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quarta-feira, janeiro 25, 2012

ANO DO DRAGÃO

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Este texto do Expresso desta semana é dedicado a todos aqueles que ainda não perceberam a enorme evolução da China nos últimos 40 anos.
Curiosamente são muitas vezes os mesmos que têm na manga uma qualquer "verdade de classe" para nos iluminar.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

O fim da URSS há vinte anos

Em Setembro de 1980, 11 anos antes, em plena era Brejnev, visitei a URSS. As fotografias que pode ver AQUI foram recolhidas em Moscovo, Sibéria (Bratsk, Irkutsk e Lago Baikal) e na capital do Cazaquistão, Alma-Ata.
Mas não foi esse o meu primeiro contacto com os “países de leste”.
A minha estreia ocorrera em 1979 na Hungria. 
Meses depois da ascensão de Gorbatchov, em 1985, percorri de automóvel durante um mês, e em campismo com os meus filhos, a RDA, a Checoslováquia e a Hungria.
No ano seguinte, 1986, aproveitando uma viagem profissional a Berlim, usei a estação de metro em Friedrichstrasse como porta de passagem para Berlim Leste e, em 1987, fiz parte de uma delegação sindical numa visita de estudo do desenvolvimento informático da Bulgária.
Finalmente, mas não menos importante, visitei a parte ocidental da URSS (Leninegrado, Kiev e Moscovo) no Verão de 1988, em plena abertura política lançada por Gorbatchev e com as ruas cheias de discussões e manifestações.

No princípio de 1990, já em plena preparação do XIII Congresso do PCP, elaborei um texto intitulado “Do Socialismo Prematuro para o Socialismo do Futuro” que desenvolvia as ideias apresentadas em S. Francisco. A minha principal preocupação era conceber um conjunto de argumentos e raciocínios que permitissem a qualquer militante lidar racionalmente com o descalabro do sistema político do leste europeu. Essa preocupação resultava de me sentir politicamente responsável por tantos militantes que recrutara, ou dirigira, no decurso da minha actividade política.O texto referido foi discutido na célula de empresa mas não foi encontrada uma fórmula para o usar no quadro dos “contributos” para as Teses do Congresso, tal era a distância que o separava do texto “oficial” proposto.
18 anos depois, ainda se escrevia desta forma acerca do desabamento da URSS:

A “traição de altos responsáveis do partido e do Estado” é um dos motivos apontados para a “derrota” do socialismo na União Soviética de acordo com as Teses ao XVIII Congresso do PCP que hoje são divulgadas com o jornal partidário “Avante!”.
...
O socialismo, alternativa necessária e possível pode ler-se, na página 15: “Perante os complexos problemas que se manifestaram na construção do socialismo na URSS, assim como noutros países do Leste da Europa, o PCP expressou compreensão e solidariedade para com os esforços e orientações que proclamavam visar a sua superação, alertando simultaneamente para o desenvolvimento de forças anti-socialistas e para a escalada de ingerências imperialistas, confiando em que existiam forças capazes de defender o poder e as conquistas dos trabalhadores e promover a necessária renovação socialista da sociedade.
Mas certas medidas tomadas agravaram os problemas ao ponto de provocar uma crise geral. O abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os trabalhadores, a claudicação diante das pressões e chantagens do imperialismo, a penetração em profundidade da ideologia social-democrata, a rejeição do heróico património histórico dos comunistas, a traição de altos responsáveis do partido e do Estado, desorientaram e desarmaram os comunistas e as massas para a defesa do socialismo, possibilitando o rápido desenvolvimento e triunfo da contra-revolução com a reconstituição do capitalismo”.
PÚBLICO, 25.09.2008



Quando em 1990 me insurgi, no XIII Congresso do PCP, contra a pobreza das explicações encontradas pelas Teses para explicar a "derrota do socialismo no Leste da Europa" nunca me passou pela cabeça que, passados tantos anos, a mesma fórmula continuasse a ser repetida.
Em 2003 publiquei o livro “Do Capitalismo para o Digitalismo” para defender que a queda do “socialismo real” não tornou o capitalismo insuperável. É esse o pântano ideológico em que a esquerda se tem atolado nos últimos anos.
Não se trata de inventar, à pressa, novos “amanhãs que cantam”. Os amanhãs cantarão inevitavelmente façamos nós o que fizermos; trata-se de saber se ainda queremos participar na escolha da melodia e do poema.
Sem compreender profundamente o que aconteceu e que afectou ideológicamente muitos milhões de pessoas em todo o mundo,  nunca mais se fará o luto por uma experiência que devemos superar.




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sexta-feira, dezembro 16, 2011

O Portugal comunista

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Por muito que me esforce tenho dificuldade em imaginar um caminho que nos tire da decadência anunciada, no quadro político actual em que os partidos, os grupos de interesses, e em geral todo o bicho careto, se obstinam em perseguir os seus próprios desígnios egoístas.
Mesmo arrepiando as consciências mais sensíveis só uma solução me ocorre; um Portugal comunista, à chinesa, com todos a remar como um só homem na mesma direcção. Só um partido comunista estaria em condições de levar tal tarefa a cabo.
A China é uma demonstração viva de que os slogans que opõem a austeridade ao crescimento estão errados; austeridade, a um nível que nós nem sequer imaginamos, redundou ali num crescimento prolongado de 10% ao ano.
Significa isto que a ascensão ao poder de esquerdas mais radicais, se tal viesse a tornar-se realidade, se assumida consequentemente, levaria a sacrifícios muito mais intensos do que aqueles hoje rejeitados por muitos dos que militam em tais movimentos (claro que nessas circunstâncias, para sossegar as consciências, nos diriam que os sacrifícios pedidos já não se encontravam manchados pela sombra das injustiças de classe).
Eu, por mim, acho que pode chegar o dia em que, por desespero, não enjeitaremos essa forma de patriotismo.
Nessa altura, muitos dos radicais anticapitalistas de hoje saltarão pela borda fora.

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sábado, dezembro 10, 2011

Sonhos ideológicos que acabam mal

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Na minha curta vida de 66 anos a UE é já a segunda grande narrativa a cujo fim eu assisto.
Na juventude prometeram-me "amanhãs que cantam" e na velhice prometeram-me uma reforma sossegada, mas nenhuma delas se cumpriu. 
A URSS, durante décadas, prometia um mundo novo mas acabou por se desmoronar inglóriamente em 1991.
A União Europeia não prometia um "homem novo" mas sim um "país novo", os resultados estão à vista de todos. Os egoísmos nacionais, tal como os individuais, levaram ao tapete mais uma construção baseada em optimismos ideológicos sem fundamento.
Decididamente nem os homens, nem os países, são como os pintamos nos nossos sonhos.


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sábado, agosto 13, 2011

Pós-capitalismo, precisa-se.

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Uma realização técnica brilhante, inovadora, mas que serve uma mensagem em grande parte construída com lugares-comuns datados, que históricamente têm provado a sua ineficácia. 
Omite totalmente o papel da inovação tecnológica e as consequências na transformação dos processos de acumulação do capital e nas relações de produção. Por isso este diagnóstico seria eficaz, quando muito, em meados do século XX.  
Para criar alternativas ao capitalismo é necessário criar análises e propostas elas também alternativas às que são usadas para o combater há mais de cem anos.

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domingo, maio 08, 2011

Socialismo tipo Pingo Doce


Caracas, 07 mai (Lusa) -- O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou sexta feira a venda estatal a metade do preço do mercado tradicional de 3 milhões de eletrodomésticos "made in China" que irão equipar metade das casas que se calcula existirem no país.
"A poupança no preço da venda é de cerca de 50 por cento do mercado capitalista porque queremos que o povo tenha condições de vida", afirmou Chávez numa comunicação ao país através da rádio e televisão para anunciar o programa "Missão: a minha casa bem equipada".
A venda dos eletrodomésticos tem início hoje quando se celebra o Dia da Mãe na Venezuela e prolonga-se até julho de 2012, acrescentou a ministra do Comércio, Edmée Betancourt.

O Socialismo do Século XXI avança a todo o vapor, desta feita através dos saldos revolucionários.
Arrisca-se a descambar num Socialismo tipo Pingo Doce. 

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sábado, novembro 13, 2010

Now, for something completely different

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À chegada a Macau, para participar na 3.ª conferência ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de língua portuguesa, José Sócrates disse ter "muitas expectativas" relativamente ao encontro deste fim-de-semana e afirmou ainda que pretende dar sinais concretos do empenho no relacionamento com a China.

Aproveitou para enaltecer a estonteante recuperação da economia portuguesa, que cresceu 1,5% desde o início do ano. Fazer tal discurso numa região que cresceu mais de 40% resulta bastante caricato.

Entretanto fiquei a pensar se Macau será o tal "capitalismo de casino" que Mário Soares imortalizou nas suas imperdíveis análises económicas. É caso para dizer que, a ser o caso, não se está a safar nada mal.

Já é tempo de os nossos bem intecionados políticos perceberem que o único capitalismo que funciona, e prospera, é mesmo o "capitalismo de casino". Quando lhe tiram a especulação desenfreada o capitalismo mirra e estrebucha, como está a acontecer com o nosso.
Sem falso dinheiro não há consumidores suficientes e a máquina emperra.
Se não querem o "capitalismo de casino" é melhor inventarem qualquer coisa completamente diferente (é verdade, em que gaveta está o socialismo?).

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sábado, novembro 06, 2010

A realidade é sempre maior do que a ficção.

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Há 20 anos, no desabar do sistema soviético, quem se atreveria a imaginar que um país governado por um partido comunista podia vir a emprestar dinheiro para salvar países capitalistas da bancarrota ?
O "socialismo de alpargatas", imortalizado por Mário Soares, vinga-se no dealbar do século XXI. Uma vitória de quem tem a coragem de aprender com as derrotas.
A realidade é sempre maior do que a ficção.

terça-feira, setembro 14, 2010

Não vamos bem

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La Central de Trabajadores de Cuba (CTC) emitió un comunicado público en el que anuncia el despido de 500 mil trabajadores estatales durante un período comprendido entre los meses de octubre del este año y el primer trimestre del 2011.
Como contrapartida se informa que se ofrecerán plazas en sectores deficitarios de la economía y que se abrirán nuevas posibilidades para el trabajo por cuenta propia, aumentando el número de permisos y otras prestaciones.
La CTC afirma que el "Estado no puede ni debe continuar manteniendo empresas (…) con plantillas infladas y pérdidas que lastran la economía, (…) generan malos hábitos y deforman la conducta de los trabajadores".
BBC Mundo logró conocer los detalles de ese plan gubernamental que dará mucho más peso a la iniciativa privada en la economía.
El número de trabajadores por cuenta propia se dispara, además de que se les autoriza a crear pequeñas empresas.
Ver mais AQUI

Esta notícia, carregada de simbolismo, é o canto do cisne da concepção do Socialismo como monopólio do Estado em todas as esferas da vida social e nomeadamente no plano económico.
Como a China tinha mostrado, e agora Cuba se vê forçada a reconhecer, a alternativa às limitações e aos desmandos da empresa assalariadora capitalista não é a subordinação de todo o emprego à tutela do Estado. A alternativa ao mecanismo capitalista, que continua por definir, terá que ser uma organização de produção de novo tipo em que os cidadãos, enquanto tal, colaborem e cooperem na produção e distribuição justa da riqueza.
Infelizmente, mesmo que de forma envergonhada, muita gente séria de esquerda continua a apostar nesta via insustentável do "socialismo real" em vez de procurar superá-la.
Os resultados estão à vista.

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quarta-feira, maio 19, 2010

Histórias da Idade de Oiro

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Fui ver o filme "Histórias da Idade de Oiro" ou, em romeno, "Amintiri din epoca de aur".

Os últimos 15 anos do regime de Ceausescu devem ter sido os piores na história da Roménia. No entanto, a máquina de propaganda referiu-se a essa época como os anos de oiro… Mitos urbanos surpreendentes, cómicos, bizarros abundavam, mitos que derivavam de acontecimentos por vezes surreais do quotidiano.

Cinco histórias anedóticas, da autoria de Cristian Mungiu, tratadas por cinco diferentes realizadores, compõem este filme divertidamente amargo.
Nós, os mais velhos, sabemos que a Roménia destes tempos era um regime repressivo, em que imperava o culto da personalidade do "grande líder".
Mas o quadro só fica completo se acrescentarmos a penúria geral, e a geral interiorização da repressão. Um regime baseado no faz de conta.
Os cidadão faziam de conta que amavam o "grande líder", as aldeias faziam de conta que estavam alfabetizadas a 99%, os jornais faziam de conta que Ceausescu era mais alto do que Giscard d'Estaing e todos fingiam ir a caminho do Comunismo.
O problema é que, num regime destes, mesmo um ingénuo estratagema de sobrevivência fácilmente se transforma num enorme crime.

A penúria, a auto-repressão, o incensar do líder, e o fazer de conta continuam infelizmente, em dosagens variáveis, a surgir nas mais insuspeitas situações, mesmo quando o verniz democrático ainda não estalou.
Vendo bem só passaram vinte anos sobre a execução de Ceausescu.
Moral da história: há que estar atento aos fundamentos de qualquer engenharia social que nos proponham. Os nossos projectos de futuro já se terão libertado completamente do  Ceausescu que existe por trás de cada esquina, senão mesmo dentro de cada um de nós ?


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segunda-feira, novembro 09, 2009

O meu próprio muro

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Nesta época de comemoração da Queda do Muro, em Berlim, resolvi fazer também a minha "reflexão". Dá-me muito gozo ver a forma como certas pessoas comemoram a queda do muro pois sei que, se algum dia houvessem tido o engenho de tomar o poder, teriam construído um ainda mais alto e mais grosso.

Em geral creio que a queda do muro não ensinou tanto quanto seria de esperar. Continuamos a ver o vanguardismo florescerer e o espírito crítico e auto-crítico constitui uma raridade. O doseamento e a moderação nas convicções por parte de quem, como nós, tantas vezes errou é muito mal compreendido. O voluntarismo e o queimar das etapas, o desprezo pelos processos de fundo em favor das modas e do efémero, marcam aliás a nossa época. Novas élites auto-nomeadas mostram-se prontas para qualquer engenharia de ocasião.

Quando o muro físico caíu já eu levava vinte e três anos de militância sincera no PCP com base em ideais que, na sua essência, continuo a perfilhar: a construção colectiva de um novo patamar social em moldes mais justos e não o sindicalismo assistencial que hoje parece estar na moda, à mistura com umas provocações de índole sexual para épater le bourgeois.

Quando visitei Berlim pela primeira vez já não era um neófito do "socialismo real" nem da RDA. A minha estreia ocorrera em 1979 na Hungria e depois em 1980, quando as nuvens ainda não toldavam o horizonte, em Moscovo, no Cazaquistão e na Sibéria. Meses depois da ascensão de Gorbatchev, em 1985, percorri de automóvel durante um mês, e em campismo com os meus filhos, o Sul da RDA, a Checoslováquia e a Hungria (uma viagem cujas peripécias ainda um dia contarei).

Em Fevereiro de 1986, aproveitando uma viagem profissional a Berlim, usei a estação de metro em Friedrichstrasse como porta de passagem para Berlim Leste e percorri essa parte da cidade, a pé, debaixo de uns inclementes dez graus negativos durante o fim de semana.


No sábado almocei com um grupo de polacos e polacas no restaurante giratório do alto da torre da TV na Alexander Platz. Um almoço grastronómicamente sem história mas muito interessante nas conversas. Depois fui descobrir o fantástico museu Pergamon, assim nomeado por conter o Templo de Zeus roubado na cidade do mesmo nome (onde estive em 1995) na costa turca do mar Egeu.

No domingo tornei a passar para Berlim Leste e depois das demoradas formalidades da fronteira era já hora de almoçar. Entrei num restaurante que funcionava num primeiro andar e o empregado, como as mesas estavam todas cheias, não hesitou em sentar-me na companhia de três belas jovens.


Foi mais uma oportunidade para perceber o que pensavam os alemães do "outro lado". As jovens estavam de visita a Berlim por pertencerem a um grupo folclórico de uma região que não fixei.

Passámos o almoço a discutir acerca da diferença entre não viajar por estar impedido legalmente e não viajar por não ter dinheiro para o fazer. Tornou-se claro para mim que, fosse qual fosse o sucesso económico e social do regime comunista, o simples facto de não se poderem deslocar livremente constituía para os alemães do leste um problema obsessivo.


Só voltei a Berlim dez anos mais tarde, em 1996, quando já me tinha afastado da militância no PCP. Neste momento estou a planear ir de novo a Berlim para ver a nova arquitectura na Alexander Platz e voltar à extraordinária ilha dos museus.


domingo, julho 26, 2009

Zapatero declara guerra aos patrões

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Em Madrid não é como em Lisboa, lá são os socialistas que saem do armário (ver aqui).

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terça-feira, junho 02, 2009

Socialismo precário

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"BE defende suspensão temporária das regras do mercado" noticia o IONLINE.
Em vez da "mão invisível" quer uma mão bem visível, por exemplo a de Francisco Louçã.
Finalmente uma proposta revolucionária nesta campanha eleitoral. Só é pena que tenha sido admitida com contrato a prazo.
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terça-feira, fevereiro 17, 2009

As noivas de S. Sebastião

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O presidente da CIP, o patrão dos patrões Francisco van Zeller, declarou ontem acerca dos despedimentos em empresas com lucros: "Na situação actual, parece-me um bocadinho mais vergonhoso".
Apesar do diminuitivo revela estar preparado para aceitar a proibição de tais despedimentos, ou seja, a proposta mais radical que Francisco Louçã conseguiu apresentar na recente convenção do BE.
O povo fica um bocadinho atónito e desconfiado deste consenso em torno do"capitalismo social".

Também recentemente, na sua moção de candidatura, Sócrates não se conteve e roubou uma bandeira ao BE ao incluir, com grande destaque, o "casamento civil" entre pessoas do mesmo sexo.

Só falta agora o senhor Cardeal Patriarca anunciar que celebrará, ele próprio, na Sé de Lisboa, o casamento gay, colectivo, das "noivas de S. Sebastião", para afastar qualquer suspeita de discriminação já que existem as "noivas de S. António".

Assim não há condições para estar na política. As pessoas matam a cabeça para inventar propostas provocatórias, convencidas de que entalam os adversários mas estes, sem vergonha, apressam-se a tentar caçar também os mesmos votos.

Isto coloca até um problema grave de identidade: afinal quem é quem neste imbróglio? Afinal quem é que é de esquerda e quem é que é de direita?

Por este andar só resta mesmo fazer como antigamente e propor algo de substantivo, uma nova organização social e económica, uma revolução, um socialismo. Dá é mais trabalho e chatices.
Sempre estou para ver se o CDS depois também adere...
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domingo, novembro 09, 2008

Dois equívocos e uma grande conclusão

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António Barreto no Público, hoje:
"Estado e socialismo não são sinónimos. Há quem esqueça esta banalidade, mas é por vezes preciso lembrar. Não são. Pode haver, há Estado, muito Estado, até Estado a mais, sem socialismo. O que não há é socialismo sem Estado. "
Primeiro equívoco. Não está provado que o socialismo implique muito Estado, ou mesmo pouco. Marx, um tipo que se ocupou deste assunto com paixão, achava que o desparecimento do Estado tal como o conhecemos era condição para a consumação do "verdadeiro socialismo".
"Além do Estado, o outro princípio primordial era a propriedade. Os socialistas perfilhavam vários conceitos, desde a propriedade dos meios de produção à nacionalização dos sectores estratégicos da economia. Dado que a propriedade era o alicerce do capitalismo, o seu derrube exigia a expropriação e a nacionalização."
Segundo equívoco. Já se provou que a propriedade estatal dos meios de produção não é condição suficiente para o sucesso do socialismo (vidé URSS e China). Também não está provado que seja condição necessária (o capitalismo não vingou à base da "nacionalização" dos feudos, em vez disso criou uma "economia nova").
O alicerce do capitalismo é o assalariamento, por todo o mundo, e não a propriedade dos meios de produção que aliás sempre existiu em todos os sistemas económicos, fundados na desigualdade, que o precederam.
"Os socialistas louvam o Estado, murmuram de contentamento com as nacionalizações americanas, as de Gordon Brown, as portuguesas que vêm a caminho e as espanholas prometidas. Os socialistas já não estão convencidos de que esta crise é a do fim do capitalismo e a da vitória do socialismo. É a vitória do Estado, em qualquer caso. Não perceberam é que se trata da derrota final do socialismo. Já não é alternativo. Já não tem modelos a defender. Os socialistas interessam-se agora pela vida privada dos cidadãos, por causas culturais e pelos costumes. Casamento e divórcio, aborto e adopção, eutanásia e suicídio, homossexualidade e droga são as causas dos socialistas e de muitas esquerdas. A derrota dos socialistas é a que os transforma, não em coveiros, mas em curandeiros do capitalismo, em ajudantes dos que querem refundar o capitalismo, em decoradores que lhe querem dar um rosto humano. Uma espécie de serviço de assistência, de garagem ou de cuidados intensivos do capitalismo. Se existe uma derrota final, é bem esta."

Esta sim, é uma brilhante conclusão... Assino por baixo.
(Ver o artigo completo AQUI)
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sexta-feira, novembro 07, 2008

7 de Novembro

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fotografia, tirada em S. Tomé, por Carlos Morais
"Porém, a sondagem mostra que 57 pc dos russos não tencionam festejar o dia 07 de Novembro, 14 pc não decidiram como o fazer, 12 pc planeiam assinalá-la em casa e 07 pc, na casa de amigos. Apenas 2 pc dos entrevistados tencionam participar em manifestações e comícios, organizados pelos vários partidos comunistas para comemorar essa data na Rússia."
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"Não obstante o dia 07 de Novembro ter deixado de ser feriado, mais de 2,5 mil manifestantes, segundo as autoridades policiais, mais de 10 mil, segundo os organizadores, reuniram-se no centro da capital russa ao som de palavras de ordem como “A Rússia é Lénine! A Rússia é Estaline!”, “O capitalismo faliu, queremos o socialismo!”, “Liberais no poder, crise na economia!”."
Blog "Da Rússia", 07.11.2008 aqui e aqui
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Estes posts do José Milhazes sobre a forma como os russos encaram a Revolução de 1917, apesar de não serem surpresa, provocam em mim o desconforto habitual. Aquilo que eu considero incontornável nestas estatísticas é a evidência do carácter anormal da experiência soviética.
Não me refiro às violências revolucionários ou sectárias nem sequer às privações e frugalidade forçada a que os russos estiveram sujeitos. O que eu acho extraordinário é o facto de uma experiência que se pretendia revolucionária não ter deixado um resquício, uma semente de novas relações de produção que as pessoas pudessem recordar e manter em custódia nem que fosse para um futuro longínquo.
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Tudo se passa como no perturbante filme "Goodbye Lenine". As pessoas passam à frente e esquecem mas, supostamente, estão a andar para trás.
Tem que haver outra explicação para o fenómeno. Não podem estar tantos, há tanto tempo, tão completamente errados.





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segunda-feira, novembro 03, 2008

Nada de confusões

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É de certa forma deprimente ver pessoas de esquerda associar, e confundir, a "nacionalização" do BPN com as nacionalizações feitas durante o PREC. Tinham obrigação de saber qual é a diferença...
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sexta-feira, outubro 31, 2008

E hoje ? há condições para uma Revolução ?

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(clicar para ampliar)

Domingos Lopes, no Público de hoje, mostra-se chocado com o retrocesso na abordagem da derrocada da URSS patente nas Teses do próximo Congresso do PCP.

Eu já tinha falado desta questão aqui . Continuo a achar que a crítica deste retrocesso não deve implicar a "absolvição" das Teses de 1990. Também elas, embora menos anacrónicas, falhavam o essencial: explicar o "porquê" e não o "como".

Por exemplo dizer que "o marxismo-leninismo foi frequentemente dogmatizado para justificar práticas ultrapassadas e aberrantes" é apenas descrever "como" a URSS descambou e não esclarecer "porque" é que isso foi possível e realmente aconteceu.

Em minha opinião é tudo muito mais simples: A grande Revolução de 1917 veio antes de tempo, foi prematura. Nas condições concretas em que aconteceu, no plano tecnológico e de maturação do capitalismo, o sucesso da URSS comunista era práticamente impossível.

A grande pergunta que resulta é: e hoje ? as condições já estão criadas ? É isso que muita gente anda, ou devia andar, a tentar compreender.

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quarta-feira, outubro 22, 2008

A entrevista de Wallerstein

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Uma entrevista recente de Immanuel Wallerstein, publicada no Le Monde, teve justificada repercussão na blogosfera portuguesa. Eu encontrei referências e reproduções da entrevista no antreus, Trix-Nitrix, o tempo das cerejas e Esquerda.Net .
Consegui finalmente tempo para, também eu, me pronunciar.
A minha satisfação com a entrada súbita deste tema, "o fim do capitalismo", na ordem do dia, pelo menos nas discussões, prende-se com o facto de eu vir a insistir no tema, sem grande sucesso, desde 1990.
Nessa época escrevi e defendi publicamente que os avanços tecnológicos, com destaque para as tecnologias com base digital, constituíam um desafio para o capitalismo e não eram o "balão de oxigénio" do sistema que muitos pensavam. Quando acrescentei que tais desenvolvimentos minavam fatalmente o assalariamento, relação identitária do capitalismo, a reacção foi de incredulidade.
Ao contrário do que possa parecer não invoco a minha experiência pessoal para reclamar qualquer estatuto mas sim para insistir na necessidade de todos reflectirmos, sem receio de errar, em vez de esperar sempre que os génios ou os cientistas esclareçam o mundo para nós.
A entrevista de Wallerstein reflecte o seu longuíssimo estudo dos ciclos, inspirado em Nicolas Kondratieff e Joseph Schumpeter. A passagem que desencadeou todo o interesse recente penso que foi a seguinte:

"De facto, penso que entrámos nos últimos trinta anos na fase terminal do sistema capitalista. O que no fundamental distingue esta fase da sucessão ininterrupta dos ciclos conjunturais anteriores é que o capitalismo já não consegue “fazer sistema", no sentido do entendimento do físico e químico Ilya Prigogine (1917-2003): Quando um sistema, biológico, químico ou social se desvia muitas vezes da sua situação de estabilidade, não consegue recuperar o equilíbrio, e o resultado foi uma bifurcação. A situação torna-se caótica, incontrolável pelas forças que até então a dominavam e assistimos ao surgimento de uma luta, não entre defensores e opositores do sistema, mas entre todos os intervenientes para determinar o que irá substituí-lo."

Trata-se aqui de interpretar este ciclo como uma ruptura ao contrário do que sucedera com os muitos ciclos que o antecederam.
Eu creio que não basta o formalismo desta constatação é preciso perceber as causas dessa ruptura. Enquanto não compreendermos os mecanismos que actuaram para produzir esta ruptura, se ela existe, continuaremos a ter muita dificuldade em imaginar os desenvolvimentos futuros e afirmar como faz Wallerstein:

"Daqui a dez anos, talvez se possa ver mais claro; em trinta ou quarenta anos, terá surgido um novo sistema."


Para mim o mais importante desta entrevista é isto:

"Acho que também é possível vermos instalar-se um sistema de exploração ainda mais violento do que o capitalismo, do que, pelo contrário, se criar um modelo mais igualitário e redistributivo."
...
"Mas o facto desta fase corresponder actualmente a um sistema em crise, fez-nos entrar num período de caos político durante o qual os actores dominantes, empresários e Estados ocidentais, farão tudo o que é tecnicamente possível para reconquistar o equilíbrio, mas é muito provável que não o consigam. Os mais inteligentes, já devem ter percebido a necessidade de criar algo completamente novo. Mas muitos já estão a mexer-se, de forma desordenada e inconsciente, para fazer emergir novas soluções, sem se saber ainda que sistema vai sair destes ensaios. Estamos num período, bastante raro, onde a crise e a impotência dos poderosos deixa um espaço ao livre arbítrio de cada um: há agora um período de tempo durante o qual todos teremos a oportunidade de influenciar o futuro para a nossa acção individual. "

Considero imperioso que a esquerda assuma este desafio e deixe de considerar estas questões, como fez ao longo dos últimos decénios, como chinesices que só atrapalham a obtenção de mais dois deputados nas próximas eleições.
(os excertos da entrevista foram "roubados" da tradução portuguesa do António Abreu no antreus)
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terça-feira, outubro 21, 2008

Congresso Internacional Karl Marx






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Vai ter lugar entre 14 e 16 de Novembro o "Congresso Internacional Karl Marx", organizado pelo Instituto de História Contemporânea, Cooperativa Culturas do Trabalho e Socialismo.

Vou apresentar, em co-autoria com a Maria Rosa, no Domingo dia 16, uma comunicação cujo resumo reproduzo:




Propomo-nos aprofundar, na esteira do nosso livro "DO CAPITALISMO PARA O DIGITALISMO" (ed. Campo das Letras, 2003), o debate sobre a fase actual do Capitalismo baseada em "conhecimento" e nas tecnologias digitais.
Trata-se de saber se ela constitui uma ruptura suficientemente profunda para poder conter o embrião de um novo "modo de produção".

A esquerda de raiz marxista, tende a misturar a transição do "modo de produção" com a luta pelo poder do Estado, como se tal fosse suficiente para a emergência de uma "sociedade sem classes". Por isso subestima o significado das anomalias que a realidade vai apresentando em relação ao seu paradigma.
Mas é necessário avaliar permanentemente os sintomas da emergência de um novo "modo de produção". A pedra de toque deverá ser a decadência e retrocesso do assalariamento, enquanto "relação de produção" identitária do Capitalismo.

Temos vindo a assistir à emergência de uma nova "base material" digital que propicia graus inéditos de automatização do trabalho e de replicação e virtualização das mercadorias. A produtividade das tecnologias actuais provoca superabundância permanente de enorme variedade de mercadorias, tangíveis e intangíveis, que competem pelo mesmo recurso finito: a bolsa do consumidor.

O sistema tem procurado encontrar soluções para alargar os mercados, quer a nível interno quer a nível externo. Por um lado a exportação para economias emergentes, que muitas vezes obriga à deslocalização da produção, e por outro o sobre-endividamento das famílias induzido pelo sistema financeiro. A crise mundial que estamos a viver é apenas a eclosão dramático das suas consequências.


A concorrência leva as empresas a centrar-se no design e no marketing, que se baseiam crescentemente em “trabalho não repetitivo”,em detrimento das actividades produtivas tradicionais. O trabalho é cada vez menos um "capital variável" e mesmo as mercadorias tangíveis, feitas "por mil mãos em cem países", escapam cada vez mais à "teoria do valor".

A efectiva criação de valor pelo “trabalho não repetitivo” tem carácter imprevisível e independente da duração,o que torna desadequado o típico contrato de assalariamento em que o patrão compra força e tempo de trabalho e sabe com alguma probabilidade, à partida, que o que vai pagar é inferior ao que vai obter.

Por isso assistimos a uma tendência generalizada de redução e descaracterização do contrato tradicional de assalariamento substituído por relações precárias, de subcontratação, ou à tarefa nos projectos.



As perguntas a que importa dar resposta são pois:

- Será que o irremediável desequilibrio entre oferta e procura, e a prevalência do “trabalho não-repetitivo” atirarão o assalariamento, e portanto o Capitalismo, para o baú da história ?

- Uma vez que um novo Modo de Produção não trará automaticamente uma sociedade mais justa, como hão-de as forças progressistas aproveitar a janela de oportunidade apresentada pela transição para tentar influenciá-lo?