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quinta-feira, abril 13, 2017

Mariscadores do Tejo



Mariscadores do Tejo
Quem passa na Ponte Vasco da Gama já viu certamente umas figurinhas minúsculas, no meio da água, palmilhando os baixios que a maré destapa. Andam à ameijoa, pelo que me disseram.
Esse exército parte da praia do Samouco, sincronizado com a maré, e entra pela água dentro numa "cerimónia" surpreendente e quase bíblica.
Para minha grande surpresa descobri que muitos deles/as são tailandeses, romenos e outros.
Aqui fica uma tailandesa com quem não me consegui entender mas que não parou de rir enquanto eu a fotografava.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Oito anos DOTeCOMe

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Antes que Outubro acabe tenho que referir aqui o oitavo aniversário do nascimento do site DOTeCOMe de que este blog é descendente.

Imitando o Google, que fez uma coisa semelhante, deixo aqui o link para o DOTeCOMe tal como ele era, pouco depois de nascer, no Outono do ano 2000.

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segunda-feira, setembro 08, 2008

Não há imagens inocentes

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"Kevin Carter, um free-lancer sul-africano, ouviu um gemido. Era uma menina, quase um esqueleto, que tentava chegar ao centro de distribuição de comida onde uma multidão se apinhava, numa aldeia do Sudão. Quando se agachou para a fotografar, um abutre pousou ao fundo, à espera. Fez a imagem, afugentou o abutre e foi-se embora. Sentou-se debaixo de uma árvore, fumou um cigarro e chorou.


A foto foi publicada pelo «New York Times» em Março de 1993 e, depois, em jornais de todo o mundo. Mas a maioria das centenas de cartas que o «Times» recebeu por causa desta imagem perguntavam o que tinha acontecido à menina e a razão por que o fotógrafo não a tinha ajudado. Conforme continuou o seu trabalho, Carter era perseguido pela imagem do Sudão, com cartas e telefonemas de quem não lhe perdoava ter virado as costas à criança.


A imagem que o assombrava valeu-lhe a imortalidade, ao receber o prémio Pulitzer em 1994. Tinha 33 anos, mas não sobreviveu ao passado. Suicidou-se dois meses após receber o prémio."


EXPRESSO, 06.09.2008


Uma história comovente, em especial para quem se dedica à fotografia.
A força e os limites da imagem na transformação do mundo.

quarta-feira, maio 14, 2008

Um dia de salário para a Nação



Há dias, nos comentários ao post "E se houvesse um novo 25 de Abril ?", afirmei que também eu contribuí com "Um dia de salário para a Nação". Como entretanto encontrei um documento interessante volto ao assunto.

A campanha, lançada nos últimos meses de 1974, tinha como objectivo ajudar financeiramente o Estado no conturbado período que então se vivia.
Um certo número de empregados da IBM, empresa em que eu então trabalhava, aderiu à campanha e os seus contributos ascenderam a quase 52.000 escudos (nessa época um programador ganhava cerca de 15.000 escudos mensais).
Aqui fica a reprodução do recibo que nos foi enviado em Dezembro de 1974 pelo Ministério do Trabalho, assinado pelo punho de João Amaral ao tempo chefe de gabinete do ministro.

sexta-feira, maio 09, 2008

E se houvesse um novo 25 de Abril ?

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Nas andanças recentes à volta das recordações de Maio fui dar com uma brochura, publicada em Maio de 1975 pelo Ministério da Comunicação Social, contendo o discurso de Vasco Gonçalves no 1º de Maio. É o famoso "Discurso da Batalha da Produção".




"O desencadeamento da batalha da produção é, portanto, uma necessidade imediata e imperiosa nas actuais condições.
O papel principal nesta batalha da produção pertence a vós, trabalhadores que, hoje, dadas as medidas já tomadas contra o capital monopolista e latifundiário, no sentido do domínio pelo Estado de sectores básicos da produção e do arranque da reforma agrária, têm a garantia que o seu trabalho e a sua opção reverterão em benefício da colectividade e não em benefício das classes privilegiadas.
Que pede, então, o MFA aos trabalhadores?"


E mais à frente:

"A batalha da produção exige, de todos nós, mais trabalho, mais imaginação criadora, procura de soluções mais económicas para os problemas e mobilização revolucionária no trabalho. O povo deve procurar em si toda a capacidade criativa que possui. O MFA e o Governo Provisório estimularão a criatividade popular, certos de que ela é indispensável na construção do novo Portugal. Neste campo continuarão a desempenhar papel fundamental as Campanhas de Dinamização Cultural e Cívica, desenvolvidas pelas Forças Armadas. É necessário promover uma autêntica revolução cultural no seio do nosso povo, abrir o nosso povo a ideias novas.
É necessário que as empresas de ponta dêem exemplos revolucionários de trabalho. Estas empresas devem constituir a vanguarda da batalha da produção. Os trabalhadores das empresas nacionalizadas e das empresas públicas devem fazer delas modelos de rentabilidade. ".


A leitura do discurso deixou-me a sensação de que, esgotado o receituário da época (nacionalizações, reforma agrária, etc) Vasco Gonçalves passava formalmente a "bola ao povo". Ao mesmo povo que votara a 25 de Abril maioritáriamente no PS ( 37,87 %) e PSD ( 26,39%), no "centrão" portanto, para a Assembleia Constituinte. O resultado já todos sabemos qual foi.

Quando hoje oiço dizer que "o 25 de Abril não se cumpriu integralmente" e até que "isto precisava era de um novo 25 de Abril" eu interrogo-me.

Suponhamos então que, por absurdo, um grupo de capitães decidia em 2008 fazer um "novo 25 de Abril", e que entregava o poder ao Bloco de Esquerda e ao PCP, verdadeiros depositários das memórias revolucionárias.

A pergunta é: o que é que eles faziam ? nacionalizavam tudo outra vez ? ressuscitavam a Reforma Agrária ?

No plano da transformação do modelo económico e das relações de produção, da propriedade e das classes, o que é que um poder revolucionário de esquerda faria ?

Tenho a sensação de que estamos exactamente como há 33 anos, de que em todo este tempo não houve qualquer desenvolvimento teórico à esquerda e que, portanto, só lhes restava tornar a "passar a bola ao povo".

Como sou chato tenho a mania das perguntas difíceis...

terça-feira, dezembro 18, 2007

A música é que era outra...


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Encontrei à venda nos CTT dos Restauradores, como se fosse a coisa mais natural do mundo, o livro da primeira classe em que aprendi a ler "no tempo da outra senhora". Ao contrário do que dizem os que estão sempre prontos a criticar, o livro tinha alguns pontos fortes para a época em que foi publicado:



preocupações ecológicas

rudimentos de socialismo



educação sexual




iniciação às virtualidades dos depósitos a prazo



e até uns toques de iniciação musical.
A música é que era outra...
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sexta-feira, novembro 02, 2007

Furadouro 1967

O post anterior, do Jorge, desencadeou uma série de memórias com 40 anos.

Como ele refere a minha reportagem "Furadouro: mudar de vida, sim... mas como?" publicada no Boletim do CCUL em 1967, que me permitiu conhecer os pescadores e os seus maravilhosos miúdos, resolvi publicar aqui algumas das fotos que a constituíam.










sábado, outubro 20, 2007

sexta-feira, outubro 19, 2007

Agostinho Neto – A Queda de um Anjo

Li de uma assentada um documento impressionante sobre o que foi o 27 de Maio de 1977, em Angola. O livro, da autoria de Dalila Cabrita Mateus e de Álvaro Mateus, chama-se Purga em Angola – Nito Alves, Sita Valles, Zé Van Dunen o 27 de Maio de 1977 e foi lançado recentemente pela Edições Asa.
Descreve o que foi a tentativa, pouco clara, de um golpe de estado contra o poder de Agostinho Neto e de alguns dos seus apaniguados na Direcção do MPLA, encabeçada pelos nomes referidos no título do livro. Os autores põem mesmo em causa que tenha havido qualquer tentativa golpista e consideram que aqueles foram vítimas de uma provocação organizada pelo grupo dirigente vitorioso.
Mas o que é mais impressionante é o saldo de morto provocado pela repressão desencadeada pela fracção vencedora, que, numa estimativa prudente, chega atingir 30.000 mortos, todos eles executados sem nenhum julgamento e depois da grande maioria ter sido torturada e mantida na prisão em condições deploráveis. Foi verdadeiramente uma purga que se abateu sobre companheiros de armas e de partido e que consistiu numa violação extremamente grave dos mais elementares direitos humanos.
Agostinho Neto aparece à luz destes relatos como uma personagem centralizadora, ávida de poder e de tudo controlar, pouco recomendável como chefe de Estado consensual e defensor do seu povo. É, pode-se afirmar, a desmontagem de um mito para aqueles, como eu, que nunca se debruçaram com grande rigor sobre a história recente de Angola, e consideravam a personagem como um herói da independência, apesar daqui e dali virem alguns avisos sobre o seu comportamento pouco recomendável.
O que é mais interessante é que o livro é escrito de uma perspectiva de esquerda, fazendo uma apreciação favorável dos derrotados e assassinados do 27 de Maio, apontados com gente próxima dos comunistas, em alguns casos como Sita Valles, como ex-militante da UEC e por esse motivo expulsa do MPLA, ou como simpatizantes da União Soviética, como o próprio Nito Alves. Chega-se a insinuar que, para além da afirmação de poder por parte de Agostinho Neto e da sua clique, este massacre visava abrir as portas ao reconhecimento ocidental, principalmente dos americanos. Verifica-se uma certa cumplicidade das tropas cubanas no esmagamento inicial do golpe, mas não participando nos massacres posteriores, e uma neutralidade da União Soviética que parece não interferir nos acontecimentos. O PCP, que foi acusado, há boca pequena, pela fracção vitoriosa, de estar por trás dos acontecimentos e pretender controlar a situação em Angola, segundo os autores, nada teve a ver com o assunto e no rescaldo dos acontecimentos, na sua táctica tradicional de não fazer ondas no campo socialista, aceitou passivamente que alguns dos seus militantes, que foram acusados em Angola de pertencer à fracção nitista, fossem suspensos das suas células para não agastar a direcção vitoriosa do MPLA.
Em Portugal não se deu grande importância aos acontecimentos, tendo o Presidente da República, Ramalho Enes, o PS, a imprensa da época e nossa intelectualidade, excepto Natália Correia, aceitado passivamente o que se passava em Angola.
Lembro-me que há época, um jornal esquerdista, ter lançado a atoarda de que o golpe tinha sido apoiado pela União Soviética com a cumplicidade do PCP e, segundo me lembro, nem uma palavra diziam sobre a repressão que se lhe seguiu. Este assunto, visto não ser citado no livro, mereceria agora ser recordado.
Estamos pois perante um documento impressionante, parecendo-me com grande rigor histórico e documental, que merece ser lido por todos aqueles que sobro passado não querem pôr uma pedra.

sábado, outubro 13, 2007

Um convite desdobrável lançado dos aviões



Para aceder à Felicidade em 1968 bastava apresentar este convite:

quarta-feira, outubro 10, 2007

MMS - Nota de leitura

O “Manifesto Mérito e Sociedade” (MMS) é o documento em cuja base Eduardo Correia pretende formar um partido politico e concorrer às eleições de 2009. (Pode ser consultado em http://www.mudarportugal.org/).

Apresenta um formato híbrido, entre o programa eleitoral e a declaração de princípios, o que o torna algo desequilibrado: uns pontos com grandes detalhes de implementação (caso do e-government) e outros muito genéricos e superficiais (caso da educação).

Não questiona as bases económicas nem politicas do sistema e da organização da sociedade.
Eduardo Correia situa-se num sistema capitalista com um governo do tipo democracia representativa; orienta-se pelo princípio liberal do Estado como agente regulador e não promotor ou interventor; e principalmente considera que a administração do País devia seguir as regras de gestão eficaz e as boas práticas que regem o mundo empresarial.
O que, se pensarmos bem, tem uma certa lógica, uma vez que adequa a gestão do Estado ao modo de produção sobre o qual está organizada a sociedade.
Deste ponto de vista, os regimes políticos da área da Social-Democracia sofrem de uma contradição de base que ajuda aliás a explicar as suas progressivas dificuldades.

Fica pois assente que Eduardo Correia não pretende fazer mudanças radicais, apenas acha que isto pode funcionar melhor.

Uma linha comum ao longo dos capítulos que tratam as várias áreas da governação e da sociedade é a procura de uma alteração de valores: emparelhar direitos com responsabilidades, estabelecer uma cultura do mérito.

Logo no 1º Capítulo, e à laia de apresentação dos princípios orientadores, se diz:

“È necessária uma profunda mudança nos seguintes aspectos:
- Comportamentos individuais
- Comportamentos colectivos
- Organização da sociedade
- Papel do Estado
- Sistema social, económico e politico”

Há que referir que a grande parte do conteúdo do documento é sobre comportamentos; alguma coisa é sobre o papel e a organização do Estado e da Administração; e nada sobre o Sistema.

Quem pretende uma mudança de atitude tão grande, direi mesmo uma mudança de paradigma cultural, tem obviamente que dar grande importância à Educação. E ele diz que dá! Mas parece ficar-se apenas por dois ou três chavões e alguns slogans na moda, desligados da realidade.

Por exemplo, a preocupação com o “abandono escolar” e a “necessidade de prolongar o ensino obrigatório até ao 12º ano”.
Dizer isto em abstracto, ignorando que há em Portugal uma grande separação entre a escola e a vida económica e social e que a escola é mantida a funcionar em circuito fechado por uma gestão centralizada e desligada das realidades, não é de bom augúrio...

Entre as propostas concretas, Eduardo Correia apresenta algumas ideias que me apetece salientar como interessantes e criativas:

a) a “Loja do Cidadão” para a Justiça, a que o autor chama Tribunal do Cidadão, para que qualquer pessoa pudesse, no mesmo espaço, obter aconselhamento jurídico e pedir apoio judiciário (se aplicável) para qualquer tipo de questão, dirigindo-se especìficamente aos “balcões” aplicáveis ao seu caso (trabalho, família, etc) Os funcionários desses “balcões” seriam advogados da Ordem ou juristas nomeados oficiosamente.
b) os “processos on-line” na área da Saúde, com um portal onde existiriam entre outros, os seguintes conteúdos informativos:
- contactos úteis
- mapas e descrição do percurso a fazer para encontrar unidades de
saúde, organizações de apoio à saúde e associações de doentes
- enciclopédia médica com informações sobre doenças, exames,
medicamentos
- tempos e listas de espera para cirurgias e tratamentos mais comuns
- exposição dos direitos dos doentes: garantia de cuidados, taxas
moderadoras, liberdade de escolha, reclamações, etc
- marcação e desmarcação de consultas


Em conclusão, no MMS fala-se sobre todos aqueles aspectos que a generalidade dos cidadãos que reflectem sobre a nossa sociedade pensa que estão mal: justiça, educação, saúde; peso do funcionalismo publico e da burocracia; promiscuidade entre administração e Partidos, etc. E avançam-se ”soluções”.

Não se pense que eu acho isto mal. Ser “politico de bancada” é provavelmente um bom treino de cidadania. Eu pessoalmente farto-me de praticar!

Mas isto é capaz de ser pouco para justificar a criação de outro partido. Principalmente porque os seus princípios não diferem em quase nada do que outros têm proclamado e as medidas apontadas são em grande parte as que os últimos Governos anunciaram. O “busílis” não está no enunciado mas sim no levar à prática. E quanto a isso Eduardo Correia não nos diz nada.

quarta-feira, outubro 03, 2007

EQUADOR

Há 40 anos, muito antes de Miguel Sousa Tavares ter escolhido o nome do seu best seller, o Diamantino conhecido no café Chaimite por "o doutor" já tivera a mesma inclinação.

A revista, longamente prometida e adiada, toda escortanhada pela censura, lá saíu pela primeira (e última) vez em Agosto de 1967.

O meu orgulho juvenil ficou estampado na capa tal como o Sardinha e os inevitáveis cachimbos. Foi o resultado de uma atribulada sessão fotográfica em casa do Sardinha no largo da Graça, se a memória não me atraiçoa.

Do índice constam nomes importantes como o Alexandre O'Neil, o Eduardo Prado Coelho e o Mário Vieira de Carvalho que "o doutor" arregimentou não sei bem como.

As infindáveis dificuldades que a época impunha a tais empreendimentos exauriram de vez as energias do Diamantino que, daí em diante, se arrastou pelas cadeiras do Chaimite sem alento para prometer o nº 2 da EQUADOR.

Este tema alimentou durante anos a mitologia do café que entretanto se converteu numa plastificada cafetaria, apesar do seu passado glorioso.

(clique nas imagens para ampliar)



sexta-feira, setembro 28, 2007

Afinal também fui Funcionário Público



Mexer no baú tem destas coisas. Fui descobrir um outro EU de que já me esquecera, num verdadeiro "Dr Jekyll and Mr Hyde".

Ao raiar dos meus 20 anos, entre 1965 e 1967, servi a coisa pública como professor de Cálculo, Direito Comercial e Economia Política. Não se pode dizer que eu não era flexível e versátil (se então houvesse sindicatos não teriam permitido tal violência contra o meu bestunto para não falar na integridade do sistema de ensino).
Nunca esquecerei o manual de Economia Política, que espero reencontrar um dia destes, pois incluía a seguinte definição:

"Capital é, por exemplo, a farda de um polícia pois sem ela não teria direito a receber o seu salário"

Sabe-se lá que influência pode ter tido no meu posicionamento teórico o contacto, em idade tão tenra, com esta definição.

Aqui fica uma confissão, em especial para os meus amigos que me acusam cada vez mais de descambar para o liberalismo: eu também já pertenci ao meritório colectivo dos funcionários públicos.

Uma dúvida final: ainda há diplomas assim ou já é tudo Simplex ?







quarta-feira, abril 25, 2007

Hoje e Sempre!



Clique na fotografia e VEJA.

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sábado, março 24, 2007

Revolução nas artes do desenho

Penso que já se percebeu que sou apaixonado por fotografia.
Por mero acaso obtive exemplares de uma revista, "O Panorama", publicados nos anos 30 do século XIX, onde fui encontrar as que são, talvez, as primeiras referências a Daguerre e à invenção da fotografia publicadas em Portugal.
Têm um encanto irresistível (pelo menos para mim) pelo que decidi partilhá-las.



Revolução nas artes do desenho


O INVENTO, ou descubrimento de que vamos fallar, merece um e outro título; a natureza e o engenho do homem, podem ahi apostar primasias. A natureza apparece retratando-se a si mesma, copiando as suas obras assim como as da arte, não em painéis presenciaes, inconstantes e fugitivos, como eram e são os rios, os lagos, as pedras e metaes polidos, mas em matéria que retem o simulacro do objecto visivel e o fica repetindo com a mais cabal semelhança ainda depois de ausente: isto pelo que toca á natureza. Agora pelo que respeita ao engenho do homem, foi elle quem a forçou a este milagre novo e inesperado. Duas coisas nos dão pena querendo escrever esta noticia; a primeira é que não possamos explica-la e circumstancia-la como cumprira, por fallecerem ainda as precisas e miúdas informações; a segunda que desse mesmo pouco com que um jornal de Paris, o Século, nos vem acenando, não nos consente a indole e extensão da nossa folha apresentar senão o pouquíssimo.

A camara luminosa ou óptica, segundo vulgarmente se diz, é formosa recreação de nossa infância, e nos permite viajar sentados n’uma cadeira, no canto da nossa casa, por todos os Portos, cidades e ruínas, bosques e desertos do mundo; mas se taes pregrinações nos não custam nem fadigas nem perigos, nem dinheiro e largos annos, tambem a idéia que nos trazem das coisas apartadas é pelo demais incompleta ou falsa; e todos esses quadros de mão humana são imperfeitos como tudo o que d’ella sae.

A camara luminosa levava grandes vantagens á câmara obscura em um sentido, se em outro lhas cedia; porque, se ahi o artista cercado de trevas via descer sobre o seu papel alvo e nú, as formas perfeitas, córadas e vivas das coisas externas, e dessas, todas as que lá por fóra senão levavam e fugiam, as prendia com o lápis e pincel, e compunha, ou antes copiava natural e verdadeiro o seu quadro; por outra parte o alcance desta sua magica era sempre mui limitado: e de mais, dado que as formas e cores que primitivamente ao seu papel fossem, nem podessem deixar de ser completas e exactas, como o prendê-las era trabalho de mão e instrumentos humanos; ahi vinham tambem forçosamente as differenças, os erros e quando menos os desprimores.

Da camara obscura saíam lindas recordações abreviadas do mundo circumstante; mas esses paineis eram mais formulas representativas do que emanações reaes dos corpos; mais retratos levemente desfigurados do que reflexos proprios, inteiros e absolutos, esses paineis, requeriam tempo, paciencia, arte e uso de uma palheta carregada de todas as cores do íris.

D’ora ávante porém, sem palheta, nem lapis, sem preceitos artisticos nem dispendio de horas e dias, que digo, sem mover a mão, sem abrir os olhos e até dormitando, poderá o viajante enriquecer a sua pasta com todos os monumentos, edificios e paizagens, das longes terras, e o amante mais hospede das bellas artes, obter por si proprio o retrato dos seus amores; tão ao natural como o traz debuchado no coração, e mais natural ainda porque não lhe faltarão as miudesas mínimas que a vista não alcança e que só a lente lhe poderia revelar. Os nossos leitores nos estão já aqui pedindo impacientes a solução de tão incrivel problêma; o que podemos é apontar-lha, isso vamos fazer.

Eis-aqui o que o senhor Arago relatou á academia franceza de cuja é secretario: o senhor Daguerre, famigerado pintor do diorama, andava, largos annos havia, todo embebido em procurar alguma substancia onde a luz se podesse imprimir, e deixar de si vestigios distinctos, que ainda depois d’ella ausente a denunciassem com todas suas modificações e circumstancias; para este fim andou batendo á porta das várias matérias e interrogando todos os corpos e invocando toda a natureza. Em tudo é a diligencia mãe da boa ventura. Encontrou ao cabo uma substancia como a elle sonhára, tão sensivel á acção immediata da luz, que esta lhe deixa os vestigios evidentes do seu contacto, d’esse contacto tão subtil e inapreciavel. Estes vestígios ficam representados por côres que teem em cada ponto uma relação perfeita com os diversos gráus de intensidade da mesma luz.




Não se cuide, comtudo, haver nesta estampa as proprias côres do objecto que ellas representam; não, as diversas côres dos originaes só são denotadas e significadas na copia, com uma extrema exactidão, pela maior ou menor força da luz, isto é, pelo maior ou menor effeito da impressão da luz: vae do original á copia uma differença a este respeito bem comparavel com a que faz uma gravura optima d’um painel a oleo cujo ella for perfeitíssimo traslado. O vermelho, o azul, o amarello, o verde etc, são significados por combinações de luz e sombra, por meias tintas mais ou menos claras ou escuras, segundo a somma de potencia clarificante que encerra por sua natureza cada uma destas côres. Mas o que é certo, apesar de todo esse desconto, é, que estas copias são tão extremadas, tem um tal relevo e tamanha verdade como se não pode imaginar sem as ter visto.

A delicadesa de traços, a puresa das fórmas, a exactidão e harmonia dos tons, a perspectiva aeria, o primor das miudesas, isso tudo se representa com a suprema perfeição. A lente, malsim terrível das maiores obras de desenho, que em todas encontra senões e desares inevitaveis para a arte, gire quanto quizer sobre estas figuras, fite n’ellas, quanto tempo lhe agradar, o seu olho inexorável, desesperar-se-ha de não descubrir senão perfeições, depois perfeições, e sempre em tudo perfeições.

Não ha porque nos espantemos: a luz, a propria luz, foi a pintora. Do pae da luz creáram divindade ás artes os fabuladores da Grecia; da fabula fez historia o engenho mais creador da nossa edade. Estas gravuras abertas pelo buril dos raios luminosos, estas estampas baixadas, porque assim o digamos, do ceu, mostrou-as o senhor Daguerre aos senhores Arago, Biot, Humboldt e outros, que todos ficaram suspensos e enfeitiçados.

O auctor limitado n’um pequenino espaço da ponte, chamada das Artes, trasladou toda a carreira de grandiosidades monumentaes que ufanam e affamam a margem direita do Sena comprehendendo aquella parte do Louvre que alardea a opulenta galleria das pinturas; e não ha linha, não ha ponto que não saísse perfeitíssimo. Da mesma arte apanhou aquella immensa e gigantesca fabrica de Nossa Senhora de Paris, com toda a sua profusissima cuberta de esculpturas gothicas. Mais fez, que repetiu o prospecto do mesmo edifício, ás oito da manhaã, ao meio dia e ás quatro da tarde, e isto em dois dias diversos, um de chuva, outro de sol; e todas estas vistas, sem exceptuar aquellas mesmas em que a extensão relativa das sombras é identica para quem as observa, teem physionomias tão próprias e tão suas, que n’um relanciar de olhos se adivinha a hora do dia e circumstancias atmosphericas em que se fez cada retrato.

E devendo parecer já isto a maxima maravilha, ainda ha outra e é a quasi magica ligeiresa com que se opera; oito ou dez minutos bastam no clima e ceu ordinariamente aspero de Paris para começo e remate de taes quadros; mas com ar mais puro e luz mais estreme, como no Egypto, um minuto bastaria. Todavia, diz o noticiador do Seculo, estas admiraveis representações das exterioridades da natureza, certamente por passarem por ellas mãos humanas, carecem do que quer que seja como objectos d’arte. Coisa admirável! Aquella mesma potencia que as creou parece ausentar-se logo d’ellas: estas obras da luz carecem de luz. Nos proprios pontos mais directamente clareados ha uma fallencia da vivesa e de lustre; e na verdade são umas vistas, que a despeito de todas as harmonias de sua impecavel perfeição, como que apparecem sob um ceu denso e boreal que se está esmorecendo e esfriando: parece que ao coarem-se pelo aparelho óptico do auctor, todas á uma se revestem do aspecto melancholico do horizonte quando quer anoitecer.

Segundo contra. Apesar da summa rapidez da luz, como o seu effeito na substancia do Sr. Daguerre não é instantaneo, qualquer objecto que se mova com velocidade ou lhe não deixa vestigios seus, ou só muito confusos. As folhas das arvores por exemplo, como aquellas que sempre se andam balançando no vento, ficam pelo demais mui perturbadas: mas onde só se pertenderem imagens da natureza sem vida, edifícios, monumentos, estatuas, ou cousas de semelhante género, ahi sim, ahi triunfa de todos os outros este novo methodo. Rosto de homem vivo ainda até hoje o não pôde retratar que satisfizesse. Mas o auctor ainda não perdeu a esperança de lá chegar.

É inegavel á vista do que levamos apontado, que este invento, um dos mais admiráveis de nossos tempos, terá largas consequências em todas as artes do desenho, e contribuirá não só para o progresso do luxo util e aformoseador da sociedade, mas também para o maior aproveitamento das viagens, quer sejam scientificas, ou artisticas, ou moraes, quer de simples divertimento e recreação. O auctor, porém, ainda não declarou o seu segredo; e esta immensa revolução, para arrebentar e espalhar-se por todo o mundo, só aguarda uma palavra d’elle, o seu fiat lux.


Revista “O Panorama”, 16 de Fevereiro de 1839, Vol. 3, página 54.




"Now, sir, if you dare move a muscle of your face I'll blow your brains out!--I want a placid expression sir; my reputation as a daguerreotypist is at stake!"

From Frank Leslie's Illustrated Newspaper. Vol. 7, No. 289 (28 May 1859) pg. 414.

terça-feira, março 13, 2007

Entre as Brumas da Memória



Já está nas bancas o livro "Entre as Brumas da Memória" (belo título) da nossa colega Joana Lopes.

Como ainda não li aqui fica, para já, um dos textos de apresentação:

"Um livro sobre a ditadura e o papel que as elites católicas tiveram na luta contra o regime fascista. A autora escreve sobre um tema que bem conhece, pois participou em iniciativas e organizações ligadas a um grupo que ficou conhecido como Católicos Progressistas. A História recente de Portugal tem vindo a suscitar grande interesse do público. De salientar o Prefácio de Pedro Tamen, escritor de prestígio e figura destacada dos grupo de católicos progressistas."

sexta-feira, outubro 27, 2006

Darwin online



O espólio completo do cientista britânico Charles Darwin está a ser compilado e disponibilizado gratuitamente na Internet. O projecto da Universidade de Cambridge conta já com vários manuscritos e diários nunca antes publicados ou recentemente transcritos, assim como imagens e arquivos de áudio, que relatam as ideias do naturalista que desenvolveu, ao longo de décadas, a teoria da evolução através da selecção natural.

Veja em:

http://darwin-online.org.uk

sábado, janeiro 14, 2006

Mozart nasceu há 250 anos




Diário musical de Mozart "online"


Está desde ontem disponível na Internet, no site http://www.bl.uk/onlinegallery/ttp/ttpbooks.html (clique para ver), um diário musical de Mozart. Os utilizadores podem procurar páginas escritas à mão do catálogo do compositor austríaco e ouvir compassos de abertura raramente interpretados.
Num ano musicalmente dedicado a Mozart - a 27 de Janeiro comemoram-se os 250 anos do seu nascimento -, a British Library fez a digitalização de 30 páginas e 75 introduções musicais do Catálogo de todas as minhas Obras. O site inclui muitos das obras mais conhecidas de Mozart, como A Flauta Mágica, mas também contém Litle March in D, que, segundo a biblioteca, foi gravada pela primeira vez.
O catálogo foi comprado pela British Library em 1986 e contém 145 obras escritas por Mozart entre Fevereiro de 1784 e Dezembro de 1791, quando morreu. No lado esquerdo de cada página, Mozart incluiu cinco composições e acrescentou informação sobre quando cada uma foi terminada, os instrumentos utilizados, quem a encomendou e quem a tocou pela primeira vez. No lado direito, estão os compassos iniciais de cada obra. No site, estes compassos são tocados pelo Royal College of Music.
A British Library anunciou ainda que conseguiu reunir um manuscrito de Mozart, que foi cortado em dois e vendido separadamente pela sua viúva em dificuldades financeiras.
A folha de música foi escrita tinha 17 anos. Nessa altura ele estava de visita a Viena com o pai, Leopold, para concorrer a um lugar como músico da corte - não o conseguiu. Um dos lados do manuscrito são duas cadências para piano (passagens altamente virtuosas para serem interpretadas por um solista sem acompanhamento de orquestra) e do outro lado um minuete para um quarteto de cordas.
Em 1835, Constanze cortou cuidadosamente o manuscrito, acabando as duas cadências em folhas separadas, mas uma das notas foi deixada por engano na folha de cima. Ela mandou então para duas pessoas separadas para pagar um favor ou para receber dinheiro. "Isto era numa altura em que Mozart era muito popular e a fama espalhava-se. Qualquer coisa que tivesse a ver com ele tinha valor. Ela tinha o hábito de cortar as coisas para maximizar o lucro", diz Rupert Ridgewell, o conservador da biblioteca para as colecções musicais.
A parte de cima Constanze mandou para um músico em Darmstadt chamado Julius Leidke. A outra peça foi para um funcionário governamental local na Baviera chamado Sattler. Ambas se mantiveram em duas colecções privadas na Europa até 1950, altura em que a metade de baixo chegou à British Library. A parte de cima acabou de ser adquirida.

(in Publico de 13 de Janeiro de 2006)

Avalancha de eventos para lembrar Amadeus Mozart
Casa da Música celebra 250 anos do nascimento de Mozart

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terça-feira, maio 03, 2005

25 de Abril de 1975




Em 25 de Abril de 1975, depois de votar para a Assembleia Constituinte, percorri Lisboa e fotografei vestígios da primeira campanha eleitoral da democracia.

Aqui fica esta imagem, recolhida à porta da IBM na Pr. de Alvalade em Lisboa, que os mais novos poderão achar bizarra, mas que fará de certo sorrir (com uma certa nostalgia?...) alguns leitores assíduos deste "blog".