domingo, abril 30, 2017

Estive duas semanas na Indochina.





Estive duas semanas na Indochina.
Cambodja, Laos e Vietname parecem seguir na esteira da China, apesar dos nacionalismos e dos ressentimentos milenares.

quinta-feira, abril 13, 2017

Mariscadores do Tejo



Mariscadores do Tejo
Quem passa na Ponte Vasco da Gama já viu certamente umas figurinhas minúsculas, no meio da água, palmilhando os baixios que a maré destapa. Andam à ameijoa, pelo que me disseram.
Esse exército parte da praia do Samouco, sincronizado com a maré, e entra pela água dentro numa "cerimónia" surpreendente e quase bíblica.
Para minha grande surpresa descobri que muitos deles/as são tailandeses, romenos e outros.
Aqui fica uma tailandesa com quem não me consegui entender mas que não parou de rir enquanto eu a fotografava.

Ai António


terça-feira, abril 11, 2017

Mas não me venham dizer que isto é de esquerda.



Depois, muito depois, de repôr os salários e horários de trabalho dos funcionários públicos o Dr. Costa vê-se agora forçado a, finalmente, repôr o corte nos subsídios de desemprego.
Nem lhe passa pela cabeça resolver os problemas dos trabalhadores "do privado" que, tendo perdido o emprego, tiveram que aceitar um salário muito mais baixo noutra empresa.
É tudo uma questão de prioridades.
Mas não me venham dizer que isto é de esquerda.

sábado, abril 08, 2017

Pretexto conveniente




segunda-feira, abril 03, 2017

A gaivota



A gaivota
Caminhei pela areia durante muito tempo, como faço tantas vezes.
Não era ainda a fornalha do verão e corria até uma aragem fresca apesar da crueza do sol.
O mar batia à minha esquerda, sem espalhafato, e a ravina subia os seus trinta metros do outro lado, em contorsões de arenito.
Tanto quanto os olhos viam, nem vivalma. Quilómetros desertos à minha frente.
Naquela solidão de mar e areia só somos atraídos pelas irregularidades; um barrote que veio na maré, uma pegada estranha ou os restos de uma fogueira em que se aqueceram os pescadores da noite passada.
E foi assim que eu descobri a gaivota, como uma anormalidade.
Estava pousada a uns vinte metros da linha de água. Mas não estava pousada como pousam os pássaros, sempre prontos a voar. Era como se chocasse uma ninhada.
Quando me aproximei nem sequer se agitou. A única coisa que movia era a cabeça, de um lado para o outro. E ao fazê-lo o seu bico era um aparo que escrevia na areia uma caligrafia desesperada.
Cheguei tão perto que podia ver os seus olhos aterrorizados, amarelos, e não sabia como demonstrar a minha compaixão.
(Em toda a minha vida só vi morrer um pássaro, e foi em plena cidade.
Despenhou-se de subito, estrebuchou mansamente durante algum tempo e depois inteiriçou.)
Não me atrevi a tocar na gaivota. Por um lado imaginava o terror do pobre pássaro ao ver-se agarrado, por outro receei agravar o sofrimento daquele corpo que tão pesado jazia na areia. Senti-me inútil e grotesco.
(Confesso que o sofrimento dos bichos me toca bastante pois, ao contrário dos humanos, não podem explicar o que sentem e geralmente morrem desamparados. Por causa disso já várias vezes fui tentado a contrariar essa fatalidade)
Neste caso não me parecia viável qualquer intervenção. Estava muito longe de qualquer ajuda especializada e desconhecia de todo o que levara a gaivota à desesperada situação em que se encontrava. Doença, acidente ou simplesmente velhice?
(Será que as gaivotas demasiado velhas pousam em praias desertas e ficam olhando o mar até ao último suspiro? Com que direito iria eu interferir num processo desse tipo, carregando desajeitadamente um bicho em sofrimento para o ver morrer num veterinário qualquer?)
Fiquei a olhar para ela e ela também olhava para mim. Duvido que soubesse ler no meu rosto a aflição e compaixão que eu sentia. Eu também no rosto dela não via senão os sentimentos que a minha condição humana permite imaginar.
Cheguei a pensar que a gaivota , depois do terror inicial, sentiria pelo menos o alívio de constatar que eu não lhe fazia mal.
Então comecei a recuar sem poder deixar de a olhar, até que a gaivota era apenas uma sombra como outras que resultam das irregularidades da areia.
Caminhei a bom ritmo durante a meia hora que me separava de casa.
Embrenhei-me nas rotinas caseiras com mais afinco do que é usual.
Mas quando anoiteceu a gaivota voltou a instalar-se no meu pensamento.
Pressentia-a agora na total escuridão da praia e não sob o sol violento da tarde.
O mar rugia como sempre, mas sem se ver.
Então desejei ansiosamente que a maré subisse e que uma grande vaga cumprisse finalmente o destino da minha gaivota.