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terça-feira, outubro 27, 2015

O peixe miúdo na caldeirada do Costa



O peixe miúdo na caldeirada do Costa 
Muito se tem dito e escrito sobre as motivações do PS para, sem mais nem menos, resolver fazer esta caldeirada.
A mim interessa-me mais tratar da decisão do PCP e do BE de abandonar o seu posicionamento estratégico de partidos anti-sistema para se converterem em muletas de um dos pilares do "arco da governação".
O que ganham em abdicar de uma vantagem estratégica, que atrai todos os que almejam uma sociedade radicalmente diferente, para se tornarem acólitos na já gasta "alternância democrática"? Umas migalhas para os funcionários públicos e para os pensionistas.
Partidos como o PCP e o BE não existem para minorar as injustiças do sistema actual, existem para conceber e construir um sistema alternativo.
A sua incapacidade para realizar essa tarefa empurra-os para um radicalismo e imediatismo quase ridículo julgando, como D. Quixote, que derrubando os moinhos do governo de Passos Coelho estão a derrubar o sistema.
Quem já tenha lidado com o militante médio do PS, por exemplo nas empresas e sindicatos, sabe perfeitamente que a última coisa que lhe passa pela cabeça é pôr em causa o sistema. Mas é precisamente com o PS, o partido por excelência do regime e das suas negociatas, que o PCP e o BE se propõem fazer a sua "ruptura".
Já tinham demonstrado ser incompetentes como revolucionários mas podiam evitar esta imagem de quem se encanta com um prato de lentilhas.

quinta-feira, outubro 15, 2015

A história da "esquerda"



1. O PS afundou-se com Soares e afundou-se com Sócrates, que em seis anos deu cabo de 1.000.000 de votos.
Depois de Soares veio Cavaco que impôs ao PS uma travessia do deserto durante 10 anos.
2. Cavaco foi também o grande inimigo do PCP, que durante o seu consulado perdeu metade do seu eleitorado. Desde 2002 o eleitorado do PCP "não mexe", nem para cima nem para baixo, aconteça o que acontecer (mesmo a troika e o Passos). Só num partido como o PCP pode uma direcção políticafalar de vitória sem ser demitida.
3. O Bloco tem progredido em grande instabilidade mas a "vitória" de 2015 não é senão o regresso a 2009. Ultimamente o percurso do BE tem sido paralelo ao do PS. Premonitório?
4. A famosa "maioria de esquerda", hoje tão invocada, já teve melhores dias quando alcançava mais de 3 milhões de votantes

terça-feira, julho 14, 2015

Um dia teremos saudades da Merkel



Um dia teremos saudades da Merkel
Aquilo a que estamos a assistir, dia após dia, é ao lento declínio da Europa em termos da economia globalizada e da influência geopolítica.
À medida que a riqueza atávica vai sendo delapidada vão surgindo os despiques, as indisciplinas e as aberrações típicos das famílias decadentes.
Deixou de haver dinheiro para sustentar parentes ociosos ou viciados e as jóias da família vão sendo vendidas a árabes ou chineses, tanto faz.
A Europa, e o seu estilo de vida incomparável, caminha para o desastre inexorável perante adversários que não têm escrupulos económicos, nem sociais, nem ambientais, nem sequer humanitários (vidé o ISIS, por exemplo).
Mas todos estes riscos, já de si gigantescos, são potenciados pela tibieza do poder político. Basta comparar a autoridade e o poder da Comissão Europeia do senhor Junker com os seus concorrentes como Putin, Obama ou Xi Jinping.
À falta de um governo europeu politicamente legitimado é à senhora Merkel que tem cabido a ingrata tarefa de pôr ordem na casa e de impedir que proliferem os escapismos que a pobreza faz crescer por todo o lado. Por causa disso a Merkel converteu-se no bode expiatório de todas as frustações.
Convinha, no entanto, que aqueles que a acusam de ser mandona percebessem que a Europa não padece de autoritarismo mas sim da vertigem das forças centrífugas.
O que nos espera não é uma Europa idílica, próspera e humanitária; o que aí vem é a proliferação dos populismos à Syriza ou à Le Pen, com vários tons e matizes.
À medida que a decadência se aprofundar veremos substituir os partidos socialistas por populismos “de esquerda” e os partidos liberais por populismos de extrema direita.
A Grécia é um daqueles microcosmos que ajudam a perceber o cosmos.
A dívida “impagável” da Grécia não assusta a não ser como prólogo das dívidas “impagáveis” de Portugal, da Espanha, da Itália ou da França.
A rebeldia infantil do Tsipras não assusta a não ser como prólogo da rebeldia da senhora Le Pen, ou dos Verdadeiros Finlandeses ou do senhor Victor Urban (para falar só dos que já emergiram).
Do ponto de vista da sobrevivência do nosso modo de vida é preferível uma Merkel musculada à balcanização da europa pelos fanatismos e pelos nacionalismos.
Quando o empobrecimento e as suas sequelas levarem ao poder no Norte da Europa os partidos de extrema direita e proliferarem no Sul da Europa os demagogos pseudo-revolucionários podemos estar certos de que uma nova guerra se aproxima.

sexta-feira, maio 08, 2015

Isto interessa ao António Costa




A confirmar-se a maioria para os Conservadores, esta é a primeira vez em 60 anos que um primeiro-ministro é reeleito com maior número de votos do que à primeira.

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quarta-feira, junho 04, 2014

Pescadinha de rabo na boca



Palpita-me que ainda vamos chegar ao ponto de ver a maioria da AR acusar o TC de usurpar as suas competências.
O Artigo 2º da Constituição estabelece a separação dos poderes mas, se o TC for acusado de actuar contra a Constituição, quem é que pode condenar o TC por comportamento inconstitucional ?


A razão para a existência de um TC é prevenir que a AR e o Governo, apesar de eleitos pelo voto popular, comecem a tomar medidas contra a Constituição. Mas este raciocínio tem um furo. Se é possível admitir que um órgão de soberania como a AR, com centenas de membros, pode desembestar então temos que admitir também que o mesmo pode suceder aos sete elementos, não eleitos pelo povo, que dão a maioria às decisões do TC. Como é que se resolve esta hipótese não prevista ?

Quando se começa a tomar decisões com base em "princípios" como igualdade, confiança, etc, entra-se num terreno eminentemente político. 

O juizes, como se pode ver pelas declarações de voto recentes, não são neutros. Também eles têm as suas concepções de vida, ideologia e interesses. As escolhas das pessoas, e os juizes são pessoas, fundamentam-se em múltiplas razões de ordem pessoal, familiar, social, etc. Como temos visto há organizações como a maçonaria e a opus dei que transvazam as fronteiras partidárias. Há fidelidades e subordinações que não são transparentes. 

O que eu acho é que o TC foi transformado pelas oposições, em razão da sua impotência, numa espécie de pequeno parlamento com maioria de sinal contrário ao da AR. 
Isso vai provavelmente, a prazo, ditar o seu desaparecimento.

quinta-feira, maio 22, 2014

A culpa do destinatário



Os resultados nas "europeias" de 2009 foram : 


PPD/PSD: ( 31,71%) , 
PS: ( 26,53%), 
B.E.: ( 10,72%), 
PCP-PEV: ( 10,64%), 
CDS-PP: ( 8,36%). 

Comparando com a sondagem apresentada hoje, caso se confirme no dia 25, constata-se que a Coligação perderia cerca de 10%, o PS ganharia 7,5%, o BE perderia 5,7% e a CDU ganharia 1,4%.
Como é que alguém pode considerar positivo a CDU ganhar 1,4%, depois de 3 anos de austeridade, e o BE estar quase reduzido a metade?
Não seria melhor alguém tentar perceber que erro(s) está a esquerda a cometer para os cidadãos não confiarem nela mesmo quando sujeitos a grandes sacrifícios ?
Quando alguém explica mas não convence há várias possibilidades (incapacidade do destinatário, ineficácia do emissor, mensagem inadequada, etc).
Mas a solução mais cómoda é sempre culpar o destinatário da explicação.


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domingo, maio 04, 2014

Sobre a esquerda e as esquerdas



Sobre a esquerda e as esquerdas

por João Bernardo

"Desde a sua origem, antes ainda da génese do marxismo, que na esquerda existe um acentuado pendor para o estatismo. Não se trata para essa esquerda de alterar as relações sociais de trabalho, mas de concentrar no Estado os principais mecanismos de decisão económica. Esta é a esquerda que corresponde exclusivamente aos interesses da classe dos gestores, cujo acesso ao capital passa pelo exercício de funções administrativas e não pela detenção de propriedades.
Os gestores podem ascender tanto no aparelho tecnoburocrático das grandes empresas como no aparelho tecnoburocrático do Estado. Todavia, as grandes empresas são muito exigentes nos seus critérios de selecção, que passam pela avaliação dos currículos e por entrevistas, intermediadas nas esferas superiores por firmas especializadas em recrutamento. É certo que há uma circulação entre os quadros administrativos das grandes empresas e a administração estatal, mas apenas enquanto assessores ou ministros técnicos, porque o acesso aos postos elegíveis obtém-se graças a clientelas partidárias ou simples compadrios. Ora, como não se trata aqui de convicções mas de oportunidades, pode ser conveniente usar com fins eleitorais um rótulo de esquerda, devido ao seu apelo populista. Esta diferença nos processos de escolha explica que os gestores candidatos eleitorais em listas de esquerda sejam muito menos competentes do que os seleccionados por recrutamento, o que leva a militância partidária na esquerda estatista a atrair sobretudo a tecnoburocracia de segunda e terceira ordens.
A armadura jurídica do capitalismo pode assim ser discutida pela esquerda no aparelho de Estado e eventualmente remodelada, enquanto nas empresas as relações capitalistas de trabalho se mantêm ou são mesmo reforçadas. Já na União Soviética o apreço pelo taylorismo fora levado a um grau extremo, a tal ponto que foi aí, durante os planos quinquenais, e não nos Estados Unidos, que se realizaram as maiores experiências fordistas. A situação não mudou e para esta porção da esquerda socialismo continua a significar ampliação do poder de decisão económica do Estado, ficando completamente posto de lado o problema das relações sociais de trabalho. É um socialismo de gestores, não de trabalhadores.
Existe uma subespécie de eternos candidatos a gestores que têm como programa a ocupação do poder de Estado, mas com ilusões tais que nunca podem ser satisfeitas. Distinguem-se dos outros não pelos objectivos últimos, que em ambos os casos é a estatização da economia, mas pela ausência de noções práticas quanto ao caminho a percorrer. E como a sua vocação para o fracasso os leva a imaginarem-se revolucionários, consideram que é o sucesso eleitoral que classifica os outros como reformistas. Na verdade, trata-se de uma esquerda governamental in partibus, que só parece exterior às instituições estatais porque não consegue inserir-se nelas.
Nem conseguirá porque julga que o capitalismo perdeu as potencialidades de crescimento e o dinamismo interno. Esta esquerda é incapaz de se dar conta do aprofundamento do sistema de exploração e das novas formas de concentração económica que garantem ao capitalismo o aumento da produtividade e dos lucros e uma grande capacidade de absorção dos conflitos sociais. Embora invoque sempre referências marxistas, a sua compreensão nunca foi além da mais-valia absoluta. Os mecanismos da mais-valia relativa e da renovação das classes dominantes mantêm-se para ela envoltos em mistério.
O facto de arrastar uma história composta toda de fracassos não desanima esta esquerda, que se ocupa exclusivamente em dar lições aos governantes e aos patrões sobre a maneira de gerir o Estado e a economia e em profetizar o fim iminente do capitalismo. É estranho que não se dê conta de que traça assim uma distância crescente entre a sobranceria apocalíptica com que se refere ao capitalismo e a desconsolada mediocridade a que se confina. Qualquer teoria da revolução ficaria sem sentido se a crise do capitalismo não correspondesse à ascensão dos revolucionários e se a crise em que os revolucionários se encontram não indicasse a hegemonia do capitalismo."
Ler aqui http://passapalavra.info/2014/04/93811 o texto completo do João Bernardo

segunda-feira, abril 14, 2014

No território da Esquerda

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No território da Esquerda
há hoje uma enorme abundância de poetas e filósofos, sacerdotes e missionários, advogados e fiscais.
Infelizmente escasseiam matemáticos e contabilistas, engenheiros e arquitectos, carpinteiros e pedreiros (que não se designem em francês).

sexta-feira, julho 19, 2013

O impossível compromisso a quatro


 
Já se sabia que a "salvação nacional" seria difícil mas ela tornou-se quase impossível quando passou a ter que conciliar o PS-a (de TóZé Seguro) e o PS-b (de Sócrates/Soares).
Seguro queria o compromisso por duas razões:
- Evitar ser transformado no bode expiatório de um segundo resgate
- Fugir da cama que lhe está a ser preparada pelo PS-b antecipando as eleições
Claro que o PS-b está-se nas tintas para a culpabilização que cairá sobre o TóZé, que é carne para canhão, e não vê com bons olhos a antecipação das eleições pois precisa de tempo para encenar a substituição do líder. Por isso não quer qualquer compromisso, e prepara-se para impedir Seguro de o assinar.
Da maneira como as coisas estão a evoluir o TóZé, se não assinar o compromisso, está cercado por todos os lados:
- torna-se um líder a prazo pois toda a gente percebe que não manda nem no seu próprio partido
- vai assistir impotente à posse da remodelação governamental proposta por Passos Coelho
- Vê a sua grande bandeira das "eleições já" totalmente esvaziada até 2015
Cavaco dir-lhe-á para ter paciência pois a AR votou "confiança" ao governo e a esquerda mostrou, quando o PS abortou as conversações com o BE, que não tem uma alternativa de governo.

sexta-feira, junho 14, 2013

O PS, sem tirar nem pôr

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Um retrato fidedigno de Sócrates, TóZé, Soares e quejandos

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segunda-feira, maio 20, 2013

O triste Estado a que a esquerda portuguesa chegou.



O triste Estado a que a esquerda portuguesa chegou.
Resigna-se a ser liderada pelo coveiro dos seus sonhos insurreccionais.
Na sua fase senil, Soares imagina-se a tirar de novo o socialismo da gaveta.


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sábado, abril 20, 2013

PANACEIAS com barbas




Ao longo das últimas décadas têm-se repetido as invocações mágicas de uma panaceia que ninguém descreve.
A "maioria de esquerda" do PCP, a "esquerda grande" do Louçã e tantas outras fórmulas (de marketing) têm sido usadas para induzir a ideia de que "se o povo de esquerda se unir" os problemas estão todos resolvidos.
Mas a verdade é que não estariam.
Nunca estarão enquanto a unidade não tiver uma substância nova e fecunda.
Depois disto tudo, como se tivesse descoberto a pólvora, o TóZé desenterra uma "nova aliança" (no fundo uma mera caça ao voto idêntica à do Sócrates, que deu o que deu)

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Desaparecido em combate





HOLLANDE, desaparecido em combate 
(e dos discursos de A. J. Seguro)

domingo, dezembro 02, 2012

O Debate da Esquerda



O debate das esquerda, e das suas potenciais alianças, tem vindo a restringir-se ao magno problema de saber quem rasga e quem não rasga o Memorando da Troika.
É que há os que se limitam a amarrotar Memorando, os que não passam de duas ou três cuspidelas e os que apenas o dobram, muito dobradinho, e tentam esquecer-se dele no bolso de trás das calças.
Em contrapartida há os que saltam a pés juntos sobre o Memorando e esfregam as cardas da botifarra, os que o mastigam e depois engolem com a ajuda do carrascão e os que o queimam em voodoos rituais.
Em suma, a unidade da esquerda é difícil como o caraças.

quarta-feira, junho 27, 2012

Congresso Democrático das Alternativas




Congresso Democrático das Alternativas
Nos últimos 30 anos, de vez em quando, aconteceram erupções ou dissidências deste género. Muitas. Todas morreram de inanição, já não são sequer notícia. Porquê? Porque não partem de propostas e utopias. Limitam-se a mastigar vagas ideias de unidade como se fossem panaceia para a renascença de uma esquerda que se deixou cercar pelo anacronismo.

quarta-feira, junho 22, 2011

Como reconhecer a esquerda?

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Retirado do texto "Como reconhecer a esquerda?" de António Guerreiro, no Expresso de 18.06.2011



O pano de fundo destas considerações, não devemos omiti-lo, é o seguinte: a diferença entre direita e esquerda está hoje longe de ser tão evidente quanto foi no passado, quando se podia falar com toda a atualidade de movimento operário, de democracia de massas, do partido do proletariado, de Estados socialistas, etc. Quando as grandes figuras de invocação da esquerda ficaram reduzidas à nulidade, a partir do momento em que se deu o esvaziamento de instituições e ideologias que lhe garantiam o sentido, foi preciso reconstruir o discurso. Tarefa difícil, como temos visto, tanto mais que o triunfo à escala planetária do modelo da sociedade de consumo e de produção determinou o fim da política sem deixar entrever nenhuma nova figura da polis. A esquerda não se tem mostrado à altura da nova matéria política com que foi confrontada.
Voltemos às questões duras e pensemos no que se tem passado por cá. A causa maior da esquerda, em Portugal, tem sido a defesa de uma forte intervenção do Estado, como garantia dos direitos e das liberdades sociais. A defesa de um Estado forte foi, em tempos, uma prerrogativa da direita. Mas, ainda que percebamos o porquê desta inversão, devemos estranhar que a esquerda se tenha confinado, em termos teóricos, a uma política estatal e tenha fetichizado o Estado como substituto das categorias políticas que caducaram. Assim, quanto às políticas económicas e sociais, a única diferença entre esquerda e direita parece reduzir-se a isto: a esquerda defende que o Estado deve garantir a equidade na distribuição da riqueza; a direita defende que só haverá riqueza a distribuir na condição de se limitar o papel e a intervenção do Estado ao mínimo. Mas acordam na ideia de que é preciso produzir cada vez mais riqueza para dar emprego e bem-estar a toda a gente. Ou seja, só se distinguem nos modos de distribuição da riqueza; mas no que diz respeito à sua produção, (e ao correspondente dogma do 'crescimento') estão emcompleta sintonia. A esquerda oblitera assim tanto uma crítica do trabalho como uma crítica do regime de produção da sociedade de consumo, como se, tal como a direita democrático-liberal, considerasse esse regime uma ordem natural. Ora, as questões que hoje se colocam (entre outras razões, por imperativos ecológicos e porque os recursos não são inesgotáveis) estão também do lado da produção. E de uma maneira que não pode limitar-se a ser equacionada nos termos marxistas, opondo os detentores da força-trabalho aos detentores dos meios de produção. E assim a esquerda se foi afastando de uma política de emancipação que corresponda a um projeto eminentemente crítico.
Por outro lado, a política foi-se reduzindo, à governamentalidade.. Atos tão importantes da democracia como as eleições tornam-se uma caricatura quando já só servem uma racionalidade económico-governamental, numa lógica que já não é política, mas meramente gestionária. Muitos dirão que isso se deve ao facto de termos problemas urgentes de gestão económica e financeira que absorvem tudo o resto. Mas esse pensamento só se impôs precisamente porque a democracia ficou reduzida às questões da governação. Se as alternativas foram evacuadas pela hegemonia dominante, se se pensa que tudo é matéria de gestão — no limite, gestão da catástrofe —, então é porque se consumou uma total despolitização. A despolitização é um fenómeno moderno, como mostrou Carl Schmitt, mas alcançou o seu máximo grau quando o poder político se tornou exclusivamente uma prática de governo da economia. A tendência irresistível da máquina governamental, como já todos percebemos, é a de fazer dos cidadãos objetos passivos nas mãos e nos cálculos do Estado. A partir do momento em que a gestão burocrático-governamental domina a política, esta deixa de se basear no conflito, que está no cerne da tradição democrática, enquanto algo que não pode ser mediado e governado. Os apelos ao consenso a que temos assistido em Portugal correspondem a uma neutralização do conflito, que deixa de ter lugar na representação política. Notemos que o 'conflito' entre o PS e o PSD não é verdadeiramente um conflito político (e, portanto, também não ideológico): é um conflito doméstico, familiar — um teatro de sombras que releva da lógica da pessoalização e do carácter. O modelo da governamentalidade diz-nos que tudo tem de ser governado, gerido e normalizado; e transforma a democracia numa gestão racional, isto é, numa economia. Nesta perspetiva, esteja nas mãos da direita ou da esquerda, a máquina governamental segue imparável o seu caminho e faz o seu trabalho (daí a ideia de que a esquerda, uma vez no governo, faz uma política igual à da direita). A ideia do ‘voto útil’ inscreve-se na perspetiva de que a política deve ser anulada em favor do eficaz funcionamento da máquina. A política pressupõe sempre uma exterioridade; a governamentalidade não tem exterior.
Ora, que o modelo liberal seja um mediador de conflitos, por excelência, não admira. Mas que a esquerda tenha caído na lógica do pensamento da governamentalidade é um facto cheio de consequências — é o que a leva a transigir, sempre. Um pouco por todo o lado, é a esquerda que tem preparado os instrumentos de que a direita se serve quando chega ao poder. Transigir em tudo, conciliar tudo com o seu contrário — eis o seu programa.






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terça-feira, junho 07, 2011

Período de reflexão



Nada pode escamotear a dimensão desta derrota para a esquerda portuguesa. Após anos em que teve uma sólida maioria sociológica no país, e após uma crise do capitalismo que lhe deu, temporariamente, uma hegemonia no discurso, com uma esquerda radical que tinha a maior proporção de votos da Europa, deixamos (eu incluo-me neste “nós”) o país nas mãos do FMI, do PSD mais neoliberal de sempre, e do CDS de Paulo Portas com o dobro dos votos do BE e do PCP. Não há ninguém de esquerda que possa olhar para este panorama e ficar satisfeito.
O discurso de “estivemos onde tínhamos de estar” e “estaremos onde tivermos de estar” é absolutamente inadequado para uma ocasião destas. Onde está a reflexão que permite saber onde se situa esse “onde”?
Nós à esquerda temos uma análise impecável desta crise. Impecável até demais. Sabemos onde falhou o sistema financeiro. Sabemos onde falhou o neoliberalismo. Sabemos onde falhou o centro-direita, e o centro-esquerda, e a social-democracia. Sabemos tudo, é fantástico. Só não sabemos responder a esta pergunta: onde falhámos nós?
Sim, porque nós havemos de ter falhado em qualquer coisa. Se não tivéssemos falhado, não teríamos a troika a tomar conta da casa. Se não tivéssemos falhado, não teríamos, dois anos depois de os bancos terem estourado com o sistema financeiro, o discurso hegemónico a estourar com o estado social em favor da mítica austeridade.
A esquerda não será séria se achar que fez tudo bem e que, para o futuro, só há que continuar a fazer o mesmo.
Para a esquerda, o tempo está virado do avesso. O dia das eleições foi ontem. O dia da reflexão só agora começou.
Ver este importante texto de Rui Tavares, completo, AQUI

segunda-feira, janeiro 24, 2011

O tamanho conta?

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Paulo Portas com a sua habitual ratice, apressou-se na noite eleitoral a declarar a derrota do «embrião de aliança entre PS e BE que se manifestou nestas eleições».
À natural satisfação de Portas deve portanto corresponder uma reflexão de esquerda, para acabar com esta deriva irresponsável da esquerda que avança de derrota em derrota.
A candidatura de Alegre surgiu para concretizar a “esquerda grande” de que falava Louçã na Convenção do BE em Fevereiro de 2009.
A “esquerda grande” não é uma ideia muito original, sucede à “maioria de  esquerda” que foi, sem qualquer sucesso, consigna do PCP durante muitos anos.
Pode perguntar-se, como faz certa publicidade, se no ponto a que a esquerda chegou o tamanho realmente conta. Mas o que mais confrange nesta estratégia é a constatação do primarismo com que os dirigentes do BE pensaram que seria possível somar os dez por cento próprios com os trinta e cinco do PS.
Sem qualquer novo projecto para o país com que embalar o produto, acharam que Alegre bastaria como isco. Os resultados estão à vista.
O PS podia ter tido a clarividência de apoiar Cavaco na reeleição, como fez o PSD no segundo mandato de Mário Soares. Mas atemorizado pela chantagem do BE, enfraquecido depois da crise internacional ter mostrado o monstro que se oculta por trás do laborioso cenário, o PS deixou-se arrastar pelos cabelos para esta aventura.
Quando o desastre se tornou evidente optou por uma política de terra queimada, ineficaz e repugnante.
Nesta batalha, que a esquerda irresponsável travou nas piores condições estratégicas, foram usados os estafados estandartes do “estado social”, do “serviço nacional de saúde” e da “defesa da escola pública”. Por isso, ao sofrer uma pesada derrota, de uma penada, descredibilizaram a ideia da unidade de esquerda e gastaram as principais munições com que têm tentado defender-se do avanço do liberalismo económico.  
Estes estandartes, que Alegre enunciou significativamente no seu discurso de derrotado, constituem o principal equívoco em que a esquerda mergulhou nos últimos anos.
Chega a ser confrangedora a inconsciência com que esta gente abandonou qualquer veleidade de transformar o mundo.
É que o SNS não é um projecto de futuro, é antes o sinal de uma sociedade de escassez e de pobreza da qual nos devíamos estar a libertar.
A saúde é essencial? Claro que é. Mas a alimentação não o é menos e o Estado não a fornece de forma universal. Cada cidadão tem que encontrar os meios para satisfazer essa necessidade. Não passa pela cabeça a ninguém acabar com os restaurantes e propor que passemos todos a frequentar a cantina da Misercórdia.
A esquerda refugiou-se nas trincheiras do “estado social” que é um monstro de duas faces. De um lado sorri as benesses para os desvalidos e do outro mostra a carranca da burocracia e do endividamento.
Incapaz de entender o mundo actual e de enunciar respostas de novo tipo para fazer corresponder as relações sociais de produção ao avanço tecnológico, com estes dirigentes e com esta inépcia a esquerda caminhará, de aventura radical em aventura radical, até escancarar as portas a um fascismo do século XXI.
Por isso precisávamos não de uma “esquerda grande” mas de uma esquerda clarividente que, mesmo quando não ganhasse no presente, estivesse a construir um futuro. Com uma nova utopia.
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segunda-feira, setembro 27, 2010

Profecia

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Miguel Sousa Tavares, Expresso 25.09.2010

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quarta-feira, junho 23, 2010

Esquerda e Direita


Este quadro foi roubado do blog "Tempo Político" onde a Marina Costa Lobo publica um interessante artigo sobre a dicotomia esquerda/direita.

A julgar por este quadro as únicas coisas que parecem distinguir a esquerda da direita, hoje, são a "lei e a ordem" (tão cara ao CDS), a legalidade do aborto (bandeira muito forte do PCP e do BE) e a aversão às querelas partidárias (mais forte à direita do que à esquerda).  Não parece grande coisa.
Ao contrário do que muitos pensam, e dizem, a fortíssima presença do Estado no ensino e na saúde não é apanágio, nem ideia identitária, da esquerda. Se perguntassem sobre o envolvimento e interferência do Estado na actividade económica talvez aí tivessem encontrado alguma clivagem.

Estes dados permitem uma leitura a meu ver mais interessante do que a comparação entre a esquerda e a direita. É a comparação das respostas "de esquerda" entre si.
Metade dos inquiridos "de esquerda" consideram que não é essencial esbater as diferenças entre ricos e pobres.
Como eu já suspeitava temos portanto uma esquerda pouco revolucionária, pouco dada à transformação profunda da sociedade. O cidadão que se julga de esquerda, em linha com o discurso dos principais partidos, satisfaz-se com uma vaga ideia social-democrata baseada em serviços públicos para todos e no assistencialismo de base estatal. Temperada com uns toques fracturantes.

Foi a isto que chegámos depois do longo abandono, pelos partidos de esquerda, de qualquer referência a uma sociedade de novo tipo.