segunda-feira, agosto 08, 2005

Oito mil discos de 78 rotações



Finalmente alguma coisa corre bem. Parece que o Ministério da Cultura e a CML, ajudados por mecenas, vão adquirir a fabulosa colecção de discos de fado do inglês Bruce Bastin. Nas palavras do DN:

Manassés de Lacerda, Reinaldo Varela, Luís Petroline, Júlia Florista, Roberto Catão, José Bastos, Isabel Costa, Almeida Cruz, Eduardo de Souza, Rodrigues Vieira, Delfina Victor, Maria Vitória. Nomes de velhas glórias do fado inscritas na memória popular, sobre a maioria das quais não havia sequer certeza de que alguma vez tivessem gravado a sua arte. O único testemunho documental dessa importante parcela da história cultural portuguesa encontra-se em Inglaterra, entre o espólio de oito mil registos em discos de 78 rpm que o coleccionador Bruce Bastin acumulou ao longo das últimas três décadas. Um acervo dedicado ao fado, mas onde se guarda também algum repertório de revista, de outras formas de música popular tradicional e até encenações históricas - como uma gravação do texto da proclamação da República. Os títulos mais antigos remontam a 1903 e esta é unanimemente considerada a mais valiosa e importante coleccção de fado do mundo.

Um número significativo dos registos em posse de Bastin representam as únicas cópias conhecidas de algumas gravações e só se soube da sua existência através da sua colecção. De algumas delas, o coleccionador inglês guarda até mais que um exemplar.

"É uma colecção deslumbrante que permite reconstituir uma importante parte da nossa história cultural", explica Rui Vieira Nery. "Com ela vamos finalmente conseguir aferir com certeza a evolução do fado que fados se cantavam no século XIX ou nas décadas de 10 e de 20, período de grandes transformações sociais e culturais? Que tipo de formas musicais e poéticas se usavam?"

O espólio encontra-se rigorosamente organizado e catalogado, como de resto foi testemunhado pela primeira delegação enviada a Inglaterra em Novembro de 2001 pelo então ministro da Cultura, Augusto Santos Silva. No parecer resultante dessa primeira visita, Joaquim Pais de Brito, director do Museu Nacional de Etnologia dava testemunho da "importância única deste acervo". Em 2003, uma segunda delegação liderada por elementos da Egeac - empresa da Câmara Municipal de Lisboa que gere a Casa do Fado - aconselhou a compra do espólio, então constituído por cinco mil discos de 78 rpm. Nessa altura, a Casa do Fado possuía apenas 50 registos deste tipo.

Coleccionador compulsivo de discos desde a juventude, Bastin detém começou a perseguir registos de música portuguesa rara na década de 70. Em Inglaterra, nos Estados Unidos e um pouco por toda a parte, onde quer que o circuito dos coleccionadores o levasse. Mas também em Portugal. Em 1990 garimpou uma importante parte do seu espólio num velho armazém do Porto. Centenas de discos postos de parte há anos, desde que novos equipamentos os deixaram de ler. Abandonados por quem não lhes percebia o valor. Bruce Bastin percebeu.


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