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sábado, fevereiro 18, 2012

A clivagem

Na década de 1870 * (quando foi publicado o Manifesto do Partido Comunista) não era muito diferente ser-se camponês pobre na China, EUA ou Grã-Bretanha. Era um mundo marxista, no sentido em que havia alguma semelhança entre o rendimento e as condições de vida dessas pessoas e, portanto, justificava-se alguma solidariedade.Daí o apelo de Marx (Proletários de todos os países uni-vos!). É muito mais difícil a solidariedade quando o rendimento de um caponês pobre em Portugal pode ser dez vezes superior ao de um de Angola.Passámos de um mundo de proletários a um mundo de migrantes. A diferença entre Europa e África é tão grande que não há projecto político que possa unir essas pessoas.
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No mundo marxista, a grande clivagem era a nível nacional, entre capitalistas e trabalhadores. Dependia da classe. Hoje, a grande clivagem dá-se entre países. A desigualdade tem, sobretudo, a ver com o local onde se nasce. E a migração é o meio mais poderoso para reduzir a desigualdade global.


Entrevista a Branko Milanovic, autor de "The Haves and the Have-Nots", na VISÃO de 16.02.2012  
(*) a data indicada para a publicação está errada, não sabemos se por responsabilidade de Branko ou do entrevistador.  
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quinta-feira, março 03, 2011

A geração que desenrasca


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Mas há também uma “geração que desenrasca” quando a outra está “à rasca”.
Muitos avós vão buscar os putos à escola. Tomam conta deles algumas horas, ou mesmo o dia inteiro, quando estão doentes e não podem ir à escola.
Ajudam, de uma forma ou de outra, a pagar a casa, os colégios e a natação ou as aulas de música. Estão sempre lá quando surge o desemprego, o divórcio ou a doença.
A precariedade dos mais novos só ainda é suportável porque os mais velhos acumularam toda a vida em vez de gastar. Mesmo agora os mais velhos têm uma vida mais frugal do que os seus rendimento permitiriam porque pressentem a vulnerabilidade dos seus no futuro. Para além do ataque das mazelas da idade ainda têm que sofrer com a insegurança dos filhos e netos.
Em suma, a guerra de gerações faz pouco sentido. Atacar os rendimentos dos mais velhos pode ter efeitos catastróficos.
Estou certo de que muitas famílias, no seu conjunto, verão o seu estatuto económico cair acentuadamente quando o patriarca morrer e deixaram de poder contar com a sua confortável reforma.
Portanto a “geração que desenrasca”, para além de tudo o mais tem que cuidar bem da saúde, praticar exercício e alimentar-se correctamente. Dada a precariedade da “geração à rasca” a “geração que desenrasca” não se pode dar ao luxo de morrer cedo.

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quinta-feira, outubro 21, 2010

866 milhões de euros para contar 1.300 milhões de chineses



A China vai contar a sua população entre 01 e 10 de novembro, num censo de porta-a-porta que se realiza uma vez por década e que mobilizará este ano cerca de seis milhões de pessoas e uma despesa estimada em mais de 866 milhões de euros.
No último censo, em 2000, a China tinha 1 265 830 000 habitantes, mas 1,8 por cento da população (quase 23 milhões) não foi contabilizada, disse hoje o diretor do departamento de demografia do Instituto Nacional Estatísticas, Feng Nailin.
Pela primeira vez, serão também abrangidos os estrangeiros e os “compatriotas de Hong Kong, Macau e Taiwan”.
Cada recenseador será responsável por “um bloco de 250 a 300 pessoas”, através de mais de 300 cidades e 680 000 aldeias, indicou Feng Nailin.
Segundo o mesmo responsável, a operação está orçada em oito mil milhões de yuan (cerca de 866,5 milhões de euros) e os resultados vão demorar um ano a processar.
As “maiores dificuldades” dizem respeito aos trabalhadores migrantes, estimados em cerca de 200 milhões, e ao “receio” de muitas famílias de serem multadas se declararem a existência de um segundo filho, reconheceu o responsável.
Em julho passado, a ministra Li Bin, diretora da Comissão Nacional da População e Planeamento Familiar, estimou que em 2015 a China chegará aos 1400 milhões – mais 80 milhões que no final de 2008 – e, pela primeira vez, a maioria viverá em cidades.
Nos primeiros 30 anos de governo comunista, até ao final da década de 1970, a população quase triplicou, para cerca de mil milhões, mas o crescimento caiu 40 por cento com a política de “um casal, um filho”, imposta em 1980.
Pelas estimativas do Instituto de Estatisticas da China, no final de 2009, o país tinha cerca de 1340 milhões de habitantes - mais de um quinto de toda a Humanidade.

Diário Digital /Lusa

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terça-feira, setembro 14, 2010

Excedentes necessários

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A grande questão política do nosso tempo - como confirmam as controversas decisões do Governo francês e a polémica na Alemanha por causa das declarações de Sarrazin - é de natureza eminentemente biopolítica e diz respeito aos imigrantes e à demografia. Não há nada mais ideológico do que o modo como o declínio demográfico é entendido.
Do ponto de vista ecológico, a diminuição da população devia ser vista como um dado positivo, sendo negativos apenas os desequilíbrios na sua distribuição. Mas um sistema baseado no crescimento imparável, como é o sistema capitalista, não é compatível com o emagrecimento demográfico.
Se a vida de todos nós se alimenta de um endividamento que vai sendo transportado para o futuro (de modo que cada vez é maior a fatia de futuro hipotecado), se não houver no futuro mais gente para pagar a dívida, o sistema colapsa. Marx, que desprezava abertamente Malthus, mostrou como a questão da sobrepo-pulação emergiu "de um modo que não encontramos em nenhum outro período anterior da humanidade", isto é, de um modo coerente com "o grande papel histórico do capital". A que papel histórico se refere Marx? Digamos, em síntese: o de criar trabalho excedente.
Trabalho excedente e população excedente estão numa relação de dependência e ambos são um produto necessário da acumulação capitalista. Mais do que isso: são a sua própria condição de existência. Atualmente, esta condição entrou numa fase que engendrou o metatrabalho, bem conhecido de muitos "precários" (o precariado, esse novo sujeito da História...). Trata-se do trabalho não remunerado a que muitos se sujeitam, na esperança de arranjar trabalho, as formas de trabalho para arranjar trabalho. É, em suma, uma forma de contrair uma dívida cuja única garantia de pagamento é o próprio tempo de vida do indivíduo.

Este interessantíssimo texto, publicado por António Guerreiro no Expresso desta semana, refere justamente o sistema económico actual como dependente de uma contínua expansão do mercado. Isso pressupõe a existência de um "exército de reserva" que se possa ir incorporando na produção, sob a forma de novos trabalhadores e de novos consumidores.
É por essa razão que a China tem podido manter há tanto tempo uma expansão "capitalista", a taxas muito elevadas, há já várias décadas. Explica também o impasse europeu onde, à falta de crescimento demográfico, a poupança se reduziu perigosamente e o crédito teve que atingir níveis incomportáveis.

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