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Textos de Nicolau Santos, em dois artigos diferentes, "Que país é este?" e "Europa social à pequinense", publicados no Expresso desta semana
Nicolau Santos esqueceu-se de referir a grande lição que a experiência chinesa, apesar das suas limitações, nos proporciona.
Não há saída para a miséria ou, no caso da Europa, para a decadência anunciada, que não passe por muitos sacrifícios, disciplina e abnegação.
A riqueza actual da China, que é uma condição para construir um futuro melhor para o seu povo, não resultou de terem encontrado jazidas de petróleo ou de terem andado a explorar colonialmente outros povos.
Duas ou três gerações de chineses comeram o pão que o diabo amassou.
Nenhum político, numa democracia ocidental, se atreve a propor tal coisa.
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O projeto Farol, desenvolvido pela Deloitte com o apoio de  vários personalidades, divulgou agora uma sondagem de opinião, assente em 1002  entrevistas distribuídas proporcionalmente ao longo do país. As conclusões são  chocantes: 46% dos inquiridos dizem que a situação económica e social é hoje  pior ou muito pior do que antes de 1974. 58% pensam que a situação é hoje pior  do que há 25 anos, quando aderimos à CEE. E daqui a 10 anos, 53% pensam que  vamos estar pior. Depois, 78% consideram que estamos a caminhar na direção  errada, porque (66%) não existe uma estratégia de desenvolvimento. 64% dizem que  não somos um país competitivo, mas não valorizam o empreendedorismo, a reforma  do modelo social, a iniciativa privada ou a inovação e tecnologia como fatores  importantes para sair da crise. A maioria (54%) considera que é mais importante  o Estado apoiar as iniciativas de empreendedorismo do que eliminar as barreiras  a essas iniciativas. E a esmagadora maioria (74%) defende que é o Estado que  deve dar o principal contributo para a competitividade e desenvolvimento  económico do país. Se a empresa tiver de mudar de local/localidade, 56% não  estão dispostos a ir viver para outro sítio, mesmo que isso lhes assegure o  emprego. 49% também não estão dispostos a flexibilizar as suas condições  contratuais para evitarem ser despedidos. Se estiverem no desemprego, 51%  recusam uma oferta de emprego se forem ganhar menos do que o subsídio. 54%  também não estão dispostos a arriscar num negócio próprio para ter melhores  condições de vida e maior capacidade económica. E 71% não estão dispostos a  abdicar de um centro de saúde no concelho ou próximo de casa em troca de o  Governo baixar impostos. Contudo, os portugueses não são modestos: cada um por  si considera que contribui muito mais frequentemente para diversas áreas  económicas e sociais do que os outros. E, claro, a responsabilidade pela redução  e prevenção da pobreza é responsabilidade quase exclusiva do Governo (86%). 
Enfim, digamos que para os portugueses o passado é sempre  melhor do que o presente. Mas o presente é muito melhor do que o futuro.  Manifestamente, não valorizamos o que temos nem o que alcançámos nos últimos 40  anos. Depois, somos fartos a culpar os governos por tudo o que de mau acontece,  mas achamos que deve ser o Estado a resolver os problemas. Além disso, somos  egoístas e estamos acomodados. Mas achamos que somos muito melhores do que todos  os outros nossos concidadãos. Que país é este? E que prova melhor de que  precisamos de revolucionar mentalidades se queremos sobreviver no futuro?
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A Europa está a caminho de ser a nova China. Não em matéria de  crescimento económico, onde vamos continuar a vegetar em torno de taxas muito  aquém das que se verificam no Império do Meio. Mas, sim, em matéria de  legislação laboral. Ainda manteremos por algum tempo as semanas de trabalho em  torno das 40 horas, cinco dias por semana. Ainda manteremos restrições ao  trabalho ao fim de semana. Continuaremos a aceitar a existência de sindicatos e  que os trabalhadores tenham direito à greve. E, claro, ofereceremos forte  resistência a que seja possível voltar a utilizar trabalho infantil. Mas não nos  iludamos. Ao contrário do que se esperava com a globalização, os direitos dos  trabalhadores chineses pouco avançaram. Em contrapartida, os direitos dos  trabalhadores europeus vão claramente a pique. E quem comanda a ofensiva contra  o Estado social é a Comissão Europeia, que no dia 11 de janeiro aprovou um  documento, ‘Annual Growth Survey’, onde estão expressas as linhas de força dessa  orientação: aumento dos impostos indiretos, enfraquecendo o caráter progressivo  dos impostos; incentivo ao aumento dos horários de trabalho; elevar a idade de  reforma e pressionar a privatização dos sistemas de pensões; enfraquecer a  legislação que protege o emprego; reduzir os apoios diretos ao desemprego; e  liberalizar o sector público. 
Estas orientações, a serem concretizadas, reduzem claramente os direitos dos  trabalhadores em favor do capital, dos escalões mais elevados de rendimentos e  dos bónus pagos no sector financeiro; e atingem o equilíbrio do Estado social e  o projeto europeu. Textos de Nicolau Santos, em dois artigos diferentes, "Que país é este?" e "Europa social à pequinense", publicados no Expresso desta semana
Nicolau Santos esqueceu-se de referir a grande lição que a experiência chinesa, apesar das suas limitações, nos proporciona.
Não há saída para a miséria ou, no caso da Europa, para a decadência anunciada, que não passe por muitos sacrifícios, disciplina e abnegação.
A riqueza actual da China, que é uma condição para construir um futuro melhor para o seu povo, não resultou de terem encontrado jazidas de petróleo ou de terem andado a explorar colonialmente outros povos.
Duas ou três gerações de chineses comeram o pão que o diabo amassou.
Nenhum político, numa democracia ocidental, se atreve a propor tal coisa.
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3 comentários:
I seldom leave comments on blog, but I have been to this post which was recommend by my friend, lots of valuable details, thanks again.
Quero saudar-te pela singular contribuição eue tens dado para a compreensão da Nova China, numa situação sempre bem suportada, é certo, mas cuja compreeesão ainda enfrenta dificuldade e tabus.
Muita vezes não estou em sintonia com o teu entendimento sobre a luta de classes e seus protagonistas maiores mas aqui neste campo que respeita ao mais populoso País do Mundo e ao maior Partido Comunista entendo qu tens produzido um trabalho meritório e que venho seguindo com grande interesse.
Portanto, adelante amigo.
Um abraço
João Pedro
Um abraço, João Pedro
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