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quarta-feira, julho 28, 2010

O escritor fantasma



"O escritor fantasma" de Roman Polanski. Um filme excelente que ajuda a perceber como surgem certos políticos com passado irrelevante mas com sucesso fulgurante e muitos fantasmas no armário. Consideradas as diferenças de escala podemos, apesar de tudo, imaginar ficções idênticas na paroquial política portuguesa.

Não posso deixar de assinalar uma coincidência fabulosa. Em dois dias consecutivos, em dois filmes diferentes ("Contraluz" e "O escritor fantasma"), de nacionalidades diferentes, vi uma cena em que o protagonista é dirigido misteriosamente pelo seu GPS para encontrar a chave de um enigma. Não creio que tenha havido plágio.
Ainda ontem eu desdenhava do "misticismo das coincidências" e hoje cai-me isto em cima.
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terça-feira, julho 27, 2010

Contraluz

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Desaconselho vivamente este hollywoodesco Contraluz, mesmo na silly season.
Faz-me lembrar o indigesto Babel de Iñárritu, mas numa versão mais básica.
Enquanto Babel tentava ilustrar a probalilidade de as coisas na vida correrem mal, ou muito mal, Contraluz pretende convencer-nos de que as coisas na vida podem correr bem, ou muito bem.
Grandes paisagens são mostradas sob o efeito de uma música intragável que inviabiliza qualquer reflexão, tal como em Babel. Os cordelinhos da ficção todos à mostra também.
A moda das histórias que se cruzam está de regresso pela mão de Fernando Fragata  para sustentar um misticismo das coincidências que resulta infantilmente enjoativo.
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terça-feira, junho 22, 2010

24 CITY


24 City fala-nos da fulgurante "terceirização" da China. Partindo do caso de uma fábrica que é demolida para construir uma urbanização.
Desenvolve-se sobre uma série de histórias pessoais e "depoimentos mudos" em que a câmara se demora sobre personagens que nada chegam a dizer.
Os restos ainda activos de um proletariado antigo, como já não existe na Europa, convivem com os executivos do marketing no espaço de uma geração.
Imagens belíssimas para uma obra contida que, parecendo fragmentada, tem uma enorme força narrativa.
Trata-se de uma grande obra, provavelmente menosprezada neste tempo de "encher o olho". Fundamental para se sentir o enorme sofrimento e entrega de um povo cujo desmesurado sacrificio tornou possível a China de hoje.

Devia ser visto por todos os que opinam irresponsávelmente sobre a China sem perceber nada do que esteve, e está, em causa.

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quarta-feira, maio 19, 2010

Histórias da Idade de Oiro

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Fui ver o filme "Histórias da Idade de Oiro" ou, em romeno, "Amintiri din epoca de aur".

Os últimos 15 anos do regime de Ceausescu devem ter sido os piores na história da Roménia. No entanto, a máquina de propaganda referiu-se a essa época como os anos de oiro… Mitos urbanos surpreendentes, cómicos, bizarros abundavam, mitos que derivavam de acontecimentos por vezes surreais do quotidiano.

Cinco histórias anedóticas, da autoria de Cristian Mungiu, tratadas por cinco diferentes realizadores, compõem este filme divertidamente amargo.
Nós, os mais velhos, sabemos que a Roménia destes tempos era um regime repressivo, em que imperava o culto da personalidade do "grande líder".
Mas o quadro só fica completo se acrescentarmos a penúria geral, e a geral interiorização da repressão. Um regime baseado no faz de conta.
Os cidadão faziam de conta que amavam o "grande líder", as aldeias faziam de conta que estavam alfabetizadas a 99%, os jornais faziam de conta que Ceausescu era mais alto do que Giscard d'Estaing e todos fingiam ir a caminho do Comunismo.
O problema é que, num regime destes, mesmo um ingénuo estratagema de sobrevivência fácilmente se transforma num enorme crime.

A penúria, a auto-repressão, o incensar do líder, e o fazer de conta continuam infelizmente, em dosagens variáveis, a surgir nas mais insuspeitas situações, mesmo quando o verniz democrático ainda não estalou.
Vendo bem só passaram vinte anos sobre a execução de Ceausescu.
Moral da história: há que estar atento aos fundamentos de qualquer engenharia social que nos proponham. Os nossos projectos de futuro já se terão libertado completamente do  Ceausescu que existe por trás de cada esquina, senão mesmo dentro de cada um de nós ?


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terça-feira, fevereiro 02, 2010

Invictus

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Uma grande lição do mestre Clint Eastwood. Desta vez não foi preciso inventar um grande homem pois ele já existia e chama-se Mandela (maravilhosamente replicado por Morgan Freeman).
Quem não se comover várias vezes durante este filme deverá estar socialmente morto.

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terça-feira, janeiro 26, 2010

Nas Nuvens

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"UP IN THE AIR", em Portugal "Nas nuvens", protagonizado pelo mais famoso vendedor de cápsulas de café do mundo, George Clooney, é um filme muito interessante e complexo.
Tem como pano de fundo a propensão inata do capitalismo para reduzir os custos e aumentar os lucros, mesmo que seja necessário chegar ao absurdo de fazer a gestão de pessoal e comunicar os despedimentos recorrendo às técnicas do call center.
O mais interessante é que o filme estabelece um paralelo entre a família tradicional e a organização empresarial. Duas estruturas que ainda não conseguimos dispensar mesmo quando sabemos que não funcionam em bases sólidas ou que não respondem adequadamente às nossas necessidades.
O filme ensina que o casamento e o amor são coisas muito distintas. Como também são muito distintos o "trabalho como forma de subsistência" e o "trabalho como realização pessoal". Vulgarmente pensamos que precisamos dos primeiros mas na verdade precisamos é dos segundos.
Um filme que todos os apoiantes do casamento entre pessoas do mesmo sexo deviam ver.
Realização Jason Reitman, com George Clooney (uma escolha muito adequada), Vera Farmiga (excelente) e Anna Kendrick .
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quarta-feira, janeiro 13, 2010

A Estrada

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Baseado no romance de Cormac McCarthy, vencedor do Pulitzer de 2007, “A Estrada” é dirigido por John Hillcoat. Não li ainda o livro mas, pelo que sei dele e da sua fama, esperava bem mais deste filme.
O tema dos sobreviventes ao cataclismo global já foi tratado muitas vezes no cinema e este filme não me parece que lhe acrescente algo que valha a pena. O facto de se centrar nas relações do pai com o filho, enquanto tentam chegar ao litoral para sobreviver, também não me parece que traga uma luz nova a essa questão.
Talvez o texto do livro tenha uma riqueza que o filme não me transmitiu, apesar de uma fotografia acertada e de uma cenografia plenamente credível.

Este é um filme muito adequado ao momento presente, que tem laivos de pré-catástrofe. O filme é tão sombrio que saímos de lá aliviados por vivermos, apesar de tudo, comparativamente, num verdadeiro paraíso.

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