sexta-feira, agosto 31, 2007

Kiluanji Kia Henda em Sines



Kiluanji Kia Henda (1979) nasceu em Luanda, onde vive e trabalha. Viajou pelas várias províncias de Angola e dessas viagens resultou o trabalho "4.ª Dimensão", no âmbito da I Trienal de Luanda.
Está agora, até 30 de Setembro, a mostrar as suas interessantes fotografias no Centro de Artes de Sines em exposição denominada «Ngola Bar».




quarta-feira, agosto 29, 2007

Guerras dinásticas no BCP



Algo vai mal no capitalismo português quando vemos o maior banco privado regressar ao tempo das guerras dinásticas. Sinais de um fim que se aproxima ?...

terça-feira, agosto 28, 2007

O Trabalho, o Consumo, a Informática e o Futuro

Faz hoje exactamente 18 anos que se iniciou o IFIP 11º World Computer Congress em S. Francisco cujos proceedings foram publicados em livro com a capa que ilustra este post.
A IFIP, International Federation for Information Processing, reuniu neste evento de 1989 milhares de profissionais e académicos de todo o mundo.
Aconteceu por acaso que descobri recentemente, no meio dos meus papéis, a versão portuguesa da comunicação que apresentei ao congresso, intitulada "O Trabalho, o Consumo, a Informática e o Futuro".
Foi apresentada no âmbito do "Track 11: COMPUTERS AND SOCIETY - The Quest for the Future" e continha o resultado das minhas reflexões, na sequência do XII Congresso do PCP ocorrido no final de 1988.
É, para mim, interessante verificar que esbocei então a maior parte das ideias chave que ainda hoje perfilho no plano político. Coisas como:

"A motivação para este texto advém do convencimento de que, tal como noutras fases da história da sociedade humana, uma profunda mutação nos instrumentos de trabalho não pode deixar incólumes as relações de produção e a própria organização social.
A automatização da produção material, das tarefas administrativas, e de muitas áreas da produção intelectual, já hoje em curso mas que virá a sofrer uma intensificação brutal, tenderá a romper o actual equilíbrio social e económico."

...
"A relação de assalariamento está, actualmente, sujeita a um processo de decomposição tanto no plano quantitativo (desemprego, trabalho em "part-time", redução da população activa pela limitação do acesso dos jovens e mulheres, reformas antecipadas) como no plano qualitativo (emprego temporário, sub-contratação, trabalho clandestino, trabalho na administração publica)."
...
"Por todas as razões anteriormente explicitadas o modo de produção capitalista entrou na sua fase de transição para uma sociedade de novo tipo. As condicionantes técnicas que "justificaram" o assalariamento maciço (a grande industria e depois, por cópia, os grandes escritórios) já não se verificam. Os grandes conjuntos de máquinas operadas por numerosos homens, num mesmo local e ao mesmo tempo, resultado de um enorme investimento, estão a dar lugar aos cérebros humanos (por natureza isolados) produzindo em qualquer lugar e a qualquer hora, em cooperação uns com os outros pelo recurso à tecnologia.
A luta de classes milenar transferir-se-á agora para o domínio da posse da informação e dos meios de a transportar. Assim se percebe facilmente todas as "guerras", entre os estados e as transnacionais, pelo domínio das telecomunicações."


É reconfortante verificar que os 18 anos passados não tornaram irrelevantes, pelo contrário, as
preocupações subjacentes ao texto. Quem quiser ler o texto completo pode ir AQUI.

segunda-feira, agosto 27, 2007

A melhor da semana passada - 2


Fotografia de Eduardo Gageiro
in «Lisboa no Cais da Memória»


"Se António Costa quisesse verdadeiramente fazer alguma coisa de útil pelo Terreiro do Paço, tratava de dar ao Metro um prazo impreterível para terminar ou desistir das eternas obras do túnel à beira-Tejo, cuja necessidade imperiosa, aliás, está por provar. Terminar com aqueles vergonhosos tapumes que escondem o rio, pôr fim àquela incompetente empreitada que dura há uma década e devolver à cidade o Cais das Colunas e o Terreiro do Paço tal como ele era, isso sim, era um serviço prestado a Lisboa."

Miguel Sousa Tavares, Expresso 25 Agosto 2007

sexta-feira, agosto 24, 2007

O cinema e as pipocas


Voltei a experimentar o suplício de estar na bicha das bilheteiras da Lusomundo.
Com a ideia peregrina de vender, em paralelo com os bilhetes, uma série de patetices sob a forma de pipocas, faz-se o espectador esperar eternidades. Eu, por exemplo, cheguei um quarto de hora antes e acabei por entrar com dez minutos de atraso.

Não me venham com o marketing e a rentabilidade que não me convencem. Assiti à debandada de vários potenciais clientes. Eu próprio já desisti várias vezes de comprar bilhete.

Seria muito complicado ter umas bilheteiras para quem não quer "comes & bebes" ?

Não só se fomenta os maus hábitos alimentares como se induz a ideia de que o cinema é local de piquenique, quando não de falatório que incomoda toda a gente.

O nosso Estado, sempre tão pronto para regulamentar isto e aquilo, porque não vira a sua furia disciplinadora para este lado ?

O cinema é uma arte (embora a programação da Losomundo faça os possíveis por o contrariar) e devia merecer um bocadinho de protecção...

quarta-feira, agosto 22, 2007

“Pessoa comum no seu tempo”, livro de memórias de João Freire

Atrevi-me a ler Pessoa comum no seu tempo. Memórias de um médio-burguês de Lisboa na segunda metade do século XX, de João Freire (Edições Afrontamento). São cerca de seiscentas páginas, com letra pequena, com milhares de notas ainda mais pequenas. Tinha lido no Público a crítica de Pacheco Pereira e depois o post mais desenvolvido no seu blog (17/06/07). Era uma crítica bastante favorável, sobre um autor que eu desconhecia completamente, que me pareceu suficientemente motivadora para comprar o livro e me dispor a lê-lo.
O que é espantoso neste livro é que alguém gaste páginas e páginas a enumerar a sua família, com árvore genealógica e tudo, os amigos dos pais e da família e depois, ao longo do livro as centenas de pessoas com quem foi convivendo. Diria eu, que sou biólogo, que é um trabalho de entomologista que tudo regista e classifica.
Mas façamos um pequeno apanhado do seu percurso de vida para melhor compreendermos a personagem. Nasce em Lisboa, frequenta o Colégio Militar, tira o curso de oficial de marinha, é depois enviado para as colónias, deserta e vai para Paris onde chega um pouco antes do Maio de 68. Colabora nos “Cadernos de Circunstância”, publicação esquerdista editada em França por portugueses exilados, licencia-se em sociologia em Paris, enquanto trabalha numa fábrica. Adere ao anarquismo e vem para Portugal no pós-25 de Abril, passando a leccionar no ISCTE, onde se doutora num tema relacionado com o anarquismo. Enquanto estudante e oficial de marinha é praticante de esgrima com algum sucesso.
Introduzindo um toque pessoal neste post, direi que o autor é praticamente da minha idade, nasceu em 1942 e eu em 43, na mesma maternidade, o que nos torna naturais da freguesia do Socorro, em Lisboa, e acabámos por morar na Graça na nossa juventude, eu numa rua perpendicular à Afonso Domingues, localizada ao fundo de Sapadores e ele, num prédio de família, ao cimo da Angelina Vidal. O mais interessante é que entre os meus 14 ou 15 anos e os 25 ou 26 reuni-me ao fim da tarde, fizesse sol ou chuva, com um grupo de amigos, de que fazia parte o escritor Mário de Carvalho – que o autor cita porque ouviu uma entrevista daquele escritor na TSF a propósito daquele bairro –, quer num gradeamento localizado ao cimo da sua rua, quando o eléctrico dava a curva e abrandava para entrar na rua da Graça, ou então em frente, perto de uma banca de jornais. Percebe-se que o autor não andou, como nós, na sua adolescência pelas ruas daquele bairro, pois era interno do Colégio Militar, senão teria falado com outro carinho do cinema Royal que todos nós frequentávamos e que começava às 15h15m, um quarto de hora mais tarde que os outros cinemas de “reprise”, para absorver a malta do Gil Vicente, que saía às 15h10m.
Quando descreve o seu bairro esquece-se de falar no Cine Oriente, que ficava entre a Penha de França e o início da General Roçadas, numa ruela que penso que já não existe. Apesar de o referir mais à frente, no ponto 5, sobre Vida Social e Práticas Culturais.
Posso dizer que foi com grande revivalismo e muita saudade que li pois o ponto 2, dedicado a O Bairro e a Cidade. Qualquer deles integrado no Capítulo I, O meio Familiar.
Para terminar estas recordações, e sendo eu um apaixonado pelo cinema e cineclubista à época, não posso deixar em claro a opinião do autor que começou a dessacralizar os “doutos especialistas” (refere-se aos críticos de cinema) quando viu nas páginas de “uma revista cultural de prestígio” o filme O desporto favorito dos homens (1964) ser classificado por um crítico como o pior filme do ano e por outro como o melhor. Não sabe o autor, porque isso provavelmente não lhe interessava na altura, que para certo críticos, leitores do Cahiers do Cinéma, e que seguiam à risca a “política de autores” praticada de forma terrorista por aquela revista, Howard Hawks, o realizador do filme, era um dos seus eleitos, porque filmava ao nível do olhar, enquanto que para outros, provavelmente de esquerda, aquele realizador não “reflectia” a realidade americana. Provavelmente, se o autor tivesse esta chave, outra teria sido a sua visão niilista sobre os críticos.
As partes mais interessantes destas memórias são sem dúvida as que se referem ao seu percurso pessoal, principalmente a sua participação na guerra colonial, ainda que embarcado num navio, a sua deserção – parece-me, no entanto, que a tomada progressiva de consciência sobre a guerra e a sua motivação para desertar não estão muito bem explicadas –, a sua chegada a Paris, ainda a tempo do Maio de 68, a escolha do anarquismo, no supermercado das ideologias, na expressão feliz utilizada pelo autor, e por fim a sua vinda para Portugal e a sua participação no final da Revolução.
Antes de entrar na crítica à parte política propriamente dita gostaria de referir que, de entre as centenas, provavelmente dos milhares, de nomes citados, haveria de haver alguns que, por diferentes razões, são meus conhecidos. Assim, sou amigo do José Alberto Manso Pinheiro desde provavelmente a mesma altura em que o autor o conheceu na esgrima e que compartilhava, com alguns dos que se reuniam ao cima da Angelina Vidal, a mesma militância no PCP, ainda nos tempos da clandestinidade, coisa que muito deve irritar o autor.
Outro dos citados é o Gabriel Mourato, que fazia parte, segundo o autor, de uma facção anarquista denominada Acção Directa. O Gabriel parava na Paiva Couceiro, num café chamado Chaimite, frequentado igualmente por alguns dos que paravam ao cima da Angelina Vidal. Tinha sido membro do PCP e foi preso na leva de estudantes de 64/65. Falou na prisão como a maioria, passando depois a ter atitudes muito provocadoras para a época. Provavelmente o dono deste Blog, o Fernando Penim Redondo, que frequentava assiduamente o Chaimite, deve saber mais histórias dele do que eu. Já no final dos anos 90 fui encontrá-lo numa casa ocupada, acção em que um familiar meu participou, sendo-me referenciado como um velho e grande anarquista. Deu-me vontade de rir, eu que conhecia o passado da personagem, não o da “Acção Directa”, mas sim as suas atitudes provocadoras e sempre conspirativas. Infelizmente já morreu.
É também referido, como um mau carácter e um ortodoxo do PCP, alguém que foi aluno do autor e que lhe teria feito umas partidas, o João Fernandes, que eu penso ser o João Viegas Fernandes. Este, conheci-o na praia da Manta Rota, há muitos anos (40 anos?). Tivemos, naquela praia, um forte convívio no pós 25 de Abril com um grupo de comunistas franceses do meio operário, que, por recomendação do seu Partido, vinham passar férias a Portugal para ajudar com divisas a nossa Revolução. Penso que, na altura em que foi aluno do autor, era trabalhador-estudante, dado que estava vinculado à função pública. Hoje, para descanso do autor já não é membro do PCP, apesar de ainda ser de esquerda.
Quanto às opiniões políticas manifestadas pelo autor, são de um modo geral opostas às minhas, apesar de lhe reconhecer uma grande honestidade moral ao desertar da Marinha por não concordar com a guerra colonial.
Enquanto o tal grupo que se reunia ao cimo da Angelina Vidal fazia o seu percurso político de apoiantes do Humberto Delgado (a quem chamávamos o "nosso homem” para não levantar suspeitas), no meu caso com 14, 15 anos de idade, a membros do PCP, numa época em que isso acarretava prisão e tortura – o que sucedeu, por exemplo, com Mário de Carvalho, que resistiu á tortura do sono para não denunciar os companheiros –, o nosso autor estava a estudar no Colégio Militar e tirava o curso de oficial de marinha. São percursos que tiveram de certeza implicações na formação e opções ideológicas de cada um. Assim, ao desembarcar em Paris, com resultado de uma decisão moral importante, mas virgem relativamente às grandes ideologias de esquerda suas contemporâneas e ao escolher no supermercado das mesmas o anarquismo, opta por uma das mais minoritárias, contraditórias e hoje absolutamente incomestível. O autor, presentemente com um claro perfil anti-esquerda, pelo menos à esquerda do Sócrates, valoriza excessivamente os velhos anarquistas, herdeiros do anarco-sindicalismo do início do século XX, que são porventura personagens simpáticas, mas que foram incapazes de compreender o advento do fascismo e de resistir à sua repressão; mas critica fortemente o grupo nacional denominado Acção Directa, como também, e com razão, todos aqueles movimentos estrangeiros que enveredaram ou apoiaram o terrorismo. Conhecendo hoje o tipo de actuação dos anarquistas (veja-se as suas intervenções nas manifestações anti-globalização ou até mais recentemente na que promoveram no dia 25 de Abril) só com uma grande força argumentativa se consegue separar os bons dos maus anarquistas e continuar, apesar de se ser direita em quase tudo, a não votar em nenhum dos partidos do arco político português, porque como bom anarquista não se reconhece nesses métodos de escolha dos governantes.
Há em todo o livro uma fúria anti-comunista, que em dado passo tenta separar as massas ignaras dos seus dirigentes, esses cúmplices de todos os horrores conhecidos. Parece-me que o autor bem gostaria de retomar os velho epíteto com que o MRRP apelidou o PCP nos anos quentes do PREC, denominando-o de social-fascista. Eu que escrevi um texto e que o publiquei aqui (Julho de 2007) sobre o desvio esquerdista da Internacional Comunista, em que os seus dirigentes denominavam a social-democracia como social-fascismo, fico deveras incomodado com este sectarismo que ainda afecta alguns “esquerdistas” serôdios, que nada compreenderam sobre a evolução dos tempos.
É evidente que sobre o PCP, o dito “campo socialista” e o movimento comunista internacional muitas coisa há para criticar, denunciar e discutir, mas os termos em que estes assuntos são abordados no livro tornam impossível qualquer troca de impressões saudável. É este, quanto a mim, o seu maior defeito.

terça-feira, agosto 21, 2007

VERDE LEITÃO



“Um bando de mascarados invadiu a propriedade de J. Menezes destruindo o que encontrava à sua frente e causando prejuízos de milhares de Euros”.

Esta noticia podia referir-se a um ajuste de contas na Cova da Moura, mas não; diz respeito a uma “acção de protesto” de um grupo de “ecologistas” chamado Verde Eufémia, contra uma plantação de milho transgénico, em Silves.

Perante uma curiosa brandura da GNR assistiu-se a uma manifestação directa de um dos fundamentalismos politicamente correctos que ameaçam invadir a nossa vida.
Interrogo-me sobre quando começaremos a ter raides nos cafés para esbofetear os fumadores ou grupos nas rotundas para furar os pneus aos automóveis...

Mas o que é ainda mais grave é que temos um partido, o BE, com assento na Assembleia da Republica e lugar na Câmara de Lisboa, a dar o seu apoio a estas manifestações do espírito das Cruzadas!
E depois tentam lançar-nos areia para os olhos desviando a discussão para a questão dos transgénicos, que òbviamente deve ser discutida, mas que não é o que está em causa.

Sugiro a estes “iluminados”, já que estão tão preocupados com a defesa do ambiente, que formem o movimento "VERDE LEITÃO" e vão deitar abaixo alguma das pocilgas que repetidamente enchem de trampa a Ribeira dos Milagres e praias adjacentes, e de dinheiro os bolsos dos seus exploradores.
Se o cheiro os incomoda, podem sempre ir mascarados. Claro que correm o risco de ser recebidos com caçadeiras; mas isso também não teria muita importância pois estariam bem uns para os outros.

segunda-feira, agosto 20, 2007

A melhor da semana passada - 1



Expresso, Única 18/8

Silly season
Zita renega SMS e opta por comunicar via reza


... Mas enquanto Menezes e Mendes deram o «salto» para o séc. XXI, diz-nos o «24 Horas» que Zita Seabra deu o salto para a Eternidade: baptizou-se. Pormenor? Nem pensar. Zita tem uma particular capacidade para falar com velhos omnipotentes e inacessíveis de cabelo branco. Este, agora, em vez de sobrancelhas pretas e gabinete na Soeiro Pereira Gomes, pode ter barbas brancas e assento no Reino dos Céus, mas ela é bem capaz de lhe fazer passar a sua mensagem num SMS curto: «Se xgar a 1ª mnistra Ptgal publiko borlix Tdas encíclicas Papa Ratz. ÁmenZita».

O Revisor

domingo, agosto 19, 2007

Santa Ingenuidade


O Expresso de ontem publica um artigo "Quem são os malandros que não pagam impostos?" de Nicolau Santos.

Todos sabemos que os rendimentos não declarados são, talvez, o principal problema do sistema. Por isso a análise de Nicolau Santos roça a ingenuidade.

Lembro-me de ter visto no Expresso, em tempos, os valores médios declarados pelas profissões liberais. Economistas, arquitectos e outros apresentavam médias ao nível do salário mínimo nacional. Nicolau Santos deve poder recuperar esses estudos.

Mas não são só estes a sub-declarar, grande parte das actividades de "compra e venda" evitam as facturas sempre que podem transformando os seus milhares de negociantes em "pobres" para o sistema fiscal.

Também não devemos esquecer os paraísos fiscais e todas as outras benesses fiscais dadas aos verdadeiramente ricos. No Expresso de 18 de Agosto Miguel Sousa Tavares em "Os Ricos" trata este tema de forma perfeita.

Por tudo isto lamento que Nicolau Santos venha, afinal, propor que se saque mais aos do costume, a quem já está a suportar o sistema.
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sexta-feira, agosto 17, 2007

As novas tecnologias e as velhas relações sociais de produção


Acabei de ler, em odiario.info o texto de uma entrevista com dois professores, Marcio Pochmann e Ricardo Antunes, da Universidade de Campinas.

O titulo prometia muito, mas o conteúdo desiludiu.

É verdade que M. Pochman considera que estamos a viver um momento de “profunda mudança na base técnica”; constata que estamos num “capitalismo pós-industrial em que a produtividade é cada vez mais sustentada no trabalho imaterial… em que não é mais o relógio que organiza decisivamente o tempo de trabalho”; intui mesmo que “continuamos discutindo as condições de trabalho como herdeiros do sec. XX”.Mas afinal acaba preocupado apenas em quebrar aquilo a que chama “a falsa disjuntiva neo-liberal“, ou seja a escolha entre precarização e desemprego.

Segundo ele, o desenvolvimento tecnológico e a prevalência crescente do trabalho imaterial como fonte de valor, já hoje permitiriam que todos trabalhassem, desde que durante menos horas, menos dias na semana. E desde que, como sublinha R. Antunes, o Estado tomasse medidas contra as politicas neo-liberais.Esta intervenção do Estado torna-se, de facto, indispensável porque não se vê muito bem como de outra forma convencer os patrões a contratar, em vez de 10 pessoas trabalhando 40 horas por semana cada uma, 40 pessoas a trabalhar 10 horas cada, mas recebendo cada um o mesmo salário do caso anterior…

Este é o “nó górdio” da questão. Porque os autores não pôem em causa o sistema capitalista, baseado no assalariamento, e em cuja lógica o lucro representa não só a remuneração do capital mas também a compensação pelas responsabilidades e pelos riscos assumidos. Pretendem apenas levá-lo, a bem ou à força, a “aceitar” a diminuição dos seus lucros, continuando no entanto a assumir todos os riscos e responsabilidades, principalmente a de “dar emprego”.

Os autores comungam de uma confusão muito comum entre emprego, trabalho e assalariamento. Conclusão: o trabalho é indispensável às sociedades humanas, logo as empresas têm de proporcionar emprego. E se tal não fizerem, porque as condições objectivas as conduziriam a resultados contrários à sua real finalidade, o lucro, então o Estado deve tomar o seu lugar.

Os autores constatam que a revolução tecnológica e as alterações da natureza e organização do trabalho potenciam grandes ganhos de produtividade, mas não dão o salto para a necessidade de desenvolver o novo tipo de relações de trabalho e de produção que elas estão a gerar e que não passa pelo assalariamento.São eles próprios que dizem que não vale a pena sonhar com “um capitalismo justo e belo onde todos vivam segundo as regras das mesmas oportunidades”.

No entanto, nada propôem que substitua o odiado sistema!Nada, a não ser a intervenção do Estado, especialmente através de Governos fortes, com grande respaldo popular, como os várias vezes referidos de Chávez e Morales.

Ora todas as revoluções, das mais suaves às mais sangrentas, já demonstraram que as medidas super-estruturais só vingam quando institucionalizam práticas sociais e económicas já “referendadas” pela realidade, que já demonstraram a sua capacidade endógena de propagação.

Continua-se, portanto, a querer começar pelo fim!



quarta-feira, agosto 15, 2007

A globalização na Almirante Reis


Hoje é 15 de Agosto, a charneira das férias. Depois de algumas experiências deprimentes habituei-me a ficar em Lisboa nesta data.
Saí em busca de um almoço e, na Almirante Reis, fui irresistivelmente atraído por soberbas sapateiras que, da montra, pareciam acenar as tenazes num convite. Cedi.
A cervejaria, que eu já frequentara, pertence à categoria dos exclusivos portugueses; frutos do mar fabulosos num ambiente descontraído e a preços suportáveis. Só por causa disto os portugueses já deviam ter aprendido a queixar-se menos da vida.
Qual não foi o meu espanto quando deparei com duas mesas grandes, duas, cheias de "chineses" que se empanturravam com percebes, lagostas, búzios, camarões, etc.
Dei por mim a imaginar lucros enormes nas lojas dos trezentos mas desconfiei pois nunca vi, em Portugal, chineses que não estivessem a trabalhar.
Uma delas puxou de uma senhora de Fátima com pelo menos meio metro e eu pensei que se tratava de um modelo que, em Guangzhou, acabaria replicado milhões de vezes.
O empregado não tinha explicação para o fenómeno e despachou-me com "parece que são uns indonésios...". Eu estava morto de curiosidade.
A certo ponto um casal idoso pagou a conta e retirou-se deixando os jovens às voltas com o marisco. Resolvi interceptar um "ocidental", que fazia parte do grupo, quando ele tentava alcançar o WC.
Que não, que não eram chineses mas sim vietnamitas em turismo. E que ele, americano, se casara com uma das moças de olhos em bico. Desejei-lhes uma agradável estadia, embevecido.
Confesso que ainda hoje a palavra Vietname ecoa de forma muito especial dentro de mim. Napalm, Hanoi, Ho Chi Min e outras, são ecos do heroísmo colectivo de um povo que, nunca mais esquecerei, recusou submeter-se à maior potência militar da terra.

Por isso, vê-los ali a descascar camarões e a embrulhar senhoras de Fátima como nós fazemos com os Budas no regresso da viagem, atingiu-me como um milagre.

terça-feira, agosto 14, 2007

Estamos em obras...


Se notou alguma coisa no aspecto do DOTeCOMe Blog merece saber que estamos em obras.

Resolvi, espero que em boa hora, lavar a cara ao dito e saltar para a última versão do Blogger (software que nos permite estas coisas, à borla).

A transformações vão notar-se durante mais algum tempo. Espero que não excessivamente...

segunda-feira, agosto 13, 2007

Demasiados corvos em Lisboa




Acho que António Costa deve estar a pensar modificar o logo da CML, isto depois de ter analisado o organigrama que herdou.

Se quer ver a lista dos Departamentos, Direcções e Divisões que tornam a Câmara ingovernável clique AQUI
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sábado, agosto 11, 2007

A propósito de utopia


quinta-feira, agosto 09, 2007

A Utopia e as malas Vuitton (1)

Tinha acabado de ler, de enfiada, os livros “Foi Assim” de Zita Seabra e “Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via” de Raimundo Narciso.

Andava ainda a remoer a ausência, em qualquer dos livros, de uma abordagem da “queda da utopia” que atingiu, no fim do século XX, tanto os autores como muitos outros milhares de militantes entre os quais me incluo. Sem menosprezar a importância dos depoimentos contidos nos livros não deixo de considerar que muito mais importante teria sido, para mim, uma explicação de como os autores lidaram com o luto das suas convicções.

Quis o acaso que nesse preciso momento eu encontrasse num jornal a notícia da participação de Gorbatchev num anúncio publicitário da VUITTON. Dizia assim:” Na imagem, repleta de simbolismo, Gorbachev aparece sentado no banco de trás de uma limusina com uma mala Louis Vuitton a seu lado, enquanto contempla, com nostalgia, o que resta do muro de Berlim.”

Para perceber o efeito que teve em mim tal coincidência é preciso saber como foi determinante o “período Gorbatchev”, na URSS, para a inspiração e eclosão das mais importantes dissidências que afectaram o PCP ao longo dos anos oitenta. Os mais distraídos, ou mais jovens, poderão para o efeito beneficiar de uma cronologia, mesmo que sintética:


1985

Março - Gorbatchev é eleito secretário-geral do PCUS
Junho - Cavaco torna-se Presidente do PSD
Agosto - Álvaro Cunhal publica “O Partido com as paredes de vidro”
Outubro - Cavaco ganha as legislativas, o PCP desce para 15,49 % dos votos e 38 deputados

1986

Fevereiro - Perestroika e Glasnost são apresentadas no 27º Congresso do PCUS
Março - O “Documento dos Seis” é entregue à direcção do PCP por Vital Moreira,Veiga de Oliveira, Silva Graça, Victor Louro, F. Marques e D. Martins

1987

Julho - Primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, o PCP tem 12,14 % e 31 deputados.

1988

Maio - Zita Seabra é expulsa da Comissão Política do PCP
Junho -É apresentado o documento da “Terceira Via” por Pina Moura, Raimundo Narciso e outros.
Novembro - Zita Seabra é expulsa da Comité Central do PCP
Dezembro - XII Congresso do PCP, no Porto. José Luís Judas, Barros Moura e outros fazem intervenções críticas.
Dezembro - Zita Seabra publica "O Nome das coisas" nas Publicações
Europa-América

1989

Março - Raimundo Narciso demite-se de funcionário do PCP
Novembro - Queda do muro de Berlim

1990

Janeiro - Vital Moreira publica "Reflexões sobre o PCP", na Editorial Inquérito
Janeiro - INES é apresentado no Forum Picoas com adesão de muitos comunistas do sector intelectual
Maio - XIII Congresso do PCP em Loures, o primeiro depois da queda do muro de Berlim, assiste a várias intervenções dissonantes.
Maio - Vital Moreira abandona o PCP

1991

Agosto - PCP toma posição pública de apoio ao “golpe de Moscovo” contra Gorbatchev
Agosto - Reunião de militantes críticos no Hotel Roma contesta posições do PCP sobre a URSS
Outubro - Segunda maioria absoluta de Cavaco Silva, o PCP tem 8,8 % e 17 deputados.
Novembro - PCP expulsa Barros Moura, Mário Lino, Raimundo Narciso
e José Luís Judas
Dezembro - Gorbatchev resigna


Os acontecimentos listados e a correspondência das datas falam por si.

Há que destacar o facto de o PCP se encontrar entre dois fogos. Por um lado as denúncias e reformas pouco ortodoxas de Gorbatchev e, por outro, a dinâmica vitoriosa de Cavaco e do que ele representava. Os acontecimentos na URSS dificultavam uma lógica revolucionária e, ao mesmo tempo, a prática eleitoral em Portugal revelava cada vez mais as suas próprias limitações.
Nos oito anos que medeiam entre 1983 e 1991 o PCP passou de 18,07 % e 44 deputados para 8,8 % e 17 deputados.

Talvez nunca se venha a saber em que medida Cavaco beneficiou das convulsões na URSS, convulsões que podem ter afectado não só o PCP como toda a esquerda.

A situação de cerco sofrida pelo PCP nos anos oitenta também explica as dificuldades que o partido teve quando foi preciso lidar, internamente, com as vozes dissonantes de destacados militantes.

Tanto Gorbatchev como os dissidentes do PCP seguiram uma linha idêntica; exigiram a abertura ao mundo e a reposição de práticas democráticas. Denunciaram os erros e os crimes que, em sua opinião, tinham sido cometidos.

Não quiseram, ou não souberam, no entanto, enunciar alternativas viáveis, anti-capitalistas, às relações de produção e às opções económicas e sociais que caracterizavam a sociedade soviética. Sociedade soviética que, quer queiram quer não, funcionava como modelo para muitos comunistas e como mostruário para os cidadãos comuns.

A partir de 1992, e em alguns casos mesmo antes, os mais destacados dissidentes esqueceram o PCP, e aparentemente as suas utopias, e trataram de prosseguir as suas carreiras políticas no PS, no BE ou, no caso de Zita Seabra, mesmo no PSD.

Dez anos mais tarde, por incrível que pareça, a Renovação Comunista limitou-se a reeditar, em ambiente mais “soft”, as experiências dos anos oitenta e, ao fim de algum tempo, acolheu-se à proteccção do Bloco de Esquerda. A história repete-se.

Desta forma se chegou à pantanosa situação actual em que, do CDS ao PCP, as propostas mais radicais para a sociedade portuguesa não vão além do “capitalismo civilisado” e da “salvação do Estado Social” mesmo quando os caminhos para os atingir são espectacularmente diferentes uns dos outros.

Nos próximos “episódios”, se conseguir, tentarei explicar:

- como é que eu, um militante de base, sem fama mediática, dedicado ao trabalho sindical numa empresa de tecnologia, vivi os agitados “anos Gorbatchev”
- a minha opinião sobre a versão soviética da utopia igualitária, os seus desiludidos, e as diversas maneiras de lidar com o que sobrou dela.
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quarta-feira, agosto 08, 2007

A minha leitura "Foi Assim":










Acabei de ler o ultimo livro da Zita Seabra.
Não vou entrar na discussão sobre os factos referidos (cujo relato aliás não me trás nada de verdadeiramente novo) nem sobre os intuitos mais ou menos velados da narrativa (deixo isso para quem ache que tem algumas contas a ajustar com a narradora).

Zita Seabra quis fazer de “Foi assim” a descrição do seu percurso pessoal; e foi sob esse ponto de vista que eu o li.

Chegada ao final, a imagem que me ficou é a de alguém que em relação ao seu comprometimento com o Comunismo e o PCP, entrou e saiu pela mesma via muito emocional e pouco reflexiva.
Como a própria afirma, não tinha lido as obras de Engels e Lenine, nem conhecia bem o pensamento de Marx; o seu coração foi recrutado pelos “Subterrâneos da Liberdade” de Jorge Amado. Não é defeito, e é um caso muito comum na sua geração!
Já a sua saída, motivada essencialmente pela desilusão das expectativas e não pela análise das contradições entre teorias e resultados, é muito pobre, atendendo a que se trata de alguém que teve um lugar de grande responsabilidade.

Pela maneira como fala, acho que seja qual for o ponto onde neste momento se situa, Zita Seabra está nele com a mesma certeza absoluta que teve no seu posicionamento anterior.

E por isso, a sensação que me deixou foi a de que não aprendeu nada.
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terça-feira, agosto 07, 2007

Golpe quase perfeito


Em "Golpe quase perfeito" de Lasse Hallstrom, Clifford Irving (Richard Gere) vê-se confrontado com as "regras do mercado" enquanto escritor que pretende projectar a sua obra.

Revoltado resolve reagir num plano em que, presume, está em vantagem; a pura ficção.
Já que não publicam os seus livros então ele inventa uma entrevista com o mais famoso, pelo secretismo e exoterismo, dos empresários americanos Howard Hughes.

O desenlace kafkiano mostra que Howard Hughes, actuando qual "mão invisível", é exímio a manobrar quer a realidade quer a ficção.No sistema comunicacional com que Clifford Irving se confronta a ficção e a realidade podem perfeitamente misturar-se a bem da rentabilidade.

Ficção e realidade precisam cada vez mais de se confundir para nós continuarmos a comprar.
É caso para dizer: quem é que precisa da second life ?
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segunda-feira, agosto 06, 2007

3.000 Assinaturas


Às 20:30 horas de hoje a Petição Radares 50-->80 atingiu as 3.000 assinaturas.

A partir de agora as notícias da Petição serão dadas no novo Blog radares50-80.blogspot.com
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domingo, agosto 05, 2007

São Cavaco, padroeiro dos jornalistas


Milagre que levou à canonização: crucificado várias vezes nos jornais (que não lia), foi a ele que recorreram os jornalistas ameaçados pelo estatuto de Santo Silva. E, mesmo assim, acudiu aos aflitos.
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sexta-feira, agosto 03, 2007

Carta Aberta a António Costa e Sá Fernandes


Deixem-me começar por saudar a vossa tomada de posse, no passado 1 de Agosto, e desejar-vos o maior sucesso a bem de Lisboa.

Tomo esta iniciativa como cidadão nascido em Lisboa e residente nela, ou nas cercanias, há 62 anos.

Fiquei muito surpreendido por verificar que os temas da corrupção e da gestão ruinosa da anterior vereação desapareceram dos vossos discursos. Também não consigo entender como é que Sá Fernandes vai “cuidar das buganvílias” em vez de se dedicar aos temas que o tornaram conhecido dos lisboetas.

Por favor não me venham dizer que o assunto está entregue às entidades competentes; por esse caminho ainda chegamos às eleições de 2009 sem conclusões ou, ainda pior, “em águas de bacalhau”.

As insinuações e acusações que foram feitas antes da queda do anterior executivo camarário e mesmo depois durante a campanha eleitoral, pela sua gravidade, obrigam-vos a estudar os documentos a que agora vos foi dado acesso, os processos de trabalho que agora dependem do vosso julgamento e os comportamentos administrativos que agora vos compete avaliar.

Seria muito mais coerente pôr Sá Fernandes a dirigir um “Grupo de Trabalho contra a Corrupção e a Gestão Ruinosa” que, no prazo de alguns meses, divulgasse os contornos de todas as operações ilegítimas ou reprováveis, os nomes dos autarcas nelas envolvidos e dos funcionários da Câmara coniventes ou cúmplices. E também as medidas recomendadas para evitar a repetição de casos semelhantes no futuro.

Sem prejuízo das responsabilidades judiciais, que são de outro âmbito, compete-vos atribuir e sancionar as responsabilidades políticas, administrativas e disciplinares.

Se o Presidente e o vereador da Câmara de Lisboa o não fizerem correrão o risco de ver os cidadãos concluir uma de duas coisas; ou que pactuam com os desmandos e as ilegalidades ou que, afinal, todas as denúncias não passavam de manobras politiqueiras.

Não se esqueçam dos 62 % de abstencionistas do dia 15 de Julho.
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quinta-feira, agosto 02, 2007

Arte no Metro de Lisboa


Para uma visão completa deste tema vá AQUI
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quarta-feira, agosto 01, 2007

Mais 1000 assinaturas em dois dias.



Às vinte horas de hoje a Petição Radares 50 --> 80 atingiu as 2000 assinaturas.
Precisamente no dia em que António Costa tomou posse.
As primeiras 1000 assinaturas demoraram 6 dias, de 24 a 30 de Julho, enquanto que as segundas 1000 só precisaram de dois dias.
Isto é ainda mais significativo pelo facto de estarmos em pleno período de férias.
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