Sou a favor da esperança. A esperança nunca é em demasia. Obama, por exemplo, constitui um motivo de esperança para muita gente. Não vejo mal nisso, excepto se essa esperança der origem a um discurso erróneo como no caso de Rui Tavares. Diz ele no Público de ontem:
Obama é mais do que um candidato histórico por ser negro. O que ele fez na semana passada foi propor a reinvenção de uma tradição política: a do progressismo americano. Mesmo neste curto espaço, sou forçado a precisar um pouco a terminologia. Na Europa, "progressista" significou em tempos um comunista que não queria dizer que era comunista. Não é disso que estamos a falar. No panorama americano o "progressivism" é uma tradição que tenta superar a polarização habitual em duas famílias: conservadores mais à direita e liberais mais à esquerda, com claríssimo ascendente dos primeiros na última geração.
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O domínio ideológico conservador, que vem dos tempos de Reagan, trouxe consigo o triunfo da "trickle-down economics": cuidar do topo da pirâmide onde estão as grandes empresas e os ricos e esperar que os seus investimentos acabem por "pingar" para quem está em baixo. Só que em tempos de crise não pinga nada, e a ideologia dominante diz que tudo o que o governo fizer para ajudar quem está em baixo é pernicioso. É o momento para virar esta narrativa do avesso.
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Nenhum candidato presidencial democrata da última geração foi tão claro, como Obama na semana passada, ao denunciar a "sociedade de proprietários" (ownership society) como não passando da sociedade do "desenrasca-te a ti próprio" e ao defender que uma sociedade com justiça social resiste melhor às crises e as supera mais depressa.
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O entusiasmo da esquerda europeia explica-se então facilmente. Há muito tempo que ela vê os buracos na narrativa liberal-financeira dominante; mas não tem nada para propor em troca (a prestação de Ségolène Royal em França foi uma espécie de apogeu do vácuo).
Rui Tavares lança neste texto um conjunto de confusões.
Será que ele está convencido de que Obama vai mesmo "virar esta narrativa do avesso" e pôr em causa a "sociedade de proprietários" ? Ou serão apenas figuras de estilo para comunicar que vai reforçar as políticas sociais ?
Rui Tavares esclarece que Obama não é "um comunista que não quer dizer que é comunista" mas será Obama um social-democrata que quer parecer um comunista ?
Os políticos europeus, como Sócrates, descobriram muito antes de Obama a "terceira via". Como "superar a polarização habitual" através das políticas sociais que disfarçam a "sociedade de proprietários". Por isso Rui Tavares diz, com razão, que não "têm nada para propor em troca".
A única novidade parece ser tudo isto estar agora, para gáudio da esquerda europeia, a acontecer na América. Se Obama fizesse os seus discursos na Europa, se fosse um político europeu, estaria agora a ser tratado como uma fonte de esperança ? Duvido.
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Obama é mais do que um candidato histórico por ser negro. O que ele fez na semana passada foi propor a reinvenção de uma tradição política: a do progressismo americano. Mesmo neste curto espaço, sou forçado a precisar um pouco a terminologia. Na Europa, "progressista" significou em tempos um comunista que não queria dizer que era comunista. Não é disso que estamos a falar. No panorama americano o "progressivism" é uma tradição que tenta superar a polarização habitual em duas famílias: conservadores mais à direita e liberais mais à esquerda, com claríssimo ascendente dos primeiros na última geração.
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O domínio ideológico conservador, que vem dos tempos de Reagan, trouxe consigo o triunfo da "trickle-down economics": cuidar do topo da pirâmide onde estão as grandes empresas e os ricos e esperar que os seus investimentos acabem por "pingar" para quem está em baixo. Só que em tempos de crise não pinga nada, e a ideologia dominante diz que tudo o que o governo fizer para ajudar quem está em baixo é pernicioso. É o momento para virar esta narrativa do avesso.
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Nenhum candidato presidencial democrata da última geração foi tão claro, como Obama na semana passada, ao denunciar a "sociedade de proprietários" (ownership society) como não passando da sociedade do "desenrasca-te a ti próprio" e ao defender que uma sociedade com justiça social resiste melhor às crises e as supera mais depressa.
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O entusiasmo da esquerda europeia explica-se então facilmente. Há muito tempo que ela vê os buracos na narrativa liberal-financeira dominante; mas não tem nada para propor em troca (a prestação de Ségolène Royal em França foi uma espécie de apogeu do vácuo).
Rui Tavares lança neste texto um conjunto de confusões.
Será que ele está convencido de que Obama vai mesmo "virar esta narrativa do avesso" e pôr em causa a "sociedade de proprietários" ? Ou serão apenas figuras de estilo para comunicar que vai reforçar as políticas sociais ?
Rui Tavares esclarece que Obama não é "um comunista que não quer dizer que é comunista" mas será Obama um social-democrata que quer parecer um comunista ?
Os políticos europeus, como Sócrates, descobriram muito antes de Obama a "terceira via". Como "superar a polarização habitual" através das políticas sociais que disfarçam a "sociedade de proprietários". Por isso Rui Tavares diz, com razão, que não "têm nada para propor em troca".
A única novidade parece ser tudo isto estar agora, para gáudio da esquerda europeia, a acontecer na América. Se Obama fizesse os seus discursos na Europa, se fosse um político europeu, estaria agora a ser tratado como uma fonte de esperança ? Duvido.
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