Sim foi derrotado sobretudo pela abstenção parece razoável. Com a condição, claro, de que se acrescente o reconhecimento do próprio Chávez de que o governo bolivariano e seu esquema político falharam na mobilização.
2. O resultado da eleição desmoraliza definitivamente a propaganda imperialista, ecoada pelos midiocratas e midiotas nacionais, de que a Venezuela “caminha para a ditadura” ou “já é uma ditadura”.
É a primeira ditadura do mundo em que o governo, depois de vencer oito eleições consecutivas em nove anos — incluindo duas eleições presidenciais, uma constituinte e um plebiscito revocatório — aprova emendas constitucionais livremente debatidas no Congresso, submete-as a um referendo atacado dia e noite pela imprensa transnacional made in USA, perde por pouco mais de 1 ponto percentual, e a única conseqüência é que o presidente faz um pronunciamento, sem convocação de rede nacional, para cumprimentar a oposição pela vitória e prometer que continuará lutando por suas idéias.
3. O voto na Venezuela não é obrigatório. Como nos EUA também não é, os colonizados não reclamam dessa característica da democracia venezuelana. Mas é argumentável que o sistema brasileiro é melhor. Se o serviço militar é obrigatório, se pagar tributos também é, que há de errado em exigir do cidadão que compareça às urnas nem que seja para anular o voto ou votar em branco?
4. A TV brasileira fez uma cobertura pífia do referendo venezuelano. Mesmo os canais exclusivos de notícia (Globo News, Bandnews) pareciam estranhamente desinteressados, provavelmente porque as pesquisas, inclusive as de boca-de-urna, supunham a vitória de Chávez.
O jeito foi recorrer à CNN em espanhol, que não é mais pró-ianque que as emissoras brasileiras. Parte da cobertura da CNN foi fornecida pelo Globovisión venezuelana, de modo que a noite toda, até às duas da manhã de segunda-feira, ouvimos declarações de líderes oposicionistas, e somente deles. Às duas, porém, quem ainda estava acordado pôde ouvir um belo discurso de 1 hora do presidente Chávez, tranqüilo e bem-humorado, dizendo que oferece seu projeto de reformas “à história”, mas não à história de daqui a 100 anos, mas sim ao futuro próximo.
5. No começo da noite, a CNN informou que os dois blocos haviam concordado em que o primeiro boletim do Poder Eleitoral só seria divulgado quando se alcançassem 90% dos votos apurados.
Quando se chegou a 83%, a Globovisión transmitiu pela CNN iradas declarações de líderes oposicionistas, “exigindo” os boletins, alguns acusando diretamente o Poder Eleitoral de conluio com o Governo para esconder a vitória do Não. Um representante da OEA — um organismo ainda menos confiável que a ONU —, faccioso como o diabo, praticamente endossou a “denúncia”, falando ao vivo com os estúdios da CNN.
6. Quando a presidente do Poder Eleitoral finalmente apareceu, foi um contraste chocante. Tranqüila, sorridente, nem se referiu às acusações. Anunciou os resultados, disse que eram irreversíveis (ainda considerando o que faltava apurar), falou de paz, concórdia e democracia, sugeriu que os partidários do Não celebrassem com alegria, e que os perdedores se recolhessem às suas casas. Foi aplaudida por todos. Não há dúvida. É uma ditadura.
7. As pesquisas davam a vitória ao Sim, que perdeu. Imagine se fosse ao contrário. Manchetes do mundo inteiro gritariam que a “ditadura” chavista havia fraudado a vontade do povo.
8. Algumas das reformas propostas por Chávez incluíam a estatização, pelo Congresso, de algumas empresas nacionais e estrangeiras. Ditadura... Mas quando Fernando Henrique, ao contrário, transformou o Sistema Telebrás, as siderúrgicas, a Embratel e a Vale, de estatais em empresas privadas, ou quando incentivou a venda de bancos nacionais a estrangeiros, sem referendo nem nada, apenas com sua maioria congressual, tivemos o quê? Democracia...
9. Chávez - este é o ponto mais atacado - propôs a reeleição do presidente sem limite de mandatos. É assim na democracia francesa, onde o sistema funciona como presidencialismo ou parlamentarismo, conforme o presidente e o primeiro-ministro sejam do mesmo partido ou não.
É assim no parlamentarismo inglês, no português (que é um tanto afrancesado),no italiano etc. Dizem: mas há diferenças! Sim, uma delas que chefe do Executivo inglês é eleito pelo Parlamento, ao passo que o do Brasil e o da Venezuela são eleitos pelo povo. Outro que Brasil e Venezuela não tem nada tão anacrônico quanto um rei, vitalício, hereditário, dispendioso e inútil.
10. E por que haveria de ser igual? É como diz o advogado e colunista eletrônico Castagna Maia: por que não convocar um plebiscito nos EUA para saber se os ianques devem ou não sair do Iraque ou fechar o campo de concentração de Guantánamo?
Ou isso transformaria a plutocracia estadunidense numa ditadura?
Walter Rodrigues http://www.walter-rodrigues.jor.br/
Dialéctica de uma derrota por Atilio Borón [*] Como explicar a derrota do Sim e até que ponto foi só uma derrota?
Chavez enfrentou uma fenomenal coligação política e social que aglutinava todas as forças da velha ordem, carcomida até às entranhas mas com os seus agentes históricos a travarem uma batalha desesperada para salvá-la. A grande burguesia autóctone, os latifundiários, o capital financeiro, os dirigentes sindicais corruptos, a velha partidocracia, a hierarquia da Igreja Católica, a embaixada norte-americana, obcecada em derrubá-lo, e, a coroar todo este fluxo de descarga, uma confabulação mediática nacional e internacional poucas vezes vista na história, a qual reunia nos seus ataques a Chavez os grandes expoentes da "imprensa livre" da Europa, Estados Unidos e América Latina. O líder bolivariano atraiu contra si todos os espantalhos sociais com os quais deve lidar qualquer governo digno na América Latina e combateu-os quase em solidão e de mãos limpas. O que unificou os conservadores não foi a cláusula da "reeleição permanente" e sim algo muito mais grave: a reforma concedia categoria constitucional ao projecto socialista em gestação, algo totalmente inaceitável. Apesar de tão descomunal disparidade, o resultado eleitoral foi praticamente um empate.
Para muitos venezuelanos a eleição não era importante, o que explica os 44 por cento de abstenção. A grande maioria dos que não compareceram para votar te-lo-iam feito pelo Sim, o que revela a debilidade do trabalho de construção hegemónica e de conscientização ideológica dos bolivarianos no seio das classes populares. A redistribuição de bens e serviço é imprescindível, mas não necessariamente cria consciência política emancipadora. Por outro lado, alguns governadores e alcaides chavistas não se empenharam a fundo em favor de uma reforma constitucional que democratizaria, em prejuízo das suas atribuições, a organização política do Estado ao criar novas instituições do poder popular. Além disso, há que levar em conta que após nove anos de gestão qualquer governo sofre um desgaste ou deixa de suscitar o entusiasmo colectivo de antanho. A isto há que acrescentar, além disso, alguns erros cometidos na campanha eleitoral intermitente de um presidente que, pelo seu papel protagónico no cenário mundial, não dispõe de muito tempo para outra coisa.
De qualquer modo, apesar da derrota, Chavez saiu-se muito bem. Suas credenciais democráticas fortaleceram-se notavelmente. A oposição chegou às eleições dizendo que jamais aceitaria um triunfo do Sim. Caso se verificassem, repudia-lo-iam por ser produto da fraude e poriam em andamento o "Plano B" da Operación Tenaza [1] . Os que se diziam democratas confessavam que só se comportariam como tais no caso de ganhar; senão, a sua resposta seria a sedição. Chavez, em contrapartida, deu-lhes um lição de republicanismo democrático a aceitar com fidalguia o veredicto das urnas. Imaginemos o que teria acontecido se por essa ínfima diferença houvessem triunfado o Sim. Os porta-vozes da "democracia" teriam incendiado a Venezuela. Apesar da sua derrota, a estatura moral de Chavez e a sua fidelidade aos valores da democracia converte em pigmeus os seus oportunistas adversários, que só respeitam o resultado das urnas quando estes os favorecem. E, de passagem, deixa numa posição insustentável os senadores brasileiros que, sob o pretexto da débil vocação democrática de Chavez, querem frustrar a entrada da Venezuela no Mercosul. 04/Dezembro/2007 [1] Operación Tenaza: A tradução para castelhano do relatório do sr. Michael Middleton Steere, da US Embassy, ao sr. Michael Hayden, Director Agencia Central de Inteligencia encontra-se em www.tribuna-popular.org.
[*] Economista e sociólogo. Secretario general do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) até Agosto de 2006. Professor Titular de Teoria Política e Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
O original encontra-se em http://www.defensahumanidad.cult.cu/columnista.php?item=8
Um dia como os outros (195)
-
[image: UmDiaComoOsOutros.jpeg]
(…)
No cruzar do século temos os mesmos níveis de analfabetismo que outros
países tinham no cruzar do século anterior. Q...
Dominguice
-
A ideia de uma inteligência artificial atingir o ponto da singularidade
descreve a hipótese de esse tipo de inteligência se tornar cada vez mais
intelige...
Um belo acontecimento em Peniche
-
* Museu Nacional da *
*Resistência e da Liberdade inaugurado hoje (nos 50 anos da libertação dos
presos políticos)*
*Dia de agradecer a todos os democr...
Grande Angular - A História feita crime
-
Por António Barreto
*Vários mestres* nos advertiram: “Não devemos proclamar glórias que não são
as nossas”! O tema é inspirador. Não nos devemos gabar do...
Retrato da extrema-direita sem máscara - Argentina
-
Como é que Bolsonaro foi eleito, como é que Milei foi eleito na Argentina?
Como é que por cá obtiveram 1 milhão de votos? Como é que os que mais
precisa...
O 25 de Abril está morto
-
Aceitar a derrota quando ela de fato ocorre é o mínimo que deve fazer um
revolucionário. A crença em uma falsa vitória é sempre pior que uma derrota
assimi...
A revolução dos (es)cravos
-
Hoje, começo o meu texto com um excerto de um documentário da RTP: “As
motivações da criação do Movimento dos Capitães começaram por estar
relacionadas com...
MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Abril, Memórias Mil (III)
-
«Foi só muito depois da burlesca perseguição na Estrela que o pide seria
encontrado por acaso dentro de um elevador que subia do r/c para o 6.º
andar de...
A apologética muçulmana
-
Na época actual e no dito Ocidente há dois traços que marcam a apologética
muçulmana. Digo no Ocidente porque em países asiáticos como a Turquia a
ne...
Criptomania: 2 anos e 4 meses depois
-
No dia 13 de Novembro de 2021 publiquei post intitulado “Criptomania“. Por
acaso, coincidiu com o anterior topo da cotação da criptomoeda Bitcoin. No
ano s...
O eleitor-tipo
-
Partido Socialista: O PS é apontado como sendo um partido que tem um
eleitorado mais velho e também fiel aos socialistas. De acordo com o
levantamento feit...
Sim à Laicidade, não à Concordata
-
Portugal assiste por estes dias a um evento católico assumidamente
promovido pelo Governo da República e por muitas autarquias. Uma grande
parte dos cida...
No meio do ruído das coisas.
-
Duas despedidas tristes: a de Paulo Tunhas (1960), filósofo, cronista,
poeta, professor; e a de Luís Carmelo (1954), romancista, professor, poeta,
ensaís...
Moreia seca, frita
-
*D*ir-se-ia o resultado de algum cruzamento mitológico entre
safio e leopardo, a avaliar pela forma do corpo e pelas manchas que
recobrem ...
Client Management Software For Small Business
-
[image: Client Management Software For Small Business]
*Client Management Software For Small Business*- A small business is
typically defined as a private...
Notícias: «E o resto...» no Atelier de Lisboa
-
Rodrigo Cardoso (1973), *Colosso*, s.l., Edição do Autor, 2019, 42 pp.
Inicia-se no próximo mês de Novembro, sempre às Quartas-Feiras, entre as 19
e...
"MILAGRE" NA TURCOMÉNIA EM ÉPOCA DE PANDEMIA
-
Grande líder Gurbanguly Berdymukhamedov
Há um país no mundo, mais precisamente na Ásia Central, que não tem casos
de coronavirus. Trata-se da Turcoménia...
Uma paella Magalhânica
-
Estamos em plena temporada de comemorações da viagem de Fernão de
Magalhães. O arranque ocorreu no passado dia 20, assinalando 500 anos da
partida da arm...
NOVO SITE!
-
Já está "no ar" o meu novo site!
Podem visitá-lo em mredondo.com.
Está lá tudo sobre a minha actividade de actor, cantor, encenador, e ainda
actor e ...
Nos 57 anos do assassinato de Jose Dias Coelho
-
Jose Dias Coelho (1923-1961) em 1946, com 24 anos
A 19 de Dezembro de 1961 o escultor José Dias Coelho foi assassinado por
uma brigada da PIDE.
Era e...
Das Leis de Nuremberga à Lei do Estado Judeu
-
As duas Leis de Nuremberga, a da Protecção do Sangue Alemão e da Honra
Alemã, foram introduzidas na Alemanha Nazi, em sessão do Reichstag, de 15
de Setembr...
Para onde vai o défice de 2017?
-
O INE acabou de publicar as Contas Nacionais por sector Institucional, o
que significa que uma data de informação fina ficou disponível – entre a
qual o va...
INQUIETAÇÃO
-
Não sei se a senhora vai entender, doutora, mas é como se algo dentro de
mim estivesse querendo viver uma vida bem diferente da que vivo atualmente.
Par...
-
*O QUE EU DIRIA SE FOSSE A UM CONGRESSO DO PSD...*
…onde não posso ir porque não sou delegado, não tive nenhum cargo que me
desse esse direito por inerên...
Pausa
-
Com um Cavaco com os pés para a cova, um Passos à nora para conseguir
afivelar uma nova máscara, enquanto tira proveito dos encontros do Partido
Popular Eu...
Ilha da Páscoa ou Ilha dos Equívocos?
-
A Ilha de Páscoa, localizada no centro-sul do Oceano Pacífico, a mais de
3.000 Kms dos continentes asiático e americano, foi descoberta
ocasionalmente pel...
A GRÉCIA ANTIGA E OS MESTRES PENSADORES
-
Estalou o verniz aos nossos mestres pensadores, essa fina flor doméstica do
pensamento único europeu, quando os hereges gregos, esmifrados até ao
tutano,...
Concrete Home Embedded In The Slope
-
[image: concrete house embedded in the slope thumb Concrete Home Embedded
In The Slope home design]
The design of this property, situated on a hill outdoo...
Viajante Portas
-
Paulo Portas vai receber o Nobel do Turismo para nada. Mal chega do Canadá
já está a organizar outra viajem à China. Já lá foram centenas de vezes e
pouco ...
Sole Cis mo, monólogos performativos
-
Un écrivain qui écrit : “Je suis seul” ou comme Rimbaud : “Je suis
réellement d’outre-tombe” peut se juger assez comique. Il est comique de
prendre conscie...
Cuidado com o discurso da corrupção
-
(Le Monde Diplomatique, ed. portuguesa, Junho 2013, p. 5) Traz a edição
deste mês do Le Monde Diplomatique um interessante gráfico, a partir de
dados de 20...
Os swaps das empresas públicas
-
Recentemente todos ouvimos falar das perdas incorridas pelas empresas
públicas, em função de contratos de gestão de risco (os chamados swaps)
assinados com...
Tempo em que os blogs estavam na moda
-
*Los viejos blogueros nunca mueren *
*Enrique Vila-Matas *
“*Me acuerdo de los gorros tipo Davy Crockett, y de cuando todo era Davy
Crockett por a...
Empreendedorismo e “Person Job Fit”
-
Por: Vitor M, Trigo
vitor.trigo@gmail.com
08 Novembro de 2011
A maioria dos gestores que conheço utiliza a expressão “Person Job Fit”
para relevar a import...
Suficientemente idiota para passar a ser um facto
-
«O bastonário da Ordem dos Médicos propôs hoje ao ministro da Saúde, Paulo
Macedo, a criação de um imposto sobre a fast food.» in Expresso 05 Set '11
*N...
Lançamento do Forte Apache
-
A partir das 13h de Segunda, 5 de Setembro, arranca o novo blogue "Forte
Apache" onde encontra boa parte da equipa do Albergue Espanhol e novos
elementos...
DISTÚRBIOS EM VANCOUVER
-
A cidade de Vancouver, onde resido, viveu ontem momentos de grande agitação
após a equipa de hoquei no gelo, os Vancouver Canucks, ter perdido o jogo
f...
4 comentários:
"Tem sido criticado por se encontrar com Hugo Chavez, o homem que ainda há pouco tempo encerrou um canal de televisão..."
Mário Soares: "Chavez não fechou um canal de televisão. Apenas, no final da concessão, não lhe renovou a licença. Era um canal de uma imensa agressividade e impertinência para com o Presidente da República eleito. Vi em Caracas algumas emissões e sei o que era."
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Democracia confirmada
1. A proposta de reforma constitucional de Chávez perdeu de 50,7% a 49,3% dos votos válidos, segundo os últimos números a que tive acesso. Os dois blocos receberam pouco mais de 4 milhões de votos, a oposição quase 4,5 milhões,
Na última eleição presidencial, a oposição teve quase o mesmo, 4,3 milhões, enquanto Chávez bamburrava com 7 milhões. Votaram, portanto, desta vez, cerca de 3 milhões a menos, fazendo a abstenção saltar de 25% para 44%. A abstenção verificou-se principalmente entre os mais pobres, onde Chávez alcança sempre seus melhores percentuais.
Ninguém pode afirmar com certeza como votariam esses 3 milhões, antes que um boa e honesta pesquisa o investigue, mas a hipótese de que o Sim foi derrotado sobretudo pela abstenção parece razoável. Com a condição, claro, de que se acrescente o reconhecimento do próprio Chávez de que o governo bolivariano e seu esquema político falharam na mobilização.
2. O resultado da eleição desmoraliza definitivamente a propaganda imperialista, ecoada pelos midiocratas e midiotas nacionais, de que a Venezuela “caminha para a ditadura” ou “já é uma ditadura”.
É a primeira ditadura do mundo em que o governo, depois de vencer oito eleições consecutivas em nove anos — incluindo duas eleições presidenciais, uma constituinte e um plebiscito revocatório — aprova emendas constitucionais livremente debatidas no Congresso, submete-as a um referendo atacado dia e noite pela imprensa transnacional made in USA, perde por pouco mais de 1 ponto percentual, e a única conseqüência é que o presidente faz um pronunciamento, sem convocação de rede nacional, para cumprimentar a oposição pela vitória e prometer que continuará lutando por suas idéias.
3. O voto na Venezuela não é obrigatório. Como nos EUA também não é, os colonizados não reclamam dessa característica da democracia venezuelana. Mas é argumentável que o sistema brasileiro é melhor. Se o serviço militar é obrigatório, se pagar tributos também é, que há de errado em exigir do cidadão que compareça às urnas nem que seja para anular o voto ou votar em branco?
4. A TV brasileira fez uma cobertura pífia do referendo venezuelano. Mesmo os canais exclusivos de notícia (Globo News, Bandnews) pareciam estranhamente desinteressados, provavelmente porque as pesquisas, inclusive as de boca-de-urna, supunham a vitória de Chávez.
O jeito foi recorrer à CNN em espanhol, que não é mais pró-ianque que as emissoras brasileiras. Parte da cobertura da CNN foi fornecida pelo Globovisión venezuelana, de modo que a noite toda, até às duas da manhã de segunda-feira, ouvimos declarações de líderes oposicionistas, e somente deles. Às duas, porém, quem ainda estava acordado pôde ouvir um belo discurso de 1 hora do presidente Chávez, tranqüilo e bem-humorado, dizendo que oferece seu projeto de reformas “à história”, mas não à história de daqui a 100 anos, mas sim ao futuro próximo.
5. No começo da noite, a CNN informou que os dois blocos haviam concordado em que o primeiro boletim do Poder Eleitoral só seria divulgado quando se alcançassem 90% dos votos apurados.
Quando se chegou a 83%, a Globovisión transmitiu pela CNN iradas declarações de líderes oposicionistas, “exigindo” os boletins, alguns acusando diretamente o Poder Eleitoral de conluio com o Governo para esconder a vitória do Não. Um representante da OEA — um organismo ainda menos confiável que a ONU —, faccioso como o diabo, praticamente endossou a “denúncia”, falando ao vivo com os estúdios da CNN.
6. Quando a presidente do Poder Eleitoral finalmente apareceu, foi um contraste chocante. Tranqüila, sorridente, nem se referiu às acusações. Anunciou os resultados, disse que eram irreversíveis (ainda considerando o que faltava apurar), falou de paz, concórdia e democracia, sugeriu que os partidários do Não celebrassem com alegria, e que os perdedores se recolhessem às suas casas. Foi aplaudida por todos. Não há dúvida. É uma ditadura.
7. As pesquisas davam a vitória ao Sim, que perdeu. Imagine se fosse ao contrário. Manchetes do mundo inteiro gritariam que a “ditadura” chavista havia fraudado a vontade do povo.
8. Algumas das reformas propostas por Chávez incluíam a estatização, pelo Congresso, de algumas empresas nacionais e estrangeiras. Ditadura... Mas quando Fernando Henrique, ao contrário, transformou o Sistema Telebrás, as siderúrgicas, a Embratel e a Vale, de estatais em empresas privadas, ou quando incentivou a venda de bancos nacionais a estrangeiros, sem referendo nem nada, apenas com sua maioria congressual, tivemos o quê? Democracia...
9. Chávez - este é o ponto mais atacado - propôs a reeleição do presidente sem limite de mandatos.
É assim na democracia francesa, onde o sistema funciona como presidencialismo ou parlamentarismo, conforme o presidente e o primeiro-ministro sejam do mesmo partido ou não.
É assim no parlamentarismo inglês, no português (que é um tanto afrancesado),no italiano etc. Dizem: mas há diferenças! Sim, uma delas que chefe do Executivo inglês é eleito pelo Parlamento, ao passo que o do Brasil e o da Venezuela são eleitos pelo povo. Outro que Brasil e Venezuela não tem nada tão anacrônico quanto um rei, vitalício, hereditário, dispendioso e inútil.
10. E por que haveria de ser igual? É como diz o advogado e colunista eletrônico Castagna Maia: por que não convocar um plebiscito nos EUA para saber se os ianques devem ou não sair do Iraque ou fechar o campo de concentração de Guantánamo?
Ou isso transformaria a plutocracia estadunidense numa ditadura?
Walter Rodrigues
http://www.walter-rodrigues.jor.br/
Dialéctica de uma derrota
por Atilio Borón [*]
Como explicar a derrota do Sim e até que ponto foi só uma derrota?
Chavez enfrentou uma fenomenal coligação política e social que aglutinava todas as forças da velha ordem, carcomida até às entranhas mas com os seus agentes históricos a travarem uma batalha desesperada para salvá-la. A grande burguesia autóctone, os latifundiários, o capital financeiro, os dirigentes sindicais corruptos, a velha partidocracia, a hierarquia da Igreja Católica, a embaixada norte-americana, obcecada em derrubá-lo, e, a coroar todo este fluxo de descarga, uma confabulação mediática nacional e internacional poucas vezes vista na história, a qual reunia nos seus ataques a Chavez os grandes expoentes da "imprensa livre" da Europa, Estados Unidos e América Latina. O líder bolivariano atraiu contra si todos os espantalhos sociais com os quais deve lidar qualquer governo digno na América Latina e combateu-os quase em solidão e de mãos limpas. O que unificou os conservadores não foi a cláusula da "reeleição permanente" e sim algo muito mais grave: a reforma concedia categoria constitucional ao projecto socialista em gestação, algo totalmente inaceitável. Apesar de tão descomunal disparidade, o resultado eleitoral foi praticamente um empate.
Para muitos venezuelanos a eleição não era importante, o que explica os 44 por cento de abstenção. A grande maioria dos que não compareceram para votar te-lo-iam feito pelo Sim, o que revela a debilidade do trabalho de construção hegemónica e de conscientização ideológica dos bolivarianos no seio das classes populares. A redistribuição de bens e serviço é imprescindível, mas não necessariamente cria consciência política emancipadora. Por outro lado, alguns governadores e alcaides chavistas não se empenharam a fundo em favor de uma reforma constitucional que democratizaria, em prejuízo das suas atribuições, a organização política do Estado ao criar novas instituições do poder popular. Além disso, há que levar em conta que após nove anos de gestão qualquer governo sofre um desgaste ou deixa de suscitar o entusiasmo colectivo de antanho. A isto há que acrescentar, além disso, alguns erros cometidos na campanha eleitoral intermitente de um presidente que, pelo seu papel protagónico no cenário mundial, não dispõe de muito tempo para outra coisa.
De qualquer modo, apesar da derrota, Chavez saiu-se muito bem. Suas credenciais democráticas fortaleceram-se notavelmente. A oposição chegou às eleições dizendo que jamais aceitaria um triunfo do Sim. Caso se verificassem, repudia-lo-iam por ser produto da fraude e poriam em andamento o "Plano B" da Operación Tenaza [1] . Os que se diziam democratas confessavam que só se comportariam como tais no caso de ganhar; senão, a sua resposta seria a sedição. Chavez, em contrapartida, deu-lhes um lição de republicanismo democrático a aceitar com fidalguia o veredicto das urnas. Imaginemos o que teria acontecido se por essa ínfima diferença houvessem triunfado o Sim. Os porta-vozes da "democracia" teriam incendiado a Venezuela. Apesar da sua derrota, a estatura moral de Chavez e a sua fidelidade aos valores da democracia converte em pigmeus os seus oportunistas adversários, que só respeitam o resultado das urnas quando estes os favorecem. E, de passagem, deixa numa posição insustentável os senadores brasileiros que, sob o pretexto da débil vocação democrática de Chavez, querem frustrar a entrada da Venezuela no Mercosul.
04/Dezembro/2007
[1] Operación Tenaza: A tradução para castelhano do relatório do sr. Michael Middleton Steere, da US Embassy, ao sr. Michael Hayden, Director Agencia Central de Inteligencia encontra-se em www.tribuna-popular.org.
[*] Economista e sociólogo. Secretario general do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) até Agosto de 2006. Professor Titular de Teoria Política e Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
O original encontra-se em http://www.defensahumanidad.cult.cu/columnista.php?item=8
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
"Chavez, em contrapartida, deu-lhes um lição de republicanismo democrático a aceitar com fidalguia o veredicto das urnas."
Classificando a vitória da oposição como "victória de mierda".
Enviar um comentário