quinta-feira, setembro 06, 2012

O Estado é o Relvas


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Muitas discussões actuais estão contaminadas por uma concepção mítica do Estado, como grande fautor de justiça social e garante do interesse colectivo. Este Estado utópico não existe e nunca existirá.

Em vez disso, o que existe num estado democrático é uma rotatividade do pessoal dirigente sucedendo-se as mais variadas concepções sobre a melhor forma de prosseguir o bem comum. Por seu lado o funcionalismo, que executa um número cada vez maior de incumbências do Estado, é apenas um enorme grupo de pessoas com as suas qualidades e defeitos, abnegações e vícios.
Portanto, em cada momento, o Estado e as suas instituições não têm nada de transcendente. São simplesmente um grande colectivo de pessoas concretas que têm poderes e competências concretas.

Quando se exige, por exemplo, a existência de um “serviço público de televisão” na esfera do Estado, e para isso se invectiva o ministro Relvas, é bom não esquecer que o Estado é o Relvas e todos os outros Relvas que por lá andam.

O Estado já não é só o que a teoria de esquerda tradicional dizia: a institucionalização da exploração e a forma “civilizada” de a perpetuar. Agora, em concorrência com os grandes poderes económicos, sentam-se à mesa do Estado corporações e federações de interesses com capacidade para condicionar os resultados eleitorais.

Presos nesta teia, os que ainda se reclamam do marxismo, em vez de se proporem destruir o Estado para abrir caminho a uma nova sociedade, limitam-se a parasitar a influência de certas castas burocráticas e a defender a extensão, até ao absurdo, do papel do Estado na sociedade.

Nesta conformidade cada grupo propõe o emagrecimento do Estado onde lhe convém (impostos, burocracia, controle policial, etc) e o engordamento do mesmo Estado quando disso pode beneficiar (empregos, subsídios, investimentos, etc).

O Estado não é, ao contrário do que diz a lenda, uma entidade superior, depositária dos valores e visionária dos caminhos, em que os cidadãos todos se fundem e confiam. É antes a alavanca que cada grupo e capelinha procura usar para alcançar o próprio proveito (material ou ideológico).

1 comentário:

Virgílio Lopes disse...


Como tomarense e homem de esquerda tenho dado um combate sem tréguas ao chanceler Relvas e a tudo o que ele representa.
Se quiserem conhecer dimensões menos conhecidas do figurão, passem pelo meu blogue "TOMAR-que futuro?"