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quinta-feira, dezembro 18, 2008

Um partido sidecar ?

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"Faz-se um partido agora, só para tirar a maioria absoluta ao PS. E depois?"

"A ambição do projecto em curso e que ninguém nega que está já na estrada é de conseguir criar uma força política à esquerda que ocupe o espaço tradicional da social-democracia europeia, mas que parta de bases programáticas que equacionem já a crise do capitalismo financeiro e a nova época do capitalismo que vai nascer desta crise.
Daí o enfoque que este movimento e o próprio Manuel Alegre têm posto na necessidade de debater e de aprofundar propostas e ideias sobre o que fazer e o que propor ao país. Não pode haver um partido ou um movimento que redefina a esquerda em Portugal sem um sólido programa político. E há que encontrá-lo nos escombros não só da falência do comunismo soviético, mas também do liberalismo de Ronald Reagan e de Margaret Teatcher, bem como ainda da social-democracia que se enamorou do primado do mercado e esqueceu as pessoas como centro da sua acção programática.
Por isso, não basta debater os serviços públicos e o papel do Estado e Alegre fala já numa iniciativa sobre Justiça. A frase irónica de Alegre sobre o PRD surge precisamente nesse sentido. Não basta juntar personalidades e fundar um partido. Isso resultaria num fenómeno populista, mas sem futuro, feito para sobreviver algumas eleições, como foi o PRD, até acabar afogado nas urnas.
Outro risco que os dinamizadores deste projecto parecem estar conscientes de que não querem correr é o de Manuel Alegre mais os seus apoiantes romperem com o PS, formarem um partido e virem a funcionar como uma espécie de novos Verdes de uma nova CDU. Isto é, virem a ser a cereja no bolo de uma coligação liderada pelo Bloco de Esquerda. "
São José Almeida, PÚBLICO, 17.12.2008



Sábias palavras mas, por aquilo que conheço das pessoas, e destes processos, não tenho grandes esperanças de assitir à formulação de uma alternativa consequente. A esta hora já anda toda a gente a fazer contas aos votos e à distribuição dos lugares.

Quem me dera estar enganado...

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segunda-feira, dezembro 15, 2008

Um Fórum Pós-Capitalista

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Tenho lido tudo o que encontro sobre o "Fórum das Esquerdas", que teve lugar ontem, para tentar perceber melhor o seu significado. Não que tivesse à partida grandes ilusões; através da blogosfera e não só, sei o que pensa, e como pensa, uma boa parte dos que participaram como oradores no Fórum.

O que me parece interessante não é a discussão sobre as intenções políticas dos promotores mas sim discernir qual a mensagem ideológica involuntária que foi implícitamente projectada pela forma como foi organizado e realizado este Fórum, sem com isso querer de forma alguma contestar a sua realização.
Trata-se apenas de tentar perceber qual a "identidade" desta iniciativa para melhor avaliar os seus prováveis resultados.

O Fórum foi claramente virado contra o Governo, representado como entidade subordinada aos "interesses económicos" e que, se assim não fosse, poderia resolver a generalidade dos problemas dos portugueses.
Os tais "interesses económicos" não foram endereçados directamente preferindo-se "apertar" com o Governo para os meter na ordem. São quase sempre referidos em termos muito abstractos do tipo "neo-liberalismo", "financeirização", etc.
Omitiu-se a questão das receitas do Estado no quadro do regime actual e a forma como estão dependentes da actividade económica das empresas e da taxação dos salários dos seus trabalhadores.

As relações laborais, na "economia real" das empresas, foram em larga medida subestimadas e não me apercebi de qualquer apelo aos trabalhadores explorados para se movimentarem nas empresas. Aliás penso que esses trabalhadores estariam muito pouco representados no elenco dos oradores (e dos assistentes ?) se exceptuarmos a intervenção "institucional" de Carvalho da Silva.
A generalidade das intervenções foi feita por académicos, professores, médicos e outros funcionários e versou sobre os serviços prestados aos cidadãos pelo Estado. Os cidadãos figuraram assim como receptores passivos dos serviços do Estado, como se os seus interesses se encontrassem suficientemente representados e defendidos pelas classes profissionais que os prestam. Não me consta que tenham sido tratadas as relações de produção nem avançadas quaisquer propostas para a sua transformação com excepção do enquadramento profissional de certas categorias de funcionários públicos (a avaliação dos professores parece ter monopolizado o debate sobre a educação).

Em síntese: sem se apresentar qualquer alternativa para a organização social da produção e consequentes fontes de receitas para o Estado insinuou-se que o Governo podia controlar e limitar a actividade dos privados como entendesse e, apesar disso, proporcionar aos seus funcionários muito melhores condições de trabalho e dessa forma, por arrasto, prestar muito melhores serviços à generalidade dos cidadãos.

Como se o capitalismo estivesse entre parêntesis ou se tratasse de um Fórum Pós-Capitalista.
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domingo, dezembro 14, 2008

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Aviso à navegação

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antes que seja tarde...
Público 11.12.2008
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terça-feira, dezembro 09, 2008

Sexta-feira Paralamentar

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5 de Dezembro foi a sexta-feira fatídica do PSD em que, ao contrário do Benfica, não soube tirar partido de um deslize dos seus adversários no Parlamento.
No meio de todo o alarido só José Simões lembrou que as gazetas dos deputados não começaram agora, são um hábito antigo. Depois disso lá veio o DN confirmar a rebaldaria.

A nossa reportagem descobriu que nem as estátuas de S. Bento resistem aos fins de semana prolongados. Mas, para sermos justos, é preciso dizer que o PS e o PSD são os mais faltosos e que há outros partidos que respeitam as suas obrigações perante os eleitores..

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Os professores como barrigas de aluguer

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"Não é da China mas sim da Índia o negócio que todos os anos ascende a um volume da ordem dos 350 milhões de euros. Só em 2008 nasceram 500 crianças segundo o método da "barriga de aluguer". Homens e mulheres, homossexuais, solteiros e casados encontram no segundo país mais populoso do mundo uma maneira rápida - o sémen até pode ser enviado por correio expresso DHL - e relativamente barata de concretizarem o desejo de ter um filho. O processo custa cerca de 20 mil euros, dos quais cinco mil são para a mãe de aluguer." NS, 29.11.2008
Entre nós são os professores que funcionam como barrigas de aluguer.
Todos os partidos da oposição - BE, PCP, PSD e CDS - pedem em uníssono a "suspensão da avaliação" tentando irresponsávelmente cavalgar o egoísmo corporativo dos professores.
Incapazes de deter Sócrates por outros meios não se coíbem de minar a autoridade do Estado Democrático pactuando com a desobediência às leis da República num caso que em nada o justifica.
Pois aqui fica uma promessa: se Sócrates tiver a coragem de enfrentar estas pressões, mantiver Maria de Lurdes Rodrigues e fizer cumprir a lei sem a desvirtuar eu votarei no PS em 2009 pela primeira vez na minha vida.
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quarta-feira, dezembro 03, 2008

Uma esquerda de guichet

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"Incomodado com o fórum sobre serviços públicos e democracia que volta a juntar diversas esquerdas a 14 de Dezembro, o secretário geral do PS acusou a oposição de esquerda de dividir os socialistas em bons e maus, "sendo os maus aqueles que estão em cada momento na direcção do partido". As declarações foram proferidas este sábado na Comissão Nacional do PS.
Para as correntes de esquerda "os maus são sempre aqueles que estão na direcção do PS", declarou Sócrates, citado por um dos presentes na reunião da Comissão Nacional do PS, de acordo com a Agência Lusa.


Segundo o semanário Sol, o Fórum das Esquerdas - que junta Manuel Alegre, Carvalho da Silva, Francisco Louçã, entre muitos outros - está a causar celeuma na direcção do Partido Socialista, dado que "pode criar uma dinâmica de alternativa ao Partido Socialista".

O Fórum sobre democracia e serviços públicos realiza-se a 14 de Dezembro na Cidade Universitária e pretende debater políticas alternativas para a educação, os direitos do trabalho, a saúde e as cidades. " ESQUERDA.NET


Penso que a irritação fingida de Sócrates tem outra explicação. Sendo o referido Forum dedicado aos "Serviços Públicos" Sócrates percebe que se estão apenas a imiscuir na organização e administração interna das repartições, e das verbas atribuídas a cada ministério.
Com isso pode ele bem.

Ora o papel das oposições não é esse mas sim o de criar alternativas de governo, se não mesmo de regime. É verdade que hoje a maioria dos militantes sindicais e políticos são funcionários públicos em vez de operários mas devíamos evitar converter-nos numa esquerda de guichet.

Jerónimo bem clama por uma "definição" e por uma "ruptura" mas, neste particular, não creio que possa reivindicar grandes louros.
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quinta-feira, novembro 27, 2008

A esquerda actual

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Aparentemente sem que haja vontade suficiente e consequente para que apareça um novo partido político à esquerda, várias personalidades com filiação partidária no PS, no PCP e no BE envolvem-se em debates e iniciativas públicas para buscar respostas para a crise social e económica.
Assim, a 14 de Dezembro, um domingo, decorre na Aula Magna, em Lisboa, um debate sobre Democracia e serviços públicos, que junta o deputado do PS Manuel Alegre, o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, a deputada do BE Ana Drago, e a militante socialista e presidente do conselho executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, Maria do Rosário Gama. No dia seguinte, dia 15 de Dezembro, à noite, no Hotel Zurique, também em Lisboa, realiza-se um debate plural sobre o tema Crise, oportunidade de viragem. Para onde queremos ir?, que reúne o ex-Presidente da República e enviado da ONU para luta contra a tuberculose, Jorge Sampaio, o deputado do PS António José Seguro, o ex-secretário-geral do PCP Carlos Carvalhas e o economista Ricardo Pais Mamede.
Já na segunda-feira passada o deputado socialista Paulo Pedroso e o líder do BE, Francisco Louçã, estiveram juntos no lançamento do livro de Celso Cruzeiro, intitulado A Nova Esquerda - Raízes Teóricas e Horizonte Político.
O debate de dia 14 de Dezembro vem na sequência da iniciativa que juntou, em Junho, no Teatro da Trindade, em Lisboa, Manuel Alegre e o líder do BE, Francisco Louçã. Agora os proponentes do debate garantem que mantêm a vontade de "quebrar tabus" e querem debater com todos os que entendem que "a defesa de serviços públicos modernos e de qualidade é um valor essencial da responsabilidade da República".
Esta sessão decorre durante todo o dia e estará organizada em vários painéis. De manhã os temas são Economia e Educação. O primeiro é moderado por José Castro Caldas e tem como oradores João Rodrigues, André Freire, Alexandre Azevedo Pinto e Jorge Bateria. Já sobre Educação Paulo Sucena modera as intervenções de Cecília Honório, Nuno David, José Reis e Jorge Martins. À tarde, o painel sobre Cidades é moderado por Helena Roseta e tem a participação de Manuel Correia Fernandes, Pedro Soares, Pedro Bingre e Fernando Nunes da Silva. O debate sobre Trabalho tem moderação de Manuel Carvalho da Silva e conta com Jorge Leite, Elísio Estanque e Mariana Aiveca. Por fim, o painel sobre Saúde é moderado por António Nunes Diogo e tem a participação de Cipriano Justo, João Semedo, Mário Jorge e Manuel Correia da Cunha.
PÚBLICO, 27.11.2008
Perseguindo uma miragem ?
A referência ao lançamento do livro de Celso Cruzeiro, em que estive presente, parece-me descabida (ver no "brumas").
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sábado, novembro 22, 2008

A oligarquia das corporações

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Esta imagem, publicada em 1911 pelo Industrial Worker mostra como, naquela época, era vista a pirâmide social. Talvez esteja na altura de a reformular por forma a integrar o fenómeno actual das corporações.
As corporações são grupos sociais que se caracterizam pela uniformidade de interesses profissionais ou económicos e pela influência determinante em serviços ou actividades sensíveis ou críticas. Encontram-se nesta categoria os farmacêuticos, os médicos, os militares, os professores, os magistrados e os camionistas por exemplo.
A influência das corporações não tem necessáriamente a ver com poder económico. As classes burguesas tradicionais continuam sem dúvida a exercer na sociedade o poder da sua riqueza. A limitação e controle desse poder, sem dúvida insuficientes, não são objecto deste texto mas esse facto não deve ser invocado para desculpar as corporações.
As corporações conseguem para os seus membros uma influência nos centros de decisão, e as consequentes vantagens profissionais e económicas, que não estão ao alcance da generalidade dos cidadãos. E conseguem-no através da ameaça, mesmo que velada, de fazer perigar os serviços ou actividades cuja realização delas depende.
Nos últimos anos a sociedade portuguesa assistiu a um sem número de querelas, manifestações, greves e boicotes desencadeados pelas corporações contra as decisões do Governo e do Estado ao mesmo tempo que desapareciam as notícias sobre as lutas dos trabalhadores contra os seus patrões privados, estas sim as formas por excelência da luta de classes. Sem correr o risco do despedimento, aproveitando a proximidade dos centros de decisão, tirando partido da sucessão dos governos, as corporações vêm acumulando privilégios enquanto que o grosso da população empobrece e se afasta da democracia.
No espaço público as corporações têm tratamento de luxo. De tal forma que por vezes criam a ilusão de que não há povo para além delas. A educação é discutida pelos professores e a saúde pelos médicos, por exemplo, como se esses serviços não interessassem ao conjunto da população e como se a opinião dos outros portugueses fosse dispensável ou mesmo indesejável.
Estamos assim perante um sistema duplamente viciado. Não só os serviços são enviesados por forma a responder, em primeiro lugar, aos interesses das corporações que os prestam como se obriga o conjunto dos cidadão a pagar, com os seus impostos, toda a sorte de ineficiências, regalias e condições excepcionais.
O caso recente da avaliação dos professores como antes o da saúde, que acabou na demissão de Correia de Campos, excedem em muito a sua importância imediata. Revelam uma contradição do sistema democrático que urge esclarecer sob pena da sua destruição. A "corporação dos deputados", a única que o conjunto dos portugueses, bem ou mal, realmente escolhe, está cada vez mais impotente para resistir à chantagem das corporações "não eleitas" e, como se tem visto, usa frequentemente tais chantagens como arma de arremesso na luta partidária.
A discordância e oposição às decisões de orgãos de soberania são legítimas mas não se podem eternizar. Têm que obedecer a regras muito claras que não tolerem a desobediência a partir do momento em que as leis tornem as decisões políticas definitivas. Tais leis terão então que ser incondicionalmente acatadas sob pena de esboroamento da autoridade democrática do Estado.
Façam-se as alterações legislativas que for necessário e tenha-se a coragem de responder sem hesitar, seja qual for o preço eleitoral a pagar, a qualquer desafio das corporações à autoridade do Estado democrático.
Se tal não acontecer caminharemos para a ingovernabilidade, a oficialização de castas e a oligarquia das corporações.
Depois o caos e uma nova ditadura.
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sexta-feira, novembro 21, 2008

Suspensão da democracia ou democracia da suspensão ?

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A Dra. Manuela escorregou numa frase e "caíu o Carmo e a Trindade". Há vários dias que só se ouve falar na "suspensão da democracia".
Todos os partidos da oposição, do bolorento CDS ao fracturante BE, reclamam a suspensão da avaliação dos professores. É a "democracia da suspensão" em que se propõe a um governo democrático, legítimo, que submeta o Estado a uma classe profissional.
Qual das duas suspensões será mais grave ?
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terça-feira, outubro 28, 2008

Mas o que é isto ? Uma nova Sabrina ?...

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A ilha Sabrina foi uma pequena ilha formada em Junho e Julho de 1811 por uma erupção vulcânica submarina que ocorreu ao largo da Ponta da Ferraria, na ilha de São Miguel, Açores. A ilha foi primeiro abordada pelo capitão James Tillard, comandante do navio de guerra britânico HMS Sabrina, que lá hasteou a bandeira britânica e a reclamou como território de Sua Majestade Britânica. A ilha desapareceu no decurso daquele ano.

Ainda ninguém percebeu o que quer o PS com esta ridícula questão do "Estatuto Político-Administrativo dos Açores". Dá azo à invocação de uma questão de princípio, perfeitamente legítima, em troca de quê ?

Tem todo o ar de ser mais uma irresponsabilidade política baseada em calculismos eleitorais. Aos cidadãos que têm mais que fazer e outras preocupações aparece como uma parvoíce para que vai faltando a paciência.

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Os apelos sucedem-se


O DN de hoje contém,não um mas sim dois, apelos ao renascimeto da esquerda.
Mário Soares em artigo intitulado "A crise global vista de Paris" avança: "Repensar a esquerda. Eis a que nos conduz o espírito do tempo, se queremos vencer a crise e substituir o sistema. Não se trata, como sugeriu o Presidente Sarkozy, de "destruir o capitalismo financeiro e especulativo e punir os responsáveis" para "refundar outro capitalismo", ou seja: a mudança necessária para que tudo fique na mesma. Trata-se de algo mais simples e concreto: manter a economia de mercado, introduzindo-lhe regras éticas e jurídicas estritas capazes de assegurar a justiça social, numa nova ordem político-económica mundial que tenha como objectivos: erradicar a pobreza, no plano internacional, reduzir drasticamente as desigualdades, encerrar os paraísos fiscais, centros principais de especulação, punindo os traficantes e os especuladores financeiros e voltando aos valores éticos."

Manuel Alegre, pelo seu lado, interroga-se: "Sabe-se que nada ficará como dantes. Mas em que sentido se fará amudança? Era aí que a esquerda deveria ter um papel. Mas onde está ela? Talvez algo de novo possa surgir de uma vitória de Obama. Pelo menos um sopro de renovação. Mas há um grande défice de esquerda na Europa. Uma nova esquerda só poderá nascer de várias rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas. Ruptura com as práticas gestionárias e cúmplices do pensamento único. Ruptura com a cultura do poder pelo podere com o seu contrário, a cultura da margem pela margem, da con-tra-sociedade e do contrapoder. Processo difícil, complicado, mas sem o qual não será possível construir novas convergências. Não para a mirífica repetição da revolução russa de 1917, nem para um modelo utópico global. Tão-pouco para segundas ou terceiras vias. Mas para uma via nova, que restitua à esquerda a sua função de força transformadora da sociedade e criadora de soluções políticas alternativas."

Pela milésima vez assistimos a este apelo que, no caso vertente e para complicar ainda mais as coisas, é feito em estereofonia deixando o cidadão sem saber a qual dos dois atender.
Bendita esquerda que tem ansiãos tão "prá frente" capazes de ressuscitar estes jovens "café com leite" que só se excitam com as coisas fracturantes. Em termos de longevidade política não ficam atrás de Santana Lopes.

Como diz João Miguel Tavares no mesmo jornal: "Em Portugal ainda estamos mais ou menos assim: há coisas com que não se brinca. E é uma pena que assim seja, porque uma sociedade que não se sabe rir de si própria é uma sociedade deprimida, infeliz e pouco inteligente. O riso é uma das características únicas da espécie humana e aquilo que nos separa dos outros primatas. Gente demasiado séria está mais próxima dos macacos do que aqueles que fazem macaquices."

Realmente neste país há certas coisas que já só podem ser levadas para a brincadeira...

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domingo, outubro 05, 2008

VPV e o "Chefe"

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(clicar na imagem para ampliar)

A lucidez amarga e impiedosa de VPV é capaz de andar perto de acertar. Manuela Ferreira Leite faz discursos inconcebíveis, utilizando um português quase indigente para transmitir ideias que são meros lugares comuns.

A "esquerda da esquerda" agita-se, sem conseguir decidir o que é melhor. Se influenciar o poder por dentro ou adoptar um frentismo à esquerda do PS. O problema é que uma caldeirada de descontentamentos não chega para convencer os eleitores de que há outro caminho que vale a pena, especialmente agora que o receio do futuro alastra.

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terça-feira, setembro 09, 2008

O perverso abraço da Anaconda

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A anaconda é muito fugidia em relação aos humanos, evitando-os a todo o custo. Faz emboscadas em silêncio. Quando a sede aperta e os outros animais vão beber água, a anaconda ataca.

Os machos são de pequena dimensão, cerca de 4 metros quando adultos, já as fêmeas podem atingir os 9 metros.

A anaconda não é uma serpente venenosa, mata por constrição. Depois de apanhar a presa pela zona do pescoço, a anaconda envolve-se em torno do seu corpo e começa a apertar. Sempre que a vítima expira, a anaconda aperta mais, até que a presa deixa em definitivo de respirar e morre.

Manuela Ferreira Leite vai tentar arrastar Sócrates para os temas económicos e, nesse terreno, aplicar-lhe o terrível amplexo. Por mais que tentem mudar de assunto ela não vai largar a presa. No seu discurso de há dias, depois de um pantanoso silêncio, Manuela já mostrou por onde vai atacar: "o país está assustadoramente endividado e os projectos anunciados pelo governo para relançar a economia não passam de encenações (vidé por ex. a fábrica de aviões em Évora)."

Minimizando a principal coroa de glória de Sócrates para 2009, a redução do défice orçamental que desculpa todos os descontentamentos, Manuela ficará em condições de apertar, apertar, apertar até a vítima deixar de respirar.

Sócrates que se cuide evitando as corridas pela zona ribeirinha e os almoços nas docas...


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sexta-feira, setembro 05, 2008

Georgia W. Bush

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O meu amigo António Vilarigues do Castendo, no Público de hoje, entrou pela ficção para melhor explicar a armadilha da Geórgia:

"Em reunião realizada no passado dia 3 de Setembro, na cidade de Montreal, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, manifestou o seu apoio a um Quebeque livre. O primeiro-ministro desta província independentista do Canadá, o liberal Jean Charest, agradeceu as palavras do seu homólogo da Rússia. Ambos recordaram, perante centenas de jornalistas de todo o mundo, a célebre frase pronunciada nessa mesma cidade a 24 de Julho de 1967 pelo então Presidente da República da França, Charles de Gaulle: "Vive le Québec libre!".No decorrer das negociações entre as duas delegações ficou acordado que a Rússia instalaria no Quebeque um sistema antimísseis de longo alcance. O objectivo é proteger os aliados da Rússia na América do Norte e na América Latina contra os mísseis de longo alcance quer do Irão, quer da República Democrática Popular da Coreia (Norte)".
Público, 05.09.2008 (ver o texto completo aqui)
Já no dia 1 de Setembro, no mesmo jornal, o insuspeito Eduardo Lourenço, num artigo luminoso denominado "Europa paralisada e mutilada" explicava:
"O Ocidente europeu temeu a Rússia durante sete décadas, mas nem por isso a longa e capital história comum deixou de nos importar. Os relentos de cruzadismo que, em tempos, essa ameaça suscitou não têm agora nem a mesma urgência nem o mesmo sentido. É vital para nós que a nova Rússia seja o mais democrática possível, mas não esqueçamos que o nosso ideal democrático ainda tem muito de ideal kantiano - como o de todas as democracias do mundo. Porque nos mobilizamos (em teoria...) tão facilmente contra a nova Rússia, como se fosse uma anti-Europa ou anti-Ocidente, quando há muito a cercámos de Estados ainda menos democráticos que ela e que nunca foram europeus? Não apenas por prudência um caso tão complexo como o do Cáucaso, em que, no mínimo, as culpas são partilhadas, escolher um dos litigantes num conflito em que um terceiro é o actor principal é uma aberração. Só por um passado de má reputação, como numa famosa canção de George Brassens? Certos países europeus supõem ter o monopólio perpétuo das indignações virtuosas. Nos seus melhores momentos o tiveram ou nós supusemos que o tinham. Mas já não é o caso. No novo contexto planetário a exemplaridade é muito relativa. Bem sabemos o que os custou essa pretensão de sermos, como europeus, "a luz do mundo". Chegou o tempo da modésti, o que não é incompatível com a dignidade. Uma certa imprensa europeia, belicista a título póstumo, lamenta que a Europa não enfrente com determinação a crise actual, chamando à pedra o suposto responsável por ela. Evoca-se o espectro de Munique, a eterna cobardia das democracias. Gostariam que se repetisse o cenário da Jugoslávia ou do Kosovo, fonte próxima desta crise. Em suma, que se pusesse a Rússia na ordem. Só os Estados Unidos conhecem o preço dessa hipotética lição ao seu antigo adversário, e no papel a deixam. Não sejamos mais papistas que o Papa. Os Estados Unidos podem brincar com o fogo e disso não se têm coibido. Não vale a pena ajudá-los numa missa que podem celebrar sozinhos. E não sem risco.»"
Público, 01.09.2008 (ver o texto completo aqui)
Ou eu me engano ou algo de equivalente se passa nas relações da Europa com a China, num outro plano e com a devida translacção, através da subordinação da sua política externa e da estratégia económica aos Estados Unidos.
A propósito, onde estão os "tibetanos" que existiam no Alasca quando os Estados Unidos compraram o território ?
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quinta-feira, agosto 14, 2008

Monopólio

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“Não estamos em 1968, quando a Rússia invadiu a Checoslováquia e sentia que podia ameaçar os seus vizinhos, ocupar uma capital, derrubar um Governo e não sofrer consequências. As coisas mudaram.” Condoleezza Rice, secretária de Estado dos EUA, 13 de Agosto de 2008
Agora ela tem o monopólio.
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segunda-feira, agosto 04, 2008

A Herança

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"BE não descarta apoio a Roseta em Lisboa", titulava o Expresso desta semana. "Essa estratégia é defendida no programa com que Luis Fazenda venceu a concelhia de Lisboa...". A estratégia referida é a do Bloco de Esquerda nas próximas eleições para a Câmara de Lisboa.


Não, não me vou referir ao percurso estranhíssimo de Roseta na política portuguesa nem vou relacionar esta "estratégia" do BE com as desavenças recentes envolvendo o vereador Sá Fernandes.


Esta notícia vem confirmar o meu pressentimento aquando da famosa sessão/festa/comício no Teatro da Trindade. O Bloco está a tentar constituir-se como herdeiro dos votos caídos do PS nas próximas legislativas, apoiando Alegre nas próximas presidenciais e Roseta nas próximas autárquicas de Lisboa. Para completar o quadro o BE também conseguiu que a JS adoptasse algumas das suas "propostas fracturantes" como o casamento entre homossexuais.


Ora a herança não se deve dispersar pelo que é preciso evitar que o PCP se habilite também. O seu isolamento e condenação pública têm sido obtidos através do empolamento da campanha contra as FARC e da condenação dos incidentes no Tibete.


Parece tudo muito bem esquematizado. Manuela Ferreira Leite, com a sua "emergência social", não parece estar à altura deste desafio.


Agora só falta percebermos como vai ser gasta a herança...


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domingo, julho 27, 2008

O silêncio é de oiro ?

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Muito se tem escrito, e dito, sobre o silêncio de Manuela Ferreira Leite. Quase todos dizem que esta omissão de MFL lhe pode ser eleitoralmente fatal.

Ontem Vasco Pulido Valente, no Público, argumentava ao arrepio desta tese que o governo monopoliza os holofotes desde que deixou de partilhar o palco com Menezes e os seus "sound bytes". O que está longe de ser confortável.
Como que a confirmar VPV o governo faz esforços inauditos para arrancar uma "opiniãozinha" ao PSD, correndo o risco de parecer necessitado de inspiração ou conselho.
Uma coisa parece clara, MFL conseguiu garantir a atenção de todos para quando tiver algo a dizer, um resultado que normalmente só se obtém depois de muitas opiniões rigorosas e úteis.
Se ainda vigoram os ditos populares como "quem muito fala pouco acerta" e "os bons produtos não precisam de publicidade" então talvez se confirme que "o silêncio é de oiro". Espero que não.

terça-feira, julho 15, 2008

OOPS !!!

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A nova revista on-line OPS!, que sinceramente saúdo, foi ontem lançada.
OPS pode valer por "Outro Partido Socialista" ou "Oferta Pública de Sonhos", o futuro o dirá.

"A razão de ser da esquerda e do socialismo democrático foi sempre a de não se conformar e de procurar soluções alternativas."

Confesso que sou muito céptico quando surge uma iniciativa a dizer que é preciso ter novas ideias. Penso sempre que talvez se devesse ter pensado mais um pouco antes de a iniciativa nascer por forma a que surgisse já com algumas ideias novas.

A história das ideias mostra que ideias verdadeiramente inovadoras raramente foram bem recebidas. Costumam ser embrulhadas em silêncio para eventualmente ressuscitar um pouco mais tarde. Espero que não seja este o caso e que a OPS! não se feche no seu próprio umbigo.

Visitei o site da OPS! e resolvi fazer uma análise da ocorrência de certos termos no seu conteúdo. Aqui vão, sem comentários, os resultados por ordem decrescente do número de páginas em que o termo é mencionado: esquerda (30), debate (28), novo (27), governo (10), direitos (9), trabalhadores (8), estado (8), soluções (7), defesa (7), classe (6), futuro (6), tecnológico/a (6), protecção (5), socialismo (4), alternativa (2), revolução (1).

Quando se olha para a lista de Editores e Colaboradores da OPS! constata-se a larga maioria de académicos e funcionários do estado. Nesse aspecto está em linha com o que tem sido o "universo político" num país onde até o dirigente máximo da maior central sindical sentiu necessidade de se "legitimar"na universidade.

Este predomínio dos professores e outros funcionários no debate público, com notória ausência dos trabalhadores das empresas privadas bem como dos gestores e empresários, pode reforçar a sensação difusa, sem dúvida presente na sociedade portuguesa, de que existe um fosso entre o mundo da produção e do trabalho, por um lado, e o mundo das ideologias e da política, por outro. Aqui entronca a velha discussão sobre quem realmente conhece o "país real".

Depeço-me cordialmente com desejos de sucesso.

terça-feira, julho 08, 2008

APONTAR NA AGENDA: NÃO DIZER PRO-CRI-A-ÇÃO

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Cara Manuela Ferreira Leite, apesar da sua idade e da sua experiência, deixe-me dar-lhe um conselho: nunca - mas nunca - utilize a palavra "procriação". Ninguém, a não ser padres e freiras, pode usar a palavra "procriação" e sair de mansinho de uma conversa, como se não fosse nada. Procriação cheira a incenso. Procriação cheira a naftalina. A rebuçados do dr. Bayard. A Farinha 33. Aos tempos em que só havia a A1 e a A2. Para sua informação, cara Manuela, Portugal já vai na A44. Portanto, ponha um post-it no porta-moedas: "procriação, não." Se de repente estiver no meio de uma entrevista à TVI e começar a pensar "ah, e tal, a procriação" - shut, ponha logo a mão na boca. Procriação, não.
...
É que para um rapaz como eu, que está mais para a direita do que para a esquerda nas políticas mas que é liberal nos costumes, a Manuela Ferreira Leite está a defender o reforço de um estado social e da subsidiodependência, que é coisa de PCP, para depois se mostrar altamente conservadora em matérias individuais, que é coisa de CDS-PP. E assim, de repente, olho para si e vejo-me no pior de dois mundos. Estamos trocados, eu e você. Por um lado, quando se mostra muito preocupada com o estado do país, parece que se lhe poderia aplicar, com o devido twist, a blague de Nani Moretti: "Uma coisa de direita, por favor, diz uma coisa de direita." Por outro, quando fala de família e homossexuais, levo com um uppercut do punho destro que me deixa estendido no tapete.

Para ler o resto deste engraçadíssimo texto de João Miguel Tavares no DN de hoje clique AQUI