O novo filme de Nanni Moretti é uma obra interessantíssima.
Não se limita a mostrar como Berlusconi é uma figura inconcebível, inimaginável. Isso seria o "lugar comum".
Moretti pemite-nos "sentir" como ao sucesso de Berlusconi corresponde uma sociedade corroída pelo descrédito em que até os dramas pessoais se tornam mais pungentes.
O protagonista está perante um casamento que se desfaz, filhos para os quais não tem tempo, novas realidades sociais a que precisa adaptar-se, amigos que como ele vão ficando cada vez mais velhos, uma realização profissional cada vez mais problemática, dificuldades económicas crescentes, uma televisão cada vez mais rasteira, o medo que transparece nas relações profissionais e descamba em verdadeiras velhacarias, e por aí fora.
Se é verdade que nem todos estes problemas podem ser atribuídos a Berlusconi, pelo que a sua presença no filme poderia ser considerada demagógica, também é verdade que uma envolvente social degradada em vez de constituir um "amparo" para as agruras da vida se transforma, isso sim, num propício caldo de cultura para todas as crises.
Uma outra questão levantada no filme, e da máxima importância, é a relação entre a emergência de uma figura caricata como Berlusconi e a inépcia continuada da esquerda italiana que, como se diz no filme, fez do ódio a Berlusconi o seu único e verdadeiro programa.
segunda-feira, abril 09, 2007
O Caimão
Publicado por
F. Penim Redondo
Hora da publicação: 10:32
Etiquetas: cinema 2007, continente europeu, crítica, Fernando Penim Redondo, politica2007
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1 comentário:
Um filme preciosíssimo...
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