uma leitura, ao serão, com sabor a fim de ano mas com um travo de perplexidade.
Toda a gente grita e gesticula mas tem-se a sensação de ser cada vez mais improvável qualquer mudança.
Não se perfila, nem por sombras, qualquer alternativa política nem um processo capaz de forçar novas eleições.
O PS remete-se a uma estratégia de denuncias e insinuações acerca das realizações alheias, sempre vulnerável às acusações de ter sido a causa da bancarrota.
O PCP e o BE seguem uma linha de rejeição dos acordos internacionais a que, simplesmente, ninguém a não ser os militantes consegue aderir.
Depois do forcing das manifs, em Setembro, essa forma de contestação parece ter entrado em letargia especialmente depois das pedradas de S. Bento.
Os estivadores meteram-se num braço de ferro dispendioso para o país, mas sem saída, e acabaram por ceder ao cansaço sem terem ganho nada.
O Congresso das Alternativas começa a ter os seus dissidentes seguindo o padrão habitual.
A esquerda passa o tempo à espera da salvação pelas mãos de Cavaco ou do Tribunal Constitucional para, no momento seguinte, os acusar das piores coisas. Ou então faz de Portas um potencial salvador, enunciando e ampliando todas a razões de queixa do dirigente centrista e falando como se fosse solidária com as suas penas.
Outra "fonte de esperança" reside na execução orçamental de 2013 que terá a sua primeira ocorrência quantificada só lá para Abril ou Maio. Mas também não se percebe em que se fundamenta tal esperança.
Tudo isto é muito triste. As invocações abstactas de uma unidade e governo de esquerda, que ninguém vislumbra e cujo conteúdo é omisso, de tanto se repetiram geram cansaço e indiferença.
Rui Ramos diz, também no Expresso, que a escalada dos adjectivos e a passagem das críticas aos insultos, são sintoma de impotência. Com milhares de analistas no Facebook e quejandos, os actores políticos tradicionais têm que "aumentar o volume" para terem alguma hipótese de ser ouvidos.
É capaz de ter razão.