O meu amigo António Vilarigues do Castendo, no Público de hoje, entrou pela ficção para melhor explicar a armadilha da Geórgia:
"Em reunião realizada no passado dia 3 de Setembro, na cidade de Montreal, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, manifestou o seu apoio a um Quebeque livre. O primeiro-ministro desta província independentista do Canadá, o liberal Jean Charest, agradeceu as palavras do seu homólogo da Rússia. Ambos recordaram, perante centenas de jornalistas de todo o mundo, a célebre frase pronunciada nessa mesma cidade a 24 de Julho de 1967 pelo então Presidente da República da França, Charles de Gaulle: "Vive le Québec libre!".No decorrer das negociações entre as duas delegações ficou acordado que a Rússia instalaria no Quebeque um sistema antimísseis de longo alcance. O objectivo é proteger os aliados da Rússia na América do Norte e na América Latina contra os mísseis de longo alcance quer do Irão, quer da República Democrática Popular da Coreia (Norte)".
Público, 05.09.2008 (ver o texto completo aqui)
Já no dia 1 de Setembro, no mesmo jornal, o insuspeito Eduardo Lourenço, num artigo luminoso denominado "Europa paralisada e mutilada" explicava:
"O Ocidente europeu temeu a Rússia durante sete décadas, mas nem por isso a longa e capital história comum deixou de nos importar. Os relentos de cruzadismo que, em tempos, essa ameaça suscitou não têm agora nem a mesma urgência nem o mesmo sentido. É vital para nós que a nova Rússia seja o mais democrática possível, mas não esqueçamos que o nosso ideal democrático ainda tem muito de ideal kantiano - como o de todas as democracias do mundo. Porque nos mobilizamos (em teoria...) tão facilmente contra a nova Rússia, como se fosse uma anti-Europa ou anti-Ocidente, quando há muito a cercámos de Estados ainda menos democráticos que ela e que nunca foram europeus? Não apenas por prudência um caso tão complexo como o do Cáucaso, em que, no mínimo, as culpas são partilhadas, escolher um dos litigantes num conflito em que um terceiro é o actor principal é uma aberração. Só por um passado de má reputação, como numa famosa canção de George Brassens? Certos países europeus supõem ter o monopólio perpétuo das indignações virtuosas. Nos seus melhores momentos o tiveram ou nós supusemos que o tinham. Mas já não é o caso. No novo contexto planetário a exemplaridade é muito relativa. Bem sabemos o que os custou essa pretensão de sermos, como europeus, "a luz do mundo". Chegou o tempo da modésti, o que não é incompatível com a dignidade. Uma certa imprensa europeia, belicista a título póstumo, lamenta que a Europa não enfrente com determinação a crise actual, chamando à pedra o suposto responsável por ela. Evoca-se o espectro de Munique, a eterna cobardia das democracias. Gostariam que se repetisse o cenário da Jugoslávia ou do Kosovo, fonte próxima desta crise. Em suma, que se pusesse a Rússia na ordem. Só os Estados Unidos conhecem o preço dessa hipotética lição ao seu antigo adversário, e no papel a deixam. Não sejamos mais papistas que o Papa. Os Estados Unidos podem brincar com o fogo e disso não se têm coibido. Não vale a pena ajudá-los numa missa que podem celebrar sozinhos. E não sem risco.»"
Público, 01.09.2008 (ver o texto completo aqui)
Ou eu me engano ou algo de equivalente se passa nas relações da Europa com a China, num outro plano e com a devida translacção, através da subordinação da sua política externa e da estratégia económica aos Estados Unidos.
A propósito, onde estão os "tibetanos" que existiam no Alasca quando os Estados Unidos compraram o território ?
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