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sábado, setembro 30, 2023

CADERNO REIVINDICATIVO Dos Trabalhadores do Facebook (que somos todos nós)


CADERNO REIVINDICATIVO
Dos Trabalhadores do Facebook
(que somos todos nós)
Antes de mais queremos deixar claro que, até ao momento, aqueles que se apresentam como "trabalhadores do facebook" são apenas os colegas dos Serviços de Manutenção e do Departamento Comercial.
Uma coisa é cuidar das infraestruturas e vender o produto, outra bem diferente é produzir uma mercadoria vendável.
Ora a mercadoria do Facebook são as audiências, poder garantir aos anunciantes que terão destinatários da publicidade.Somos nós, ao passar horas no Facebook, quem produz as audiências, essa mercadoria que tão bem se vende.
Mas a questão é mais vasta. Nós publicamos textos, fotografias e videos. Os nossos conteúdos, atraiem novos utilizadores da plataforma e engordam, dessa forma, as audiências que o Facebook vende por bom preço.
Reivindicamos portanto uma parte dos lucros do Facebook a calcular da seguinte forma:
1. Um euro por hora de interacção com o Facebook
2. Cinco cêntimos por cada acesso aos nossos conteúdos
3. Dez cêntimos por cada "like" nos nossos conteúdos
4. Vinte cêntimos por cada "coraçãozinho" nos nossos conteúdos
5. Trinta cêntimos por cada comentário ou "share" dos nossos "posts".
Damos um prazo de três dias para uma resposta.
Se tal não acontecer informamos que nos desligaremos e deixaremos de fazer publicações.

domingo, setembro 04, 2022

O Facebook é a antítese do Marx.


 O Facebook é a antítese do Marx.

É uma "fábrica" que trabalha com matéria prima gratuita (que nós damos) e cujos trabalhadores se limitam a criar e manter a infraestrutura. Vendem publicidade mas no seu produto não há incorporação de trabalho vivo.
As televisões também vendem publicidade mas, para isso, todos os dias têm que produzir programas (a maior parte dos quais são realmente deploráveis, mas envolvem trabalho).
O Facebook pode aumentar as vendas para o dobro sem ter que contratar mais trabalhadores. Ou seja, não vive da exploração dos próprios trabalhadores mas sim dos otários que publicam fotografias e textos. Como no caso deste post, que deve ter feito Marx revolver-se no túmulo.

quarta-feira, março 14, 2018

135 anos sobre a morte de Karl Marx



Cumprem-se hoje, 14 de Março, 135 anos sobre a morte de Karl Marx.
Quase todas as comemorações giram à volta de saber se ele "está de volta" ou se isso é apenas um boato lançado pelos seus fanáticos.
Quanto a mim o que seria interessante era comparar o mundo em que viveu Marx e o mundo em que nós vivemos. É que ele viveu num mundo que já só existe de forma residual.
No tempo de Marx, numa fase muito jovem da industrialização e do próprio capitalismo, verificava-se por exemplo que:
- Os produtos industriais, bastante simples, eram quase sempre totalmente produzidos, da matéria prima até ao produto final, nas mesmas instalações industriais. Hoje é comum a produção decorrer em múltiplas fábricas e em vários países.
- Quase todo o trabalho era repetitivo e, portanto, o volume produzido era proporcional ao tempo trabalhado. Quase todo o "trabalho vivo" acontecia durante a produção.
- Não existia, ou era incipiente, quer a concepção e o desenho prévio à produção, quer o marketing pós-produção.
- Cada unidade dos produtos consumia obrigatóriamente trabalho vivo. Hoje temos produtos em que unidades adicionais podem ser produzidas sem qualquer intervenção humana.
- Havia, de tempos a tempos, crises de sobreprodução. Hoje há sempre produção em excesso. O sucesso no mercado e as manobras para o alcançar são a preocupação essencial dos empresários. Eles estão preocupados com o lucro e não com a mais-valia.
Esta é uma lista não exaustiva das questões que os admiradores de Marx, como eu, deviam ter em consideração para melhor o homenagear.

sexta-feira, novembro 04, 2016

O Estado a que isto chegou


O Estado a que isto chegou
A esquerda tem no seu ADN o sonho de criar um tipo de sociedade radicalmente novo. Quando eu cheguei à política, há mais de 50 anos, a utopia estava ainda bem viva.
Se considerarmos as brutais transformações tecnológicas das últimas décadas tal ideia em vez de utópica pode até ser vista como necessária.
No entanto a ressaca do desmoronamento da URSS produziu uma evolução noutro sentido.
Os partidos anteriormente revolucionários foram-se submetendo à lógica social-democrata e aos encantos do "estado social".
Hoje já ninguém fala de uma nova sociedade.
Isso foi substituído pela invasão dos centros do poder político em troca da manutenção da sociedade capitalista tal como ela é.
Imbuídos de um espírito pretensamente vanguardista os partidos de esquerda tratam de gerir o sistema tomando medidas para que ele, apesar de anacrónico, não seja demasiado insuportável.
De caminho engordam as estruturas do Estado, quantas vezes com amigos e colegas do partido, sugando a sociedade com impostos.
Gera-se então uma contradição fatal; a economia nem é verdadeiramente capitalista nem é outra coisa qualquer.
Por essas e por outras a economia estagna e ninguém sabe muito bem como pô-la a crescer.
O Estado mete o bedelho em tudo e atabafa com os seus milhares de regulamentos grande parte das iniciativas e empreendimentos.
Meio dúzia de génios, inventados nas juventudes partidárias, sentam-se nas cadeiras do poder como se pudessem e soubessem manipular as alavancas de uma economia cada vez mais complexa.
É no Estado que se cruzam os grandes negócios e, com a desculpa da retórica republicana, põe-se os cidadãos a pagar rendas às corporações, falências dos bancos, e todo o tipo de fraudes que diáriamente aparecem nos jornais (hoje é na Força Aérea mas também no SNS às dezenas, na Segurança Social, etc).
Vende-se aos cidadãos a ilusão de que o Estado, e o que é do Estado (por ex. a CGD) garante por natureza a prossecução do interesse público. Apesar de a realidade andar há décadas a mostrar o contrário.

terça-feira, outubro 27, 2015

O peixe miúdo na caldeirada do Costa



O peixe miúdo na caldeirada do Costa 
Muito se tem dito e escrito sobre as motivações do PS para, sem mais nem menos, resolver fazer esta caldeirada.
A mim interessa-me mais tratar da decisão do PCP e do BE de abandonar o seu posicionamento estratégico de partidos anti-sistema para se converterem em muletas de um dos pilares do "arco da governação".
O que ganham em abdicar de uma vantagem estratégica, que atrai todos os que almejam uma sociedade radicalmente diferente, para se tornarem acólitos na já gasta "alternância democrática"? Umas migalhas para os funcionários públicos e para os pensionistas.
Partidos como o PCP e o BE não existem para minorar as injustiças do sistema actual, existem para conceber e construir um sistema alternativo.
A sua incapacidade para realizar essa tarefa empurra-os para um radicalismo e imediatismo quase ridículo julgando, como D. Quixote, que derrubando os moinhos do governo de Passos Coelho estão a derrubar o sistema.
Quem já tenha lidado com o militante médio do PS, por exemplo nas empresas e sindicatos, sabe perfeitamente que a última coisa que lhe passa pela cabeça é pôr em causa o sistema. Mas é precisamente com o PS, o partido por excelência do regime e das suas negociatas, que o PCP e o BE se propõem fazer a sua "ruptura".
Já tinham demonstrado ser incompetentes como revolucionários mas podiam evitar esta imagem de quem se encanta com um prato de lentilhas.

quinta-feira, setembro 24, 2015

UTOPIA E PRAGMATISMO


UTOPIA E PRAGMATISMO

1. A tensão entre a utopia e o pragmatismo é incontornável por uma simples razão; aqueles que professam utopias estão irremediávelmente condenados a viver o seu prosaico dia a dia.
Os “utópicos de esquerda”, por exemplo, têm que ganhar o pão nosso de todos os dias num sistema económico que gostariam de ver destruído e que, em certos casos, se esforçam mesmo por destruir.
A tensão referida complica-se por outra razão; enquanto que a realidade vivida é patente, mesmo quando erradamente descodificada, a utopia as mais das vezes tem contornos confusos e esbatidos.
A utopia “de esquerda”, passado que foi o período excepcional em que URSS servia de nítido cartaz, aparece em dois sabores distintos; o socialismo democrático, que pode resumir-se à ideia da “partilha solidária de uma parte dos bens privados”, e o comunismo, que acrescenta à fórmula anterior a “recusa da exploração do trabalho alheio”.
Qualquer destas consignas permite uma imensa cópia de interpretações e, como se tem visto, de facções, grupelhos e partidos.
Apesar disso escasseiam as teses sobre formas alternativas de organização social que permitiriam atingir tais fins.


2. Em vez de propor novas formas de organizar a produção, e a distribuição dos “excedentes”, quase todos os “utópicos de esquerda” se concentram nas questões da tomada do poder. Uns, pela “via democrática”, outros, muito poucos actualmente, pela insurreição.
Esta deriva, e obsessão, parece aliás constituir uma compensação para a incapacidade de inventar uma economia alternativa.
Por causa disso sucedem-se as desilusões com políticos pretensamente de esquerda quando eles se sentam nas cadeiras do poder. E a cada uma dessas desilusões corresponde uma nova fase de governos de direita. Até que, unidos na oposição, os “utópicos de esquerda” regressem de novo ao poder para imediatamente se dispersarem.
É quase inverosímel que este jogo gratuito se venha repetindo, década após década, sem que ninguém se interrogue ou revolte.


3. Na base deste equívoco está a incompreensão, apesar das raízes marxistas da esquerda, dos mecanismos transformadores da realidade social no plano económico.
Continuamos a ter no espaço público muitos utópicos encartados que insinuam, quando não afirmam, teses tão poéticas e primárias como a de que “o pão que sobra à riqueza, distribuído com razão, matava a fome à pobreza e ainda sobrava pão”.
Não matava e não sobrava, mesmo que se conseguisse evitar o caos produtivo.
Mal de nós se permanecessemos no nível actual. Precisamos, sem dúvida de soluções mais justas nas relações sociais. Mas tais soluções têm que ser também muito mais produtivas. Tecnologia, cooperação e motivação para inovar parecem ser as chaves.
Em vez disso os “utópicos de esquerda” exigem aos capitalistas que empreguem (ou seja, explorem) mais gente.


4. Por causa destes equívocos não é feita a necessária distinção, na acção política, entre o plano imediato e os projectos de futuro.
Muitas pessoas confundem constantemente as vitórias eleitorais de conjuntura com a tomada de poder no sentido insurreccional do termo. E alimentam ilusões sobre a transformação da sociedade, nos seus mecanismos de produção e distribuição, com base em slogans eleitorais de políticos habilidosos de ocasião.
Não basta alguém declarar-se de esquerda, ou recitar belas frases solidárias, para garantir que está realmente a fazer alguma coisa útil no desenvolvimento de uma nova economia, mais justa e mais produtiva, que constitua um novo patamar para a humanidade.


5. Toda a agitação e retórica das campanhas eleitorais não serve senão para escolher quem vai, na próxima legislatura, gerir a sociedade capitalista em que vivemos.
No dia a seguir às eleições as relações de produção e a distribuição da riqueza serão, no essencial, as mesmas ganhe quem ganhar a votação.
É por isso que, passada a bebedeira eleitoral, vem sempre a ressaca e a desilusão.

quinta-feira, março 27, 2014

THE SECOND MACHINE AGE




THE SECOND MACHINE AGE
Há dias um político da nossa praça, que escreve nos jornais, citava este livro sobre as maravilhas do novo mundo.
Os autores, Erik Brynjolfsson and Andrew McAfee, são nomes sonantes do MIT o que dá sempre um toque de credibilidade.
Mas eu, que trabalhei desde 1970 nas tecnologias da informação já estou "careca" de ouvir discursos ditirâmbicos sobre as tecnologias, que depois se revelam miragens (há 10 anos até escrevi um livro sobre isso http://digital-ismo.blogspot.pt/)
Todos sabemos que tem havido enormes desenvolvimentos tecnológicos mas constatar isso não nos adianta grande coisa se não se compreender a interligação com a criação de valor e com a matriz das relações de produção.
A ideia bacoca de que o crescimento exponencial das tecnologias nos fará deslizar para um mundo de abundância e lazer é bastante irrealista.
As transformações dramáticas no plano tecnológico não podem deixar de provocar correspondentes transformações dramáticas no significado e organização do trabalho bem como nas organizações e instituições que ainda hoje temos, herdadas que foram da Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX.
Isso é que deve ser discutido, compreendido, e, na medida do possível, controlado e dirigido.
http://www.washingtonpost.com/opinions/review-the-second-machine-age-by-erik-brynjolfsson-and-andrew-mcafee/2014/01/17/ace0611a-718c-11e3-8b3f-b1666705ca3b_story.html

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Pensar a transformação

Pensar a transformação social profunda implica perceber de que se está a falar quando se usa o termo "capitalismo". Sem reconhecer o carácter histórico do termo, e do sistema, e sem compreender qual é o cerne e o motor da sua persistência, a única coisa que se pode fazer são tiradas bem-pensantes.
Mas nunca se fará nada que valha a pena sem perceber também que a "luta de classes" não esgota a realidade pois há factores geográficos, culturais, e históricos, para além de outros, que não estão sujeitos à sua lógica.

sábado, fevereiro 23, 2013

Os sound bites da esquerda

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Quando se olha para a política, tal como ela é feita nos nossos dias, tem-se a sensação de estar perante uma sucessão de "casos mediáticos" oportunamente construídos e logo abandonados. De "garotadas" inconsequentes, mais ou menos cantadas.
Já ninguém pensa ? Já ninguém tem ideias e utopias ?
A esquerda, apesar do seu riquíssimo passado de reflexão e teorização, está reduzida às reacções epidérmicas e conjunturais. Já não tem referências nem líderes históricos, tudo se sumiu nas mãos dos "inorgânicos".
Já nada promete para o futuro e não concebe outra alegria que não seja a de infernizar a vida dos Relvas.

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quarta-feira, junho 27, 2012

Congresso Democrático das Alternativas




Congresso Democrático das Alternativas
Nos últimos 30 anos, de vez em quando, aconteceram erupções ou dissidências deste género. Muitas. Todas morreram de inanição, já não são sequer notícia. Porquê? Porque não partem de propostas e utopias. Limitam-se a mastigar vagas ideias de unidade como se fossem panaceia para a renascença de uma esquerda que se deixou cercar pelo anacronismo.

sexta-feira, junho 15, 2012

COSMOPOLIS




é um filme em sintonia com o nosso tempo. 
Um selfmade boy percorre, na sua limousine hi-tec, um mundo caótico e violento enquanto a sua fortuna se esboroa no casino global da alta finança.
Cronenberg fala de um mundo demasiado complexo, que reduz a lógica económica a estilhaços, e em que a revolta é apenas um modo de afirmação e não uma alternativa.
O protagonista/capitalista enceta um caminho suicida em direcção ao cadafalso, como quem está cansado de esperar pela morte e vê num eventual algoz uma desesperada via de saída.

sábado, junho 02, 2012

O que vem depois?

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Artigo excelente sobre um tema crucial. António Guerreiro no Expresso de hoje.
Também eu considero que há um desfasamento entre o ponto tecnológico e relacional em que nos encontramos e as mensagens e crenças dos agentes políticos e sindicais.
Já em 1989, em trabalho apresentado no "IFIP 11º World Computer Congress" em S. Francisco, abordei "O Trabalho, o Consumo, a Informática e o Futuro" (http://www.dotecome.com/politica/Textos/FR-ifiport.htm).
Em 2003, no livro "Do Capitalismo para o Digitalismo" (http://digital-ismo.blogspot.pt/) aprofundei muito as ideias iniciais. 
Vivi, durante décadas, uma mistura de revolução tecnológica na profissão e de transformação acelerada na militância política e sindical.
Penso ter tido oportunidade de observar como a representação digital da informação, e a replicação das mercadorias que ela acarreta, não só substitui o trabalho vivo como põe em causa o conceito marxista de valor que nele se baseia ainda hoje. O trabalho que resta (não repetitivo, baseado em conhecimento) não é mensurável pela duração.


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sexta-feira, maio 25, 2012

Os limites do Capitalismo

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in EXPRESSO Actual, 19.05.2012



Um texto e um livro importantes. 
Jappe defende nele algumas teses que eu já tinha enunciado em 2003, embora com uma lógica diferente (no livro "Do Capitalismo para o Digitalismo").
Em vez da fórmula genérica "lucro obtido em cada produto cada vez menor" como explicação da crise actual do capitalismo, indicada por Jappe, eu defendo que o desaparecimento do trabalho vivo no acto da produção põe cada vez mais em causa a sustentabilidade da procura.
Esse efeito foi mascarado por doses maciças de crédito, para permitir gastar já hipotéticos rendimentos futuros, mas esse processo conduziu à crise actual cuja saída ninguém parece conhecer.

sábado, novembro 19, 2011

Sem tempo e sem saída



"IN TIME", traduzido em Portugal para "Sem Tempo", é um filme de Andrew Niccol sobre uma distopia situada no ano 2161. Aos 25 anos todos os homens e mulheres vêem iniciar-se uma contagem decrescente  no relógio que lhes foi implantado no braço e que, se nada fizerem, provocará a sua morte ao fim de um ano. 
Para o evitar é preciso trabalhar e ganhar mais "tempo de vida", a moeda corrente em tal mundo. Enriquecer é, por consequência, acumular tanto tempo potencial de vida que dispense o seu detentor de uma permanente correria pela sobrevivência e fazer todo o tipo de transacções com essa espécie de novo dinheiro. É possível aos ricos viver durante séculos, ou milénios, mantendo sempre a aparência física dos 25 anos, de quando o relógio começou a desandar.


Não é difícil perceber nesta história uma translação metafórica da sociedade actual baseada no assalariamento. De facto a engenhosa situação que o filme inventa não é mais do que a concretização futurista da tese de Marx segundo a qual o salário está "socialmente calibrado" para permitir a renovação da força de trabalho:
“Poderia responder com uma generalização e dizer que, tal como com todas as outras mercadorias, também com o trabalho, o seu preço de mercado, a longo prazo, se adaptará ao seu valor; que, por conseguinte, apesar de todos os altos e baixos e faça o que fizer, o operário só receberá, em media, o valor do seu trabalho, que se resolve no valor da sua força de trabalho, o qual é determinado pelo valor dos meios de subsistência requeridos para o seu sustento e reprodução, o qual valor dos meios de subsistência é finalmente regulado pela quantidade de trabalho necessário para os produzir (Salário, Preço e Lucro, trad. portuguesa, Ed. AVANTE, 1983, pag.. 65-67)”.
No filme, os trabalhadores em vez de ser pagos com dinheiro que lhes permita comprarem a sua subsistência são pagos directamente em tempo.


O filme tem uma fase descritiva inicial bem organizada e que prende o espectador à expectativa. Mas o autor, depois de mostrar o cerne da inventiva, parece desamparado sem saber como prosseguir e concluir o enredo criado.
Passa então para um registo de tipo policial, com laivos de Robin dos Bosques que rouba tempo ao ricos para dar aos pobres e reminiscências de Bonny and Clyde (o herói da fita anda a roubar na companhia da elegante filha do vilão rico).


Não há ninguém que tente parar, quanto mais reverter, os ponteiros do relógio fatídico. Na ficção, como na vida real, falta imaginação para travar a injustiça.


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segunda-feira, outubro 31, 2011

Cenários Socio-alternativos

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No nosso tempo, fértil em perplexidades e indignações, vão faltando incursões literárias que esbocem realidades socias alternativas. Com o objectivo de perceber a relatividade das formas existentes ou a sua irremediável incongruência.
Não se trata de fornecer um manual de engenharia social mas sim uma espécie de puzzle para exercitar o cepticismo social.
Passamos demasiado tempo a gritar contra as decisões do árbitro mas raramente tentamos mudar as regras do jogo.
Claro que estas ficções, só por si, não mudam o mundo mas podem dar a volta a muitas ideias feitas.
Nos próximos tempos farei algumas experiências neste domínio.
Para começar deixo aqui o link para um capítulo do livro "Do Capitalismo para o Digitalismo" que contém um cenário sócio-alternativo: 

quarta-feira, outubro 19, 2011

Arroubos



O Rui Tavares, com quem eu simpatizo, é vítima da sua própria capacidade argumentativa. O que ele diz é justo, a descrição do problema chega a ser brilhante, mas falta-lhe uma resultante. Pessoas como o Rui, mas também as organizações políticas da esquerda, quanto mais se repetem na descrição das injustiças mais descuram a procura de soluções económicas e sociais alternativas. Os arroubos românticos que se têm sucedido nas últimas décadas acabam sempre da mesma maneira. Não basta gritar pela mudança, é preciso dizer como e para quê.

sábado, setembro 24, 2011

Regresso impossível

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O capitalismo, o sistema em que sempre vivemos, o modelo económico que se espalhou pelo mundo, debate-se com uma crise imensa que transforma o futuro de milhares de milhões numa incógnita aterradora.
É revelador que, mesmo nestas circunstâncias, ninguém se atreva a propor novas regras para o jogo, novos modos de funcionar em sociedade. O máximo que ambicionam, mesmo as contestações mais radicais, é um regresso ao mundo de ilusões que existia antes de a crise começar.

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terça-feira, agosto 30, 2011

Sair de casa dos pais



A esquerda actual mantém com o capitalismo uma relação de adolescente. Faz lembrar aqueles trintões que vivem em casa dos pais, sempre a bramar contra as ingerências e limitações, mas que não estão dispostos a fazer os sacrifícios e correr os riscos de uma vida independente.

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sábado, agosto 13, 2011

Pós-capitalismo, precisa-se.

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Uma realização técnica brilhante, inovadora, mas que serve uma mensagem em grande parte construída com lugares-comuns datados, que históricamente têm provado a sua ineficácia. 
Omite totalmente o papel da inovação tecnológica e as consequências na transformação dos processos de acumulação do capital e nas relações de produção. Por isso este diagnóstico seria eficaz, quando muito, em meados do século XX.  
Para criar alternativas ao capitalismo é necessário criar análises e propostas elas também alternativas às que são usadas para o combater há mais de cem anos.

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domingo, julho 31, 2011

A esquerda e Sísifo



O capitalismo é o único sistema que temos e não temos nada que o substitua. O que precisamos é que seja ético.
Mário Soares ao Expresso, 30.01.2011


Mário Soares faz desta vez um diagnóstico correcto embora conclua pela resignação. A esquerda em Portugal está refém desta ideia mesmo quando se recusa a reconhecê-lo, mesmo quando usa uma linguagem radical para o encobrir.

O capitalismo, tomado como um monstro de mil cabeças, remete a acção política para o campo da mitologia, e a história eleitoral portuguesa mostra que a esquerda está condenada, como Sísifo, a carregar o pedregulho desde o sopé uma e outra vez.
Melhor seria usar uma definição mais operativa do capitalismo. Trata-se simplesmente de um modo de produção que se baseia na produção de mercadorias em troca de um salário.
Marx dizia já em 1865, dirigindo-se à classe operária: Em vez do motto conservador "salário diário justo para um trabalho diário justo" deverá inscrever na sua bandeira a palavra de ordem revolucionária "Abolição do sistema de salários!".

Não faz qualquer sentido exigir um capitalismo com ética.
Enquanto a esquerda não recusar a inevitabilidade da empresa capitalista como forma de produzir, e não deixar de exigir emprego assalariado, nunca conseguirá sair do círculo vicioso.
Mas não se consegue detectar nenhum esforço da esquerda para propor novas formas de organização dos trabalhadores no acto de produzir.

Em alternativa ao capitalismo a esquerda actual só concebe a omnipresença do Estado como empregador universal. Mas o Estado, como a história mostra, não é o zelador mítico do "interesse comum"; em cada momento é apenas uma mistura conjuntural de clãs ideológicos, grupos de interesses e mafias burocráticas.