sábado, junho 17, 2023

Impressões do Japão


Impressões do Japão
Passei dez dias no Japão em Maio 2023. O Japão nunca tinha sido uma prioridade. A China, por duas vezes, a Índia e o Vietname tinham vindo primeiro.
Os filmes clássicos, bem ou mal, tinham criado a sensação de uma sociedade demasiado codificada, marcada por uma lógica feudal que perdurou demasiado tempo.
Por outro lado é impossível não ver o Japão à luz da China, o primo muito mais velho, muito maior, de onde o Japão recebeu a escrita, a cultura do arroz, os modelos dos templos e dos trajes, e a influência religiosa budista.
Ao ler agora sobre as tentativas de invasão do Japão pelos chineses descobri finalmente a origem do termo Kamikaze, tristemente célebre durante a segunda guerra mundial, que eu só conhecia como designação dos pilotos japoneses suicidas. Quando no Séc. XIII Kublai Khan, imperador mongol da China, tentou conquistar o Japão, a sua enorme frota foi destruída por um tufão providencial a que os japoneses resolveram chamar Kamikaze (vento divino).
Também as limitações físicas me parece terem muita influência naquilo que o Japão é; a insularidade, a predominância do relevo limitativo da agricultura e da urbanização, a frequência dos sismos, dos tufões e da actividade vulcânica, tudo isso me pareceu marcar a forma de viver dos japoneses.
Na minha viagem tive permanências em três grandes cidades; Osaka, Quioto e Tóquio. Nos percursos entre elas passei por zonas “rurais”, tradicionais e turísticas, com destaque para o Monte Fuji.As cidades são muito densas e intensas; densas no construído e intensas no comércio ou, melhor dizendo, na promoção de produtos, serviços e divertimentos. Os templos e palácios antigos (as mais das vezes reconstruídos) são as bolsas de calma e de natureza.
Tal como na China vários factores limitam muito a existência de monumentos e sinais construídos do passado: a construção em madeira (que se degrada e arde), as catástrofes naturais, a guerra e os bombardeamentos. Grande parte dos magníficos templos são reconstruções do pós-guerra. Não é fácil encontrar nas cidades bairros que sejam o equivalente de Alfama ou mesmo do Bairro Alto. Quem vai de uma cidade como Lisboa sente a falta de "pedras velhas" na malha das cidades, de vestígios de vidas antigas de centenas de anos.
Em contrapartida não são visíveis nas grandes cidades os habituais “sem-abrigo”.
Toda a gente parece deslocar-se com um propósito; vêm-se muitos estudantes fardados e os adultos que aparentemente se dirigem para o trabalho também trajam de forma bastante padronizada.Os transportes são excelentes e não se vêem trotinettes ou coisas desse género (as bicicletas não abundam). São muito comuns os pisos com guias para os cegos. Não vi engarrafamentos.
Andei no “comboio bala” que, tal como tudo o resto, obedece a um rigoroso horário. As grandes estações ferroviárias centrais fazem corar de vergonha o nosso pobre aeroporto.
O Metro em Tóquio,por exemplo, tem uma cobertura excelente da imensa cidade e os comboios sucedem-se a intervalos muito curtos. Também fui empurrado para dentro de uma carruagem apinhada mas tal só acontece, julgo, em algumas estações centrais nas horas de ponta.
Para além do Metro também existe em Tóquio um comboio circular de superfície, que nos permite ao fim de uma hora regressar ao ponto de partida.Conjugando um passe diário de Metro e outro do comboio circular, que no conjunto me custaram menos de dez euros, visitei inúmeros locais saltando de uma rede para a outra ao sabor das minhas necessidades.
Algumas coisas que me perturbaram no Japão:
- A inacreditável televisão, com publicidade por baixo, ao lado e por cima dos conteúdos. E vi também uma "pimbalhada" ridícula, mesmo não percebendo a língua.
- Sermos perseguidos por "vozinhas" nos elevadores, carruagens, escadas rolantes, etc ainda por cima sem as percebermos
- Ter a sensação de que o pequeno comércio de rua já é quase só "lojas de conveniência" e incontáveis "máquinas de vending"
- Ver na rua mais pares de jovens raparigas do que pares de namorados
- Ter comido um pequeno almoço igual nos seis hotéis, de cidades diferentes, por onde passei
- Encontrar por todo o lado a "bonecada" da BD e dos filmes de animação. Desde a publicidade gigantesca até às miniaturas penduradas das mochilas (mesmo em adultos). Posso estar, por ignorância, a cometer uma grande injustiça mas fiquei convencido de uma certa infantilização e escapismo.
- Ter dificuldade em contactar os japoneses, e perceber melhor o que pensam e sentem, por haver muito poucos a falar um inglês que permita uma conversa.
O que mais gostei:
- Comer sushi rodeado de japoneses
- As paisagens do Monte Fuji
- O antigo mercado do peixe Tsukiji, transformado em zona de restaurantes de peixe e mariscos
- Que as moças aluguem fatos tradicionais para envergar durante a visita aos monumentos
- A rua Takeshita, em Tóquio, pelo seu ar e trajar caótico.
- Alguma arquitectura moderna ainda que não seja comparável com a China
- O bairro Dotombori, em Osaka, onde se pode comer petiscos na rua durante os passeios nocturnos, iluminados a neon
- Os maravilhosos jardins dos templos e palácios
- A velhotas, muito velhinhas, muito pequeninas, muito magrinhas mas com o ar de formigas imparáveis.
- A incrível boa vontade dos japoneses para nos ajudarem mesmo quando não percebem uma palavra do que dizemos

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