quinta-feira, julho 30, 2009

Uma vergonha

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O Tribunal de Instrução Criminal decidiu levar a julgamento Carmona Rodrigues, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e os antigos vereadores Fontão de Carvalho e Eduarda Napoleão por crimes de prevaricação de titular de cargo político, alegadamente cometidos durante o processo que levou à aquisição pela Parque Mayer/Bragaparques dos terrenos antes ocupados pela Feira Popular, avança a SIC Notícias.
À saída do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa, Rui Patrício, advogado de Eduarda Napoleão, revelou que "todos os arguidos vão a julgamento", adiantando que a "juíza enviou o processo para julgamento considerando que não estava ainda tudo esclarecido".
Demorou-se dois anos para decidir que o caso afinal deve ir a julgamento ?
Demorou-se dois anos para concluir que afinal não se podia concluir nada ?
Isto depois da queda em 2007 de um executivo da CML legitimamente eleito, em resultado destas acusações ? Isto depois da balbúrdia de umas eleições intercalares em Lisboa ?
Continuamos sem saber se havia razões consistentes que justificassem tal ruptura na Câmara ? Votaremos em Outubro sem saber se o actual Presidente da CML foi eleito no quadro de uma manobra em que o recurso judicial acabou por servir intuitos meramente políticos ?
Os desmandos do mandato anterior, tão denunciados e comentados, deixaram de despertar interesse ? Ninguém está ao menos ansioso por aplicar um castigo exemplar aos prevaricadores ?
Se por hipótese os arguidos vierem a ser absolvidos e ilibados das acusações que lhe foram feitas quem é que assume a responsabilidade política por esta situação ?
Não me interessa saber quem beneficiou dela. Não gosto de ganhar na secretaria.
Tudo isto põe em causa a credibilidade do regime mas parece não incomodar ninguém.
Todos parecem preferir varrer o episódio para debaixo do tapete com a desculpa de que está a seguir os "trâmites legais".
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Casa arrumada

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INDOORS - OUTDOORS
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quarta-feira, julho 29, 2009

Cristobal Hara

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No CCB está a exposição PHOTOESPANA2009, constituída por dois polos: Cristóbal Hara, no piso -1, e Mabel Palacin, no piso 2.
Palacin parece-me ser mais um caso de formalismo enigmático que entusiasma certo tipo de públicos mas que não me toca.
Cristóbal Hara (ver as fotos deste post), pelo contrário, tem um trabalho documental e irónico cheio de humor.
É uma obra construída ao longo dos anos, um périplo pelas aldeias de Espanha.
Mostra como o exotismo e a estranheza estão mais perto do que pensamos.
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terça-feira, julho 28, 2009

Nem como papão nem como ilusão

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Têm medrado ultimamente, com objectivos distintos, os discursos que falam do crescimento da "esquerda à esquerda do PS". Os autores, tanto à esquerda como à direita, vão de exagero em exagero a ponto de recentemente Alberto João Jardim ter afirmado em comício (mais coisa menos coisa): "uma esquerda comunista com mais de 20% dos votos é um dos piores resultados da governação do PS. Tal nunca aconteceu num país da Europa civilizada".

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No quadro acima comparámos o número de votos nas legislativas do conjunto PS+PSD+CDS (os chamados partidos do arco da governabilidade - PAG), com os votos do conjunto PCP+BE (em que ao BE, nos anos que antecedem a sua fundação, são atribuídos os votos das forças que nele se coligaram).

Os PAG só uma vez, em 1995, quando surgiu Guterres, totalizaram mais de cinco milhões de votantes e tiveram o seu resultado mais modesto em 1985, quando surgiu o PRD, obtendo então cerca de três milhões e meio de votos. Os partidos "à esquerda do PS" têm o seu ponto mais baixo em 2002, quando venceu Barroso, com 529.836 votos e o ponto mais alto no tempo da AD, em 1979, tendo então alcançado 1.297.142 votantes.

O gráfico não parece portanto justificar, apesar do resultado animador de 2005, a ideia agora em circulação de que estamos a viver um período de grande afirmação dos partidos "à esquerda do PS".

Tal ideia é ainda mais negada pelo quadro que se segue onde mostramos a que percentagem dos votos PS+PSD+CSD coresponderam os votos PCP+BE.


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Constata-se que até 1985 eram comuns as votações dos partidos à esquerda correspondentes a 25%, ou mais, das votações nos PAG (partidos do arco da governabilidade). Mas em 2005 obtiveram apenas 17,1%.


Este tipo de ideias erróneas tem sempre uma explicação. No caso vertente penso que se trata de um efeito da recente votação para o Parlamento Europeu. Nessa eleição, com elevadíssima abstenção e com reduzido efeito de bipolarização, o PCP e o BE obtiveram realmente 21,4% ao totalizarem 762.454 votos.

Acontece porém que este número de votos obtido em Junho de 2009 é inferior àquele (798.340) que nas legislativas de 2005 lhes rendeu apenas 13,9% dos votos expressos. Não é pois legítimo projectar mecânicamente nas próximas legislativas de Setembro o resultado PCP+BE na votação para o Parlamento Europeu realizada em Junho passado. Nem como papão nem como ilusão.

domingo, julho 26, 2009

Zapatero declara guerra aos patrões

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Em Madrid não é como em Lisboa, lá são os socialistas que saem do armário (ver aqui).

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sábado, julho 25, 2009

O desemprego urbano na China


O desemprego urbano na China ficou em 4,3% em Junho, mostrando estabilidade frente aos dados de março, mas com leve avanço em relação aos 4,2% registrados no fim do ano passado.
O número de pessoas desempregadas residentes nas cidades chinesas ficou em 9,06 milhões, 90 mil a menos do que o verificado no fim do primeiro trimestre, segundo dados divulgados hoje pelo governo do país.
No total, 5,69 milhões de empregos foram criados durante o primeiro semestre. No início do ano, o governo afirmou uma meta de criar 9 milhões de novas vagas nas áreas urbanas durante 2009, já tendo conquistado 63% de seu objetivo.
"Os dados do emprego estão melhores do que nossas expectativas", afirmou Yin Chengji, porta-voz do Ministério dos Recursos Humanos e Seguridade Social da China.

O GLOBO, 24.07.2009

sexta-feira, julho 24, 2009

Lisboa - uma acha numérica para a fogueira

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(clicar para aumentar)

1985 - Kruz Abecassis (candidato independente do PSD) - 177.497

1989 - Jorge Sampaio (PS+PCP+MDP/CDE+PEV) - 180.760

1993 - Jorge Sampaio (PS+PCP+PEV+PSR+UDP) - 200.816

1997 - João Soares (PS+PCP+PEV+UDP) - 165.008

2001 - Santana Lopes (PSD) - 131.094

2005 - Carmona Rodrigues (PSD) - 119.824

2007 - António Costa (PS) - 56.751

Os resultados de 2009 são bastante imprevisíveis quando olhamos para esta sequência.

Agora Santana concorre aliado com o CDS e António Costa concorre aliado com Helena Roseta e Sá Fernandes. O resultado de António Costa em 2007 é atípico já que se tratou de uma eleição intercalar.

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quinta-feira, julho 23, 2009

China vai usar reservas cambiais para comprar empresas no estrangeiro

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A China vai utilizar as suas reservas de moeda para acelerar a sua presença internacional através da aquisição de empresas, revelou esta semana o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, segundo o "Financial Times".

O gigante asiático é o maior detentor do mundo de reservas cambiais. Em declarações aos diplomatas chineses, proferidas segunda-feira à noite, Wen Jiabao explicou que o objectivo é o país começar a desfazer-se de parte dessas divisas para reforçar a presença chinesa fora das fronteiras nacionais.

“Devemos apressar a implementação da nossa estratégia de ‘saída’ para o exterior e combinar a utilização das reservas cambiais com a ‘saída’ das nossas empresas”, afirmou Wen Jiabao aos diplomatas, citado pelo FT.

O primeiro-ministro afirmou ainda que Pequim quer que as empresas chineses aumentem a sua quota de mercado nas exportações mundiais.

“Esta é a primeira vez que ouvimos uma articulação oficial desta política de apoiar directamente as empresas na aquisição de activos além fronteiras”, afirmou ao FT o economista-chefe do HSBC para a China, Qu Hongbin.

O investimento directo da China em activos não financeiros estrangeiros passou de 143 milhões de dólares (cerca de 100,95 milhões de euros) em 2002 para 40,7 mil milhões de dólares no ano passado (aproximadamente 28,73 mil milhões de euros).

Jornal de Negócios 22.07.2009
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quarta-feira, julho 22, 2009

Steve McCurry

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When people ask me how they can become a photographer, I almost never mention cameras, lenses, or technique. I say, ‘If you want to be a photographer, first leave home.’ As Paul Theroux, a great writer and friend, further advises, “Go as far as you can. Become a stranger in a strange land. Acquire humility. Leaving home really means that the photographer (or writer) has to wander, observe, and to paraphrase Theroux, concentrate on people in their landscape. That is what I try to achieve in my pictures.

STEVE McCURRY

Um dos meus fotógrafos preferidos. Veja AQUI

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segunda-feira, julho 20, 2009

Coligações "à la carte"

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Toda a gente está preocupada com a ingovernabilidade que pode resultar das próximas eleições legislativas. As maiorias absolutas de um partido parecem pouco prováveis.
Por isso proliferam as teorias sobre potenciais alianças para formar governo.
Esta incerteza perturba grandemente os eleitores que, ao votar num partido, não têm qualquer garantia de ele fazer as coligações que preferem.
Como raramente concordam a 100% com um dado partido muitos eleitores acabam por não votar em nenhum.
Devíamos exigir que os partidos esclarecessem, antes da votação, como pensam formar uma maioria parlamentar no caso de não obterem maioria absoluta. A verdade é que os partidos raramente se dispõem a revelar as suas intenções neste campo.
Assim sendo penso que devíamos caminhar para um sistema de votação em que o eleitor tivesse a possiblidade de votar nos vários partidos que constituem a sua coligação preferida, dando a cada um desses partidos o peso que muito bem entendesse.
Para esse efeito, em vez de uma cruzinha, o eleitor escreveria à frente de um ou de vários partidos a percentagem que lhes atribuía para a composição da "sua coligação"; por exemplo, sendo de esquerda podia votar numa mistura com 20% de BE, 20% de PCP e 60% de PS.
Votando dessa maneira 20% do seu voto iriam para o BE, outros 20% para o PCP e 60% para o PS. Estes três partidos repartiam o voto somando às suas contagens respectivamente 0,2 e 0,6 em vez de uma unidade como hoje acontece.
As votações, quando este sistema um dia for adoptado, reflectirão muito mais fielmente a vontade do eleitorado.


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domingo, julho 19, 2009

Como poderei sobreviver ao fim do mundo ?

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Este convite, que o caos reinante vai tornando cada vez mais apelativo, entrou-me por debaixo da porta durante este fim de semana.
Fiquei a pensar no enigma: se eu sobreviver ao fim do mundo então o fim do mundo não o era.
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sábado, julho 18, 2009

Um paradoxo sem classe nenhuma

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Li ontem dois artigos muito interessantes no Jornal I. Um de Pedro Lomba "A sua classe? Ex-classe média" e outro de Paul Krugman "Encanar a perna à rã".
Pedro Lomba faz uma excelente abordagem de um problema que, como Paul Krugman diz no outro texto, ilustra bem a dificuldade que temos em reagir a desgraças que, gradual e insidiosamente, nos espreitam.

"Leio na "Time" desta semana uma reportagem sobre a nova geração dos 20 anos na Europa. O local: Espanha, após o apogeu dos últimos anos (mas bem podia ser França ou Portugal, porque a realidade não é muito diferente). As personagens: jovens com menos de 30 anos, uns no desemprego, outros com trabalhos mal pagos na economia dos serviços. O argumento: de filme negro, série B, sem nenhum final feliz. Um longo cardápio de queixas, desilusões, frustrações. Ou, traduzindo em palavras mais directas, os novos vintões e vintonas, mesmo cheios de mestrados e doutoramentos, podem vir a ser a primeira geração desde há décadas a descer de classe social. "
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"A ex-classe média viverá em casa dos pais até tarde e, muito provavelmente, girará entre empregos, apartamentos arrendados ou relações amorosas sem se agarrar a nada e sem construir nada. Vai ser uma geração cínica e desenraizada, cutucando no Facebook para aplacar a solidão. "

Há um certo paralelismo entre os artigos de Pedro Lomba e de Paul Krugman. Diz este:

"Actualmente, porém, a crise aguda deu lugar a uma ameaça muito mais insidiosa. Para muitos dos que fazem previsões em economia, o crescimento do produto interno bruto está para acontecer em breve, se é que não aconteceu já. Mas tudo aponta para uma "recuperação sem empregos": em média, os analistas sondados pelo "The Wall Street Journal" estão persuadidos de que a taxa de desemprego vai continuar a aumentar no próximo ano e no fim de 2010 será tão alta como a actual. "

A falta de horizontes profissionais das novas gerações tem muito a ver com a recuperação económica que está a verificar-se sem que haja criação de empregos. Em minha opinião esta tendência não é conjuntural e explica-se pelo advento da sociedade tecnológia e do primado da informação.

Perante tão graves ameaças à ordem social vigente soa paradoxal o que vem sendo noticiado sobre a comparação entre os salários na administração pública e no sector privado.
Um estudo recente revela que, para trabalhos equivalentes, se ganha muito mais na função pública (para além de se disfrutar de uma segurança de emprego muito maior).

Este paradoxo é social e económicamente insustentável.
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sexta-feira, julho 17, 2009

PIB chinês acelera para 7,9 por cento no segundo trimestre

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O produto interno bruto da China aumentou 7,9 por cento, face ao mesmo período de 2009. Os dados divulgados hoje pelo instituto de estatística chinês mostram que a China é a primeira das dez maiores economias a recuperar da crise financeira mundial.
O país que mais contribui hoje para o crescimento económico global, ultrapassou também ontem o Japão no poder bolsista, ao passar a ter a segunda bolsa de valores mais poderosa do mundo.
Grande parte da valorização das acções chinesas ficou a dever-se ao plano de estímulo económico de quatro milhões de milhões lançados pelo governo de Pequim para impulsionar o investimento.Para além do pacote de recuperação económica, o crescimento acelerado do PIB ficou a dever-se ao investimento em imobiliário para 35,3 por cento em Junho, o aumento da produção industrial em 10,7 por cento no mês passado e a subida de 15 por cento das vendas a retalho.
Também ontem as agências noticiaram que as reservas em moeda estrangeira que a China possui aumentaram para 2,132 biliões de dólares (1,51 biliões de euros).
No entanto o porta-voz do instituto de estatística chinês alertou em declarações divulgadas pela Bloomberg que a recuperação da economia chinesa ainda não é “firme”, face à contracção da procura externa queda dos lucros corporativos e declínio da receita fiscal.

Público 16.07.2009

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quinta-feira, julho 16, 2009

Émulo de Pinho lançado para o espaço

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Manuel Pinho já tem seguidores nos States e logo um astronauta da Endeavour lançada ontem.
Só ainda não se percebeu se o gesto do astronauta foi dirigido à bancada do BE ou do PCP.
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quarta-feira, julho 15, 2009

Ciberdúvidas

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(recordação das eleições para a CML em 2007)

[Pergunta] Minha mãe e meu pai são portugueses e costumam falar a expressão: «cocó, ranheta e facada». Podem explicar-me qual o significado dessa expressão?

[Resposta] O Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves, editado pela Editorial Notícias, regista a expressão «Cocó, Ranheta e Facada (os três da vida airada)», com esta explicação: «Diz-se de três pessoas que andam sempre juntas.»

Cocó (nome/substantivo) quer dizer, na linguagem infantil, «excremento; fezes»; significa, ainda, «anel do cabelo» e «raça de galos e galinhas». Como adjectivo uniforme ou nome (substantivo) de dois géneros, é termo coloquial e significa «que ou pessoa que é muito susceptível ou vulnerável» ou «que ou pessoa que é afectada, presumida».
Ranheta significa, popularmente, «ranho»; no Brasil, é «pessoa impertinente, rabugenta». Facada é «golpe de faca» e, em sentido figurado, «surpresa dolorosa»; «ofensa grave»; e «pedido de dinheiro feito por mau pagador».
[in Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora]
Texto obtido no site "Ciberdúvidas da Língua Portuguesa"

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O vírus suíno da comunicação

Jornais e televisões insistem em nos dizer que já há mais de cem infectados com a gripe A em Portugal. Já encontrei várias pessoas que pensam que os primeiros infectados, em Maio salvo erro, ainda estão a padecer da doença.
Consciente ou inconscientemente propaga-se a ideia, errónea, de que neste momento temos cem pessoas doentes com a gripe A.

Porque é que não dizem nunca quantos casos estão por resolver neste momento ? dos cem que foram infectados ao longo dos últimos meses a quase totalidade já se curou e está a fazer a sua vida normal. Porque se oculta isto ?

Este e outros casos de distorção tornam-me muito pouco receptivo à informação de massa, à qual aplico uma desconfiança constante.

Um outro exemplo: os acontecimentos de Urumqi, capital de Xinjiang, na China (o DN situava Xinjiang na Ásia Menor).
Tal como no caso da gripe os jornais adoram mencionar o número de mortos e feridos mas esquecem-se de explicar quem matou quem e porquê.
Foram os da etnia han que mataram os da etnia uigure, ou foi ao contrário ?
Foi a polícia que matou os uigures e os han ou matou só um dos grupos ?
Os uigures foram reprimidos pela polícia por se estarem a manifestar ou por estarem a matar pessoas han ? Os han foram reprimidos pela polícia por estarem a matar uigures ou por se estarem a manifestar ?

Quem esclarece estas dúvidas ? Ninguém parece interessado em que estas dúvidas se esclareçam pois isso permite propagar a versão mais útil em cada momento ou que vende mais.
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terça-feira, julho 14, 2009

Uma equipa vencedora em Lisboa

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A experiência mostra que, com alguma criatividade, podemos resolver todos os problemas de Lisboa. É simples: votamos alternadamente, em mandatos sucessivos, Pedro Santana Lopes e António Costa.
O Pedro concebe, decide e adjudica as obras; o António finaliza, paga e inaugura.
Parece justo, cada um tem a sua vocação. E ainda vai para o Guiness.
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domingo, julho 12, 2009

A mentira das imagens (3)

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O jornal New York Times retirou do seu site imagens de um trabalho fotográfico de Edgar Martins, por alegadamente terem sido manipuladas digitalmente, uma decisão que o galerista do autor português diz ser «um mal-entendido».
«Eu acho que tudo não passa de um mal entendido. O Edgar Martins não é um fotojornalista», disse José Mário Brandão, da galeria Graça Brandão, que tem sido galerista do autor português nos últimos cinco anos.
Edgar Martins, 32 anos e vencedor este ano do Prémio BES Photo, foi convidado pelo jornal New York Times para um projecto editorial sobre a recessão económica nos Estados Unidos.
O artista português percorreu 19 cidades dos Estados Unidos em 21 dias e o resultado deste trabalho foi publicado no passado domingo na revista do New York Times e numa fotogaleria no site oficial do jornal.
Na quarta-feira, o diário nova-iorquino decidiu retirar o trabalho jornalístico, intitulado Ruins of the Second Gilded Age, da Internet, alegando que Edgar Martins manipulou as imagens digitalmente.

Diário Digital

Edgar Martins passou 21 dias a fotografar 19 cidades norte-americanas, a convite da New York Times Magazine. O trabalho, com mais de uma centena de fotografias sobre os efeitos da crise económica no país, foi publicado no passado fim-de-semana, em seis fotografias. E retirado na terça-feira, depois de um leitor ter identificado nas imagens alterações feitas em computador.
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Nas fotografias imperam imagens de casas inacabadas, vazio e destruição deixados para trás por famílias e empresas norte-americanas arruinadas pela crise. Mas o que foi detectado por um leitor do Minnesota, programador informático, que confessa nem perceber de fotografia, foi que, em pelo menos um caso, onde se via o interior vazio de uma grande casa em madeira, havia manipulação digital da imagem: um dos lados era literalmente o espelho do outro, uma imagem simétrica só conseguida com recurso a um editor de fotografia, como o conhecido programa Photoshop.
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"Soubessem os editores que as fotografias tinham sido manipuladas digitalmente e o trabalho não teria sido publicado. Por isso foi retirado", pode ler-se numa mensagem deixada no lugar do portfólio.
Edgar Martins, vencedor do prémio BES Photo 2009, responde à polémica: "Já esperava esta discussão, o que não esperava era a forma como aconteceu", disse ao PÚBLICO. "O problema foi o New York Times ter vendido a história como vendeu", disse, negando a acusação de manipulação. "Sou crítico do fotógrafo como turista, que produz um trabalho factual, recuso ser um mero intermediário, que dá uma visão fragmentária", acrescenta o autor, referindo que nunca lhe foi dito que o objectivo era uma abordagem factual, apesar de conhecer "as ansiedades da editora" sobre trabalhos conceptuais que permitem todo o tipo de liberdades estilísticas."Sabia que ia desafiar as convenções do jornalismo. Eu não fui para observar, fui para comentar", admite Edgar Martins, que frisa que nunca colocou de lado o uso do computador e que fala de "um desencontro" sobre o modo como cada parte assumiu o ponto de partida para o trabalho.
..."Não foi uma alteração para servir a estética. É uma mensagem que eu quero passar da dualidade entre a aspiração e o excesso, a ruína e a decadência."O autor, que já falou sobre este assunto com críticos de arte norte-americanos, e que está em negociações para publicar o trabalho integral com uma editora norte-americana, felicita-se sobre a abertura de um debate sobre um assunto que há muito deveria ter sido lançado, sobre o factual e o conceptual na fotografia.
Jornal Público 11.07.2009

Esta discussão veio para ficar. Qual é a definição de fotografia e quais são os limites aceitáveis à sua manipulação/transformação digital ?

No caso em apreço penso que o autor devia ter explicitado o carácter da sua abordagem. Na medida em que se tratava de endereçar jornalisticamente um tema de "realismo social" era expectável uma leitura não conceptual por parte do público leitor.

Por isso, embora se respeite a liberdade do autor na produção da obra também se percebe a atitude do jornal que necessita de garantir a "credibilidade" das imagens que publica, no contexto em que actua.

Sobre este tema:

A mentira das imagens (1)
A mentira das imagens (2)

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sábado, julho 11, 2009

Caracóis simplex à borlix !

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Aqui está uma iniciativa com profundo significado. Os caracóis são o símbolo da lentidão, que aflige tantos dos nossos serviços, e os tachos um tradicional desporto português.

A originalidade consiste em juntá-los e mostrar como são compatíveis.

Em Loures demostraremos que, em tachos para caraóis, ninguém nos ultrapassa.

A campanha para as autárquicas já começou.

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sexta-feira, julho 10, 2009

As virtualidades da gripe

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A "Fragata Bartolomeu Dias em quarentena por se ter confirmado um caso de Gripe A".
Como costuma dizer-se os perigos são simultâneamente oportunidades. Quem sabe se este episódio não constituirá uma revolução na arte da guerra. Para além do poder de fogo convencional a nossa marinha passa também a poder espirrar para cima do inimigo.
Há que dotar todas as unidades da armada, por inoculação voluntária do pessoal, desta arma demolidora.

Mas este não é um efeito isolado da "gripe A". O Plano de Contingência da Justiça promete evitar "as diligências adiadas e os processos atrasados".
Mais um problema que nos afligia há tantos anos e que só através da "gripe A" conseguiremos solucionar.
Um sector após o outro, todos beneficiarão do seu plano de contingência. Até nas prisões, onde os doentes estão automáticamente de quarentena, já se trabalha afanosamente num plano.
A "gripe A" é a revolução redentora por que todos esperávamos.
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quarta-feira, julho 08, 2009

A Audição

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Este filme expõe o mundo do espectáculo, os seus vícios e luxos. Fala-nos de Filipe, um reconhecido actor de teatro, que ao longo da sua carreira nunca olhou a meios para atingir objectivos. Realizado por Francisco Campos e Henrique Bagulho.
Estreia do filme no próximo dia 22 de Julho às 21h30 no Cinema São Jorge. Entrada Gratuita.
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segunda-feira, julho 06, 2009

Ninguém se demite ?

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Uma entidade idónea a "Intercampus", considerada competente, conduziu para a SEDES um inquérito onde entre outras coisas se conclui:


- só 5% dos inquiridos acham que os "governantes têm muitas vezes em conta as opiniões dos cidadãos"
- só 12% dos respondentes pensa que "as pessoas como eu têm influência sobre o que o Governo faz"
- só 9% declaram "os políticos preocupam-se com o que pensam as pessoas como eu"
- só 8% considera que "quem está no poder não busca sempre os seus interesses pessoais"

Confirmando a validade destas opiniões os visados, a chamada "classe política", assobiou para o lado como se nada tivesse acontecido.
É caso para perguntar: ninguém se demite ? ninguém tem vergonha na cara ? quando é ao povo não faz mal acenar com os corninhos ?
Esta olímpica indiferença radica na convicção de que o povo é uma espécie de receptáculo para onde se atiram doses sucessivas de "esclarecimento" até que se porte bem. O povo acabará por perceber os altos desígnios, quer queira quer não.
Ainda recentemente os partidos insistiram em prolongar as campanhas eleitorais através do desfasamento das datas das legislativas e das autárquicas. Ninguém cuidou de saber qual era a opinião dos destinatários.
Como este inquérito mostra as pessoas comuns não pretendem ser mais "esclarecidas" por quem consideram incompetente para o fazer. Estão fartas de campanhas que se parecem demasido com a venda de sabonetes e de querelas entre exaltados "magos" que têm sempre na manga a solução redentora até lhes ser dada oportunidade de a pôr em prática.
Depois da abstenção em massa viremos talvez a assistir, num futuro próximo, à proliferação de autocolantes amarelos desesperados. Talvez assim eles percebam que está na hora de refundar a nossa democracia.
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sexta-feira, julho 03, 2009

PETRA, o abstraccionismo das rochas

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Em Março visitei Petra, na Jordânia. A antiquíssima capital do reino Nabateu, instalada num desfiladeiro profundo é famosa pelas suas construções escavadas nas rochas. Trata-se de um local impressionante e único.
Como se não bastasse a riqueza histórica do seu património, Petra impressionou-me também pela beleza das suas rochas. Os padrões e cores das pedras criam, por todo o lado, autênticas obras de abstraccionismo natural que considero fascinantes.
AQUI fica uma selecção de imagens que recolhi durante a minha visita.
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quarta-feira, julho 01, 2009

Uma imagem ou mil palavras ?

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Uma imagem vale mais do que mil palavras. É velha esta forma de comparar a força cognitiva e comunicativa das imagens e dos textos mas, para além de velha, ela é também inadequada.
Um texto, e antes dele a linguagem em que se expressa, é uma pura convenção. Mesmo quando os idiomas são ideográficos os símbolos que os integram resultam de regras ou de tácitos sociais.
As imagens, pelo contrário, estão tão longe de ser convencionadas que nem sequer percebemos bem quais as regras que usamos para as interpretar. São menos sociais mesmo quando incluem objectos que socialmente têm algum significado.
Raramente nos damos conta de que interpretar imagens, e tomar decisões com base nelas, é um dos actos que praticamos mais frequentemente nas nossas vidas, pelo menos no período em que estamos acordados.
O mundo entra-nos naturalmente pelos olhos e muito antes de saber ler qualquer texto, ou até entender qualquer palavra dita, já essas imagens nos permitem conhecer e actuar sobre o espaço e a comunidade à nossa volta.
Se caíssemos num planeta desconhecido mas iluminado, onde não entendessemos mesmo nada dos símbolos, ainda assim seriam os olhos e as imagens que eles captam a nossa única hipótese de sobreviver.
Quer o pensamento quer a interpretação do mundo podem existir mesmo sem palavras mas isso não significa que, por exemplo, as ideias deste texto fossem facilmente transmitidas recorrendo apenas a imagens.
Também não costumamos pensar que um texto escrito, quando se apresenta a um potencial leitor começa por ser, para esse leitor, “apenas” uma imagem.
Antes de chegar ao sentido de um texto temos que passar por várias fases; (1) reconhecer que estamos perante a imagem de um livro, (2) abrir uma página e nessa imagem localizar os caracteres, (3) verificar se os caracteres são conhecidos (podem ser chineses ou árabes e, portanto, meras imagens para a maior parte de nós), (4) determinar a língua/convenção que devemos usar para a descodificação do texto e depois, só depois, (5) estaremos perante um texto e começaremos a ler.
Muitos pensam que o aforismo “uma imagem vale mais do que mil palavras” significa que não conseguiríamos descrever com mil palavras o conteúdo de uma imagem o que, em muitos casos, até pode ser verdade. Mas esse não é o sentido mais profundo do ditado.
Mesmo que nos seja possível descrever uma imagem com mil palavras demoramos muito mais tempo a ler as mil palavras, e a captar o seu significado, do que a interpretar a imagem que lhes deu origem.
Imaginemos por instantes que conduzimos um automóvel com os olhos vendados e baseados em explicações verbais sobre a estrada e o comportamento de cada veículo ou peão que nos rodeia e teremos um vislumbre da enorme diferença de velocidade entre imagens e textos.
O cinema tira partido dessa velocidade na interpretação das imagens e constrói a sua narrativa com base num vertiginoso “descubra as diferenças” que nós jogamos nas calmas enquanto somos bombardeados com imagens sucessivas. Como dizia Godard “O cinema é a verdade a 24 imagens por segundo”.
Dir-se-á que o texto é sempre de autoria humana e que, portanto, só deve ser comparado com as imagens feitas por homens, quer eles sejam pintores, arquitectos ou fotógrafos. Ao contrário dos textos, que são combinações particulares dos componentes da língua, aceites como um resultado intelectual, íntimo, das experiências vividas, as pinturas e fotografias são vistos como pedaços arrancados, mesmo quando sofrem tranformação, do rosto visível da realidade envolvente. Por outro lado tais pedaços, fotografias ou quadros, são sempre inevitavelmente lidos por quem os observa como mais um objecto presente no vasto palco imagético do mundo.
O que acabamos de dizer não significa que não seja dado um tratamento especializado a tais objectos. Nomeadamente à fotografia que ainda é, para muitos, a representação mais fidedigna do “mundo real”.
Mas as razões do fascínio que a fotografia desperta e a particular leitura de que os objectos fotográficos disfrutam ficará para outra ocasião.
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