segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Uma explicação (de novo tipo) para a crise - Cap.1

.



Estamos fartos de ouvir dizer que tudo começou com o “sub-prime” nos Estados Unidos. Mas isso como explicação não é muito convincente.
Alguém acredita que a mera incapacidade dos americanos para pagar os empréstimos contraídos foi suficiente para lançar esta crise enorme que fez tremer todas as economias desenvolvidas do planeta?
Não parece possível mesmo que o número de faltosos seja muito grande. Até porque os bancos americanos, os tais que teriam vendido na Europa os activos tóxicos, afinal também tiveram graves problemas.
Têm que ser consideradas causas mais sistémicas para uma explicação credível da enorme crise do “mundo ocidental”.

É preciso gastar tudo
Antes de mais é necessário estabelecer o que constitui o mecanismo essencial de estabilização das economias nacionais no quadro do capitalismo. Devem ser cumpridas as seguintes condições:

1. As empresas, ou pelo menos um número substancial das empresas de um dado país, devem ser rentáveis
2. Os cidadãos, a esmagadora mairoia dos cidadãos, devem encontrar ocupações remuneradas que lhes permitam viver as suas vidas e, em particular, participar no processo social de produção

Pode parecer que bastaria a realização da primeira condição para garantir a segunda mas tal não é verdade como veremos mais adiante.

Se concebermos a economia como uma sucessão de ciclos podemos então dizer que os rendimentos obtidos pelos cidadãos de um dado país no fim de um ciclo, ao serem gastos em consumo ou investimento durante o ciclo seguinte, permitem realizar as condições que enunciámos anteriormente.

Mesmo que admitamos, por absurdo, que toda a gente que obteve rendimentos os gastou integralmente então teríamos uma roda que rodaria sobre si própria, sem crescer nem decrescer, apenas favorecendo determinadas empresas em detrimento de outras no caso de as preferências dos consumidores se polarizarem de algum modo.
Ora nem os rendimentos obtidos num ciclo são integralmente gastos no ciclo seguinte, nem a roda de que falámos pode ficar eternamente a rodar no mesmo ponto. A roda tem uma tendência incontrolável para se expandir.

Para obviar as dificuldades que acabámos de enunciar é que existe o crédito. Numa primeira fase destinado aos investimentos empresariais e depois, cada vez mais, para permitir o consumo em larga escala.
Para a economia crescer, e garantir as condições 1. e 2. de estabilidade o crédito concedido para consumo deve portanto ser superior ao volume das poupanças (que são, no fundo, diferimentos do consumo).

Como é sabido, quanto mais baixo é o rendimento de uma família maior é a parte desse rendimento destinada ao consumo em detrimento da poupança. As economias dos países desenvolvidos seguiram neste aspecto trajectórias idênticas, embora com ritmos diferentes, durante o século XX.
À medida que ía crescendo a classe média, e a sua capacidade de poupar, foram-se também desenvolvendo os mecanismos de concessão de crédito encorajando a gastar já hoje aquilo que hipotéticamente será ganho só amanhã.

Em paralelo com este desenvolvimento foram também tomadas medidas destinadas a convencer os cidadãos a gastar não só os rendimentos presumidos do futuro mas também os rendimentos obtidos no passado e guardados como “pé-de-meia”.
O Estado Social e as suas promessas de acorrer quando o cidadão for surpreendido pelos “azares da vida”- o desemprego, a doença, a velhice- constituiram um bom alibi para dispensar os hábitos de poupança, tornados aparentemente desnecessários, e conduzir ao consumo desenfreado de que o sistema tanto precisava para funcionar.

Os exageros do crédito e do endividamente, são pois inerentes ao funcionamento do sistema. Não são uma aberração dos tempos actuais, inventada de repente por agentes maléficos, que uma “regulação” virtuosa possa controlar.

É preciso gastar bem
Mas a certa altura surgiram dois novos factores que vieram agravar ainda mais os desiquilíbrios descritos anteriormente: a deslocalização da produção (que cria emprego fora das fronteiras) e a automatização em larga escala.
Não basta já assegurar que os rendimentos auferidos voltam ao circuito através da aquisição de bens e serviços, pois o consumo de certos bens e certos serviços não gera necessáriamente emprego, pelo menos numa escala suficiente.

É claro que a exportação de produtos e serviços tem um efeito de sentido contrário. Mas qualquer país que importa mais do que exporta e que, para além disso, pretende modernizar-se tecnológicamente, está sob uma enorme pressão para conseguir gerar emprego suficiente para a sua população.
Os governos, sob pretexto do “estado social”, começaram então a contratar aquelas pessoas que a “economia real” não conseguia absorver o que levou ao disparar do endividamento público, com as consequências que hoje se conhecem.

Em conclusão e como aperitivo para o que se há-de seguir:

1. a forma aguda de deslocalização, na actualidade, chama-se China.
2. a forma aguda de automatização, na actualidade, chama-se “replicação”.

Dentro em breve, num capítulo 2 deste texto, voltarei ao tema para mostrar como o efeito combinado destes dois factores torna o futuro muito mais complexo.
A crise actual é apenas sintoma de um longo acumulado de erros. As formas convencionais de a tentar resolver não levam a parte alguma.

.

domingo, fevereiro 27, 2011

Hoje é dia do Senhor

.



Hoje é dia do Senhor.
Recomendo a belíssima Matriz de Loures.

.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Chineses espalhados pelo mundo

.



Um interessante projecto fotográfico da FP, conduzido pelos jornalistas Heriberto Araújo e Juan Pablo Cardenal, dá-nos a ver aquilo que já suspeitávamos. Chineses espalhados pelo mundo a trabalhar (e não se trata das óbvias lojas de roupa ou bazares).
Ver AQUI

.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Alguma coisa que funciona

.



Vai ser canja...


Disciplina, ok?


Sempre quero ver do que vocês são capazes...


Onde é que estão os resultados?


Deixa cá pôr os binóculos


Só isto !?!?


Deus nos acuda


Apetece é desatar ao murro


Pensando bem não vale a pena


 Vou antes converter-me ao budismo


O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse hoje ter uma "mensagem muito forte para Portugal", recomendando o país a "aplicar o plano [de austeridade] tão rigorosamente e tão convincentemente" quanto possível.
"Apelamos a todos os Governos europeus, sem excepção", afirmou o banqueiro central no final da reunião do G20, que decorreu nos últimos dois dias em Paris, para "aplicarem o plano [de austeridade] que têm tão rigorosamente e tão convincentemente" quanto possível. "Temos uma mensagem muito forte para Portugal, assim como para os outros", disse Trichet, acrescentando que "cabe aos países serem convincentes" face à desconfiança dos mercados internacionais relativamente à capacidade de alguns países da zona euro cumprirem os seus compromissos financeiros.
Para além do banqueiro central europeu, também o presidente do Fundo Monetário Internacional pressionou os governos europeus, considerando essencial que os países da zona euro reduzam os níveis de dívida pública nos próximos anos, defendendo que a maneira mais fácil de o fazer é aumentar as taxas de crescimento das suas economias. Dominique Strauss-Kahn manifestou-se "confiante" que as decisões da reunião de Março dos chefes de Governo europeus vão convencer os investidores da solidez europeia no combate à crise da dívida soberana que ameaça alguns países. "Os mercados não são tudo, mas são importantes", disse, argumentando que "é preciso fazer alguma coisa que seja vista, e não só pelos mercados, como algo que funciona".
D.N 21.02.2011


.

domingo, fevereiro 20, 2011

Deolinda, Bacalhau a pataco.

.



Muito antes de a Deolinda se declarar parva já eu tinha concluído que se tratava de um remake, fracote, dos Madredeus. Mas isso agora não vem ao caso.

A canção em voga, "que parva que eu sou", é acima de tudo uma excelente ilustração de como os processos sociais podem ser totalmente incompreendidos.

O "direito ao trabalho" é paulatinamente transformado em "direito ao assalariamento em contrato sem termo", como se fossem a mesma coisa e como se essa fosse a única forma possível de ganhar a vida.
A concepção do trabalho como assalariamento e do assalariamento como um direito, que não se sabe quem poderá garantir, tem sido espalhada por uma geração de políticos que nunca teve que trabalhar para se sustentar fora da redoma dos compadrios partidários.
Traduz a ideia peregrina de que as escolhas que fazemos na vida não têm consequências económicas (isso é economicismo) e devem portanto ser avaliadas exclusivamente no plano da ética. A partir desse ponto é fácil concluir que não há empregos porque quem devia proporcioná-los procede com maldade. Haver ou não emprego parece então estar apenas dependente da vontade e não ter nada a ver com regras económicas que, goste-se ou não (e eu não gosto), são as que estão em vigor.

A insuportável (para a Deolinda) realidade é a seguinte: só nos dá emprego quem pensa vir a ganhar dinheiro com o nosso trabalho (se quiserem podem chamar a isto exploração). A insuportável realidade é que nas economias desenvolvidas parece haver cada vez menos quem esteja interessado em ganhar dinheiro arrendando-nos.
O importante é tentar perceber porque é que tal está a acontecer. Eu tenho uma data de ideias sobre o assunto mas ficam para outra ocasião.

O Estado, enquanto houve dinheiro, foi contratando as pessoas que o sector privado não absorvia. Os resultados disso estão hoje à vista. Esse tipo de solução tem os dias contados (veja-se o que está a acontecer em Cuba onde o Estado alimentou o sonho de garantir o pleno emprego, convertendo toda a gente em funcionários públicos, e agora está a despedir centenas de milhares de pessoas).

Estou inteiramente ao lado daqueles que acham que esta situação de falta de emprego e de precariedade é insustentável.
Mas não faz sentido criar capitalistas em aviário e forçá-los, por decreto, a explorar-nos mesmo que não queiram.
Em suma, necessitamos de um novo modo de produção que funcione noutros moldes, que esteja adequado às tecnologias de hoje e aos meandros da globalização.
Desafio a Deolinda a fazer uma canção sobre isso.

.

China, uma superpotência em construção


.


O ano que findou ficou marcado por SEIS factos simbólicos que poderão ser considerados como "pontos de inflexão" do papel da China na geografia económica e política do planeta.
Primeiro: O atual presidente chinês Hu Jintao foi considerado pela Forbes como o homem mais poderoso do mundo, destronando, pela primeira vez, o presidente americano - a decisão da revista de negócios americana surpreendeu, mas não gerou movimentos de protesto entre os leitores. Sinal dos tempos.
Segundo: No confronto do que já se convencionou chamar de G2 (Estados Unidos e China), o poder real de Beijing, como fator condicionante e mesmo de bloqueio da estratégia global americana, ficou patente na cimeira do G20 em Seul, em novembro passado. A decisão recente da Reserva Federal americana de inundar o mundo com "dinheiro quente", ao abrigo de uma nova onda de "alívio quantitativo" (quantitative easing, na designação original), conseguiu que a China formasse uma aliança ad hoc contra a estratégia monetária americana, incluindo aliados tradicionais de Washington, como a Alemanha e os países da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático, envolvendo dez países), que inclusive foram mais "agressivos" nas críticas do que Beijing.
Terceiro: Pela primeira vez, a China chegou ao primeiro lugar em supercomputadores, retirando a liderança aos Estados Unidos. O "Via Láctea", alojado no Centro Nacional de Supercomputação na cidade de Tianjin, destronou em outubro o "Jaguar" do Departamento de Energia americano.
Quarto: Inesperadamente, a China apresentou-se na própria Europa como "bombeiro"-ajudante - a par do Banco Central Europeu - no apagar dos fogos da crise da dívida soberana em vários países da zona euro. Em junho, o gigante chinês COSCO assinou um acordo com o porto grego de Pireu para 35 anos e os chineses prometeram, recentemente, comprar dívida portuguesa, o que revela uma estratégia global que não passa só pelo posicionamento em África ou na América Latina, fora do seu espaço regional asiático, como tem sido mais mediatizado.
Quinto: Num dos despachos revelados pela Wikileaks, há um desabafo da secretária de Estado Hillary Clinton que resume bem o dilema americano: "Como é que se lida com firmeza com o vosso banqueiro?".
Sexto: Finalmente, menos falado é o facto de que, por debaixo do contencioso diplomático aceso entre a China e o Japão sobre águas territoriais e ilhotas em disputa, Beijing procedeu a uma compra massiva de ativos nipónicos, empurrando o iene para um caminho de apreciação e "testando" a capacidade de se impor a Tóquio como a superpotência emergente na região.
Apenas num terreno, Beijing perdeu a cartada - na oposição à atribuição do Prémio Nobel de 2010 ao dissidente político Lio Xaobo, que cumpre uma pena de onze anos de prisão. A China tentou criar uma larga plataforma de boicote à sessão de atribuição do Prémio em Oslo em dezembro, mas falhou redondamente. E mesmo a tentativa de atribuir no mesmo dia, em Beijing, um Prémio da Paz com o nome de Confúcio redundou num flop, em que o próprio premiado, um político de Taiwan, recusou. Este parece ser o mais óbvio calcanhar de Aquiles da China na cena internacional.

Jorge Nascimento Rodrigues, Expresso 19.02.2011 (ler o artigo completo aqui)

.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Eufemismos

.




O Banco Central Europeu (BCE) viu-se hoje obrigado a ir ao mercado comprar dívida pública portuguesa para travar a escalada das taxas de juro.
A notícia está a ser avançada pela agência norte-americana Bloomberg, adiantando que o BCE comprou obrigações com prazo a cinco anos.
Uma intervenção que já está a ter efeitos. As taxas estão a descer depois do máximos desta manhã: a de cinco anos subiu até aos 7,25%; a dez anos chegou aos 7,58% - os valores mais altos desde que Portugal entrou no euro.
Renascença 18.02.2011

Mais um eufemismo para nos dizer que continuamos a viver da caridade pública.
Mas ninguém nos diz qual é a taxa cobrada pelo BCE para nos emprestar dinheiro.

.

Abaixo a exploração e a defumação

.



Os espanhóis que tiverem uma empregada para as tarefas domésticas vão ter de deixar de fumar em casa enquanto ela estiver a trabalhar. Ao abrigo da nova lei do tabaco é proibido fumar em qualquer local de trabalho.
As casas particulares são um local de trabalho para as empregadas domésticas, por isso o Observatório para o Acompanhamento da Lei do Tabaco espanhol, composto por um grupo de especialistas ligados ao Ministério da Saúde, Política Social e Igualdade, considerou que essas trabalhadoras não devem ser sujeitas ao fumo do tabaco.
Os legisladores sublinham que, para as pessoas que cuidam das tarefas domésticas, o seu local de trabalho é a casa onde fazem as limpezas. E como a nova lei do tabaco espanhola proíbe o fume em locais fechados, os inquilinos das casas estão proibidos de fumar durante o horário de trabalho dos empregados domésticos, adiantou o diário espanhol ABC.
Logo que o dia de trabalho chegue ao fim, a casa deixa de ser um local de trabalho para se passar a considerar um espaço privado onde se pode fumar com toda a liberdade, considerou o Observatório para o Acompanhamento da Lei do Tabaco.

Público 18.02.2011


A classe exploradora não olha a meios para perseguir os trabalhadores.
Agora, além de explorá-los (o que parece ser o menos) queria também a defumá-los.


.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Consciência de classe

.



Ontem a RTP ouviu, durante o noticiário da noite, algumas pessoas afectadas pela greve da CP. Uma delas, uma mulher, disse mais ou menos o seguinte:

"É inadmissível que quem ganha 1.500 euros crie problemas a quem tem dificuldade em manter um emprego onde ganha 500".

Haverá quem diga que este tipo de opiniões revela falta de "consciência de classe". Seja como for, não pode deixar de se registar este sentimento partilhado sabe-se lá por quantos trabalhadores da periferia de Lisboa.

.

A proverbial modéstia dos chineses

.



PEQUIM — China, que na segunda-feira se tornou oficialmente a segunda economia mundial ao desbancar o Japão, informou nesta terça-feira que esta notícia muito importante não deve permitir que sejam esquecidos os desequilíbrios do desenvolvimento e, em particular, os 150 milhões de pobres do país.
"É uma notícia muito importante", declarou Ma Zhaoxu, porta-voz do ministério das Relações Exteriores, que destacou os notáveis progressos realizados nos últimos anos pela economia chinesa.
Ao mesmo tempo, reconheceu que em vários aspectos a China registra "atrasos".
"Se nos referimos à norma da ONU de um dólar por dia e por pessoa, há ainda 150 milhões de pessoas que vivem em estado de pobreza na China", disse o porta-voz, para quem o Produto Interno Bruto (PIB) é um "índice que mede a potência econômica de um país, mas não o único".
Apesar de ter superado o PIB do Japão em 2010, a China, país com a maior população do mundo (1,3 bilhão de habitantes), tem uma renda per cápita 10 vezes inferior a do país vizinho

A modéstia faz parte da cultura chinesa ancestral. Na sua língua há várias expressões destinadas a responder aos elogios como se fossem totalmente imerecidos.
Imagino Sócrates, que não é nada chinês no que toca à modéstia, numa situação como aquela que a notícia refere . Em vez de referir os 150 milhões que ainda são pobres falaria apenas das centenas de milhões que entretanto deixaram de ser pobres.
Embora omitindo informação relevante, como é seu hábito, estaria apesar de tudo a realçar uma realização espantosa.

.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Para compreender o Egipto

.





Um interessantíssimo debate entre Zizek e Tariq Ramadan sobre a revolução no Egipto.


.

domingo, fevereiro 13, 2011

Esqueletos no armário

.



Um homem de 80 anos foi encontrado morto no sábado, em sua casa, em S. Mamede Infesta, Matosinhos, tendo sido o alerta dado por um vizinho que já "não o avistava há alguns dias", disse fonte da PSP/Porto.

Um reformado do Exército, de 71 anos, foi encontrado morto na casa onde vivia sozinho, em Balsas, Febres, no concelho de Cantanhede. Um vizinho comunicou à GNR que não o via há três meses. É o segundo caso numa semana.
Segundo o "Jornal de Notícia", o cão terse-á alimentado do dono, cujo corpo estava em estado de decomposição.

Um grupo de "amigos e admiradores" de Carlos Castro, entre os quais Filipe La Féria, Vítor de Sousa e Eládio Clímaco, vai propor à Câmara de Lisboa que seja dado o nome do cronista social a uma rua da cidade.

Três casos num único dia, num único jornal (o DN). Surgem depois da mulher que esteve morta em sua casa durante nove anos e só foi descoberta por não pagar os impostos.
Estamos a transformar-nos num país que tem esqueletos no armário.
Isto tem que ter um significado qualquer mas não consigo perceber qual.
.

sábado, fevereiro 12, 2011

Em suma, estamos lixados


A moção de censura do BE, se for rejeitada como tudo leva a crer, constituirá um brinde magnífico para José Sócrates.

Com a sua inegável prosápia, na sequência de uma censura abortada ao governo, voltará a maravilhar os portugueses com a habitual panóplia de sucessos imaginários para perpetuar a colonização do Estado pelos incontáveis boys.
Se os alemães se resignarem a abrir os cordões à bolsa lá virá de novo o fascínio saloio pelas tecnologias, mais uma girândola de renováveis e mesmo novas miragens de obras faraónicas. O Estado Social a crédito pode até vir a render, como sempre tem rendido, um resultado eleitoral geitoso.

À esquerda, o PCP e o BE, incapazes de se reinventar, continuarão a remoer os sonhos inconfessados do capitalismo de estado, disfarçado com o activismo sindical, num caso, e com as propostas fracturantes, no outro.

À direita, o PSD e o CDS, reféns dos velhos poderes económicos, tergiversarão sobre o liberalismo económico. Uma aventura que a população, anestesiada com o biberom dos subsídios e do paternalismo estatal, hesita em aceitar. Mesmo com a expectativa de uma maioria absoluta no parlamento a direita sabe que soçobrará na rua qualquer veleidade de transformação.  

Em suma, estamos lixados.

.

Um 25 de Abril à civil

.



Este 25 de Abril à moda do Cairo não pode deixar de emocionar os portugueses de sessenta anos ou mais, apesar de todas as dúvidas que permanecem acerca da natureza do novo poder no Egipto pós-Mubarak. 
Mas a mim o que mais me tocou foi a força serena do povo quando decidiu rejeitar o regime vigente. 
No nosso 25 de Abril foram os militares revoltosos que partiram a espinha ao regime fascista; só depois o povo veio para a rua confirmar e festejar a libertação.
Já no Egipto foi o povo a tomar a iniciativa e foi o povo, com a sua persistência e determinação, que moldou a orientação do aparelho militar.
Este facto faz da revolução egípcia uma experiência importantíssima que demonstra a viabilidade e a eficácia de desobediência civil quando se torna massiva.

 

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Mais aliviados

.





A Direcção-Geral da Administração Interna não avisou os eleitores com cartão de cidadão que tinham um novo local de voto por medo de receber reclamações, o sistema informático sofreu sobrecarga por não ter acessos diferenciados para o público e as juntas de freguesia, e os eleitores não se informaram a tempo.
A culpa é de todos, concluiu a equipa da Universidade do Minho que fez o inquérito sobre os problemas que afectaram as eleições de 23 de Janeiro, ainda que os níveis de responsabilidade sejam diferentes.


Pronto, assim já podemos ficar descansados até à próxima.


.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Uma espécie... de praga

.





Uma espécie... de praga.

.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

BINGO

.



Nos últimos anos tenho frequentado uma consulta num hospital público do SNS.
Ontem mesmo, dirigi-me ao local às 15:30 apesar de a minha consulta estar marcada para as 16:00.
A sala que se pode ver na fotografia anterior, feita pouco antes de eu ser atendido, estava então a abarrotar de gente.




Para ninguém poder dizer que não sabe ao que vem as paredes ostentam garbosos cartazes que nos garantem que vamos ter que esperar. E eu esperei.
Passaram as quatro, depois passaram as cinco e depois passaram as seis horas, e nada.




Depois de ler vários jornais passei a concentrar-me, obsessivamente, nos visores "de plasma" espalhados pela sala e em que, como num sorteio vão aparecendo os números dos felizes contemplados com o início de uma consulta.
O que mais me afectava nem era a demora mas o facto de não conseguir perceber a lógica com que os números se sucediam no ecran.
No meio da sonolência comecei a ter ideias delirantes mas, quem sabe, com enorme futuro.
Por que não instalar um bingo neste local? Quem mais depressa preenchesse o cartão do bingo mais depressa seria atendido.
Teríamos mais transparência quanto à ordem dos atendimentos e adicionalmente proporcionaríamos a quem padece, enquanto espera pela consulta, um passatempo bem divertido.




Com uma certa habilidade até podíamos transformar as máquinas "cospe senhas" em slot machines.
Em suma, se no dizer de Mário Soares temos uma economia de casino por que não termos hospitais-casino?
Aqui fica a ideia, pela qual não cobro absolutamente nada.
Este caso mostra que muito trabalho criativo poderia ser feito, com sucesso, se os nossos jovens empresários e quadros superiores frequentassem mais as salas de espera do SNS.

. 

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Todos querem vender sem comprar




Quase a metade (exatamente 45%) das empresas industriais brasileiras que competem com empresas da China perdeu participação no mercado doméstico em 2010. É isso que mostra a Sondagem Especial China, divulgada nesta quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A pesquisa, realizada com 1.529 empresas entre 4 e 19 de outubro, informa que em quatro setores – produtos de metal, couros, calçados e têxteis – a queda na participação das vendas no mercado interno pela concorrência com produtos chineses atingiu mais da metade das indústrias (ver o texto completo).


A indústria brasileira de papel e celulose ameaça pedir sanções contra o papel importado da China, acusando o país de adotar subsídios à produção asiática que retira mercado das empresas domésticas.
“Não queremos cercear a importação, mas é preciso interromper o processo e encontrar uma solução imediata para reduzir o produto que vem com subsidio”, afirmou a presidente-executiva da Associação Brasileira da Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes. Segundo dados da entidade, as importações de papel cresceram 40% em 2010, atingindo uma receita de US$ 1,4 bilhão (ver o texto completo).


O cônsul da China em são Paulo, Sun Rongmao, disse que o Brasil e a China devem manter parceria em suas relações comerciais, mas sugeriu que o Brasil deveria aprender com o país asiatico. “Em vez de tomar medidas muito restritivas contra os chinesas, poderia fazer alguns controles, como a China fez para o seu desenvolvimento”, disse Rongmao, após um encontro promovido pela Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE).
Entre as medidas que poderiam servir de exemplo, o cônsul diz que o governo chinês exige que empresas estrangeiras localizadas no país exportem pelo menos 30% de sua produção. Com isso, ele consegue proteger as empresas chinesas, na medida em que impede que multinacionais de outras regiões do mundo atendam toda a demanda do mercado local.
Tang e Sun rebatem críticas de empresários brasileiros, que estão pedindo ao governo medidas de restrição às importações chinesas. Para eles, as empresas brasileiras deixam de ser competitivas porque o País tem altos tributos e burocracias.
Tang afirma que as empresas chinesas recebem muitos incentivos do governo para crescer. Por isso conseguem vender a preços inferiores. Além disso, em geral, são maiores do que as brasileiras e têm ganhos de escala. Outro fator que favorece os chineses, segundo ele, é que toda a distribuição de empresas no território do país asiático foi planejada para facilitar a vida dos empresários. “Em muitas províncias foram construídas zonas econômicas que concentram produtores e fornecedores, o que acaba barateando custos logísticos, por exemplo”, diz Wei (ver o texto completo).


Estas são citações de três artigos que tratam da conturbada reacção dos empresários brasileiros ao comércio com a China.
O problema, quando se pensa em adoptar restrições, é que a China é o maior parceiro comercial brasileiro.
A China absorve 15% de tudo que o Brasil vende ao mundo.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior brasileiro, em 2010, "o Brasil vendeu ao mundo US$ 201 bilhões (R$ 335 bilhões), sendo US$ 31 bilhões (R$ 52 bilhões, ou 15,2%) para o país asiático".

.

domingo, fevereiro 06, 2011

Arte Contemporânea

.







Uma obra do ARCO da velha, ou os equívocos da arte contemporânea.
A leitura de um objecto é decisivamente influenciada pela contexto em que é mostrado.
.

sábado, fevereiro 05, 2011

Belas Vésperas

.


O Coro da Rádio da Letónia apresentou, no Pequeno Auditório do CCB, uma magnífica execução das Vésperas de Rachmaninov.
A sala estava completamente cheia. Tal não é de estranhar dada a beleza tocante da obra.
O Coro da Rádio da Letónia fará ainda outros concertos durante a sua estadia.
Aqui fica o registo.

.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Calotes clubistas

.


A Câmara de Lisboa quer pagar a totalidade dos 18 milhões de euros, que deve ao Sporting, em dinheiro porque não chegou a acordo em relação ao valor atribuído aos imóveis que deveria entregar para reabilitação.
O protocolo assinado entre o município e o clube de Alvalade previa que, cumprindo a decisão do Tribunal Arbitral, a autarquia pagasse 18 milhões de euros ao Sporting, contudo parte deles através da entrega de um conjunto de imóveis para recuperação.
Uma proposta subscrita pelo vereador Manuel Salgado (Urbanismo) e a vereadora Maria João Mendes (Finanças), e que será analisada na quarta-feira em reunião de câmara, altera o protocolo assinado em 2009, dado que as partes não chegaram a acordo quanto ao valor atribuído ao conjunto de imóveis, considerado «anormalmente baixo» pelo município.
Assim, decidiram fechar esta etapa negocial e avançar com o pagamento em numerário do total do valor.
Segundo a proposta, seis milhões de euros deverão ser pagos ao Sporting ainda este ano (um milhão em Fevereiro e os restantes cinco milhões em Julho).
Em 2012 (Julho) a autarquia pagará outros seis milhões e os restantes seis serão pagos um ano depois, em Julho de 2013.
O cumprimento do acordo com o Sporting arrasta-se desde 2007, altura em que a autarquia aprovou uma permuta de terrenos com o Metropolitano e a cedência de um direito de superfície ao Sporting Clube de Portugal para construção.
A Bola, 04.02.2011
 
Ano após ano, a CML vai adiando o pagamento desta dívida que empurra para a derrocada um dos mais antigos e relevantes clubes da cidade.
O benfiquista António Costa, que foi eleito por prometer sanear as contas e pagar as dívidas, parece ser apenas mais um político que ganha as eleições com falsas promessas.
Mas também é legítimo perguntar se a dívida ainda estaria por pagar se o credor fosse o Benfica.
 
.
.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

O pão que o diabo amassou

.




O projeto Farol, desenvolvido pela Deloitte com o apoio de vários personalidades, divulgou agora uma sondagem de opinião, assente em 1002 entrevistas distribuídas proporcionalmente ao longo do país. As conclusões são chocantes: 46% dos inquiridos dizem que a situação económica e social é hoje pior ou muito pior do que antes de 1974. 58% pensam que a situação é hoje pior do que há 25 anos, quando aderimos à CEE. E daqui a 10 anos, 53% pensam que vamos estar pior. Depois, 78% consideram que estamos a caminhar na direção errada, porque (66%) não existe uma estratégia de desenvolvimento. 64% dizem que não somos um país competitivo, mas não valorizam o empreendedorismo, a reforma do modelo social, a iniciativa privada ou a inovação e tecnologia como fatores importantes para sair da crise. A maioria (54%) considera que é mais importante o Estado apoiar as iniciativas de empreendedorismo do que eliminar as barreiras a essas iniciativas. E a esmagadora maioria (74%) defende que é o Estado que deve dar o principal contributo para a competitividade e desenvolvimento económico do país. Se a empresa tiver de mudar de local/localidade, 56% não estão dispostos a ir viver para outro sítio, mesmo que isso lhes assegure o emprego. 49% também não estão dispostos a flexibilizar as suas condições contratuais para evitarem ser despedidos. Se estiverem no desemprego, 51% recusam uma oferta de emprego se forem ganhar menos do que o subsídio. 54% também não estão dispostos a arriscar num negócio próprio para ter melhores condições de vida e maior capacidade económica. E 71% não estão dispostos a abdicar de um centro de saúde no concelho ou próximo de casa em troca de o Governo baixar impostos. Contudo, os portugueses não são modestos: cada um por si considera que contribui muito mais frequentemente para diversas áreas económicas e sociais do que os outros. E, claro, a responsabilidade pela redução e prevenção da pobreza é responsabilidade quase exclusiva do Governo (86%). 
Enfim, digamos que para os portugueses o passado é sempre melhor do que o presente. Mas o presente é muito melhor do que o futuro. Manifestamente, não valorizamos o que temos nem o que alcançámos nos últimos 40 anos. Depois, somos fartos a culpar os governos por tudo o que de mau acontece, mas achamos que deve ser o Estado a resolver os problemas. Além disso, somos egoístas e estamos acomodados. Mas achamos que somos muito melhores do que todos os outros nossos concidadãos. Que país é este? E que prova melhor de que precisamos de revolucionar mentalidades se queremos sobreviver no futuro?
___________

A Europa está a caminho de ser a nova China. Não em matéria de crescimento económico, onde vamos continuar a vegetar em torno de taxas muito aquém das que se verificam no Império do Meio. Mas, sim, em matéria de legislação laboral. Ainda manteremos por algum tempo as semanas de trabalho em torno das 40 horas, cinco dias por semana. Ainda manteremos restrições ao trabalho ao fim de semana. Continuaremos a aceitar a existência de sindicatos e que os trabalhadores tenham direito à greve. E, claro, ofereceremos forte resistência a que seja possível voltar a utilizar trabalho infantil. Mas não nos iludamos. Ao contrário do que se esperava com a globalização, os direitos dos trabalhadores chineses pouco avançaram. Em contrapartida, os direitos dos trabalhadores europeus vão claramente a pique. E quem comanda a ofensiva contra o Estado social é a Comissão Europeia, que no dia 11 de janeiro aprovou um documento, ‘Annual Growth Survey’, onde estão expressas as linhas de força dessa orientação: aumento dos impostos indiretos, enfraquecendo o caráter progressivo dos impostos; incentivo ao aumento dos horários de trabalho; elevar a idade de reforma e pressionar a privatização dos sistemas de pensões; enfraquecer a legislação que protege o emprego; reduzir os apoios diretos ao desemprego; e liberalizar o sector público.
Estas orientações, a serem concretizadas, reduzem claramente os direitos dos trabalhadores em favor do capital, dos escalões mais elevados de rendimentos e dos bónus pagos no sector financeiro; e atingem o equilíbrio do Estado social e o projeto europeu. 


Textos de Nicolau Santos, em dois artigos diferentes, "Que país é este?" e "Europa social à pequinense", publicados no Expresso desta semana


Nicolau Santos esqueceu-se de referir a grande lição que a experiência chinesa, apesar das suas limitações, nos proporciona.
Não há saída para a miséria ou, no caso da Europa, para a decadência anunciada, que não passe por muitos sacrifícios, disciplina e abnegação.
A riqueza actual da China, que é uma condição para construir um futuro melhor para o seu povo, não resultou de terem encontrado jazidas de petróleo ou de terem andado a explorar colonialmente outros povos.
Duas ou três gerações de chineses comeram o pão que o diabo amassou.
Nenhum político, numa democracia ocidental, se atreve a propor tal coisa.


.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Notícias da China





A Sporting SAD celebrou uma parceria para exploração e desenvolvimento da Academia na República Popular da China e na Região Administrativa Especial de Macau, no âmbito da sua estratégia de internacionalização. 
___


A China vai comprar diariamente 40 toneladas (t) do pescado artesanal da Guiné-Bissau e pretende ajudar na criação e divulgação da marca da pesca do país, afirmou Michel Wang, representante de uma delegação de empresários chineses.
___


Os grupos petrolíferos italiano Eni e chinês Petrochina assinaram hoje um acordo de desenvolvimento de projetos na China e em África, que inclui a possibilidade de compra de ativos italianos pelo grupo da China, o maior consumidor energético mundial.
___


Quase 150 contentores de pedra nacional vão directamente para a China. As empresas de extracção de bloco das Serras de Aire e Candeeiros estão a conseguir fintar a crise graças ao aumento da exportação para o mercado chinês.



terça-feira, fevereiro 01, 2011

A Quinta da Coelhinha


O povo votou e os seus votos foram cuidadosamente contados.
Passadas três semanas sobre o domingo eleitoral constato, com repulsa, que mais ninguém se referiu às tão melindrosas perguntas que Cavaco devia responder para sossegar o país.
Então e as acções do BPN? então e a Casa da Gaivota Azul? Esfumaram-se.
Ou as perguntas eram apenas um oportunismo eleitoral ou então, pior ainda, os cidadãos que as formularam com voz grave não têm coragem para enfrentar um Presidente.
Hoje, como se os seus críticos não estivessem já suficientemente desprestigiados, Cavaco deu-se ao luxo de uma bofetada com luva branca, esclarecendo a questão da sisa (que a maior parte dos portugueses nunca pagou integralmente).
Tudo isto é demasiado mau para ser verdade. A política tornou-se uma espécie de Quinta da Coelhinha (até parece o nome de uma produção pornográfica de segunda categoria).
Como podem esperar que o povo corra para as urnas quando resolvem chamá-lo?

.