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quinta-feira, março 23, 2017

Terrorismo mediático



O Daesh executa os homicídios, as televisões transformam os homicídios em terrorismo pela forma como os tratam.
Os crimes como espectáculo, repisados durante horas, sob todos os ângulos, projectam na opinião pública um dimensão desmesurada que alarma e aterroriza.
Alguém devia acabar com isto. 
Para evitar que os terroristas sintam que vale a pena.

segunda-feira, agosto 22, 2016

Tarde de Verão no cinema



Tarde de Verão no cinema
o filme escolhido foi "Regresso a Ítaca" de Laurent Cantet (o excelente realizador de "O Emprego do Tempo" e "Recursos Humanos").
Um grupo de amigos reencontra-se ao fim de muitos anos num telhado de Havana.
O tema da fuga do país está sempre presente. Assim como as ilusões políticas desfeitas e a sua influência nos destinos pessoais.
Num percurso sinuoso sucedem-se as recriminações, as revelações e as perplexidades.
Pode dizer-se que uma cena parecida podia, relativizada, ter lugar num café de Lisboa entre velhos militantes.
No fim da noite a única coisa que resta é uma amizade dolorosa que não se pode perder.

domingo, outubro 06, 2013

O infantário da política

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É simplesmente vergonhoso que num país como Portugal, mergulhado numa crise gravíssima, os políticos e os comentadores passem a vida em jogos florais que, para o povo, são totalmente irrelevantes.
Durante meses e anos sucedem-se os escândalos semânticos, primeiro com o Relvas, depois, com o fulano dos swaps, em seguida com a Maria Luís e agora está na berlinda o Machete, por causa de uma entrevista.
Grande barulheira de manhã à noite, demite não demite, e depois em qualquer caso passa-se ao alvo seguinte.
Isto, visto de fora, soa a inconsciência ou doideira. Como se alguém que precisasse de subir uma ladeira se entretivesse a atirar cascas de banana.
Visto de dentro, dá uma vontade do caraças às pessoas de se absterem como ainda recentemente fizerem quase 50% dos portugueses.


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segunda-feira, dezembro 24, 2012

O burlão é o nosso espelho



 
Há quem diga que este episódio do burlão que enganou quase toda a gente é um episódio menor e mesmo divertido.
Não concordo.
Ele revela a falta de sentido crítico reinante no nosso espaço público que só ouve o que quer ouvir e que aceita qualquer depoimento como bom, venha de quem vier, desde que se insira na "verdade" em vigor.
Mostra também que a comunicação social, nomeadamente as televisões privadas, nos estão a "informar" com base numa agenda própria.
Se o Baptista da Silva defendesse o prosseguimento da austeridade, mesmo que se apresentasse como coordenador da ONU, nenhuma televisão o teria chamado para entrevistas.


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quarta-feira, dezembro 14, 2011

O teatro e a política

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Há dias eu chamava a atenção para a teatralidade das lágrimas, em plena conferência de imprensa, de uma ministra italiana "forçada" a impor austeridade ao povo.
Agora são os manifestantes que, em vez de pessoas desesperadas e enraivecidas, surgem mais como performers de um teatro social que encanta os media.


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sexta-feira, agosto 05, 2011

Serviço público serve quem?

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A televisão pública beneficiou de uma subida de 2,7 milhões de euros, o equivalente a quase mais 2%, na indemnização compensatória para este ano. O valor de 145,9 milhões de euros já estava previsto no acordo complementar do contrato de concessão de serviço público de televisão para o quadriénio 2008-2011. Ao mesmo tempo, e até ao terceiro trimestre, a RTP tinha recebido 88,15 milhões de euros em dotações de capital. Tudo junto dá 234 milhões de euros de transferências do Estado, o que compara com os 205,5 milhões de euros pagos à RTP o ano passado. Em causa está uma subida de quase 14% nas transferências, ou de 28,5 milhões de euros.
A estes números serão ainda somados os 134,4 milhões de euros de receita da taxa audiovisual paga na factura eléctrica. O acordo entre a RTP e o governo contempla também uma subida de 2,3 milhões de euros na contribuição audiovisual em 2010, face a valores de 2009. 
Na resolução do Conselho de Ministros (presidido por José Sócrates) ontem publicada, o governo justifica os valores pagos à RTP com o cumprimento dos compromissos decorrentes do contrato de concessão assinado entre o Estado e a empresa para o cumprimento do serviço público de televisão, em particular no que respeita ao acordo de reestruturação financeira da RTP assinado em 2003. 

Jornal "I", 15.12..2010


A privatização da RTP vai ficar para melhores dias ou, como avisadamente escreveu o primeiro--ministro no programa do governo, para "tempo oportuno". Se, de facto, o "tempo oportuno" é um eufemismo usado e abusado em Portugal para atirar um problema para as calendas gregas, a recente intervenção do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, em que nomeou expressamente a RTP como alvo a privatizar rapidamente, voltou a criar pânico nos "mercados".
Mas, segundo apurou o i, podem os "mercados" (as outras televisões privadas, as rádios e os jornais) ficar mais descansados: a privatização da RTP não será acelerada de maneira nenhuma e acontecerá, tal como prometeu o primeiro-ministro, "em tempo oportuno" - na melhor das hipóteses nunca; na pior das hipóteses na próxima legislatura, se o PSD voltar a ganhar as eleições.
Num momento de crise gigantesca nos media, abrir a RTP aos privados seria comprar uma guerra de proporções devastadoras. Até aqui, a mais visível face dessa guerra em curso é a oposição do militante número 1 do PSD, Pinto Balsemão, dono do grupo Impresa e feroz opositor da privatização do canal público que ameaça roubar receitas à SIC, neste momento já em perda. 

Jornal "I", 01.08..2011


Ao que parece este autêntico sorvedouro de dinheiros dos contribuintes vai continuar a prestar o tal "serviço público" que ninguém consegue perceber qual seja, se o governo não tiver a coragem de afrontar os interesses instalados nas televisões privadas que querem manter as suas posições no mercado da publicidade. 
Enquanto os cidadãos são forçados a apertar o cinto as televisões gastam rios de dinheiro a produzir conteúdos de baixo nível. Também elas só ganhavam com o emagrecimento, em qualidade e em lucros, se produzissem mais com menos.
Talvez não seja coincidência a mudança de tom por exemplo da SIC que, nas últimas semanas, desembestou furiosamente contra o governo de Passos Coelho. 
Para bom entendedor meia palavra basta.


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quinta-feira, novembro 25, 2010

O Grito do Povo

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O Grito do Povo era a marca de uma organização pró-chinesa que no ocaso do marcelismo estava bem implantada no Norte e era dirigida por Pedro Baptista, a quem a democracia não reservaria grande papel - ao invés do que aconteceu com o seu rival de então, Pacheco Pereira, que liderava um pequeno e insignificante grupúsculo da mesma obediência ideológica.
Após o 25 de Abril, o Grito do Povo integrou a UDP, conglomerado maoista que publicava a Voz do Povo (onde debutaram José Manuel Fernandes, ex-director do Público, e Henrique Monteiro, futuro ex-director do Expresso) e viria a juntar os trapinhos no Bloco de Esquerda com os seus velhos inimigos trotskistas.
Apesar de nunca ter navegado politicamente nas turvas águas do maoismo, sempre achei feliz a marca Grito do Povo, pois o grito é a expressão da dor física que sentimos quando o sofrimento moral se torna insuportável.
DN, 25.11.2010

Continuam a gritar mas nos jornais "de referência".

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terça-feira, outubro 12, 2010

PEC 3,5

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Ontem tivemos um PEC (Pró E Contras) 3,5. Três ex-presidentes e um reitor, este num ingrato papel de trintanário.
Nesta encruzilhada, sem saber o que fazer, voltámos aos oráculos do regime. E eles deram a receita: remendar o centrão, ou seja, mais do mesmo como não podia deixar de ser.
Talvez não sejam as pessoas certas para falar do futuro mas podiam ter explicado por que é que, com o seu beneplácito, chegámos onde estamos. Poder podiam, mas não era  a mesma coisa.
Enquanto assistia ao programa perguntava a mim próprio quantos portugueses se atreveriam a entregar a estes homens, confiadamente, a gestão de uma parte significativa do seu património pessoal.

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terça-feira, março 09, 2010

Os Óscares de Pequim

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A distribuição dos Óscares em Hollywood ofuscou completamente as referências mediáticas à Assembleia Popular Nacional da China, que se iniciou no dia 5 de Março.
Perante quase três mil delegados, Wen Jiabao afirmou que o crescimento do Produto Nacional Bruto em 2010 vai ser de “aproximadamente” oito por cento. Um valor menos ambicioso que o alcançado noutros anos e que surge como meta para um ano que o primeiro-ministro descreveu como “complicado”.
Leu um discurso que delineia os pontos principais dos próximos meses. Gastar menos em projectos megalómanos e investir em novas energias e na protecção ambiental foram alguns dos avisos que ficaram.
Com o plano de facilitar o acesso ao crédito em zonas rurais e favorecer as pequenas e médias empresas, o governo calcula criar mais nove milhões de empregos para fazer face à entrada de jovens no mercado. O desemprego urbano não deve ultrapassar os 4.6 por cento e a inflação vai ficar à volta dos três por cento.
A política de facilidade ao crédito vai focar-se nos que mais necessitam e, aqui, Wen salientou o plano de aumentar o poder de compra de quem vive no meio rural, seja com subsídios, como através do acesso a empréstimos.
A necessidade de alterar o modelo de desenvolvimento, uma ideia que já tinha sido referida, voltou a caracterizar o discurso. Mais consumo interno é uma forma de criar um crescimento económico mais seguro.
A criação de emprego é a “prioridade máxima” e o governo central vai destinar 43 mil milhões de Renminbis para estimular o mercado de emprego. Ao lado dos jovens licenciados, Wen referiu os trabalhadores migrantes e os militares desmobilizados como as classes a não esquecer.
Caracterizado pelas medidas sociais, o discurso à nação referiu também o hukou, o registo de nascença que diferencia cidadãos urbanos de rurais. Mas apesar de, na semana passada, um editorial conjunto em treze jornais ter referido a necessidade de acabar com esta herança maoísta, Wen Jiabao disse apenas que nas aldeias e pequenas e médias cidades, o sistema vai tornar-se menos exigente de forma a facilitar a mobilidade social e geográfica. Mas nas grandes cidades como Pequim, Xangai, Chongqing, entre outras, os milhares de trabalhadores migrantes não vão ter a situação alterada quanto à ilegalidade de residência por falta de um contrato de trabalho.
Maria João Belchior em HojeMacau
Não há dúvida que as medidas mais importantes serão as que modifiquem o sistema de autorização de residência, ou "hukou", pelo qual todos os cidadãos chineses estão ligados legalmente ao seu lugar de nascimento e que abrange cerca de 230 milhões de migrantes internos. Para que tenham acesso aos serviços educacionais ou de saúde nas mesmas condições que os moradores das cidades onde trabalham.
O facto de ainda recentemente 13 jornais chineses terem publicado, no mesmo dia, textos iguais sobre o "hukou" constitui uma iniciativa inédita e mostra a sensibilidade social perante este tema.
A magnitude e relevância destas questões, cujas ondas de choque se sentirão em todo o mundo, não conseguiu no entanto sobrepor-se à luta de "Avatar" e de "Estado de Guerra" na disputa das estatuetas.
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sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Pandora

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Em Setembro, ainda antes de se conhecerem os resultados das Legislativas, avisei (aqui) que o PS estava a abrir uma caixa de Pandora, e que pagaria um preço elevado pela publicação no DN do email clandestino contra Cavaco.
Para conseguir, in extremis, a vitória eleitoral acharam muito bem que se publicasse um email clandestino, que apenas continha a opinião do seu autor contra o Presidente, e que descrevia uma alegada tentativa algo canhestra de um assessor para plantar uma notícia no jornal Público.
Na altura o caso foi pretexto para uma campanha mediática que recorreu a todos os exageros e que arrastou o nome de Cavaco pela lama. Esses que então semearam ventos queixam-se agora das tempestades.
Agora acham mal que se publiquem conversas telefónicas, cuja escuta foi ordenada por um juiz, e que mostram uma autêntica conspiração para subverter, com suporte directo ou indirecto de dinheiros públicos, grupos inteiros de comunicação social.
Agora já invocam o direito ao bom nome, que antes não respeitaram, e o recato da privacidade, que antes subordinaram ao "interesse público".
É uma incoerência completa. É caso para dizer que têm o que merecem.
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quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O regresso do lápis azul





Este é um dia triste em que se assiste ao regresso do lápis azul da censura prévia a Portugal, crismado de providência cautelar.
O poder, cobardemente e por interposta pessoa, reduz a informação a uma face oculta com base em pretextos formais.
Voltaremos agora, como há 40 anos, a circular a informação em folhas fotocopiadas ? ou de forma actualizada sob o anonimato da blogosfera ?
Este é um dia de luto para os ideais de Abril.
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terça-feira, fevereiro 09, 2010

E se "de repente" tivéssemos que o aturar ?

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Aqueles que se propõem manifestar em S. Bento o seu descontentamento com Sócrates deviam, por castigo, ser mandados para a Venezuela distribuir Magalhães.

O Presidente Hugo Chávez, lançou nesta segunda-feira o seu novo programa de rádio, o "De Repente Com Chávez". Como o nome indica, a programação entrará no ar a qualquer hora para informar decisões governamentais, ou até mesmo de madrugada, para o presidente "cantar com um violão" (ainda não é claro qual das duas coisas é mais hedionda e muito menos as consequências da transmissão sem aviso prévio para a saúde mental dos ouvintes ).

Chavez está cansado de proibir (não me consta que tenha tentado comprar) os meios de informação incómodos e resolveu, com esta iniciativa, responder-lhes taco a taco e em cima da hora.

À luz do atrás exposto proponho que se adie a manifestação em S. Bento, prevista para quinta-feira, até ao dia em que Sócrates comece a aparecer, inopinadamente, no cantinho da linguagem gestual, durante os programas do Mário Crespo, a fazer manguitos de contraditório.

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domingo, fevereiro 07, 2010

Julgamentos na praça pública

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Sempre que uma pessoa importante se vê envolvida num escândalo surge logo quem declare enfáticamente que são inadmissíveis os "julgamentos na praça pública" (JPP). Essas declarações solenes não são habitualmente aplicadas aos casos que envolvem cidadãos comuns o que me leva a pensar que esses podem ser julgados em qualquer lugar.

Mais grave do que o elitismo desta teoria dos JPP é o facto de ela assentar num sofisma. Subrepticiamente induz a ideia de que tais julgamentos substituem os julgamentos dos tribunais. Como se alguém julgasse "na praça pública" aquilo que devia ser julgado nos tribunais. Como se alguém julgasse "na praça pública" em vez de julgar nos tribunais.

Tal ideia não tem qualquer fundamento. Os famigerados JPP não impedem nem se substituem aos julgamentos dos tribunais. Coexistem e são complementares mas obedecem a regras diferentes. É quando não se compreende a especificidade destes dois tipos de julgamento, e se pretende importar as regras de um para aplicar no outro, que começam as dificuldades e a confusão.

Os JPP acontecem inexoravelmente, constantemente, com base na informação de que cada um de nós dispõe. Quando eu desço no elevador em companhia do vizinho do quarto esquerdo, ou me esqueço de pagar o condomínio, ou atiro uma beata pela janela estou a ser objecto de um julgamento na "praça pública" do meu prédio. Os políticos, numa outra escala, vivem e sobrevivem dos "julgamentos na praça pública" ocupando uma boa parte da sua agenda a tentar melhorar a sentença que lhes será aplicada nas próximas eleições.

Quer nós queiramos quer não formam-se constantemente na nossa cabeça opiniões sobre coisas, factos e pessoas com base na informação a que vamos tendo acesso. Sobre os políticos também, claro, já que nos são servidos regularmente nos meios de comunicação (a propósito e a despropósito). É por isso que os escândalos com vertente judicial acabam por ser apenas mais um dado que juntamos a tantos outros já coleccionados sobre uma determinada figura pública, numa espécie de conta-corrente ou "julgamento" em curso. Portanto, ao contrário do que pretendem certos notáveis, estes "julgamentos" não os podemos evitar pela simples razão de que são inevitáveis.

Vejamos então em que medida as regras dos "julgamentos na praça pública" (JPP) diferem daquelas que vigoram num tribunal.
Nos tribunais os cidadãos, presume-se, são todos iguais. Nos nossos JPP diferenciamos o vizinho do empregado e o padre do político. Não esperamos o mesmo de todos eles e sabemos que todos eles têm capacidades diferentes de influenciar as nossas "sentenças".
Os tribunais lidam com informação categorizada e padronizada e só admitem os documentos que passam o crivo de apertados critérios. Nós, nos JPP, lidamos com informação não estruturada, avulsa e caótica cujo fluxo não controlamos.
Os tribunais são geridos por profissionais e com base em regras extremamente rígidas e complexas. Nós improvisamos conforme podemos as nossas próprias regras e temos que fazer os JPP enquanto tentamos equilibrar a nossa própria vida.

Resumindo: se é verdade que não podemos deixar de concluir coisas a partir da informação que nos chega também é verdade que não podemos transformar a nossa vida num tribunal nem ouvir o telejornal com um código processual nas mãos.
Mal estariam os habitantes de Chicago se tivessem que esperar por uma decisão judicial antes de mudar de passeio quando se cruzavam com Al Capone. Os tribunais demoraram muitos anos até conseguir condená-lo.

De tudo o que ficou dito resulta que os objectivos e missões dos tribunais são diferentes daqueles que estão ao alcance dos cidadãos comuns e dos seus JPP.
Os tribunais, com os seus métodos rigorosos, pretendem alcançar a certeza da culpa antes de condenar mesmo que isso demore muitos anos; nós, pobres mortais dos JPP, temos que lidar com a incerteza e a probabilidade para poder chegar a conclusões em tempo útil. Também por causa disso os tribunais aplicam sanções pesadas, que em certos países chegam a custar a vida aos condenados, enquanto que nós, juizes caseiros dos JPP, nos limitamos a venerar ou a embirar com os nossos sentenciados.

O problema das figuras públicas é que, como são conhecidas por muita gente, podem ser objecto de muitos julgamentos simultâneos de que resulte, por exemplo, perder uma eleição. Que lhes sirva ao menos de consolação que os milhões de juízes JPP só influenciaram o resultado das eleições na medida em que chegaram todos às mesmas conclusões e às mesmas sentenças.

Se os "julgamentos na praça pública" são constantes e inevitáveis, se os juízes que aí actuam não podem de modo algum ser considerados profissionais e se se regem por códigos caóticos, como evitar então que daí venham maiores males ao mundo ?

A regra básica deverá ser a de proporcionar a todos os interessados os meios de se expressarem, tendencialmente em igualdade de circunstâncias. Sonegar informação é uma forma de condicionar os "julgamentos na praça pública" tão eficaz como distribuir informação. Por isso a sonegação da informação só deverá acontecer quando estiverem em causa consequências muito graves. Só opiniões diferentes, múltiplas, contrastantes, em confronto, permitirão ao povo, que não é tão estúpido como alguns pensam, separar o trigo do joio.
Todas as tentativas para reduzir a pluralidade das opiniões expressas no espaço público (como por exemplo comprar estações de televisão para correr com vozes críticas) devem portanto ser repudiadas.
Aqueles que enchem o peito para invectivar os "julgamentos na praça pública", mesmo quando bem intencionados, não estão a defender nenhum elevado princípio mas apenas a tentar influenciar também a nossa opinião.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

A partir de hoje nas bancas

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Saudamos o surgimento deste novo orgão de comunicação social que, a partir de hoje, vamos começar a encontrar nas bancas. Que tenha longa vida e contribua para enriquecer o pluralismo que caracteriza a nossa democracia.
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quarta-feira, janeiro 13, 2010

Ou não ?

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Está a propagar-se nas televisões uma nova praga, "ou não" ?
Contrariando uma prática comum na língua portuguesa os apresentadores e comentadores começaram a acrescentar a expressão "ou não" em frases do tipo: "todos estão ansiosos para saber se houve vítimas do terramoto".
Normalmente a frase apresentada era suficiente mas agora, não sei bem porquê, os locutores da televisão consideram necessário acrescentar "ou não" como se o oposto de haver vítimas não fosse óbviamente não haver vítimas.
Embora não seja propriamente errado fazê-lo parece uma sobrecarga desnecessária da frase.
Arrisca-se a fazer concorrência a uma outra praga, essa mais grave, que consiste em dizer que o "futebol nada tem a haver com a eventual violência nos estádios", substituindo "a ver" por "a haver".
Esta tem atacado de forma brutal mesmo pessoas cujo estatuto cultural é insuspeito.
E ainda há quem se preocupe com o Acordo Ortográfico.
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sábado, outubro 03, 2009

Manobras no quarto poder

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Henrique Monteiro, Expresso 03.10.2009


Diversos especialistas dedicam várias horas a criticar o poder maléfico dos media e dos jornalistas. O que a actual crise mostrou, porém, foi uma coisa muito simples: os media são um espelho do país — por muito que analistas achem mais fácil partir o espelho do que mudar aquilo que o espelho reflecte.
Vejamos: assessores de Belém colocaram notícias num jornal; outro jornal denunciou uma fonte anónima de um concorrente, omitindo como obtivera acesso a dados internos do rival. Poderíamos discutir estes factos a sério se eles decorressem de alguma investigação criteriosa. Mas eu tenho tempo suficiente de jornais para dizer calmamente, sem medo de ser desmentido: não houve investigação nenhuma!
Há ainda a contar com a flagrante falta de ética em que incorreu o “DN” quando revelou uma fonte de um jornal rival. Aliás, o director desse diário, referindo acto semelhante ocorrido em 2004 — quando foram reveladas, por outra publicação, fontes do seu jornal — considerou que se tratava de “um acto nojento do ponto de vista ético e deontológico”, como lembrou Graça Rosendo no “Sol”. E acrescentava, como se previsse o argumento que agora usa: “o interesse público devidamente agitado, servirá como cortina de fumo ao crime jornalístico”. Concordo inteiramente com o que disse há cinco anos.
Esta conjugação de falta de ética e de cuidado jornalístico com movimentações subterrâneas e intrigas das altas instâncias do Estado provoca uma mistura que abala o regime, a credibilidade dos políticos e dos meios, mesmo a de quem (como o Expresso) se mostrou prudente e afastado da intriga (dissemos que o caso era tonto e chamámos-lhe sillygate, o que o discurso do PR confirmou).
Ao contrário do que dizem os arautos da regulação, como Santos Silva, a imposição de regras exteriores não impede as manipulações. Pelo contrário, o Governo, apesar da fúria reguladora, planta notícias em diversos jornais, apenas se distinguindo da Presidência e de outros actores pelo facto de ser bem mais profissional.
Enganam-se, pois, os que pensam que a Imprensa é um quarto poder. A imprensa é um contrapoder, cuja influência deve limitar abusos, corrupções, compadrios e jogadas políticas.
Porém, o seu inquinamento é exterior. Vem do verdadeiro poder que actua em boa parte da Comunicação Social como se esta fosse o seu ‘quarto de brinquedos’. Um poder que abusa da fragilidade económica dos media para os pressionar e que conta com a docilidade de certos proprietários de meios cujos créditos dependem muito de boas vontades políticas e financeiras.

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quarta-feira, julho 15, 2009

O vírus suíno da comunicação

Jornais e televisões insistem em nos dizer que já há mais de cem infectados com a gripe A em Portugal. Já encontrei várias pessoas que pensam que os primeiros infectados, em Maio salvo erro, ainda estão a padecer da doença.
Consciente ou inconscientemente propaga-se a ideia, errónea, de que neste momento temos cem pessoas doentes com a gripe A.

Porque é que não dizem nunca quantos casos estão por resolver neste momento ? dos cem que foram infectados ao longo dos últimos meses a quase totalidade já se curou e está a fazer a sua vida normal. Porque se oculta isto ?

Este e outros casos de distorção tornam-me muito pouco receptivo à informação de massa, à qual aplico uma desconfiança constante.

Um outro exemplo: os acontecimentos de Urumqi, capital de Xinjiang, na China (o DN situava Xinjiang na Ásia Menor).
Tal como no caso da gripe os jornais adoram mencionar o número de mortos e feridos mas esquecem-se de explicar quem matou quem e porquê.
Foram os da etnia han que mataram os da etnia uigure, ou foi ao contrário ?
Foi a polícia que matou os uigures e os han ou matou só um dos grupos ?
Os uigures foram reprimidos pela polícia por se estarem a manifestar ou por estarem a matar pessoas han ? Os han foram reprimidos pela polícia por estarem a matar uigures ou por se estarem a manifestar ?

Quem esclarece estas dúvidas ? Ninguém parece interessado em que estas dúvidas se esclareçam pois isso permite propagar a versão mais útil em cada momento ou que vende mais.
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quinta-feira, abril 30, 2009

A gripe asinina

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"Edgar Hernandez , de cinco anos, é considerado o primeiro paciente da nova gripe que, agora, assola o mundo e ameaça transformar-se em pandemia. Recuperado, o pequeno Edgar recebe de sorriso aberto os jornalistas que o procuram. " (ver +).
O DN online titula: "Paciente zero" volta a brincar nas ruas de La Gloria.
Sou tentado a dizer que me está a dar a "paciência zero" para o chorrilho de exageros que esta gripe asinina, perdão, suína está a desencadear.
Como vêem o Edgar posa, porreiro, a comer o seu gelado tal como o nosso "suspeito", uma criança de Chaves, que já voltou para casa certamente inconsciente de que, durante alguns dias, foi a grande esperança dos Telejornais.
À míngua de suspeitos, quanto mais de infectados, a nossa comunicação social não se conforma com esta nossa condição periférica e fala, fala, fala, quer do estúdio quer do México.
Felizmente para nós, infelizmente para eles, a gripe suína não alastra nem cá nem lá fora.
A única coisa que alastra é a gripe asinina das televisões e dos jornais.

Até à náusea.

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terça-feira, abril 14, 2009

A gaiola do hamster

A justiça em Portugal parece-lhe confusa? Não faz ideia porque é que todos os processos que envolvem pessoas importantes acabam sempre em regabofe? Diga não à desorientação! Em apenas 20 passos, eis o guia ideal para entender todos os casos que em Portugal começam com a palavra "caso":

1) Os jornais publicam uma notícia sobre qualquer pessoa muito importante que alegadamente fez qualquer coisa muito má.

2) Essa pessoa muito importante considera-se vítima de perseguição por parte de forças ocultas.
3) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso desrespeito do segredo de justiça em Portugal, que possibilita a actuação de forças ocultas.
4) Inicia-se o debate sobre o segredo de justiça em Portugal.
5) Toda a gente tem opiniões firmes sobre o que é preciso mudar na legislação portuguesa para que estas coisas não aconteçam.
6) Toda a gente conclui que não se pode mudar a quente a legislação portuguesa.
7) A legislação portuguesa não chega a ser mudada para que estas coisas não aconteçam.
8) As coisas voltam a acontecer: os jornais publicam notícias sobre essa pessoa muito importante dizendo que ainda fez coisas piores do que as muito más.
9) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso jornalismo que se faz em Portugal, que nada investiga e se deixa manipular por forças ocultas.
10) Inicia-se o debate sobre o jornalismo português.
11) Toda a gente tem opiniões firmes sobre o que é preciso mudar no jornalismo português.
12) Toda a gente conclui que estas mudanças só estão a ser debatidas porque quem alegadamente fez uma coisa muito má é uma pessoa muito importante.
13) Nada muda no jornalismo português.
14) Enquanto o mecanismo se desenrola do ponto 1) ao ponto 13) a justiça continua a investigar.
15) Após um período de investigação suficientemente longo para que já ninguém se lembre do que se estava a investigar a justiça finaliza as investigações e conclui que a pessoa muito importante: a) Não fez nada de muito mau. b) Já prescreveu o que quer que tenha feito de muito mau. c) É possível que tenha feito algo de muito mau mas não se reuniram provas suficientes. d) Afinal o que fez não era assim tão mau.
16) Pessoas importantes que são amigas dessa pessoa muito importante concluem que ela foi vítima de perseguição por parte de forças ocultas.
17) Pessoas importantes que não são amigas dessa pessoa muito importante concluem que em Portugal nada acontece às pessoas muito importantes que fazem coisas alegadamente muito más.
18) As pessoas citadas no ponto 17) iniciam mais um debate sobre a justiça em Portugal.
19) As pessoas citadas no ponto 16) iniciam mais um debate sobre o jornalismo em Portugal.
20) Os jornais publicam uma outra notícia sobre uma outra pessoa muito importante que alegadamente terá feito outra coisa muito má. Repetem-se os passos 1) a 19).

Texto de Miguel João Tavares, "Inteiramente gratuito, eis o guia com que sempre sonhou", no DN de hoje

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segunda-feira, abril 13, 2009

A mentira das imagens (1)

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Expresso Única (11 Abr 2009)

A Única, do Expresso, publicou esta semana um curioso artigo com o título "A Grande Mentira".
Trata-se de verberar os malefícios do uso, cada vez mais corrente, das tecnologias modernas para "retocar e recriar" as imagens. Diz a abrir:
"O olhar contemporâneo perdeu-se entre as armadilhas do Photoshop, uma ferramenta de tratamento digital de imagem cuja utilização desregrada está a reconfigurar a compreensão da realidade. A veracidade da fotografia- incluindo a jornalística- está em causa depois de mais de um século de uma preguiçosa crença na imagem fotografada."
Depois são apresentados vários exemplos de eliminação de rugas e outras imperfeições para embelezamento de mulheres e automóveis bem como casos de trucagem de fotografias noticiosas para aumentar a sua carga emocional.
A autora, Christiana Martins, está aparentemente preocupada com a perda da credibilidade dos meios em consequência da falta de confiança gerada pela manipulação digital das imagens; "Ver para crer ? Não. Ver para duvidar !", diz ela.
Não sei se este escrito resulta da ingenuidade ou se é obra do cinismo.
Trata-se de ingenuidade se a autora acredita que as possibilidades de manipulação começaram agora ou se pensa que para uma imagem ser "pura" lhe basta ser mostrada tal como foi registada (seja lá isso o que for).
Os programas de tratamento de imagens sem dúvida banalizaram (democratizaram?) as manipulações mas, na maior parte dos casos, limitaram-se a reproduzir sob a forma digital operações já exequíveis no mundo analógico.
Independentemente de terem ou não sido modificadas no computador, todas as imagens carregam um sentido que, de uma forma ou de outra, o autor lhes conferiu. Esta realidade inescapável é agravada pelo uso nesses processos de uma linguagem cuja sintaxe e semântica estão longe de ser óbvias.
Fotografar isto e não aquilo, fotografar agora e não depois, fotografar de um plano superior ou inferior, são formas, como tantas outras, de influenciar a leitura posterior das imagens e dos factos que, pretensamente, estiveram na sua origem.
Fotografar um ditador numa parada militar ou afagando uma criança não é a mesma coisa ainda que a imagem resultante esteja "isenta de manipulações".
Qualquer imagem, como qualquer texto, tem um significado que lhe foi conferido pelo autor.
Não me parece razoável acreditar que um jornalista desconheça o que acabo de escrever e pense que as imagens "reflectem a realidade". Por isso estou em crer que o artigo da Única assenta num certo cinismo, admito que bem intencionado, que consiste em considerar preferível, apesar de tudo, que os leitores confiem cegamente nas imagens publicadas, para bem dos jornais e do que eles representam.
Eu discordo. Acho que é preferível os leitores desconfiarem sempre, quer das imagens quer dos textos que lhes apresentam.
Não só porque têm boas razões para o fazer mas também porque um espírito crítico e questionador impedirá o embrutecimento e o desinteresse. O que é importante para o futuro dos próprios jornais.
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