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terça-feira, novembro 12, 2019

Rua do Benformoso



Rua do Benformoso
ontem percorri esta paralela à Almirante Reis, em Lisboa, desde o Martim Moniz até ao Intendente.
Assim tomei contacto com uma realidade pouco visível para quem anda nas ruas principais. Lojas, oficinas e habitações parecem estar quase todas ocupadas por imigrantes maioritáriamente asiáticos.
Temos a sensação de voltar a uma sociedade medieval, de pequenos artesãos e comerciantes, que "empregam" na maior parte dos casos membros da própria família.
Mesmo quando aparece a tecnologia moderna ela é aparentemente resultado de circuitos industriais e comerciais alternativos, baseados em trabalho manual e em clonagem do design.
Aqui está um tema interessante para estudos sociológicos; as comunidades de imigrantes a criar "modos de produção" arcaicos, bolsas alternativas aos grandes potentados do capitalismo.

domingo, junho 11, 2017

George Steiner




Trecho da entrevista feita por Luciana Leiderfarb a George Steiner. Publicada no Expresso de 3 de Junho.
Uma questão que me preocupa e continua actual, por entre fanatismos de esquerda e de direita.

domingo, dezembro 29, 2013

Os Ricos da Cultura




Os “ricos da cultura” são fácilmente reconhecíveis pois arrotam erudição e citações a propósito e a despropósito.
Ser culto é obviamente desejável. A cultura deveria sempre significar uma maior abertura e um aperfeiçoamento de quem a ela acede mas, em vez disso, é usada pelos “ricos da cultura” como instrumento de discriminação e mesmo de depreciação dos outros. Em vez de abrir pontes e horizontes justifica preconceitos e fanatismos.
Tal como os ricos do dinheiro os “ricos da cultura” não tiveram, na maior parte dos casos, qualquer mérito na obtenção do seu estatuto. Nasceram em famílias dadas à cultura, ou de intelectuais, e beneficiaram de outras oportunidades que não estão à disposição da generalidade dos cidadãos. A sua condição de pessoas cultas era praticamente inevitavel, independentemente das suas qualidades pessoais.
Os “ricos da cultura” têm, como os outros ricos, os seus clubes privados com reserva de admissão e os seus próprio códigos e etiquetas.
Os “ricos da cultura”, na sua infinita auto-estima, esquecem-se de que o saber humano é uma herança indivisa recebida dos milénios. Que só faz sentido quando é posta ao serviço da comunidade.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Tudo bons rapazes

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António Neto da Silva, um dos fundadores da loja maçónica Mozart, afirma, em entrevista exclusiva ao PÚBLICO, que a loja e Jorge Silva Carvalho são alvos colaterais de uma ofensiva contra a Ongoing.
O antigo secretário de Estado de Cavaco Silva entende que o “ataque contra a Mozart” e as “suspeitas” lançadas sobre um dos seus membros, Jorge Silva Carvalho, ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), servem um único propósito: “Destruir um determinado grupo económico.” 

O empresário e militante do PSD nota ainda que as recentes notícias sobre as ligações entre a Maçonaria, o poder político e os serviços de informação, traduzem uma “tentativa de dizer que a Maçonaria é toda boa, mas a Mozart é um conjunto de bandidos”.

Sublinhando que Jorge Silva Carvalho “não está acusado de nada”, Neto da Silva garante que não existem “irregularidades” na loja Mozart e que os seus elementos são “homens de bem”. Admite, contudo, que “na Maçonaria, como em qualquer organização humana, há sempre desvios”. 

“Há sempre pessoas que vão para lá com intenções que não eram as que nos convenceram a convidá-las”, afirma, assumindo que isso já aconteceu na Mozart. Mas esses membros, acrescentou, acabaram por participar em apenas uma ou duas reuniões e depois “adormeceram”. 



Público online, 13.01.2012 

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Maçonaria e "barrigas de aluguer"







Maçonaria e "barrigas de aluguer" são dois temas que têm estado na actualidade dos últimos dias e que acabam por ter a ver um com o outro.
De certa forma a Maçonaria é um partido, que não se revela nem sujeita aos votos, mas que realiza os seus fins através de outros partidos que funcionam como "barrigas de aluguer".
A questão não é portanto de saber se os maçons, enquanto cidadãos, têm o direito de intervir políticamente mas sim se respeitam o princípio da não filiação simultânea em mais do que um partido.
Uma organização como a Maçonaria, detentora de uma ideologia, de uma concepção do mundo (que se propõe transformar por meios políticos), de uma militância e de uma liturgia, em que é que se distingue de um partido?
Por que é que esse "partido" não enuncia públicamente os seus fins e objectivos e não pede ao povo que vote neles em vez de parasitar outras organizações para o efeito?

segunda-feira, outubro 03, 2011

A "não inscrição"



Mais um caso notável para ilustrar as teses de José Gil sobre a "não inscrição" dos portugueses. Na Grécia atira-se cocktails molotov à polícia, enquanto isso em Portugal discute-se um relatório policial sobre a possibilidade de no futuro se virem eventualmente a registar desacatos.

domingo, março 13, 2011

Carta aberta à geração “à rasca”

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Nasci há 65 anos num país onde não se podia criticar o governo. Os melhores filmes só se podiam ver no estrangeiro. Os melhores livros só por baixo da mesa e a olhar por cima do ombro.
Juntei-me humildemente aos que lutavam para acabar com tal estado de coisas e vivi durante anos no pavor de ser descoberto.
A meio do meu curso universitário, aos 22 anos, mandaram-me para a guerra “defender as províncias ultramarinas”. Lá estive dois anos a arriscar a vida, sem jornais, sem televisão e sem sequer imaginar o que viria a ser um telemóvel.
O Maio de 68 chegou atrasado e requentado ao país dos mosquitos em que passava a minha melhor juventude.
Quando voltei, com 25 anos, estava a leste da realidade do meu país e a maior parte dos meus amigos tinham-se dispersado pelas periferias e nunca mais voltámos a conviver regularmente.
Arranjei realmente um bom emprego mas aos 29 anos encarceraram-me a mim e à minha mulher. Por pouco levavam também o meu puto de 3 anos.
O 25 de Abril tirou-me da cadeia e impediu que eu perdesse tudo quanto tinha construído até então. O resto da história já vocês, melhor ou pior, conhecem.

Durante todo esse tempo nunca me passou pela cabeça declarar-me parvo ou vir para a rua dizer que estava à rasca. O estado do país preocupava-me demasiado para me procupar com a minha própria pessoa.

Conto-vos isto para vos convencer de que não há razões para desesperar.
Acho bem que se manifestem mas acho que isso não chega. E não levem para lá os vossos pais pois eles já têm problemas da coluna, e outros. Vendo bem eles são o vosso principal seguro de vida e não convém que se vão abaixo enquanto podem receber a pensão de reforma.
Não há ninguém que possa resolver o vosso problema. Nem o governo, mesmo que quisesse (o que é duvidoso). Nem as empresas que, como é da sua natureza, só vos contratarão se entenderem que podem ganhar dinheiro com isso.
O governo não tem dinheiro para mandar cantar um cego e não estou a ver o Belmiro a contratar uns milhares de sociólogos e de especialistas em relações internacionais.

Não queiram ser como os vossos pais. Não se resignem a uma vidinha de empregados por tuta e meia que sonham comprar um carrito e um T3 para os lados da Buraca.
Vocês é que têm que criar um mundo diferente, uma sociedade de novo tipo.
Ponham bombas, recusem os empregos marados e tornem-se hippies, boicotem produtos e empresas, criem cooperativas e mostrem-lhes o que valem.
Em suma façam qualquer coisa.
Mas por amor de Deus não fiquem à espera de que alguém resolva os vossos problemas.

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quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Uma espécie... de praga

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Uma espécie... de praga.

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domingo, outubro 10, 2010

Diques de areia

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Desde o 25 de Abril que tem havido um aumento de interesse pela maçonaria?
Sim, duplicámos o número de maçons nos últimos dez anos. É natural que estejamos a crescer, mas não queremos muitos mais. Atenção que a maçonaria não é uma instituição de massas, como um partido político. Nós próprios não queremos ultrapassar um determinado número. Somos muito selectivos.
Como é feita essa selecção? Que tipo de pessoas procuram?
As elites académicas, culturais, políticas... As elites em geral. As pessoas não vêm directamente ter connosco. Em geral isso faz-se indirectamente, através de pessoas do GOL que já se conhecem. Determinado obreiro, "irmão" (termo maçónico), propõe uma pessoa das suas relações.
A maçonaria é reconhecida ainda hoje como ordem secreta. Apesar de vivermos num regime democrático, a maioria dos maçons não admite que o é. Porquê?
É a própria pessoa que pode, se assim quiser, comunicar que é maçon. Ninguém é obrigado a assumir-se, isso seria uma violação da liberdade de consciência. Ninguém tem de se declarar benfiquista ou sportinguista e portanto também não tem de se declarar maçon.
Manter a identidade maçónica em segredo é muito comum entre os magistrados. Nenhum se assume como maçon, mas há muitos magistrados que o são.
Existe um certo preconceito no poder judicial. Alguns magistrados não aceitam muito bem a maçonaria. E, com medo que a opinião publica os condene - baseada naquela ideia de que a maçonaria é como uma instituição tentacular, uma espécie de polvo, que controla as instituições de todos os poderes, o que é inteiramente falso - não o assumem. Isso pode criar desconfianças, suspeitas dentro do poder judicial relativamente à condição de maçon de determinado juiz ou procurador. Por isso a maioria prefere não revelar.
Como já disse, os maçons têm cargos preeminentes na sociedade, as suas decisões podem influenciar o futuro do país. É normal discutirem os problemas actuais e a melhor forma para os resolver?
Sim, tentamos dar o nosso contributo, tentamos formar os nossos membros para que consigam, dentro das actividades que exercem, resolver os problemas do país. Mas eu sou grão-mestre e não reúno aqui nem em lado nenhum com ministros, deputados e juízes que são maçons para lhes dar instruções sobre o que devem fazer no governo ou na magistratura. Algumas pessoas vivem obcecadas com essa ideia.
Há casos em que de recusa quando tentam recrutar para o GOL?
Sim, porque não têm interesse ou têm medo. Mas normalmente quando um maçon convida uma pessoa já sabe que existe uma certa probabilidade de ela aceitar. Primeiro há uma observação, conhecimento do carácter da pessoa, e logo depois é que se vê se essa pessoa tem apetência para este tipo de trabalho. Ser maçon exige uma apetência da própria pessoa para praticar aquilo a que chamamos uma espiritualidade laica, para uma reflexão sobre temas que têm a ver com o sentido da existência, o sentido da vida, sem terem de passar pelo crivo religioso. A maçonaria está acima das divisões religiosas e político-partidárias.

António Reis, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) ao jornal I, 09.10.2010
 

Qualquer grupo de pessoas, unidas por uma crença de verificação impossível, ligadas por códigos de fidelidade apertados, pode obter resultados surpreendentes e muito acima da sua representatividade ou peso relativo.
Esta tese tem sido demonstrada, pela vida, vezes sem conta.
Assim se explica, por exemplo, como uma célula partidária composta por uma dúzia de militantes consegue controlar e determinar a comissão de trabalhadores numa empresa com centenas de empregados ideológicamente distanciados.
As células dos partidos comunistas usaram esse método por todo o lado, através das suas disciplinadas reuniões de planeamento e distribuição de tarefas, com  enorme eficácia.

A maçonaria aplica o mesmo método, mas num plano mais elitista, apostando na colocação de “pedras” em lugares chave da comunicação, da administração e dos orgãos de poder.
Nada de novo, portanto.

Quando, em certas raras circunstâncias, esta questão invade o espaço público é comum ouvir vozes que verberam as distorções da democracia que tais métodos podem acarretar, já que os cidadãos “organizados” dispõem de uma capacidade de intervenção social que não está ao alcance do cidadão comum, por norma isolado.
Mas essa é apenas uma faceta do problema.
Há porventura consequências mais graves resultantes do funcionamento de grupos institucionalizados que, no seu interior, proporcionam aos seus membros uma sensação de impunidade, ou superioridade, que os limita na capacidade de compreender os “gentios” e de olhar para a sociedade como um organismo vivo com a sua genética e o seu determinismo natural.
Ideais que seriam salutares e desejáveis quando exercidos por cada um dos cidadãos, na sua intervenção cívica, podem converter-se em pesadelos quando vigoram no seio de grupos institucionalizados que se auto-delimitam do exterior. Todos os defeitos do clubismo e do fanatismo, tão óbvios e tão ridicularizados no futebol, encontram terreno fértil mesmo que adoptem práticas mais sofisticadas.
As crenças comuns desses grupos tendem a ser sobrevalorizadas ao ponto de a realidade passar a constituir um empecilho das engenharias sociais.

Há sem dúvida uma contradição insanável entre o vanguardismo necessário ao progresso social e a democraticidade das opções e decisões. Mas existe também uma contradição entre o vanguardismo e os ritmos e modos passíveis de ser realizados num dado contexto histórico e numa dada situação sócio-cultural.
É muito fácil cair-se na luta pela conquista de posições de poder, a todo o custo, sem fazer o esforço necessário para compreender certas dinâmicas inelutáveis no âmbito económico e cultural. Como se a bondade das intenções, e a superioridade moral das soluções, bastassem para garantir o sucesso.

A história da primeira República, tão invocada nos últimos dias, é um bom exemplo desse erro. O mesmo poderá ser dito da revolução de Outubro e da URSS.
A República actual, em Portugal, parece estar a seguir o mesmo padrão. Não há ideais, por mais justos que sejam, que resistam à decadência económica e ao desmoronamento das instituições minadas pelo clientelismo e o proteccionismo dos confrades.
A história tem mostrado que tais experiências terminam sempre em longos períodos de retrocesso social e político.

Está por inventar um modo de actuação que garanta o desenvolvimento de novas ideias e de novas formações sociais com base na compreensão profunda dos limites naturais impostos pelo acumulado histórico presente na realidade social. Substituindo os grupos enquanto instituições por grupos dinâmicos de cidadãos que nascem para realizar projectos e que morrem quando já não são necessários.
Corrigindo e redireccionando as forças que espontâneamente se movem na sociedade, em vez de tentar estancá-las com diques de areia.
 
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segunda-feira, setembro 27, 2010

Nem tanto ao mar nem tanto à terra

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O que mais me impressionou nesta fotografia, publicada na Visão, nem foi a mulher de burka mas a "cara de pau" dos candidatos no Afeganistão.
Eu, que acho os nossos candidatos demasiadamente sorridentes, fiquei chocado com a severidade destes rostos.
Não captam os votos com demagogia barata, como fazem os nossos; sou levado a pensar que o fazem assustando os eleitores. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, digo eu.
Há outros mundos no nosso planeta.


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domingo, setembro 05, 2010

O estranho caso do cão que fuma

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Um jovem chinês, de 23 anos, está acusado de maus tratos contra animais depois de ter ensinado o seu cão de estimação a fumar. Numa entrevista ao jornal 'Metro', ele afirmou que o fez por achar que seria divertido.
Zeng Ziguang explica ainda que "ao início ele odiava o cheiro" mas que agora consegue fumar "um maço por dia". Correio da Manhã 04.09.2010

Há vários anos acompanho com interesse especial as notícias sobre a China e constatei que consistem predominantemente de catástrofes naturais ou sociais. Uma percentagem enorme de notícias sobre a China trata de sismos, inundações, desabamentos, deslizamentos de terra e todos os outros extremismos naturais.
A pequena distância destes temas, mas ainda assim muito importantes, vêm as condenações à morte, os desacatos étnicos e a sua repressão, os casos relativos a produtos adulterados, a degradação ambiental, a contrafacção das marcas globais, as greves pela melhoria dos salários, os enormes engarrafamentos do trânsito, as bolhas do imobiliário e das bolsas e o colapso das minas.
A notícia que abre este post insere-se numa sub-categoria, a do exotismo perverso, a que pertencem também com destaque os hábitos alimentares e a inexistência de funerais.
Chinês que se decida a fazer uma idiotice qualquer tem garantida a repercussão mundial.

Depois disto chega a ser inverosímil que realmente vivam na China 1.300 milhões de pessoas como nós. Não há dúvida de que o "ocidente" vive em racismo latente e em estado de negação relativamente ao Império do Meio.

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sexta-feira, junho 18, 2010

Saramago

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Lanzarote, Abril 2007


Detesto obituários e elogios fúnebres. Nunca os faço.

Conheci Saramago, em 1980, através de "Levantado do chão". Inesquecível experiência,  reveladora de um escritor que percebi genial apesar de estar ainda longe de ser famoso.
Acompanhei a sua produção até àquela que penso ser a sua obra prima, "O Evangelho segundo Jesus Cristo". O livro que, mais do que qualquer outro, ainda impressionará leitores daqui a vários séculos.
Também tenho grande afeição por "História do cerco de Lisboa" e por "O ano da morte de Ricardo Reis", para além do incontornável "Memorial do Convento", claro.

A partir de " Ensaio sobre a cegueira" comecei a não me emocionar da mesma maneira apesar de admirar o engenho. Tal como acontecera antes com "Jangada de Pedra". Não adiro facilmente a construções parabólicas com intuitos apologéticos.

Deixou uma grande obra que nenhuma gaffe do autor poderia amesquinhar.
Quando passei por Lanzarote compreendi porque escolheu viver lá, naquela beleza selvagem que não aceita compromissos.



Lanzarote, Abril 2007

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quarta-feira, novembro 04, 2009

Disney em Xangai

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Os chineses aprovaram finalmente a construção de um Parque da Disney em Xangai (http://bit.ly/3yMcR3).

Será para permitir às criancinhas verem o imperialismo americano antes que acabe ?

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sexta-feira, setembro 18, 2009

Ir ou não ir à missa

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Pensamento do dia:
Para ter sucesso e ser estimado em Portugal é imprescindível ir à missa (qualquer que ela seja).
Espíritos livres, críticos e independentes não são apreciados. Amen.
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terça-feira, junho 09, 2009

Por pau de canela e Marzagão

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Porta do Mar, em Marzagão. Fotografada por mim em 1983

Considero excepcional o conjunto de construções e de palavras que os portugueses deixaram pelo mundo desde o Século XV.

Não me parece que o concurso para escolher as "sete maiores maravilhas" tenha grande interesse a não ser como forma de trazer este património para primeiro plano. Também acho deplorável, se não mesmo ridícula, uma petição que tenta misturar com o dito concurso uma espécie de "disclaimer" de arrependimento colectivo, sem perceber que esse tipo de questões se situa num nível diferente.

Quando vejo um forte construído a milhares de quilómetros da costa brasileira em plena amazónia, ou uma velha angolana numa igreja barroca de Luanda, ou um senhor Silva em Baçaim que já nem fala português, ou as ruínas de S. Paulo resistindo aos casinos de Macau, ou umas telhas portuguesas no Uruguai, ou a rua da Carreira em Marzagão, ou os dois fortes empoleirados em Mascate, sinto uma grande emoção. E podem crer que não sou dado ao patrioteirismo.

É preciso ser tosco para não entrever uma gigantesca epopeia em tudo isto, para não ouvir os gritos de alegria e de dor que ecoram por todos os continentes como os grandes poetas (e músicos como Fausto e Vitorino) tão bem explicaram, para não perceber o elevadíssimo sentido humano e humanista dessa enorme aventura de cuja memória nunca cuidámos suficientemente e de que, alguns, parecem preferir envergonhar-se.

A esta escala não há, tanto quanto sei, nada que se compare. .

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segunda-feira, abril 27, 2009

Clube das Virgens

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Às virgens que possam eventualmente visitar este blog deixo o link para o
ciente de que o associativismo tem grandes potencialidades.
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quarta-feira, abril 01, 2009

Exílio Internet

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"Mas o ponto é que os intelectuais perderam o poder: não são eles que medeiam a cultura nos espaços colectivos, em especial na televisão.
Agora, ocupam um nicho: são seus alguns lugares da cidade, certas ruas, certas salas de espectáculos. Para lá chegarem, têm que atravessar ruas e praças que detestam.
São seus certos programas de televisão, a certas horas. Para os verem têm que fazer zapping.
São suas certas estantes de certas livrarias. Para verem o que lá está, têm que passar pelas outras estantes com intenso espanto perante as porcarias que o "povo" lê.
Ao viajarem, restam -lhes cada vez menos paisagens intocadas por horrendas casas, estúpidos anúncios, hordas de turistas que todos os dias os fazem pensar que o mundo está cada vez mais feio.
Como não têm dinheiro para fugir para longe ou construírem um mundo aparte, remetem-se aos seus nichos como se os tivessem escolhido. Mas não se trata de escolha. Trata-se de exílio.
Todavia, há um território onde os intelectuais podem entreter a ilusão da sua importância: a Internet.
A ilusão é aqui possível porque na Internet não há espaço público, não há ruas, não há praças, não há sobretudo televisão, ou seja, na Internet os intelectuais não são obrigados a conviver com o "povo"-podem, como toda agente, saltar de sítio em sítio nesse território atomizado e sonhar que estão na academia, numa enciclopédia, numa galeria de arte.
Refugiados em casa, vêem suspensa, no brilho tremeluzente do ecrã do computador, a sua condição de exilados. "
Paulo Varela Gomes, Público, 02.01.2009
(ilustração de André Carrilho)
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terça-feira, dezembro 09, 2008

Amigo do seu amigo

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Dou-me muito mal com uma expressão que percorre, sem descanso, os nossos obituários e outras homenagens menos póstumas: “era amigo do seu amigo”.
Sou levado a pensar que se trata de uma fórmula reveladora, como poucas, do “amiguismo” que vigora na nossa sociedade.
As efemérides e as homenagens aos falecidos tornaram-se uma espécie de indústria com os seus especialistas e habitués. São também uma arma de arremesso entre capelinhas; tem-se chegado ao ridículo de disputar em público a primazia na intimidade dos mortos enquanto eram vivos.

“Amigo do seu amigo”? então havíamos de ser amigos de quem? dos nossos inimigos?
O pleonasmo é tão gritante que indicia um segundo- ou terceiro- sentido; uma cornucópia de favores, empenhos e cunhas; uma girândola de prebendas, avenças e promoções; um derramar de contratos, adjudicações e falcatruas.

É desta massa semântica que nascem os BPN’s e os Loureiros quer sejam ministros ou autarcas. Reproduzem-se como Coelhos nos contentores, como Varas nas caixas ou como Amarais nas pontes.
Os casos que se sucedem nos jornais, e que sucedendo-se vão fazendo esquecer os anteriores, só são possíveis porque esta “cultura” está profundamente enraizada. De tal forma que as pessoas, na sua ingenuidade, já nem se dão conta.
Hoje mesmo recebi por email um inocente pedido de ajuda nos seguintes termos:

“É uma pessoa formidável, generosa. Teve de fugir para o estrangeiro enquanto estudava medicina, por motivos óbvios. Acabou lá o curso e dedicou-se a ajudar a comunidade portuguesa. O seu trabalho desinteressado foi reconhecido e condecorado.
Continua a viver e a exercer no estrangeiro, com algumas dificuldades, como toda a gente. Recentemente comprou uma casa de campo mas foi aldrabada pelo vendedor e a casa precisa de muitos mais arranjos do que esperava- para os quais não têm dinheiro que chegue.
Sendo assim resolveu participar num concurso para ganhar um telhado. Mas para isso precisa de ser o mais votado dos concorrentes. Por isso vos peço que vão ao site...”

Os colegas do liceu estão a mobilizar-se "para ajudar" e acham normal incomodar meio mundo com uma questão privada, como tantas outras, que não chega sequer a ser dramática.
Dizem eles na sua missiva cheia de boas intenções: “Por isso recorremos à ajuda dos nossos amigos, porque os amigos dos nossos amigos...”

Um verdadeiro tratado sobre o pequeno mafioso que vive dentro de cada um de nós.
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sexta-feira, novembro 07, 2008

7 de Novembro

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fotografia, tirada em S. Tomé, por Carlos Morais
"Porém, a sondagem mostra que 57 pc dos russos não tencionam festejar o dia 07 de Novembro, 14 pc não decidiram como o fazer, 12 pc planeiam assinalá-la em casa e 07 pc, na casa de amigos. Apenas 2 pc dos entrevistados tencionam participar em manifestações e comícios, organizados pelos vários partidos comunistas para comemorar essa data na Rússia."
...
"Não obstante o dia 07 de Novembro ter deixado de ser feriado, mais de 2,5 mil manifestantes, segundo as autoridades policiais, mais de 10 mil, segundo os organizadores, reuniram-se no centro da capital russa ao som de palavras de ordem como “A Rússia é Lénine! A Rússia é Estaline!”, “O capitalismo faliu, queremos o socialismo!”, “Liberais no poder, crise na economia!”."
Blog "Da Rússia", 07.11.2008 aqui e aqui
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Estes posts do José Milhazes sobre a forma como os russos encaram a Revolução de 1917, apesar de não serem surpresa, provocam em mim o desconforto habitual. Aquilo que eu considero incontornável nestas estatísticas é a evidência do carácter anormal da experiência soviética.
Não me refiro às violências revolucionários ou sectárias nem sequer às privações e frugalidade forçada a que os russos estiveram sujeitos. O que eu acho extraordinário é o facto de uma experiência que se pretendia revolucionária não ter deixado um resquício, uma semente de novas relações de produção que as pessoas pudessem recordar e manter em custódia nem que fosse para um futuro longínquo.
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Tudo se passa como no perturbante filme "Goodbye Lenine". As pessoas passam à frente e esquecem mas, supostamente, estão a andar para trás.
Tem que haver outra explicação para o fenómeno. Não podem estar tantos, há tanto tempo, tão completamente errados.





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domingo, novembro 02, 2008

Califórnia Proposition 8

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Um estranho silêncio tem coberto, na blogosfera, a votação que terá lugar na Califórnia, em paralelo com as presidenciais de 4 de Novembro, para decidir se devem ou não ser banidos os casamentos entre pessoas do mesmo sexo naquele estado.

Parece inquestionável o valor simbólico desta votação cujo resultado, seja ele qual for, terá enormes consequências.

A "California Proposition 8" pretende dar valor constitucuinal a um pequeno mas acutilante texto:

"Only marriage between a man and a woman is valid or recognized in California"

As campanha pelo "Sim" e pelo "Não" estão bastante activas pelo menos na blogosfera americana.



Os candidatos presidenciais americanos dividem-se. Obama é contra a "Proposition 8" e McCain é a favor. McCain acusa Obama de só recentemente ter mudado de posição.

As sondagens não parecem conclusivas sobre o desfecho. No ano 2000 uma iniciativa do mesmo tipo, "Proposition 22", tinha obtido 61,4% de votos favoráveis mas o Supremo Tribunal da Califórnia ignorou esta decisão dos eleitores e aprovou, por 4 votos contra 3, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo.


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