quinta-feira, abril 28, 2011

Soarismo-Cavaquismo ou Eanismo-Sampaismo?

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A retórica da unidade, antes e depois das eleições, cai bem. À primeira vista parece ser uma panaceia excelente contra o caos da guerra partidária. Até acabou de ser benzida, no 25 de Abril, pelos quatro Presidentes.
Mas uma reflexão mais crítica não deixará de encontrar precipícios nesta paisagem tão idílica.

Nós portugueses aderimos com facilidade a propostas que nos evitem chatices, como por exemplo imputar responsabilidades. Ou seja, separar o trigo do joio. Dá um jeitão ao governo em funções- e até aos presidentes dos últimos trinta anos- este diluir das culpas. Nós podemos meter tudo no mesmo saco antes das eleições mas então há que perguntar: em que é que as pessoas votam? estão a escolher o quê?

A "ajuda externa", o álibi para esta operação casamenteira, não é o nosso principal problema, é apenas o mais urgente. Não nos obriga a fingir que há unanimidade onde ela não existe. Resolve-se assim: os credores dizem o que temos que fazer para nos emprestar dinheiro e cada partido, de acordo com as suas opções, assina ou não assina por abaixo. Não é necessário que se faça qualquer aliança, o que é necessário é convencer os partidos a assinar o acordo se se provar que a obtenção do empréstimo é favorável ou, no mínimo, imprescindível.

O nosso principal problema é como mudar de vida. As eleições devem esclarecer qual o caminho escolhido pelos portugueses para sairmos do atoleiro em que nos encontramos (já que a "ajuda externa" é só a bóia que evita o afogamento no local). Tal esclarecimento não se fará com "uniões de facto" à molhada- entre pessoas e organizações que se detestam- mas através da apresentação clara de propostas por cada partido.

Os portugueses têm que evitar escapismos confortáveis e escolher uma das três grandes opções:
1. continuar com o "socialismo moderno" do actual primeiro-ministro, cuja performance já conhecem
2. preferir experimentar uma abordagem de contornos liberais como a que é proposta pelo PSD e CDS
3. escolher a esquerda "pura e dura" representada pelo PCP e BE.
O ideal era que dessem a maioria absoluta a uma destas opções. Se o não fizerem caberá ao partido mais votado procurar aliados e compromissos para obter maioria parlamentar. Qualquer pessoa percebe que isto é o normal num regime democrático. Não justifica o alarido dos discursos inflamados de convergências.

De tudo o que ficou dito deve concluir-se que a campanha populista de "convergência e unidade", em que os quatro presidentes embarcaram (Sócrates, como não podia deixar de ser, apressou-se a saltar também para o convés), constitui uma mistificação. Conduz o povo para uma ideia fácil mas improdutiva, uma espécie de pântano, em vez de o incentivar a assumir o seu próprio destino através escolhas claras e das inerentes responsabilidades.

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2 comentários:

J Eduardo Brissos disse...

EXPERIMENTAR o PSD e CDS? Não me faças rir.

Anónimo disse...

"... preferir experimentar uma abordagem de contornos liberais como a que é proposta pelo PSD e CDS."

Bem, se forem só os contornos ... mas ninguém sabe que contornos são esses, claro. Para clarificar os contornos, podemos consultar a crónica de 30 de Março pelo Dr. Carlos Abreu Amorim, em que ele contorna a dificuldade, escrevendo: "... o PSD não deve tombar na armadilha de propor medidas concretas mas apenas indicar desígnios para o País. Não pode fazer promessas mas somente garantir trabalho árduo e que os sacrifícios valerão a pena. E, sobretudo, afirmar-se pela seriedade."