Segundo o DN, ao confirmar que a próxima cimeira de líderes da NATO terá lugar, em 2012, nos Estados Unidos, Obama confessou que gostou tanto da organização e da hospitalidade em Lisboa que pediu algumas dicas ao primeiro-ministro José Sócrates.
Até aqui tudo bem, faz parte da etiqueta dos convidados elogiar a excelência de quem os recebe.
Mas outro tanto não se pode dizer dos rasgados elogios feitos aos "esforços" de Sócrates para tirar Portugal do atoleiro em que se encontra. Entre as centenas de conselheiros que o acompanhavam nem um foi capaz de alertar Obama para o melindre da questão?
Há várias hipóteses para explicar esta gaffe de Obama mas nenhuma o favorece.
Ou foi um caso de inconsciência, ou foi um caso de ingerência ou foi um caso de incontinência. Será que a esperteza saloia do discurso é maleita que se pega quando se está na companhia de quem constantemente a pratica?
Fiquei consternado com uma ideia assustadora que me assaltou; será que Obama é apenas um enorme Sócrates que saíu em rifa aos americanos?
Se não fossem os dois velhotes, o país ficava sem massa para mandar cantar um invisual
Onde o nosso Comendador (autor da fotografia de Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga a assinar uns papéis) revela, em rigoroso exclusivo, a conversa entre os dois que conduziu à aprovação do OE Agora que todo o país viu a fotografia dos dois velhotes a assinar a papelada e que se espera sinceramente não haver mais problemas, posso revelar que fui eu quem tirou a fotografia. Podem perguntar: que raio estava um Comendador já muito entrado de idade a fazer em casa de Eduardo Catroga quando este discutia o futuro do país com Teixeira dos Santos? A minha resposta é simples: Não têm nada a ver com isso! A coisa foi assim. O Teixeira telefonou ao Catroga e este convidou-o a beber um chá de tília lá em casa. Aceite o convite, o Teixeira entrou e disse: — Boa tarde! Trago aqui uma proposta nova... — E corta na despesa? — Sei lá, eu já não percebo nada disto, achas que eu me entendo com estes números todos? — Eu também não, mas se pudermos dizer que corta na despesa eu digo ao miúdo e ele fica todo contente. — Mas eu não posso dizer ao meu que corta na despesa. Dá-lhe uma birra que ainda me parte a cabeça! — A Merkel não lhe falou? — Deve ter falado! Falou com o teu? — Falou, no PPE... — Hummm... Então dizemos que corta na despesa... — E as deduçõezinhas? — Vai a meias. Quantas queres? — Só o sexto e o sétimo escalão. O miúdo não queria nenhuma, mas eu convenço-o. E no que cedes mais? — Não me venhas com cedências que o Sócrates não gosta... — Mas isto é só para chatear o Sócrates, ou achas que estou aqui a fazer o quê? A tornar melhor uma porcaria de OE que não tem pés nem cabeça? — Olha que não é assim tão mau... — Bebe o chá, anda. Dá-me lá uma cedência... Já me deixaste a secar quatro horas ainda me zango contigo! — Só se tu me deres outra. Convence lá o Passos... — Ok, cedemos os dois. Achas bem? — Acho, assina aí! — Assino o quê? — Um papel qualquer, para o Comendador tirar uma fotografia que amanhã podes mostrar aos jornalistas. — Mas fizeste as contas? — Ah... — Pois... eu também não! — Para quê? Eu por mim tinha fechado isto há mais de um mês! — Também eu, mas eles lá sabem... — Pronto, já assinei, toma lá a caneta. — Venha ela... Ah... espera aí um bocado, não sais daqui sem acabar o Conselho de Estado. — Vamos ver televisão, está a dar o Porto. — Não vês futebol nenhum cá em casa. Ficas à espera que o Passos telefone e eu lhe conte... — Vá lá, deixa-me ver o Porto! — Queres negociar isso, também? — Se me deixares ver o Porto dou-te mais uns pós. — Tipo quê? — Sei lá, mantém-se o leite achocolatado a 6%. — Vê lá o Porto, mas olha que esta parte é secreta. — E na especialidade abstêm-se, ouviste? — Claro. Bem, podes ir embora. Vemo-nos amanhã... — Adeus, Eduardo, ainda vamos ter saudades disto. E, separaram-se com a sensação do dever cumprido. Tinham feito mais um serviço à Pátria. Doravante, sempre que pensardes no país, pensai nos velhotes que, salvando-o da bancarrota, vos meteram a vós nela.
Comendador Marques de Correia, Expresso 06.11.2010
Já toda a gente percebeu que vamos ter que mudar de vida. Que as políticas e práticas das últimas décadas foram, no mínimo, irresponsáveis e inconsequentes. Que vamos ter que encontrar novos actores, novo texto e nova encenação para podermos construir um futuro com dignidade.
Por isso não consigo compreender como o "circo mediático" se continua a ocupar dos fait-divers da aprovação do orçamento e, mesmo a esse nível, se fale mais dos aspectos processuais e psicológicos do que da substância das propostas e soluções.
Tem que haver alguém que, com revisão constitucional ou sem ela, faça uma ruptura com o passado e apresente aos portugueses uma nova visão da nossa economia e da nossa política. Para que seja possível acreditar que ainda há soluções e saídas possíveis.
Toda a pressão sobre o PSD para que aprove o OE 2011 parece pretender, no essencial, que tal ruptura não se dê e que tal alternativa radical não surja.
Mas os que fazem tal pressão deviam saber que se a alternativa não surgir de dentro dos partidos do regime acabará por eclodir contra o regime.
O que mais me espanta na situação actual é a preocupação em impedir a crise desta semana, em tentar enganar "os mercados" nem que seja mais uns dias aprovando um orçamento qualquer.
Já nem falo do passado. Não há responsáveis? Onde estiveram os deputados durante todos os anos em que se cavou o buraco actual? Não é para isso que pagamos um "regime democrático"? E os partidos "à esquerda", que tanto se mobilizam em defesa de certas corporações, porque não fizeram a insurreição enquanto o país ainda não tinha sido totalmente delapidado?
Onde estava o juiz Carlos Moreno, que agora escreveu um livro, durante estes anos todos? Só o casmurro do Medina Carreira, honra lhe seja feita, é que gritou que vinha aí o lobo. E vinha mesmo.
Mas há que falar do futuro. Não haverá futuro enquanto não percebermos como, e porquê, caímos neste atoleiro. Para evitar repetir os mesmos erros.
Para haver um futuro alguém tem que ter a coragem de romper com o marasmo do sistema. Alguém tem que assumir um projecto de futuro em que seja possível acreditar e, à luz dele, determinar todos os sacrifícios que forem necessários.
Isto não vai lá pelo método habitual, com troca de favores nos camarins e depois assobiar para o ar para o "mercado" ver.
Ontem tivemos um PEC (Pró E Contras) 3,5. Três ex-presidentes e um reitor, este num ingrato papel de trintanário.
Nesta encruzilhada, sem saber o que fazer, voltámos aos oráculos do regime. E eles deram a receita: remendar o centrão, ou seja, mais do mesmo como não podia deixar de ser.
Talvez não sejam as pessoas certas para falar do futuro mas podiam ter explicado por que é que, com o seu beneplácito, chegámos onde estamos. Poder podiam, mas não era a mesma coisa.
Enquanto assistia ao programa perguntava a mim próprio quantos portugueses se atreveriam a entregar a estes homens, confiadamente, a gestão de uma parte significativa do seu património pessoal.
É comovente a candura de Passos Coelho. Vem anunciar o que tenciona fazer antes de ter sido eleito, quando qualquer aprendiz de político sabe que isso dá mau resultado. O PS e o engenheiro acabam de ganhar o euromilhões.
O fenómeno é ainda mais espantoso por ocorrer depois de se ter assistido ao afundamento inglório da sua antecessora que, num acto tresloucado, resolveu pôr a crise cuja existência ninguém queria admitir no centro do debate eleitoral.
Passos Coelho mostra nada ter aprendido com o engenheiro Sócrates que ganhou as eleições de Setembro precisamente porque conseguiu evitar qualquer referência ao endividamento externo.
Passos Coelho, pelo contrário, pensa conquistar os eleitores enquanto lhes anuncia que vão ter que pagar pela saúde e pela educação apesar de o seu emprego deixar de estar garantido para toda a vida.
A sua passagem meteórica pela política nacional será recordada, durante muitos anos, como o caso mais notável de sinceridade inoportuna e suicida que a política portuguesa conheceu.
Portas propôs no debate do "Estado da Nação" um governo PS-PSD-CDS por três anos, para "salvar Portugal". Já conseguiu o que queria: enunciar uma proposta que agrada, provavelmente, à maioria dos portugueses.
Toda a gente sabe que as próximas eleições não proporcionarão automaticamente uma solução governativa viável.
Se, como parece, o PSD tiver a maioria, mesmo que se alie ao CDS não tem apoio social suficiente para governar em tempos de profunda crise.
No meio de dirigentes que aparecem ao povo como calculistas irresponsáveis esta jogada do Portas é muito forte.
Como muitas vezes acontece esta proposta vale por ser formulada independentemente da aceitação que tem. Talvez até renda mais dividendos ao seu autor se for achincalhada pelos outros partidos. .
Desde a revolução que Portugal é governado à esquerda em matéria de Estado e prestações sociais. Apesar das maiorias absolutas, Cavaco tinha dinheiro da Europa para manter o Estado e quis mantê-lo. A sua direita, dotada de consciência social, não era a direita pura que hoje existe em Portugal. Esta nova direita é mais jovem, mais estrangeirada, mais academicamente preparada do que a velha direita. É mais ideológica e está disposta a romper de vez com o Estado social. Nascida em democracia, formada nos cursos de Economia e Gestão das universidades, é também constituída por um núcleo de quadros e recém-licenciados, futuros regentes da pátria, que nada têm a ver com as negociatas de restaurante e o bloco central de interesses. Conservadores, pró-americanos, dotados de certo puritanismo, crentes na virtude absoluta do mercado e do capitalismo, acham (protegidos pela inexperiência) que a sua oportunidade para mudar Portugal de vez está a chegar. Tencionam, no poder, construir um sistema que proteja os empreendedores, desmantele a máquina estatal, agilize a justiça e privatize a economia agilizando os seus instrumentos, desde os financeiros aos legais; o que significa que pretendem rever a Constituição e a legislação laboral.
Não acreditam nos sindicatos, acham os comunistas e socialistas um anacronismo e consideram que só a criação de riqueza possibilita a prosperidade geral. A sua agenda política é liberal ou ultraliberal. O que quer dizer que não se revêem no PSD do cavaquismo nem no seu provincianismo. Desprezam adquiridos à esquerda como a existência de uma televisão pública, "intelectuais subsidiados" ou um Ministério da Cultura.
Em Portugal, estes jovens turcos, agastados por serem a geração "sacrificada" com a despesa pública, estão a chegar ao poder. E o seu homem vai ser Passos Coelho. Tudo os separa da velha direita de Freitas do Amaral e de Adriano Moreira, e nem para Paulo Portas e o seu populismo defensor de velhos e agricultores têm muita paciência. Serão para Portugal o que a direita foi e vai voltar a ser em Espanha: os agentes da liberalização. Os socialistas já se aperceberam que vão ser apeados nas urnas e apenas tentarão evitar uma votação humilhante. Os jovens turcos sabem que chegou a sua hora e que a crise é a sua oportunidade de pôr em prática as teorias que admiraram nos livros e nas escolas que frequentaram. Por essa Europa, a esquerda social-democrata e socialista não se repensou nem se preparou. A Europa de Willy Brandt, de Mitterrand, de Olof Palme e de Mário Soares, a Europa descendente da II Guerra Mundial e das ditaduras acabou. Calcificou. A sua sucessão tecnocrata não formou brilhantes quadros políticos e contratou demasiados oportunistas e medíocres serviçais.
O futuro da Espanha e de Portugal discutiu-se nesse encontro Aznar/Passos Coelho. E é de direita. À esquerda, só um partido vai capitalizar com a decadência do PS: o Bloco. Porque tem pensamento, ideologia, quadros e ideias. Porque não descansa. Porque prefere combater a governar. A derradeira campanha eleitoral da velha esquerda europeia foi a eleição de um Presidente americano negro. Yes, we can't.
Temos um governo a prazo, sem norte e sem motivação, que vai desfiando trapalhadas umas atrás das outras (SCUTS, PT-VIVO), para gáudio do PSD que assiste confortavelmente ao enterro do seu atávico rival.
Os assessores governamentais de todo o tipo cheiram no ar a queda iminente e, como foi noticiado recentemente, correm a trocar os seus lugares instáveis por colocações seguras no funcionalismo público.
O Presidente assiste a tudo isto enquanto paulatinamente prepara a sua reeleição.
Como já disse anteriormente neste blog considero esta situação altamente irresponsável. Neste momento crítico para o país o pior que nos podia acontecer era sermos governados por quem já não tem credibilidade nem motivação. São estes governos mortos-vivos que costumam, já que não esperam senão a derrota, assumir em nome do Estado de todos nós compromissos futuros ruinosos e insustentáveis.
Quem devemos culpar por tudo isto são os que colocam os seus cálculos eleitoralistas e mesquinhos à frente dos interesses do país, adiando sem razão uma nova solução governativa para Portugal.
Quem tenha acompanhado as intervenções recentes do primeiro ministro, com destaque para a entrevista de hoje na RTP e para as actuações de "stand-up comedy" ontem em Madrid (ver sons aqui e vídeo aqui), começa a perceber que a sua permanência à frente do governo do país é insustentável.
O governo foi eleito na base de um programa que a realidade obrigou a substituir pelo programa do principal partido derrotado. É demasiado inverosímil para poder funcionar.
Toda a retórica sobre a impossibilidade de substituir o governo neste momento cai pela base quando percebemos que a nossa incapacidade para o fazer, essa demonstração de impotência, constitui o pior sinal que podemos dar aos famigerados "mercados".
Um país que não consegue sequer encontrar uma alternativa política para Sócrates, e para o que ele representa, perde só por causa disso qualquer credibilidade internacional no que toca à sua capacidade para regenerar a economia e pagar o que deve.
A imprescindível mobilização do povo português é impossível enquanto for conduzida por quem demonstrou total incapacidade para antecipar os problemas e para começar a responder-lhes antes que se tornassem críticos.
Sem uma renovação convincente do quadro político não haverá saída para a crise económica e social.
Desde que as Comissões Parlamentares de Inquérito começaram a incidir sobre suspeitos "da casa" (Constâncio, Sócrates) o Partido Socialista iniciou uma deplorável política de terra queimada contra tais iniciativas.
Como não podia deixar de ser, Mário Soares junta-se hoje ao coro, no Diário de Notícias, chorando lágrimas de crocodilo sobre o prestígio perdido pela Assembleia da República. Como é seu timbre omite os casos em que as Comissões serviram os seus próprios propósitos.
Sócrates, tal como antes Cavaco, funciona como uma espécie de eucalipto que seca tudo à sua volta. Cavaco produziu realmente o PSD actual mas Sócrates seca um raio muito maior, senão vejamos.
Secou o jornalismo, apresentado como um ninho de víboras sempre pronto a armar, contra ele, um novo escândalo. Secou a justiça e os tribunais por fazer dos magistrados um bando de conspiradores que só iniciam as investigações sobre ele para servir as oposições.
Agora é a vez da Assembleia da República. A "casa da democracia", que os portugueses elegeram, parece afinal ser uma casa de doidos ou irresponsáveis. Porquê? Porque se atrevem a criar uma comissão e se propõem esmiuçar a acção do senhor engenheiro.
Até onde irá esta luta de Sócrates pela sobrevivência política ? que mais será preciso destruir no seu caminho ?
A serem reais as alegações com que Sócrates se defende, e os pecados que aponta a quem o questiona, Portugal seria um país condenado de onde deveríamos fugir logo que possível.
Passos Coelho fez, no encerramento do Congresso do PSD, um discurso surpreendentemente hábil. Colocou a revisão constitucional no centro do debate o que vem ao encontro do sentimento generalizado de que o regime se encontra num impasse.
Bem poderá Sócrates minimizar a proposta e tentar recusar-lhe o indispensável apoio parlamentar. Quanto mais a revisão fôr contestada e adiada mais ela aparecerá aos olhos dos portugueses como a panaceia que talvez nem seja.
Ao posicionar-se desta forma o novo presidente do PSD transmite também a ideia de que é algo de fundamental que tem que ser mudado e não uma cosmética de conveniência. É daquelas propostas que não precisam de ser aceites pelos adversários e que talvez até sejam mais frutuosas quando os adversários as recusam.
Se juntarmos a isto as referências à necessidade de controle democrático das nomeações para altos cargos na Administração e nas Empresas Públicas, feitas por Passos Coelho, então podemos ter a certeza de que à partida escolheu o terreno mais favorável para a batalha que pretende travar.
No dia 6 de Abril primeiro-ministro Gordon Brown foi recebido pela rainha Isabel II, a quem compete a dissolução da Câmara dos Comuns. Daí resultou a marcação das eleições para o dia 6 de Maio. No dia 7 de Maio a rainha dará posse ao vencedor.
Um mês basta aos ingleses para renovar a legitimidade do seu governo.
Fico a imaginar uma coisa similar em Portugal. Sócrates dirigindo-se a Cavaco e, com base na erosão a que tem estado sujeito, a pedir-lhe para dar ao povo a possibilidade de confirmar ou rejeitar a sua liderança.
Se demorasse só um mês caíria por terra o argumento da degradação da imagem internacional de Portugal resultante de um processo eleitoral.
Infelizmente na nossa república somos muito mais cerimoniosos do que na monarquia inglesa, precisamos de muito mais salamaleques.
Já Brecht dizia que Hitler considerava os ingleses um povo de merceeiros mas que um dia enviariam contra ele o ouro do Transvaal e de ambas as Índias. E assim foi. Percebe-se porquê.
Hoje, já farto de ouvir os discursos partidários sobre o PEC, desliguei o som da televisão e comecei a ouvir música. De repente apercebi-me da enorme expressividade da senhora que, no quadrado inferior direito, traduzia os discursos em linguagem gestual.
Abriu-se-me um novo mundo de significados para o gesticular mudo dos deputados.
Achei que os lugares comuns do costume ganhavam ressonâncias inesperadas e fiquei fascinado durante muito tempo a ver aqueles dedos que tão depressa se uniam como que a dizer cambalacho, se agitavam como quem sacode o capote ou se contorciam como quem diz o contrário daquilo que pensa. Um tratado de retórica política.
Assim se prova que a Assembleia da República para ser clara como a água não precisa dos dedos de Manuel Pinho. .
Entre a liderança do PSD e os jogos parlamentares do governo, em Portugal, há algum esquecimento da ameaça que impende sobre a economia mundial. O PIB chinês cresceu acima de 8% em 2009, o crédito concedido voltou a superar o imaginável no mês passado, e três dos maiores bancos mundiais já são da China. A dimensão do pacote anticrise e uma política de juros baixos explicam o dito "milagre de 2009". No Ocidente era uma esperança: o gigante asiático seria motor da retoma global. Contudo, longe de validar esse keynesianismo, a China pode antes ser a vitória da teoria dos ciclos monetários de Hayek.
O crescimento que, ao longo de 30 anos, assentou nas exportações contrasta hoje com o estado dos seus mercados principais. Com menor escoamento, a liquidez injectada não encontra actividades rentáveis na economia real. O resultado é a inflação em múltiplos activos, particularmente no imobiliário. O filme já foi visto. As bolhas podem seguir o guião dos EUA. Com a diferença que uma crise de liquidez no país com a maior reserva de divisas do mundo, e detentor de uma fracção enorme da dívida americana, resultará na venda maciça dessas reservas. O colapso do dólar, o fim do financiamento ao Sudeste asiático, e a travagem do motor mundial seriam devastadores.
Querem mesmo discutir peanuts?
. por Carlos Santos, Publicado no Jornal I em 15 de Março de 2010
Agora, que todos os formalismos são invocados para manter oculta a Face Oculta, vem a propósito lembrar as escutas de Valentim e a sua versão lúdica em horário nobre. Que pena os Gatos andarem afastados dos ecrans em vez de nos brindarem com o equivalente do Valentim em versão Armando Vara.
Para avaliar a seriedade daqueles que agora falam em tom trágico do fim do "Estado de Direito" nada melhor do que relembrar como reagiram, ao longo dos últimos anos, à exposição pública dos vários "arguidos" que vão do caricato Valentim Loureiro ao Presidente da República. Trata-se de gente que, perante a divulgação pública das escutas, só abre um olho de cada vez. Que só se indigna quando os visados são do seu clube.
Outra linha de argumentação muito usada recentemente para defender Sócrates é mostrá-lo como vítima indefesa de uma comunicação social hostil. A julgar pelos conteúdos não haveria um único jornal, ou televisão, sério neste país.
Este argumento esquece que foi com estes mesmos jornais e televisões que Sócrates alcançou uma maioria absoluta. Que foram estes mesmos jornais e televisões que puseram Santana nas ruas da amargura abrindo caminho à maioria absoluta de Sócrates.
Hoje, sabendo o que sabemos, confirma-se a ideia de que o "menino guerreiro" era afinal um menino de "incubadora" ao pé do senhor engenheiro.
Há dias tive oportunidade de recordar a intervenção de Sócrates, então na bancada parlamentar da oposição, a invectivar Santana pelas "inadmissíveis pressões" do ministro Gomes da Silva que fizeram saltar Marcelo da TVI para a RTP. A grandiloquência do discurso é simplesmente hilariante.
O que está em causa com a Face Oculta é muito mais do que a mera tentativa de controlar certos meios de comunicação. O que as escutas divulgadas recentemente põem a nu é a completa subversão do regime democrático.
Mostram que os formalismos democráticos que nós cumprimos de vez em quando, nas eleições, são meramente decorativos. O governo que temos não passa de uma repartição onde a generalidade dos ministros se ocupa de meras tarefas administrativas e de gestão.
A política e as alavancas económicas essas são manobradas na sombra por figuras em que ninguém votou e que, em muitos casos, ninguém conhece. São os assessores milionários, os gestores públicos por nomeação e os gestores privados por indicação governamental integrados numa teia incompreensível cujo comando se desconhece.
Eles é que determinam as influências mediáticas e os empréstimos bancários, os subsídios estatais e a aprovação das concessões, eles são as "golden shares" com que opera o verdadeiro poder.
Basta ler o curriculo dos Varas, dos Pedro Soares, dos Soares Carneiro e das Ongoings, para falar apenas os que se tornaram famosos nos últimos dias, para perceber em que tipo de "estado de direito" é que vivemos.
Por isso não nos venham dizer, com a voz embargada, que a revelção das tramóias põem em causa o "estado de direito". É precisamente a reposição do Estado de Direito que se pretende expondo ao escrutínio público as tramóias que o vêm destruindo.
Hoje fui surpreendido por uma intervenção de Cavaco em que ele se permitiu invocar a sua condição de professor de economia para dar conselhos aos analistas internacionais. Dizia ele para observarem com mais cuidado pois acabariam por concluir que Portugal é muito diferente da Grécia.
Cavaco, tal como Sócrates, deviam perceber que este tipo de intervenções, que se vêm sucedendo, resultam bastante ridículas e de todo ineficazes.
Quanto a estarmos melhor ou pior do que a Grécia transcrevo um trecho do Público de hoje que me parece bastante deprimente.
A análise dos principais indicadores económicos dos dois países mostra duas realidades diferentes, mas com fragilidades preocupantes em ambas as economias. Quando se olha exclusivamente para a situação actual das finanças públicas, os números mostram, sem margem para dúvida, resultados melhores para Portugal do que para a Grécia. Os défices registados em 2009 até nem são muito diferentes, mas o valor dadívida pública acumulada é muito maior na Grécia onde já supera os 120 por cento do PIB. Em Portugal, esse indicador, mesmo com a forte subida dos últimos anos, ainda está próximo dos três quartos do PIB. No entanto, as coisas ficam menos claras quando se analisam os indicadores que permitem antecipar o ritmo de crescimento futuro da economia, o que, por sua vez, pode influenciar decisivamente a evolução das contas públicas. Em primeiro lugar, Portugal como um todo, isto é, incluindo além do Estado, também as empresas e os particulares, está mais endividado do que a Grécia face ao estrangeiro. Isto significa que, num cenário em que o custo do financiamento internacional se agrava, a economia portuguesa pode sofrer mais do que a grega. O economista Daniel Gros, num artigo publicado recentemente no Financial Times, alertava para esta questão e assinalava que, especialmente em comparação com a Espanha, Portugal e a Grécia se encontravam especialmente vulneráveis neste capítulo. .
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